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Document 52011AE0541

Parecer do Comité Económico e Social Europeu sobre o tema «Aprovisionamento energético: Política de vizinhança para garantir a segurança do aprovisionamento da UE» (parecer exploratório a pedido da Presidência húngara)

JO C 132 de 3.5.2011, p. 15–21 (BG, ES, CS, DA, DE, ET, EL, EN, FR, IT, LV, LT, HU, MT, NL, PL, PT, RO, SK, SL, FI, SV)

3.5.2011   

PT

Jornal Oficial da União Europeia

C 132/15


Parecer do Comité Económico e Social Europeu sobre o tema «Aprovisionamento energético: Política de vizinhança para garantir a segurança do aprovisionamento da UE»

(parecer exploratório a pedido da Presidência húngara)

2011/C 132/04

Relator: Edgardo Maria IOZIA

Em 15 de Novembro de 2010, a futura Presidência húngara da União Europeia decidiu, em conformidade com o artigo 304.o do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, consultar o Comité Económico e Social Europeu sobre o tema:

Aprovisionamento energético: Política de vizinhança para garantir a segurança do aprovisionamento da UE

(parecer exploratório).

Incumbida da preparação dos correspondentes trabalhos, a Secção Especializada do Mercado Único, Produção e Consumo emitiu parecer em 1 de Março de 2011.

Na 470.a reunião plenária de 15 e 16 de Março de 2011 (sessão de 15 de Março), o Comité Económico e Social Europeu adoptou, por 86 votos a favor, 4 votos contra e 8 abstenções, o seguinte parecer:

1.   Conclusões

1.1   O Comité Económico e Social Europeu (CESE) espera

1.1.1

uma rápida e progressiva consolidação, num espírito de solidariedade entre os Estados-Membros, de uma política externa comum da União Europeia em matéria energética, de segurança do aprovisionamento e de cooperação com os países produtores, os países de trânsito e os consumidores, que, dada a importância estratégica do aprovisionamento energético, se deve vincular e adequar à política de segurança e defesa da União;

1.1.2

a nomeação de um Alto Representante da Política Energética para colaborar com o Alto Representante da Política Externa e de Segurança, tendo em conta que a segurança energética deverá fazer parte destas políticas. Sugere-se que seja oficialmente incumbido dessa função o comissário responsável pela energia;

1.1.3

a adopção de uma abordagem integrada entre políticas internas e externas e as políticas conexas, entre as quais a política de vizinhança e proximidade e outras ligadas à protecção ambiental;

1.1.4

que seja ultrapassado o unilateralismo energético, que mina os fundamentos do princípio de solidariedade entre os Estados-Membros e torna, além disso, muito difícil àqueles que não dispõem de poder de negociação adequado garantir o seu aprovisionamento a preços equitativos e comportáveis;

1.1.5

o desenvolvimento da Comunidade da Energia, estendendo o modelo desta parceria aos países da margem Sul do Mediterrâneo, designadamente com um mandato para apoiar o desenvolvimento da eficiência energética, das energias renováveis, das interconexões e da interoperabilidade das redes. A nova Comunidade deve ter por objectivo promover uma nova Carta da Energia e um Protocolo relativo à Eficiência Energética;

1.1.6

o seu acesso à plataforma 3 sobre a Segurança Energética da Parceria Oriental (PO) e a inclusão sistemática nesta plataforma dos representantes do grupo de trabalho 3 «Ambiente, alterações climáticas e segurança energética» do Fórum da Sociedade Civil da PO, uma vez que a voz da sociedade civil, nomeadamente os parceiros sociais, continua a ser demasiadas vezes marginalizada ou mesmo ignorada;

1.1.7

um novo enfoque institucional no tema da energia, que os tratados actuais, embora tendo reforçado sem dúvida a competência comunitária da União, continuam a manter num âmbito complementar às políticas nacionais, cujas competências pela escolha da combinação energética interna é necessário preservar. Para tal, convida-se a Comissão a estudar a viabilidade de um tratado da União sobre energia, tendo como modelo o Tratado Euratom;

1.1.8

a busca de um acordo multilateral e abrangente com a Rússia, visando defender os interesses gerais da União. Esta política deveria dirigir-se igualmente aos países do Cáucaso que assumirão, no futuro, um papel cada vez mais importante no aprovisionamento energético da Europa;

1.1.9

o estabelecimento de parcerias estratégicas com os Estados Unidos, o Japão, o Brasil, a Índia e a China no âmbito da eficiência e da segurança do aprovisionamento energético, bem como do combate às emissões de gases com efeito de estufa, tendo em vista a conclusão de um acordo global para o período pós-Quioto; a renovação dos acordos existentes com as democracias emergentes do Norte de África e do Médio Oriente, que tenham em conta as suas necessidades de desenvolvimento;

1.1.10

que seja ponderada a organização de uma conferência internacional sobre o tema, com o objectivo de definir uma Carta da Energia e um Protocolo relativo à Eficiência Energética mais eficaz, mais interventiva, mais disseminada e adaptada aos desenvolvimentos económicos e políticos que o tema da energia vier a suscitar;

1.1.11

a redução progressiva da dependência energética da Europa, através de políticas mais determinadas e coercivas, no âmbito da eficiência energética e do apoio ao desenvolvimento de fontes energéticas alternativas e sustentáveis com baixas emissões de CO2;

1.1.12

que seja dada prioridade aos projectos de diversificação energética realizados nos países vizinhos, como o corredor energético da UE do Mar Cáspio ao Mar Negro e, em especial, o gasoduto Nabucco, às infra-estruturas destinadas ao gás natural liquefeito (GNL), à interconexão das redes eléctricas e à conclusão do anel euromediterrânico das infra-estruturas de electricidade (Med-ring) e de gás, bem como a novos projectos de infra-estruturas petrolíferas de interesse europeu, como os projectos Odessa-Gdansk, Constança-Trieste e o Nord Stream, de importância fundamental para a Finlândia e relativamente ao qual se deveria renegociar as possibilidades de interconexão com os países bálticos e a Polónia;

1.1.13

que as instituições europeias se preparem para enfrentar seriamente e com espírito de solidariedade o tema do aprovisionamento energético. O CESE convida o Conselho, o Parlamento e a Comissão a adoptar todas as medidas possíveis para utilizar a diplomacia energética como um instrumento de protecção e de salvaguarda dos trabalhadores, das empresas e da qualidade de vida dos cidadãos europeus.

2.   Introdução

2.1   O pedido da Presidência da União ao Comité Económico e Social Europeu prende-se com um dos pontos mais sensíveis e fundamentais da estratégia da Europa a 27 no âmbito da energia: a segurança de aprovisionamento utilizando um dos instrumentos de cooperação da União, a política de vizinhança;

2.2   Há alguns anos que a energia se converteu num dos temas cruciais e prioritários das políticas económicas, sociais e ambientais. O desenvolvimento sustentável, presente e futuro, depende da disponibilidade de energia, da sua utilização prudente e consciente, da investigação centrada em novas energias, em estreita ligação com objectivo de uma sociedade de baixas emissões.

2.3   Quadro jurídico

2.3.1   O Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) conduziu à adopção de um novo artigo, o 194.o, que estabelece as competências da União, num espírito de solidariedade entre os Estados-Membros, em prol de uma política que vise:

assegurar o funcionamento do mercado da energia;

garantir a segurança do aprovisionamento energético da União;

promover a eficiência energética e as economias de energia, bem como o desenvolvimento de energias novas e renováveis; e

promover a interconexão das redes de energia.

2.3.2   O artigo 4.o, n.o 2, alínea i) do TFUE dota a União de competências partilhadas no domínio da energia.

2.3.3   No capítulo dos acordos internacionais, o artigo 216.o do TFUE confere à União os poderes necessários para celebrar acordos destinados a alcançar os objectivos da União.

2.4   Dependência da União Europeia dos fornecedores de países terceiros

2.4.1   No plano energético, a União Europeia é fortemente dependente dos fornecimentos assegurados por países terceiros. A edição de 2009 da Eurostat revela no capítulo sobre os «Indicadores de Energia, Transporte e Ambiente» que, apesar de uma melhoria em termos de intensidade energética, que desceu 17 pontos percentuais, a dependência do estrangeiro passou de 45 % para 53,1 %. A Dinamarca continua a ser o único país exportador líquido de energia, num total de 25,4 % das suas necessidades. A Polónia viu a sua dependência crescer de 6,4 %, em 1997, para 25,5 %, em 2007.

2.4.2   Malta, Luxemburgo, Chipre, Irlanda, Itália, Portugal são os países que apresentam as taxas de dependência mais elevadas, que variam entre os 82 % e os 100 %.

2.4.3   No que respeita às fontes de energia, a dependência da UE a 27 passou de 75,8 % para 82,6 %, no caso do petróleo. A Dinamarca é o único país que aumentou consideravelmente as suas exportações, ao passo que todos os outros países são importadores líquidos.

2.4.4   No que respeita ao gás natural, a dependência cresceu consideravelmente (33 %), passando de 45,2 % para 60,3 %. Dinamarca e Países Baixos são os únicos países exportadores, ao passo que a Irlanda registou a taxa de aumento de dependência mais elevada, tendo passado de 31,2 % para 91,4 %, entre 1997 e 2007.

2.4.5   A produção primária de energia na Europa passou de 962 384 Ktep, em 1997, para 849 592 Ktep, em 2007, com uma distribuição pelas diversas fontes que varia entre 10 %, no carvão, 12 % na lignite, 14 % no petróleo, 20 % no gás natural e 28 % no nuclear, sendo o contributo das energias renováveis de 16 % do total.

2.4.6   O consumo interno bruto aumentou 6 %, passando de 1 704 473 Ktep para 1 806 378 Ktep, tendo o carvão contribuído com 13 %, a lignite com 6 %, o petróleo com 36 %, o gás natural com 24 %, o nuclear com 13 % e as energias renováveis com 8 %. Nesta década, enquanto que a quota-parte do petróleo, do nuclear e da lignite permaneceu praticamente inalterada e houve uma diminuição de 7 % na utilização do carvão, o gás natural e as energias renováveis registaram, respectivamente, um aumento de 20 % e de 50 %, mas sem ultrapassar mesmo assim uns modestos 8 % do total.

2.5   Importações por país de origem

2.5.1   Os principais fornecedores de combustível para a produção de energia são (2007),

Gás natural

Petróleo

Carvão

Urânio (2009)

Rússia 39 %

Rússia 33 %

Rússia 25 %

Austrália 22 %

Noruega 26 %

Noruega 15 %

África do Sul 21 %

Rússia 21 %

Argélia 16 %

Líbia 10 %

Austrália 13 %

Canadá 19 %

Líbia 5 %

Arábia Saudita 7 %

Colômbia 13 %

Níger 11 %

 

Irão 6 %

EUA 9 %

Cazaquistão 9 %

 

 

Indonésia 8 %

África do Sul – Namíbia 5 %

2.5.2   Ressalta da análise deste quadro uma concentração muito notável das importações num número reduzido de países. Verifica-se que 86 % do gás natural provém de quatro países, 71 % do petróleo de cinco países, 89 % do carvão de seis países e 87 % do urânio também de seis países.

2.5.3   Em quase todos os combustíveis, o parceiro principal é a Rússia, que supre cerca de 30 % das necessidades energéticas da UE, com importações que não cessam de crescer. Os outros países parceiros que asseguram a fatia mais importante do seu aprovisionamento energético são a Noruega, a Argélia e a Líbia, no caso dos hidrocarbonetos líquidos, a Austrália, o Canadá e o Níger, no caso do carvão e do urânio.

2.5.4   A electricidade apresenta uma evolução muito volátil. Na década analisada pelo relatório do Eurostat de 2009, houve em três anos exportações líquidas, em outros três anos um bom equilíbrio entre oferta e procura, e em cinco anos registaram-se subidas em flecha da procura junto dos fornecedores de países terceiros. A Itália é o principal país importador, com 46 283 GWh, e a França o principal país exportador, com 56 813 GWh. Em 2007, as importações de electricidade da UE a 27 atingiram os 10,5 TWh.

3.   A política da União

3.1   Com os contínuos aumentos do preço do petróleo e dos hidrocarbonetos que lhe estão associados, a sua cotação passou, em 2008, dos 90 dólares, em Fevereiro, para os 147,27, em 11 de Julho, o seu máximo histórico. Anteriormente, as crises no abastecimento de gás, que chegaram ao seu cume em Janeiro de 2006, com o bloqueio de fornecimento da Gazprom à sua parceira ucraniana, a Naftogaz, colocaram novamente o tema da energia e da segurança de aprovisionamento no centro do debate político. A crise de 2009 foi ainda pior para os países da Europa de Leste. O Comissário Europeu Andris Piebalgs, responsável pela energia, soube lidar com esta crise com firmeza e inteligência e conseguiu assegurar a regularidade do fornecimento, não obstante a quebra havida nas exportações para os Estados-Membros de cerca de 30 %, o que diminuiu a pressão dos gasodutos.

3.2   O tema da energia já tinha um papel de destaque tanto no tratado CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), a partir de 1952, como no Euratom, a partir de 1957. Nos debates que antecederam o Tratado de Roma, havia quem considerasse que este tema deveria fazer parte integrante das actividades do mercado comum e estribar-se firmemente numa competência europeia.

3.3   Só anos mais tarde, e confrontada com uma crise gravíssima, é que a Europa ficou ciente de que não só a sua dependência energética revestia uma enorme importância sob o ponto de vista económico como também e sobretudo de que o fornecimento de energia poderia ser facilmente utilizado como arma de pressão política.

3.4   A crescente dependência da UE do aprovisionamento proveniente de zonas e países não democráticos e instáveis, onde frequentemente os direitos humanos e sociais não são respeitados, bem como a dependência dos seus fornecedores russos, sobretudo de gás, são evidentemente muito preocupantes e poderão, a longo prazo, não só causar muitos problemas aos Estados-Membros, como também, e principalmente, comprometer a segurança de toda a União.

3.5   O cenário internacional alterou-se profundamente. O papel económico e político da China, da Índia e do Brasil, as estratégias de longo prazo dos Estados Unidos para preservar as suas reservas internas o mais tempo possível, o que faz aumentar a sua procura energética nos mercados internacionais, a crescente instabilidade e a radicalização dos conflitos nas regiões exportadoras, tornam indispensável uma mudança profunda nas políticas europeias. A segurança energética tornou-se, pois, um factor incondicional da segurança nacional e do desenvolvimento económico.

4.   Os novos cenários

4.1   Dada a relevância estratégica da segurança energética, qualquer novo cenário deve ter em conta todas as alternativas possíveis nos países vizinhos situados a Leste, a Sul, da bacia do Mediterrâneo e do Médio Oriente. É imperioso acelerar a plena realização da parceira estratégica UE-África e começar com os preparativos de uma grande conferência internacional sobre o acesso à energia e segurança energética, com o objectivo de redigir novas regras comuns. Caso se chegue a um novo pacto global sobre segurança energética, as agências internacionais especializadas deveriam incumbir-se do controlo da sua aplicação e as grandes instituições internacionais deveriam estar entre os principais actores deste dossiê, dada a importância vital do tema.

4.2   A UE deve considerar a segurança de aprovisionamento como uma das prioridades da sua política externa e de segurança, criando um novo cargo de Alto Representante da Política Energética para colaborar com o responsável pela política externa. Embora tenha havido alguns avanços em matéria de política comum, os Estados-Membros têm ainda o controlo da situação, graças às suas relações bilaterais com os países produtores.

4.3   Não obstante as alterações ao Tratado e o novo artigo 194.o do TFUE, não se sabe ainda muito bem como a União irá exercer as suas competências e, sobretudo, como irá traduzir «o espírito de solidariedade» em termos operacionais. Realizaram-se alguns progressos, por exemplo, no âmbito das reservas estratégicas de gás, onde se nota pela primeira vez um empenhamento solidário. Actualmente, a Comissão está a tentar praticar uma política externa consistente. Durante o ano em curso, será publicada uma comunicação sobre políticas internacionais e segurança energética. Todavia, e contrariando estes esforços, alguns Estados-Membros estão empenhados em desenvolver uma política externa de aprovisionamento energético, particularmente em relação à Rússia e a alguns países da bacia do Mediterrâneo, que causa a outros países sérias dificuldades e debilita a capacidade colectiva de conferir peso e relevância à União.

4.4   É por demais evidente que a actual formulação do Tratado é um compromisso útil mas insuficiente para fazer frente aos desafios futuros. A política energética deverá ser reconsiderada, na sua íntegra, num tratado específico, com base no modelo Euratom, que confira à política de segurança um perfil institucional vincado e trate a política de segurança energética como uma das suas componentes. Há que ultrapassar o unilateralismo energético, graças a uma vigorosa política comum de solidariedade energética, baseada na diversificação e na combinação energética mais adequada às condições e às características de cada um dos Estados-Membros, mas sobretudo na sustentabilidade ambiental, visto serem os sectores principais ligados às necessidades energéticas, como a produção, o transporte e a distribuição de electricidade, os transportes e o aquecimento quem mais contribui, de longe, para as emissões de gases com efeito de estufa.

4.5   A dimensão oriental da política externa da União

4.5.1   Por exemplo, no âmbito da política de vizinhança, tanto em relação aos países de Leste, como à Moldávia, à Ucrânia e à Bielorrússia, e apesar das conhecidas dificuldades políticas, é necessário intensificar a cooperação e a associação destes países a políticas comuns, naturalmente num quadro de garantia e respeito das regras democráticas e dos direitos humanos, que ainda há pouco foram postos duramente à prova na Bielorrússia com a violenta repressão da oposição. A experiência da Comunidade da Energia com os países dos Balcãs e de Leste tem sido positiva. Nascida com o objectivo de apoiar uma possível integração dos países da antiga Jugoslávia, essa Comunidade foi-se alargando, permitindo a recente adesão da Ucrânia aproximar ainda mais o projecto dos nossos vizinhos e dos países da Ásia Central, como o Uzbequistão e a Quirguízia.

4.5.2   Em 2008, a Polónia e a Suécia propuseram o estabelecimento da Parceria Oriental, enquanto iniciativa da União destinada a seis países vizinhos (Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Moldávia e Ucrânia), cujo objectivo é aprofundar a cooperação política e a integração económica, assim como criar estruturas de cooperação multilateral na região. A primeira cimeira oficial dos países da PO, que lançaram as actividades de parceria, teve lugar em 7 de Maio de 2009, em Praga.

4.5.3   O CESE, que participou em três das quatro plataformas temáticas da PO, solicita instantemente o seu acesso à plataforma 3 (segurança energética) que se ocupa com a consolidação da Comunidade da Energia e da Carta da Energia, o aumento da eficiência energética e a afirmação do papel dos recursos renováveis. Aumentar a eficiência energética nas economias dos parceiros orientais da UE e promover a utilização de fontes de energia renováveis nos países vizinhos deve ser uma das acções primordiais no quadro da parceria. Outras acções são também necessárias para promover a cooperação, modernizar as infra-estruturas de distribuição da energia e fomentar outras interligações entre as redes de produção e de distribuição de energia..

4.5.4   Estas questões são de importância vital para a sociedade civil e não devem, por conseguinte, ser deixadas ao critério exclusivo dos poderes públicos e das instituições financeiras. O CESE defende que a plataforma 3 da Parceria Oriental inclua sistematicamente, e não apenas ocasionalmente, representantes do grupo de trabalho 3 «Ambiente, alterações climáticas e segurança energética» do Fórum da Sociedade Civil da Parceria Oriental, uma vez que a voz da sociedade civil, nomeadamente os parceiros sociais, continua a ser demasiadas vezes marginalizada ou mesmo ignorada. A iniciativa de criar um fórum empresarial no âmbito da Parceria Oriental constitui uma tentativa de reforçar o diálogo social em matéria de economia e, consequentemente, energia.

4.6   A dimensão euromediterrânica da política externa da UE

4.6.1   Dado o clima de agitação política em vários países do Sul da bacia mediterrânica, é imperioso que os decisores consultem e envolvam a sociedade civil das duas margens do Mediterrâneo no contexto das futuras políticas energéticas comuns, para que essas políticas não sejam vistas como impostas do topo para a base ou a partir do exterior, mas contem antes com o verdadeiro apoio da opinião pública. O CESE tem vindo a empenhar-se na realização de uma assembleia dos conselhos económicos e sociais da região mediterrânica, no Outono de 2011. Esta assembleia poderia constituir um fórum essencial para uma troca de pontos de vista com a sociedade civil sobre a política energética.

4.6.2   A União deverá propor também aos países da margem Sul do Mediterrâneo a sua associação a uma Comunidade da Energia específica. A conclusão do Anel Eléctrico do Mediterrâneo (Med-ring), os projectos em fase de elaboração como o Desertec, o Plano Solar Mediterrânico, bem como a própria cooperação mediterrânica deverão induzir ao desenvolvimento, por exemplo no Magrebe, de uma cooperação mais estreita no âmbito da eficiência energética, das fontes renováveis, do transporte e da interconexão das redes, bem como da modernização dos sistemas de geração e distribuição.

4.6.3   Os benefícios para a União são evidentes. O reforço das infra-estruturas dos nossos parceiros no Mediterrâneo ajudá-los-á a alcançar muitos dos objectivos comuns: o desenvolvimento sustentável, a diminuição da procura energética global, que contribuirá para a estabilização da segurança energética e dos preços das matérias-primas, e a redução das emissões.

4.6.4   Estes contributos, incluindo os financeiros, com o apoio do BEI no que respeita ao Mediterrâneo e do BERD para alguns dos países da sua área de intervenção, podem ser incluídos na rubrica de assistência económica que a União se deverá comprometer a promover a favor das economias menos desenvolvidas, para que estas possam permitir-se um desenvolvimento sustentável e um nível reduzido de emissões de CO2.

4.7   No futuro próximo, o eixo estratégico a partir do qual a Comunidade apoiará os países parceiros será constituído por programas destinados a melhorar sensivelmente a eficiência energética. Um tal projecto insere-se igualmente na cooperação ambiental e naquelas que serão as novas metas do período pós-Quioto.

4.8   Os objectivos de uma nova «diplomacia energética», a manter com os países produtores, os países de trânsito e os consumidores, deverão integrar-se num novo quadro institucional europeu, bem como em acordos e tratados baseados no modelo do Tratado da Carta da Energia e do Protocolo relativo à Eficiência Energética, instrumentos de cooperação e resolução dos litígios internacionais que não têm sido particularmente eficazes não obstante os seus vinte anos de existência.

4.9   A União Europeia deverá promover uma nova Carta e um novo Protocolo com os países da margem Sul do Mediterrâneo e relançar a revisão e o reforço da Carta actual, vinculando os Estados-Membros a uma política de solidariedade energética. Neste sentido, assume especial importância o desenvolvimento da integração no âmbito dos Países Bálticos.

4.10   O Árctico e o mar de Barents serão não só uma das zonas de desenvolvimento económico mais dinâmicas da UE como também uma região de importância crucial para a Noruega, a Rússia, os Estados Unidos e o Canadá. Os interesses desta região, tanto ao nível local como mundial, constituem uma questão europeia que apenas poderá ser tratada no âmbito de uma política vigorosa e realista por parte da UE.

4.11   O unilateralismo reduziu drasticamente as possibilidades da União de fazer valer a sua influência e permitiu aos países fornecedores, nomeadamente a Rússia, interferir de forma determinante nas escolhas democráticas de alguns dos seus vizinhos. Com efeito, a União, que é destinatária de mais de 67 % das exportações russas de produtos energéticos, e por razões óbvias de vizinhança e políticas, não conseguirá encontrar facilmente outros mercados tão acessíveis como o actual.

4.12   A Rússia deverá ser acolhida na OMC, desde que dê garantias inequívocas quanto ao comportamento dos seus monopólios energéticos, frequentemente inspirados e apoiados pelo poder político e, naturalmente, resolva os seus conflitos com a Geórgia através de um acordo bilateral.

5.   Parcerias estratégicas com os EUA, o Japão, o Brasil, a Índia e a China

5.1   Será fundamental desenvolver parcerias estratégicas com os principais intervenientes no mercado energético mundial – os EUA, o Japão, o Brasil, a Índia e a China A cooperação e o acordo deverão incidir especificamente num aprovisionamento garantido e a um preço justo, na prioridade à eficiência energética e na redução das emissões de gases com efeito de estufa.

5.2   O tema da segurança de aprovisionamento, que tem evidentes repercussões no tema da segurança em geral, no desenvolvimento sustentável e no combate às alterações climáticas, exige um amplo consenso multilateral. A concorrência económica não poderá comprometer a estabilidade e a paz. É, pois, necessário prevenir eventuais agravamentos de tensões internacionais que caracterizam já hoje um bom número de zonas fornecedoras de hidrocarbonetos.

5.3   Já há algum tempo que a energia é tema dos debates do G20. Haverá agora que traduzir estes debates, que muitas vezes se ficam pelas boas intenções, em acordos e parcerias estratégicas. Provavelmente, a abordagem mais realista é a dos acordos bilaterais. A União esquece-se frequentemente de que é a primeira zona económica do mundo e não consegue impor a sua agenda aos seus parceiros. Uma agenda que vise reforçar as principais orientações da política externa europeia, as quais devem continuar a insistir na disseminação dos princípios democráticos, no respeito dos direitos humanos, na autodeterminação dos povos e na recusa em recorrer à guerra como via de resolução dos conflitos entre os povos, que deverá passar antes pelo reforço das instituições internacionais.

5.4   As novas economias emergentes estão igualmente interessadas, à semelhança da União, num quadro internacional de aprovisionamentos estáveis e garantidos, a preços razoáveis. A acção da União deverá centrar-se igualmente na criação de parcerias estratégicas com estes países, favorecendo um sistema de regras adaptadas a uma economia de mercado capaz de reforçar a cooperação e evitar a corridas, tão inúteis como dispendiosas, ao açambarcamento de matérias-primas.

Bruxelas, 15 de Março de 2011

O Presidente do Comité Económico e Social Europeu

Staffan NILSSON


ANEXO

ao Parecer do Comité Económico e Social Europeu

A seguinte proposta de alteração foi rejeitada durante o debate, tendo recolhido, contudo, pelo menos um quarto dos sufrágios expressos:

Ponto 1.1.12

Suprimir.

«que seja dada prioridade aos projectos de diversificação energética realizados nos países vizinhos, como o corredor energético da UE do Mar Cáspio ao Mar Negro e, em especial, o gasoduto Nabucco, às infra-estruturas destinadas ao gás natural liquefeito (GNL), à interconexão das redes eléctricas e à conclusão do anel euromediterrânico das infra-estruturas de electricidade (Med-ring) e de gás, bem como a novos projectos de infra-estruturas petrolíferas de interesse europeu, como os projectos Odessa-Gdansk, Constança-Trieste e o Nord Stream.»

Justificação

Deve deixar-se que sejam os políticos e economistas nacionais a decidir da importância destes projectos para os países referidos, especialmente visto que o traçado do Nord Stream é ainda objecto de uma disputa relacionada com o acesso ao porto de Świnoujście.

Resultado da votação

Votos a favor

:

33

Votos contra

:

46

Abstenções

:

17


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