COMISSÃO EUROPEIA
Bruxelas, 12.10.2022
COM(2022) 528 final
COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU, AO CONSELHO, AO COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU E AO COMITÉ DAS REGIÕES
Comunicação de 2022 sobre a política de alargamento da UE
{SWD(2022) 332 final} - {SWD(2022) 333 final} - {SWD(2022) 334 final} - {SWD(2022) 335 final} - {SWD(2022) 336 final} - {SWD(2022) 337 final} - {SWD(2022) 338 final}
I. INTRODUÇÃO
O início de 2022 foi marcado pela guerra de agressão não provocada e injustificada da Rússia contra a Ucrânia, que constitui um duro despertar para uma nova realidade geopolítica. Este acontecimento colocou mais uma vez o alargamento da UE no centro da agenda europeia.
Na sequência dos pedidos de adesão à UE apresentados pela Ucrânia, pela República da Moldávia e pela Geórgia na primavera de 2022, a Comissão Europeia apresentou, em 17 de junho, os seus pareceres, dando seguimento ao convite do Conselho. A Comissão recomendou que fosse concedida uma perspetiva europeia à Ucrânia, à Moldávia e à Geórgia e que fosse concedido o estatuto de país candidato à Ucrânia e à Moldávia, no pressuposto de que serão tomadas medidas em vários domínios e, no caso da Geórgia, uma vez resolvidas diversas prioridades. Em 23 de junho, o Conselho Europeu aprovou as recomendações da Comissão, tendo reconhecido a perspetiva europeia dos três países candidatos e concedido à Ucrânia e à Moldávia o estatuto de país candidato à adesão à UE. A Comissão apresentará um relatório sobre o cumprimento das etapas/prioridades especificadas nos seus pareceres sobre os pedidos de adesão, no âmbito do seu pacote periódico do alargamento, no qual a Ucrânia, a Moldávia e a Geórgia serão incluídas a partir de 2023. Mais ainda, até ao final de 2022, a Comissão apresentará as suas avaliações sobre a capacidade destes três países de cumprirem as obrigações decorrentes da adesão à UE. A agressão russa demonstrou mais claramente do que nunca que a perspetiva de adesão à União Europeia é uma âncora forte, não só para a prosperidade, mas também para a paz e a segurança.
Neste contexto, os dirigentes da UE e dos Balcãs Ocidentais reuniram-se em 23 de junho antes do Conselho Europeu, tendo debatido os progressos relativos à integração na UE e os desafios decorrentes da agressão da Rússia contra a Ucrânia. A reunião constituiu também uma oportunidade para sublinhar o significado do alinhamento com os valores da UE e a política externa e de segurança comum (PESC), uma questão cuja importância tem aumentado neste novo contexto geopolítico. Foi dada especial atenção à integração dos Balcãs Ocidentais nas medidas da UE para reduzir o impacto negativo da agressão russa na Ucrânia em termos de abastecimento alimentar e energético e independência, bem como às medidas de apoio ao reforço das capacidades em matéria de cibersegurança e à agenda social, nomeadamente envolvendo os jovens na economia.
O empenho pleno e inequívoco na perspetiva de adesão dos Balcãs Ocidentais à UE foi reiterado pelos dirigentes da UE em 23 e 24 de junho. O Conselho Europeu apelou à aceleração do processo de adesão e a um maior avanço da integração gradual entre a União Europeia e os Balcãs Ocidentais durante o processo de alargamento de uma forma reversível e baseada no mérito, com base na metodologia revista. Reiterou a importância das reformas, nomeadamente no domínio do Estado de direito e, em especial, da independência e do funcionamento do sistema judicial e da luta contra a corrupção. O Conselho Europeu reafirmou a urgência de realizar progressos concretos a fim de resolver os diferendos bilaterais e regionais pendentes, nomeadamente através do Diálogo Belgrado-Pristina sobre a normalização das relações entre a Sérvia e o Kosovo. O Conselho Europeu declarou-se disposto a conceder o estatuto de país candidato à Bósnia-Herzegovina e, para o efeito, convidou a Comissão a apresentar sem demora ao Conselho um relatório sobre a implementação das 14 prioridades essenciais estabelecidas no seu parecer, prestando especial atenção às que constituem um conjunto substancial de reformas a fim de que o Conselho Europeu volte a decidir sobre a matéria.
Em 19 de julho, realizaram-se as primeiras conferências intergovernamentais sobre as negociações de adesão com a Macedónia do Norte e a Albânia, dando início a uma nova fase da política de alargamento da UE. A Comissão lançou imediatamente o processo de análise do acervo da UE (screening).
Os desafios geopolíticos, em especial a agressão da Rússia contra a Ucrânia, também aproximaram a UE e os Balcãs Ocidentais e exigiram total solidariedade entre eles. A UE integrou os Balcãs Ocidentais nas suas próprias iniciativas em matéria de segurança alimentar e energética em resposta à guerra. A região faz parte do mecanismo europeu de preparação e resposta a crises de segurança alimentar e foi convidada a participar nas aquisições conjuntas da UE de gás, gás natural liquefeito e hidrogénio. A Turquia desempenhou um papel fundamental na mediação de negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia e dos acordos sobre cereais no mês de julho. Enquanto grande produtor de produtos agrícolas, a Turquia é um parceiro estratégico no que diz respeito à segurança alimentar mundial.
A Albânia, a Bósnia-Herzegovina, o Kosovo, a Macedónia do Norte e o Montenegro alinharam‑se com as medidas restritivas da UE em resposta à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Até à data, a Sérvia e a Turquia ainda não o fizeram.
A Turquia continua a ser um parceiro fundamental para a União Europeia e um país candidato à adesão. As negociações de adesão com a Turquia encontram-se num impasse desde 2018. O país continuou a afastar-se da UE, devido ao contínuo retrocesso nos domínios dos direitos fundamentais, da independência do poder judicial, da gestão económica e da falta de realização de reformas em algumas questões setoriais. No que diz respeito ao Mediterrâneo Oriental, o Conselho Europeu de junho de 2022 manifestou a sua profunda preocupação com as recentes ações e declarações reiteradas da Turquia.
Em junho de 2022, o Conselho Europeu realizou um debate estratégico sobre as relações da União Europeia com os seus parceiros da Europa. Em 6 de outubro de 2022, realizou-se em Praga a primeira reunião de um formato mais amplo de países europeus, a chamada Comunidade Política Europeia. Mais de quarenta líderes de países europeus debateram a energia, a segurança, o clima e a situação económica na Europa. Foi também debatida a orientação futura dessa plataforma, tendo sido tomada a decisão de realizar a próxima reunião na Moldávia. Este quadro informal não substituirá as atuais políticas e instrumentos da UE, nomeadamente o alargamento, e respeitará plenamente a autonomia decisória da União Europeia.
Panorâmica dos principais desenvolvimentos
A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia abalou os mercados da energia, desencadeando uma elevada volatilidade dos preços e a insegurança energética com consequências na UE e na sua vizinhança imediata. O aumento dos preços da energia está também a ter um impacto noutros setores, como os transportes (aumento dos preços dos combustíveis) e a indústria (aumento dos preços das matérias-primas e dos fertilizantes). Para além da energia, a crise teve um grande impacto no setor agroalimentar e noutros mercados, nomeadamente na disponibilidade e acessibilidade dos alimentos, cereais e algumas matérias-primas, assim como dos preços de outros produtos de base. Existe um grande potencial inexplorado para criar parcerias estratégicas sustentáveis e responsáveis no domínio das matérias-primas essenciais, sendo importante integrar os Balcãs Ocidentais nas cadeias de abastecimento da UE.
A UE associou os Balcãs Ocidentais aos seus esforços para atenuar o impacto da guerra e da pandemia de COVID-19.
Têm sido envidados esforços consideráveis para acelerar a integração dos Balcãs Ocidentais, dado o seu estatuto de países candidatos e potenciais candidatos. Esse processo passa pela participação em programas e agências da UE, e também pela aplicação dos acordos de estabilização e de associação, do Plano Económico e de Investimento (PEI), de quadros de cooperação regional inclusivos, como a Estratégia da UE para a Região Adriática e Jónica e da Estratégia da UE para a Região do Danúbio, e, pela integração económica regional. A UE tem vindo a reforçar constantemente o seu compromisso político com os Balcãs Ocidentais, centrando‑se em domínios de interesse comum como a justiça e os assuntos internos, a economia e o mercado único, a energia, os transportes e a política digital, a proteção civil, a política social, a educação, a investigação e a inovação, bem como os assuntos externos, a segurança e a defesa. A participação nestes últimos domínios inclui o apoio ao reforço das capacidades de defesa e ciberdefesa. O processo de estabilização e de associação já prevê uma integração considerável antes da data de adesão. Para além das oportunidades proporcionadas pelos acordos de estabilização e de associação, outros acordos regionais, nomeadamente sobre a Comunidade dos Transportes e a Comunidade da Energia, oferecem perspetivas importantes de integração. Através da Comunidade da Energia, a UE também está a abrir o seu mercado da eletricidade aos Balcãs Ocidentais, sob reserva de reformas regulamentares. Neste contexto, é fundamental fazer avançar a agenda de integração do mercado da eletricidade na região e com a UE, incluindo a adoção de uma metodologia comum para o cálculo da capacidade de transporte. A transição ecológica é a melhor oportunidade de a Europa se tornar mais independente do ponto de vista energético e contribuir para abrandar as alterações climáticas e melhorar a vida das pessoas. O Plano REPowerEU, apoiado pela participação externa da UE no domínio da energia num mundo em mudança, ambos lançados pela Comissão Europeia em maio de 2022, contribuirá para reduzir a dependência da UE e dos Balcãs Ocidentais em relação ao gás russo. Os Balcãs Ocidentais deverão alinhar-se plenamente pela legislação e pelas prioridades políticas da UE no âmbito deste plano. A nova plataforma energética da UE ajudará a congregar a procura, a coordenar a utilização das infraestruturas, a negociar com parceiros internacionais e a preparar a aquisição conjunta de gás, hidrogénio e gás natural liquefeito. O REPowerEU também incentiva a diversificação energética como parte do reforço da segurança energética, incluindo a diversificação do aprovisionamento de gás natural. Embora as medidas de curto prazo possam ajudar a atenuar os efeitos desta situação, a atual crise demonstra claramente a necessidade urgente de proceder às transições ecológica e digital como motores de crescimento e de diversificação sustentados.
A cooperação nestes domínios é apoiada por uma maior participação dos Balcãs Ocidentais em conselhos informais e por contactos periódicos de alto nível. Os dirigentes da UE mantiveram o diálogo com os seus homólogos dos Balcãs Ocidentais, inclusive a nível de cimeiras, mais recentemente na reunião dos dirigentes da UE e dos Balcãs Ocidentais de junho de 2022. Na sequência do Conselho dos Negócios Estrangeiros de maio de 2022, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE procederam pela primeira vez a uma troca informal de pontos de vista com os seis homólogos dos Balcãs Ocidentais. Desde os compromissos assumidos na Cimeira de Brdo, os parceiros dos Balcãs Ocidentais foram convidados a contribuir por escrito para as reuniões do Conselho dos Negócios Estrangeiros, sendo posteriormente informados dos seus resultados. Participam igualmente na fase-piloto da Academia Diplomática Europeia. Em dezembro de 2021, no castelo de Brdo, o Fórum Ministerial UE-Balcãs Ocidentais sobre Justiça e Assuntos Internos, que se realiza anualmente, constituiu uma oportunidade para a UE debater com a região o reforço da gestão da migração, do asilo e das fronteiras, a luta contra o terrorismo, o extremismo e a radicalização, a luta contra a criminalidade organizada, o reforço do Estado de direito e as reformas judiciais. A reunião ministerial das três plataformas dos Balcãs Ocidentais sobre cultura, investigação e inovação, educação e formação realizou-se em Tirana, em junho de 2022, no contexto da cooperação mais estreita lançada pela agenda dos Balcãs Ocidentais em matéria de inovação, investigação, educação, cultura, juventude e desporto. Um diálogo ministerial sobre os aspetos regulamentares da política digital teve lugar em Bruxelas em junho de 2022.
O Plano Económico e de Investimento para os Balcãs Ocidentais (PEI) continuou a associar as reformas e os investimentos necessários nos diferentes países, proporcionando uma visão de longo prazo, nomeadamente em matéria de políticas de infraestruturas e de conectividade. O plano entrou na sua fase de execução e continuou a servir de modelo para a assistência da UE destinada a colmatar o fosso socioeconómico entre a região e a UE e a contribuir para a sua transição ecológica e digital. O Plano Económico e de Investimento e a Agenda Verde, que se centram na ação climática, na economia circular, na biodiversidade, na luta contra a poluição e nos sistemas alimentares sustentáveis, são os melhores instrumentos de que a região dispõe para reforçar gradualmente a sua resiliência e independência energética. As principais iniciativas emblemáticas do plano visam o abandono do carvão, a diversificação das rotas de aprovisionamento de gás, o investimento em fontes de energia renováveis e a intensificação da poupança de energia através da vaga de renovação. O anexo da presente comunicação contém uma panorâmica pormenorizada da execução do PEI.
O Quadro de Investimento para os Balcãs Ocidentais aprovou cofinanciamento da UE e dos doadores bilaterais para 24 investimentos emblemáticos em infraestruturas em corredores essenciais de energia e transportes e para o setor social, digital, energias renováveis, eficiência energética e estações de tratamento de resíduos e de águas residuais, num valor total superior a 3 300 milhões de EUR. A região está também a avançar na implementação da Agenda Verde graças ao apoio da UE. É necessário aprofundar os esforços em matéria de reformas para apoiar a transição ecológica e a integração económica regional, a fim de tirar partido de todo o potencial dos investimentos.
Para melhor apoiar a recuperação económica pós-pandemia e fazer face às consequências da guerra da Rússia contra a Ucrânia, é crucial que os próximos Programas de Reforma Económica proponham medidas que promovam um crescimento económico inclusivo e sustentável, em consonância com as prioridades da UE em matéria de transição ecológica e digitalização. A fim de aproveitar as oportunidades e minimizar as potenciais implicações negativas destes desafios, é crucial que os parceiros dos Balcãs Ocidentais e da Turquia mantenham a estabilidade macrofinanceira e implementem reformas estruturais para resolver as insuficiências identificadas nas suas economias e aumentar a resiliência das suas sociedades a longo prazo. Dada a elevada incerteza, a deterioração das perspetivas de crescimento e as pressões inflacionistas elevadas e persistentes, serão necessárias medidas específicas e temporárias para atenuar os impactos negativos nas camadas mais vulneráveis da população. Este apoio deve ser cuidadosamente equilibrado com a necessidade de reconstituir reservas orçamentais e reduzir as vulnerabilidades relacionadas com a dívida pública através de estratégias credíveis de consolidação orçamental a médio prazo. Travar a inflação muito elevada e ainda em crescimento, reduzir os desequilíbrios macroeconómicos e restabelecer a credibilidade das políticas macroeconómicas são particularmente importantes para a Turquia. Por conseguinte, a aplicação das reformas previstas nos Programas de Reforma Económica e nas orientações políticas adotadas conjuntamente com os Estados-Membros da UE é essencial não só para melhorar a competitividade, fomentar a criação de emprego e facilitar a inclusão social, mas também para garantir a sustentabilidade orçamental e cumprir os critérios económicos no processo de adesão, bem como para maximizar o impacto potencial do pacote de investimento da UE.
Com a adoção do Regulamento IPA III, em setembro de 2021, e do respetivo quadro de programação, em dezembro de 2021, a execução do IPA III encontra-se em curso. Antes do final de 2021, a Comissão adotou decisões de financiamento anuais e plurianuais no valor de mais de 4 mil milhões de EUR. Estes esforços aumentaram a execução do Plano Económico e de Investimento para os Balcãs Ocidentais A programação do IPA III continuou a basear-se numa abordagem sólida orientada em função de objetivos políticos, que envolve uma mobilização estratégica e dinâmica da assistência e coloca no seu cerne os requisitos fundamentais para a adesão. Realizaram-se dois diálogos geopolíticos de alto nível entre a Comissão e o Parlamento Europeu, em outubro de 2021 e maio de 2022, para debater a abordagem geral da execução do IPA III, os seus objetivos e a programação dos fundos do IPA.
Os Balcãs Ocidentais devem intensificar os seus esforços e reunir a vontade política necessária para resolver os problemas que entravam a realização do mercado comum regional, o que maximizará os benefícios do PEI. Na Cimeira de Sófia sobre o processo de Berlim, em novembro de 2020, a região chegou a acordo sobre um plano ambicioso para a criação de um mercado regional comum. Registaram-se alguns progressos, por exemplo, o alargamento dos corredores verdes aos Estados-Membros da UE. No entanto, devido a divergências não relacionadas com o trabalho de fundo sobre o mercado comum regional, não foi possível até à data obter a aprovação política dos acordos completados a nível técnico. Esses acordos no âmbito do mercado comum regional trariam benefícios significativos em termos da atratividade e da competitividade de toda a região, acelerando a recuperação pós-pandemia e atenuando o impacto da agressão da Rússia contra a Ucrânia. Também atrairiam investidores que procuram diversificar o aprovisionamento e cadeias de valor mais curtas e ajudaria a maximizar os benefícios dos investimentos em infraestruturas de conectividade. Por conseguinte, é importante que todas as partes desempenhem um papel construtivo na criação do mercado comum regional e na concretização dos seus compromissos conjuntos em benefício dos cidadãos e das empresas da região. A iniciativa «Balcãs Abertos» (Open Balkan), lançada pela Albânia, pela Macedónia do Norte e pela Sérvia, pode desempenhar um papel positivo no processo, desde que se baseie nas regras da UE e continue a ser inclusiva em relação a todos os parceiros dos Balcãs Ocidentais. Apesar das novas restrições no que se refere ao aprovisionamento, os Balcãs Ocidentais devem abster-se de introduzir restrições unilaterais ao comércio. Quaisquer medidas em vigor que violem os acordos de estabilização e de associação e ao Acordo de Comércio Livre da Europa Central (CEFTA) e contrariem o espírito do mercado comum regional devem ser abandonadas com caráter prioritário.
A agressão da Rússia contra a Ucrânia teve fortes repercussões em toda a região e sublinhou ainda mais a importância do alinhamento da política externa e de segurança comum no processo de alargamento. Os Balcãs Ocidentais e a Turquia alinharam-se com a grande maioria da comunidade internacional, incluindo a UE, tendo votado favoravelmente duas resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia e o seu impacto a nível humanitário, bem como por ocasião da votação sobre a suspensão da Rússia do Conselho dos Direitos Humanos. Enquanto membro não permanente desde janeiro de 2022, a Albânia tem participado ativamente nos trabalhos do Conselho de Segurança das Nações Unidas, incluindo como co-redator de resoluções que condenam a agressão. O pleno alinhamento da Albânia, do Montenegro e da Macedónia do Norte com a PESC é um forte sinal da sua opção estratégica de aderir à UE. O aumento significativo da taxa de alinhamento formal da Bósnia-Herzegovina com a PESC e o alinhamento unilateral do Kosovo são igualmente reconhecidos e acolhidos favoravelmente. A taxa de alinhamento da Sérvia com a PESC diminuiu substancialmente durante o período de referência. A Sérvia deverá, com caráter prioritário, cumprir o seu compromisso e alinhar-se progressivamente com a PESC, nomeadamente com as medidas restritivas impostas, em consonância com o quadro de negociação. O alinhamento da Turquia com a PESC continuou a deteriorar-se durante o período de referência, nomeadamente pelo facto de não se ter alinhado com as medidas restritivas adotadas pela UE contra a Rússia.
O Montenegro e a Sérvia continuaram a aplicar a metodologia estabelecida na Comunicação da Comissão «Reforçar o processo de adesão — Uma perspetiva credível de adesão à UE para os Balcãs Ocidentais»
aprovada em 2021 nas conferências políticas intergovernamentais realizadas com estes países. O Montenegro tem todos os capítulos abertos a negociações, três dos quais foram provisoriamente encerrados. Os progressos da Sérvia em termos de reforma permitiram a abertura de negociações no âmbito do conjunto de capítulos 4 sobre a Agenda Verde e a conectividade sustentável na conferência intergovernamental com a Sérvia que teve lugar em dezembro de 2021. Essa conferência intergovernamental também definiu o caminho a seguir com vista à abertura de capítulos com base nos progressos esperados do país, em especial no que se refere às reformas do Estado de direito e à normalização das relações com o Kosovo. A conferência intergovernamental com o Montenegro realizada em dezembro de 2021 proporcionou uma orientação política destinada a acelerar os trabalhos para cumprir os marcos de referência provisórios em matéria de Estado de direito que constituem o próximo marco necessário para se poder avançar nas negociações de adesão.
Em consonância com a metodologia revista, nas conclusões e recomendações da presente comunicação a Comissão avalia o balanço global das negociações de adesão com o Montenegro e a Sérvia e apresenta propostas para as fases seguintes para cada país. As próximas conferências intergovernamentais deverão ter lugar após a publicação do presente pacote anual de relatórios e das subsequentes conclusões do Conselho.
Em 19 de julho, realizaram-se as conferências intergovernamentais sobre as negociações de adesão com a Macedónia do Norte e a Albânia. Trata-se de um reconhecimento do empenho duradouro, dos resultados das reformas e da resiliência de ambos os países na via de adesão à UE. Pela primeira vez, a metodologia de alargamento revista é aplicada na sua totalidade, o que confere a todo o processo de negociação mais previsibilidade, mais dinamismo e uma orientação política mais forte. A Comissão lançou imediatamente o processo de exame analítico (screening). Trata‑se do exame analítico do acervo legislativo da UE, realizado conjuntamente pela Comissão e por cada um dos países candidatos. Este processo permite-lhes familiarizar-se com o acervo e, subsequentemente, indicar o seu nível de alinhamento com a legislação da UE e delinear planos para um maior alinhamento.
O parecer da Comissão sobre o pedido de adesão da Bósnia-Herzegovina à União Europeia identificou 14 prioridades fundamentais que a Bósnia-Herzegovina deve cumprir para que a Comissão recomende a abertura de negociações de adesão à UE. O Conselho aprovou as 14 prioridades fundamentais em 2019. Em junho de 2022, o Conselho Europeu manifestou a sua disponibilidade para conceder o estatuto de país candidato à Bósnia-Herzegovina e convidou a Comissão a apresentar um relatório sobre a implementação das 14 prioridades fundamentais, com especial atenção para as que constituem um conjunto substancial de reformas. O presente pacote constitui a resposta a esse pedido.
A UE continuou a apoiar a implementação do acordo de estabilização e de associação com o Kosovo e a aconselhar o Governo relativamente a importantes reformas relacionadas com a UE. A proposta da Comissão relativa à liberalização do regime de vistos para os cidadãos do Kosovo ainda está pendente no Conselho. Há um sentimento renovado de urgência de tratar esta questão com caráter prioritário. A Comissão mantém a sua avaliação de 2018 segundo a qual todos os critérios estabelecidos pelo Conselho para a liberalização dos vistos com o Kosovo foram cumpridos.
A Turquia é um país candidato e um parceiro fundamental da UE em domínios essenciais de interesse comum como o comércio, a migração, a luta contra o terrorismo, a saúde pública, o clima, a energia, os transportes e as questões regionais. No domínio da energia, a Turquia continua a ser um país de trânsito importante e fiável para a UE. As negociações de adesão com a Turquia continuam num impasse. A Turquia não inverteu a tendência negativa de se afastar da União Europeia, observando-se um grave retrocesso no que toca à democracia, ao Estado de direito, aos direitos fundamentais e à independência do poder judicial. O diálogo sobre estas questões continua a ser parte integrante das relações UE-Turquia.
O diálogo e a cooperação com a Turquia intensificaram-se em conformidade com as orientações do Conselho Europeu de 2021. A União Europeia está disposta a colaborar com a Turquia de forma faseada, proporcionada e reversível, a fim de reforçar a cooperação numa série de domínios de interesse comum, desde que o atual desanuviamento seja mantido e que a Turquia se empenhe de forma construtiva, e sob reserva das condições acordadas e estabelecidas nas recentes conclusões do Conselho Europeu. A UE tem um interesse estratégico em que exista um ambiente estável e seguro no Mediterrâneo Oriental e em desenvolver uma relação de cooperação mutuamente benéfica com a Turquia. Tendo em conta a comunicação conjunta, a UE reafirmou a sua determinação, caso se registem novas provocações ou ações unilaterais contrárias ao direito internacional, em utilizar os instrumentos e as alternativas ao seu dispor para defender os seus interesses e os dos Estados-Membros, bem como para preservar a estabilidade regional. A Declaração UE-Turquia de 2016 continuou a produzir resultados e continua a ser o quadro fundamental para a cooperação em matéria de migração. A Turquia prosseguiu os esforços notáveis para acolher mais de quatro milhões de refugiados provenientes da Síria e de outros países. No entanto, continuam a registar-se problemas relacionados com a aplicação da Declaração devido à suspensão unilateral, por parte da Turquia, dos regressos de migrantes em situação irregular e à sua recusa em aceitar requerentes de asilo provenientes das ilhas gregas desde março de 2020. Mesmo assim, o número de pessoas que atravessaram ilegalmente a fronteira entre a Turquia e a UE continuou a ser significativamente inferior ao número registado antes da adoção da Declaração UE-Turquia. As rotas alternativas de introdução clandestina de migrantes para as zonas controladas pelo Governo de Chipre e para Itália representaram a maior parte das chegadas à UE em 2021. Os fluxos de migração irregular através destas rotas aumentaram substancialmente em 2022.
A UE tem continuado a honrar o seu compromisso de prestar um importante apoio financeiro aos refugiados e às respetivas comunidades de acolhimento na Turquia. O Mecanismo em Favor dos Refugiados na Turquia mobilizou 6 mil milhões de EUR. O seu orçamento operacional total foi adjudicado no final de 2020, com mais de 4 700 milhões de EUR desembolsados até junho de 2022. As suas realizações incluem a satisfação das necessidades básicas de 1,9 milhões de refugiados, a escolarização de 740 000 crianças refugiadas, a construção em curso de 405 escolas e a realização de mais de 22,8 milhões de consultas médicas. A Comissão atribuiu um pacote adicional de 3 500 milhões de EUR para o período de 2020-2023. O pacote incluirá o financiamento da gestão da migração e do controlo das fronteiras, nomeadamente na fronteira oriental da Turquia.
Tanto a UE como a Turquia continuam a beneficiar da União Aduaneira e a integração económica do país com a UE mantém-se elevada. A Comissão continuou a intensificar o seu diálogo com a Turquia para resolver os diferendos comerciais que impedem o bom funcionamento da União Aduaneira. No entanto, os progressos foram escassos e a grande maioria dos obstáculos ao comércio não foi resolvida.
A política externa unilateral da Turquia continuou a estar em contradição com as prioridades da UE no âmbito da PESC e com os interesses mais vastos da UE, nomeadamente devido às suas intervenções e apoio a ações militares em alguns conflitos regionais. No entanto, o país permaneceu aberto ao diálogo político sobre questões regionais. A taxa de alinhamento da Turquia com a PESC continuou a deteriorar-se. O Conselho Europeu manifestou a expectativa de que a Turquia e todas as partes envolvidas contribuam positivamente para a resolução das crises regionais. A Turquia está ativamente empenhado a nível diplomático em enfrentar os vários desafios relacionados com a agressão da Rússia contra a Ucrânia, procurando desanuviar o conflito, nomeadamente, através de um cessar-fogo. Além disso, tomou uma iniciativa diplomática para facilitar a exportação de cereais ucranianos. O acordo alcançado entre a Ucrânia e a Rússia em julho, em Istambul, sob a égide das Nações Unidas e da Turquia, não teria sido possível sem o papel construtivo de Turquia, que também está envolvida na facilitação da sua aplicação. No entanto, o não alinhamento da Turquia com as medidas restritivas adotadas pela UE contra a Rússia é particularmente preocupante devido à livre circulação de produtos, incluindo produtos de dupla utilização, no âmbito da União Aduaneira UE-Turquia, sendo suscetível de comprometer as medidas restritivas da UE. As partes devem respeitar plenamente as regras em vigor e evitar comprometer a confiança mútua para garantir que a União Aduaneira continue a funcionar. A Turquia assinou um memorando de entendimento para continuar a desenvolver as suas relações económicas e comerciais com a Rússia.
É essencial manter um diálogo de boa-fé e abster-se de ações unilaterais que sejam contrárias aos interesses da UE e violem o direito internacional e os direitos soberanos de Estados-Membros da UE, a fim de garantir um ambiente estável e seguro no Mediterrâneo Oriental e manter uma relação cooperativa e mutuamente benéfica entre a UE e a Turquia. As divergências devem ser resolvidas pelo diálogo pacífico e no respeito do direito internacional.
As ações em Varosha que violam as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas continuaram a comprometer a perspetiva de retomar as negociações e alcançar a resolução global do problema de Chipre. A Turquia deverá reverter imediatamente todas as ações e medidas tomadas em Varosha desde outubro de 2020.
II. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO DE ADESÃO
Espera-se que os países do alargamento avancem de forma constante nas respetivas agendas de reformas nos domínios dos «princípios fundamentais», prosseguindo as reformas e demonstrando progressos concretos em matéria de Estado de direito, economia, funcionamento das instituições democráticas e reforma da administração pública. O facto de alcançar resultados sólidos e irreversíveis em todos estes domínios continua a ser determinante para satisfazer os requisitos de adesão à UE. Em alguns casos, registaram-se progressos na reforma do sistema judicial, no aperfeiçoamento do quadro jurídico sobre direitos humanos e nas reformas da administração pública. Apesar dos progressos realizados, ainda não foi demonstrada uma forte vontade política de estabelecer um historial de execução das reformas. Os progressos em termos de cumprimento dos critérios económicos de adesão têm sido demasiado lentos para reduzir substancialmente a diferença económica em relação à UE. Persiste a resistência política e institucional à mudança, tendo-se observado tendências negativas em alguns países. Essas tendências referem-se, por exemplo, a um ambiente cada vez mais hostil para com a sociedade civil, a liberdade de expressão e a liberdade dos meios de comunicação social, bem como tentativas de exercer influência indevida e interferência política no sistema judicial. A aplicação eficaz dos quadros de luta contra a corrupção deve continuar a ser uma prioridade em todos os países do alargamento, incluindo a integração de medidas de luta contra a corrupção nos setores mais vulneráveis a este problema. São necessários progressos no alinhamento dos contratos públicos pelas normas e boas práticas europeias, mediante o reforço da prevenção de conflitos de interesses e a consolidação da integridade em todo o serviço público. São necessários esforços coerentes e consistentes para conter e abordar eficazmente certos aspetos da captura do Estado por outros interesses. A obtenção de resultados sólidos em matéria de investigações proativas, ações penais e condenações transitadas em julgado na luta contra a corrupção a todos os níveis e contra a criminalidade grave e organizada continua a ser um objetivo a longo prazo que exige esforços suplementares e coerentes, nomeadamente mediante o reforço das capacidades estratégicas e operacionais.
Funcionamento das instituições democráticas
A introdução de medidas adequadas para consolidar o funcionamento das instituições democráticas é crucial para o processo de alargamento mas, em muitos casos, ainda não ficou demonstrado que existe uma vontade política genuína de prosseguir as reformas pertinentes. A forte polarização política e a falta de diálogo interpartidário continuam a afetar o funcionamento dos parlamentos, nomeadamente nos Balcãs Ocidentais, apesar de se terem registado algumas medidas positivas durante o período em apreço.
Na Sérvia, realizaram-se eleições presidenciais, eleições legislativas antecipadas e eleições autárquicas na cidade de Belgrado em 3 de abril de 2022, numa atmosfera predominantemente calma. Participaram todas as forças políticas pertinentes, o que resultou num parlamento mais pluralista e inclusivo em comparação com as eleições de 2020. Além disso, antes das eleições, um vasto leque de intervenientes políticos empenhou-se num diálogo interpartidário construtivo facilitado pelo Parlamento Europeu. No entanto, observadores internacionais liderados pelo Gabinete das Instituições Democráticas e dos Direitos Humanos da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa deram conta de uma série de problemas nas eleições legislativas. Os atrasos significativos que se registaram na finalização dos resultados eleitorais e, por conseguinte, na formação de um novo governo atrasaram o processo de tomada de decisões. O novo código de conduta foi alterado em setembro de 2021 e, em outubro de 2021, foi criada a comissão de ética. Continuou a ser usada linguagem ofensiva contra opositores políticos e ativistas cívicos no debate parlamentar.
No Montenegro, manteve-se a polarização, a falta de um compromisso construtivo entre os partidos políticos e a incapacidade de chegar a um consenso sobre questões essenciais de interesse nacional, o que levou à queda de dois governos instáveis na sequência de moções de censura. O bom funcionamento das instituições montenegrinas foi gravemente afetado pela volatilidade política, atrasando a tomada de decisões e a execução das reformas. O funcionamento dos principais órgãos judiciais foi enfraquecido pela sua composição incompleta resultante da incapacidade do Parlamento de eleger novos deputados. Em meados de setembro, o Tribunal Constitucional não pôde desempenhar as suas atribuições por falta de quórum, o que agravou a incerteza política.
No Kosovo, o governo eleito em 2021 gozou de estabilidade política e institucional graças a uma sólida maioria. Tal deveria ter dado ao Kosovo a oportunidade de acelerar os esforços para reforçar a democracia e o Estado de direito, combater a corrupção e intensificar as atividades legislativas, nomeadamente em matéria de reformas relacionadas com a UE. No entanto, a frequente falta de quórum no Parlamento e os boicotes por parte dos partidos da oposição causaram atrasos na adoção de leis fundamentais. São necessários esforços para reforçar o papel do Parlamento enquanto fórum de diálogo político construtivo e de criação de consensos, em particular no que se refere ao programa de reformas da UE. No outono de 2021, as eleições autárquicas decorreram de uma forma geralmente bem gerida, transparente e equitativa, com exceção dos municípios dominados pelos sérvios do Kosovo em que a concorrência política sofreu limitações. Há ainda que solucionar as deficiências de longa data.
Na Albânia, na sequência das eleições legislativas de 2021, os deputados eleitos dos maiores partidos da oposição tomaram posse no Parlamento. Quanto às reformas relacionadas com a UE, o Parlamento chegou a um consenso interpartidário sobre a revisão constitucional a fim de prorrogar o mandato dos órgãos de controlo judicial. No entanto, o conflito interno no seio do maior partido da oposição afetou a atividade parlamentar. A nível governamental, a Albânia continuou a centrar-se globalmente na agenda de reformas da UE.
Na Macedónia do Norte, o Parlamento continuou a ser o principal fórum de diálogo político. Na sequência de intensos debates, o Parlamento adotou conclusões sobre uma proposta que abriu caminho à abertura das negociações de adesão. Contudo, o seu trabalho foi afetado pela polarização política e pelo «bloqueio ativo» levado a cabo pelo principal partido da oposição, facto que afetou a adoção de alguns atos legislativos. O Parlamento e o Governo comprometeram-se a lançar e a realizar, com caráter prioritário, as alterações constitucionais pertinentes, com vista a contemplar na Constituição os cidadãos que vivem dentro das fronteiras do Estado.
Na Bósnia-Herzegovina, os obstáculos e a polarização política geraram um impasse no trabalho das instituições democráticas e nas reformas na via rumo à adesão à UE. A Presidência, o Conselho de Ministros e o Parlamento continuaram bloqueados até à primavera de 2022. As reuniões de diálogo político com a UE no âmbito do acordo de estabilização e de associação só puderam realizar-se em junho de 2022. A República Sérvia da Bósnia (Republika Srpska) prosseguiu iniciativas para assumir unilateralmente as competências do Estado. Estas iniciativa estão agora suspensas ou sujeitas a fiscalização constitucional. O alto representante exerceu os seus poderes executivos quatro vezes durante o período em apreço para ultrapassar esses obstáculos, nomeadamente para disponibilizar fundos para a organização das eleições de outubro de 2022. O orçamento do Estado só foi adotado no final de junho. As instituições estatais começaram a funcionar na primavera de 2022 tendo sido tomadas medidas iniciais para resolver o atraso das reformas. Os intervenientes políticos demonstraram uma abordagem unificada ao permitir à Bósnia-Herzegovina adotar a legislação em matéria de contratos públicos, bem como tornar-se Estado participante no Mecanismo de Proteção Civil da União. Em 2 de outubro, realizaram-se eleições legislativas; de acordo com as conclusões preliminares da OSCE/ODIHR, essas eleições foram globalmente equitativas e corretamente organizadas, apesar de marcadas pela desconfiança nas instituições públicas e por uma retórica de divisão étnica. No mesmo dia, o alto representante impôs alterações à constituição da entidade da Federação e à lei eleitoral, com o objetivo de abordar uma série de questões sobre a funcionalidade e a formação atempada do Governo.
Na Turquia, continuaram a registar-se retrocessos durante o período em apreço. Apesar do levantamento do estado de emergência em 2018, a legislação turca continuou a contemplar diversas disposições jurídicas que conferem poderes extraordinários ao Governo e que mantêm vários elementos restritivos do estado de emergência, o que continua a prejudicar a democracia e os direitos fundamentais. Persistem as deficiências estruturais do sistema presidencial. O Parlamento continuou a não dispor dos meios necessários para pedir contas ao Governo.
Sistema judicial e direitos fundamentais
Um sistema judicial independente, imparcial, responsável e profissional, que funcione de forma eficiente e cujas decisões sejam efetivamente executadas constitui a pedra angular do Estado de direito. Em alguns casos, registaram-se alguns progressos graças a reformas judiciais. Contudo, nos Balcãs Ocidentais e na Turquia, as instituições judiciais continuam a enfrentar muitos desafios. Mais concretamente, continuaram a verificar-se pressões externas indevidas sobre o sistema judicial que põem em em causa a independência dos juízes e procuradores, comprometem o equilíbrio institucional global e que, em última análise, afetam a separação entre os poderes do Estado. Consequentemente, o princípio da igualdade perante a lei continua vulnerável. É essencial realizar progressos decisivos na execução das reformas judiciais, com base numa forte vontade política. A consolidação das funções judiciais, que permita obter um sólido historial a longo prazo, é essencial para continuar a progredir no processo de adesão.
A Albânia continuou a registar progressos satisfatórios a nível da execução da reforma do sistema judicial, tendo continuado a alcançar resultados concretos no processo de verificação. O Tribunal Constitucional continuou a estar plenamente operacional. As nomeações para o Supremo Tribunal permitiram uma primeira diminuição dos processos em atraso. Importa realizar progressos no sistema de gestão de processos e no sistema de formação jurídica.
A Macedónia do Norte realizou alguns progressos graças à execução coerente da sua estratégia judicial. O poder judicial demonstrou o seu empenho em proteger a sua integridade e independência. As instituições judiciais aplicaram de forma coerente as novas regras para a nomeação, promoção, disciplina e destituição de juízes e procuradores. É necessário afetar os recursos necessários para assegurar o pleno funcionamento do sistema automatizado de informação de gestão de processos.
A Sérvia realizou alguns progressos no sentido de reforçar a independência e a responsabilização do poder judicial, dando um passo importante ao aprovar alterações à Constituição em fevereiro de 2022. Como próxima etapa, será importante que as leis de execução que darão pleno efeito à reforma sejam alteradas em conformidade com os prazos constitucionais. A Sérvia criou dois grupos de trabalho de peritos encarregados da elaboração da legislação de execução.
O Kosovo registou alguns progressos na prossecução das reformas judiciais. Foram tomadas medidas para começar a aplicar a estratégia e o plano de ação para o Estado de direito, tendo sido adotado um novo quadro legislativo que rege o sistema de ação penal. No entanto, são necessárias novas medidas para aumentar a eficiência e a independência do poder judicial.
O Montenegro registou progressos limitados na prossecução de reformas judiciais fundamentais. Subsistem preocupações quanto ao funcionamento das instituições e à consolidação dos Conselhos da Magistratura e do Ministério Público independentes, e os resultados em matéria de responsabilização judicial estão numa fase inicial. As investigações da Procuradoria Especial sobre vários processos de alto nível conduziram à detenção do antigo presidente do Supremo Tribunal e do presidente do Tribunal de Comércio, acusados de corrupção e criminalidade organizada. Os processos que estão a ser investigados ainda não foram levados a julgamento.
A Bósnia-Herzegovina regista atrasos em matéria de reforma do sistema judicial, não tendo registado progressos neste setor. As alterações legislativas destinadas a criar um sistema de verificação das declarações de património dos titulares de cargos judiciais foram rejeitadas pelo Parlamento em maio de 2022. Devido à falta de um verdadeiro compromisso político favorável ao Estado de direito e ao processo de adesão à UE, a integridade global do setor da justiça continuou a deteriorar-se.
A Turquia continuou a registar o retrocesso observado nos últimos anos. A sistemática falta de independência do poder judicial não foi resolvida. Continuou a pressão política sobre o poder judicial, comprometendo a respetiva independência e a qualidade geral. A recusa da Turquia em aplicar os acórdãos pertinentes do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos aumentou ainda mais as preocupações quanto à adesão do país às normas internacionais e europeias. A não execução do acórdão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos no processo Kavala, que conduziu à instauração de um processo por infração contra a Turquia pelo Conselho da Europa, suscitou sérias dúvidas quanto à determinação do país em cumprir as suas obrigações enquanto membro do Conselho da Europa. As suspensões e as destituições de juízes e procuradores continuaram a enfraquecer a independência, a eficiência e o profissionalismo do sistema judicial. As autoridades turcas devem solucionar urgentemente uma série de problemas graves do sistema judicial, especialmente no que diz respeito ao direito a um processo equitativo e ao respeito estrito do princípio da presunção de inocência.
A corrupção continua a ser generalizada nos Balcãs Ocidentais e na Turquia. Os progressos na luta contra a corrupção foram irregulares. Foram alcançados alguns progressos em certos países, principalmente em domínios relacionados com a prevenção da corrupção. Continua a ser necessária uma vontade política genuína e um compromisso claro no sentido de manter os esforços de reforma, a fim de melhorar a transparência e a integridade e alcançar resultados concretos, obtendo resultados convincentes em matéria de investigações, ações penais e condenações transitadas em julgado. É necessário continuar a integrar as medidas de luta contra a corrupção em setores-chave com o objetivo de promover reformas e combater a corrupção em todos os domínios de uma forma mais significativa e eficaz. Os setores mais vulneráveis à corrupção exigem avaliações de risco específicas para identificar os riscos de corrupção e as vulnerabilidades, e permitir a adoção de medidas sólidas de luta contra a corrupção. As estratégias e os planos de ação de luta contra a corrupção devem ser implementados de forma sistemática e estruturada, nomeadamente em setores-chave como os contratos públicos, a gestão das finanças públicas, a energia, os transportes, a saúde, a água, as infraestruturas, os recursos naturais e a educação. A corrupção política e a alto nível deve ser combatida de forma mais decisiva, uma vez que persistem sinais de forte interligação entre interesses públicos e privados. Os contratos públicos continuam particularmente expostos à corrupção generalizada. É necessário reforçar os mecanismos de controlo ao longo de todo o processo de adjudicação de contratos públicos e aumentar consideravelmente a transparência graças a medidas sólidas e mais ambiciosas.
A Macedónia do Norte continuou a envidar esforços na luta contra a criminalidade organizada e a corrupção, tendo garantido alguns progressos. A Comissão Estatal para a Prevenção da Corrupção cumpriu o seu mandato de forma proativa. O país continuou a cooperar com os parceiros internacionais e a coordenar com eles as atividades nacionais de luta contra a criminalidade organizada. Na Albânia, a estrutura especial contra a corrupção e a criminalidade organizada (SPAK) conduziu processos penais e investigações financeiras, que resultaram, nomeadamente, em várias condenações proferidas em alguns processos de alto nível; a verificação por parte do poder judicial continua a produzir resultados na luta contra a corrupção no sistema judicial. A Sérvia realizou alguns progressos na aplicação das recomendações do Grupo de Estados contra a Corrupção do Conselho da Europa (GRECO). Há muito que se aguarda a elaboração de uma nova estratégia de luta contra a corrupção, acompanhada de um plano de ação. O Montenegro melhorou os seus resultados em matéria de prevenção da corrupção, mas continua a ser necessária uma resposta credível da justiça penal neste domínio, incluindo quanto à corrupção a alto nível. No Kosovo, registaram-se alguns progressos com a adoção de um importante pacote legislativo anticorrupção, que inclui a nova lei sobre o código do processo penal, a lei sobre organismo de prevenção da corrupção, a lei sobre a declaração de património e a legislação que regula o financiamento dos partidos políticos. O Parlamento da Bósnia-Herzegovina rejeitou uma lei sobre conflitos de interesses, ao passo que o acompanhamento pelas autoridades judiciárias dos casos de corrupção de ressonância pública foi seletivo e não transparente. O número de condenações definitivas em processos de alto nível continua a ser muito reduzido.
Na Turquia não se registaram progressos durante o período em apreço. O quadro jurídico e institucional deve ser melhorado a fim de limitar a influência política indevida na investigação, na ação penal e no julgamento dos casos de corrupção. A maior parte das recomendações do GRECO não foram executadas.
Nos Balcãs Ocidentais, a escassez persistente de recursos humanos e financeiros nas instituições judiciais, bem como a falta de capacidades e conhecimentos especializados específicos em matéria de investigações financeiras, continuam a impedir a investigação e o julgamento eficazes dos casos de criminalidade organizada e de corrupção. Embora estejam disponíveis atividades de reforço das capacidades para o setor da justiça, a insuficiência das estruturas de incentivo, a ineficácia dos sistemas de gestão do desempenho e a vulnerabilidade do setor da justiça às pressões políticas contribuem para a má gestão dos processos, procedimentos morosos e baixas taxas de apreensões e confisco.
Os direitos fundamentais estão amplamente consagrados na legislação dos países dos Balcãs Ocidentais, mas subsistem grandes dificuldades para garantir a sua aplicação efetiva. O quadro político está a ser gradualmente concluído, nomeadamente no que diz respeito à luta contra a discriminação e violência baseada no género, mas subsistem lacunas sistémicas no financiamento de medidas de promoção e proteção dos direitos humanos e muitos setores são ainda dependentes dos doadores. As instituições do Provedor de Justiça continuam a desempenhar um papel fundamental na promoção e proteção dos direitos humanos nos Balcãs Ocidentais e nas suas próprias recomendações, bem como nas de outros organismos independentes. Os governos da região têm de seguir de forma coerente todas as recomendações dos organismos internacionais e regionais de controlo do respeito dos direitos humanos, incluindo as recomendações sobre as condições nas prisões e a prevenção de maus tratos. A sociedade civil continua a complementar ou mesmo a substituir a ação do Governo na prestação de serviços aos grupos desfavorecidos. As preocupações e recomendações formuladas nos anteriores relatórios por país continuam a ser válidas na sua maioria e devem ser abordadas urgentemente. Na Turquia, a situação dos direitos humanos continuou a deteriorar-se e a suscitar grandes preocupações.
A liberdade de expressão, a liberdade e o pluralismo dos meios de comunicação social são pilares fundamentais de uma sociedade democrática e devem ser respeitados. Em toda a região dos Balcãs Ocidentais registaram-se progressos limitados a este respeito e em alguns países não se registaram quaisquer progressos. As recomendações de relatórios anteriores continuaram, em grande medida, sem resposta. O pluralismo continua a ser uma característica da maior parte da região, mas a independência dos meios de comunicação social e o desenvolvimento de um jornalismo profissional de qualidade continuam a ser dificultados por interesses empresariais e políticos interligados e por más condições do mercado de trabalho que conduzem à autocensura. Os casos de ameaças, de intimidação e de violência contra jornalistas, bem como as observações depreciativas dos responsáveis públicos, continuam a causar sérias preocupações. Estes casos podem ter um efeito inibidor no exercício da liberdade dos meios de comunicação social, devendo ser intensificado o ritmo das investigações e das ações penais relativas a tais incidentes. Importa garantir a independência das entidades reguladoras dos meios de comunicação social e dos organismos públicos de radiodifusão, nomeadamente através do financiamento adequado e de nomeações baseadas no mérito nas estruturas de gestão. É igualmente necessário continuar a apoiar o funcionamento eficaz dos organismos independentes de autorregulação. Todos os países da região devem aumentar a transparência do financiamento dos meios de comunicação social.
Assiste-se a um grave retrocesso na Turquia, uma vez que o exercício da liberdade de expressão e a possibilidade de as vozes da oposição se exprimirem continuam a ser consideravelmente limitados. Prosseguiram os processos penais contra jornalistas, defensores dos direitos humanos, advogados, escritores e meios de comunicação social, bem como as respetivas condenações. Em muitos países dos Balcãs Ocidentais, as autoridades reforçaram os seus quadros estratégicos para cumprir os compromissos assumidos no domínio da igualdade de género e do combate à violência baseada no género, mas tal deve traduzir-se em melhorias práticas: é necessário disponibilizar os fundos necessários e reforçar a assistência às vítimas de todas as formas de violência, uma vez que a violência baseada no género, incluindo a violência doméstica, continua a ser motivo de grande preocupação. Na Turquia, continuam a registar-se retrocessos no domínio da igualdade de género e dos direitos das mulheres e das raparigas, tendo-se verificado um aumento do discurso de ódio contra organizações independentes de mulheres.
Em geral, existe legislação e políticas em matéria de não discriminação, mas os organismos e entidades de defesa da igualdade e as entidades responsáveis pela proteção contra a discriminação precisam de dispor dos meios necessários para cumprir o seu mandato. Observa-se uma tendência crescente do discurso de ódio na região e um acompanhamento insuficiente dos casos de discriminação, crimes de ódio e discursos de ódio. Está a ser desenvolvido o quadro legislativo e político para os direitos das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais e queer (LGBTIQ), mas a adesão de todas as partes da sociedade continua a ser problemática e várias leis continuam num impasse. As leis devem ser respeitadas na prática, uma vez que a discriminação e o discurso de ódio continuam a ser frequentes. Na Turquia, a proteção dos direitos fundamentais das pessoas LGBTIQ não é salvaguardada e os discursos de ódio e as campanhas de difamação contra esta comunidade continuam a ser motivo de grande preocupação.
São necessários esforços para reforçar os direitos da criança e melhorar a coordenação interinstitucional para uma proteção efetiva das crianças e dos seus sistemas de acolhimento em consonância com o interesse superior das crianças. É necessário desenvolver sistemas judiciais adaptados às crianças e utilizar mais sistematicamente alternativas à detenção, que deverá ser utilizada apenas como último recurso. A violência contra as crianças, bem como os casamentos precoces, continuam a ser motivo de grande preocupação.
É necessário proteger melhor os direitos das pessoas com deficiência e dar-lhes a devida atenção. As questões que devem ser abordadas incluem a transição para cuidados de proximidade e uma vida autónoma, em conformidade com os requisitos da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e, regra geral, uma maior aceitação, acessibilidade e inclusão.
A proteção das minorias exige uma melhor coordenação e o respeito do direito à autoidentificação deve ser garantido. Os ciganos continuam a ser a comunidade mais carenciada da região. No entanto, este ano, a maioria dos governos (com exceção da Turquia) demonstrou o seu empenho político na inclusão das comunidades ciganas mediante a adoção de novas estratégias e planos de ação destinados a alinhar-se pelo quadro da UE. Deve agora ser dada prioridade à sua execução, incluindo a afetação dos meios financeiros necessários.
Justiça, liberdade e segurança
A criminalidade organizada continua a ser uma importante ameaça à segurança nos Balcãs Ocidentais e na Turquia. Redes criminosas poderosas continuam a operar dentro e fora da região, desempenhando um papel importante no comércio mundial de mercadorias ilícitas e no contrabando de pessoas para e no interior da União Europeia. Estas redes criminosas revelaram-se muito capazes de tirar partido da pandemia de COVID-19 e existe o risco de as mesmas tirarem partido da invasão russa na Ucrânia, nomeadamente da disponibilidade de grandes arsenais de armas neste último país. Os regimes de concessão de cidadania a investidores e os regimes de residência para investidores disponíveis em alguns países podem ser utilizados para contornar o procedimento de visto de curta duração da UE e a avaliação aprofundada dos riscos individuais em matéria de migração e segurança que este procedimento implica, incluindo a eventual evasão das medidas de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo, bem como das sanções internacionais. Esses regimes devem ser rescindidos sem demora. Caso se considere que a concessão de cidadania ao abrigo de regimes de concessão de cidadania a investidores representa um risco acrescido para a segurança interna e a ordem pública dos Estados‑Membros, o regime de isenção de vistos pode ser suspenso
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Continuou a intensificar-se a cooperação policial entre a UE e os países dos Balcãs Ocidentais, incluindo com as agências da UE no domínio da justiça e dos assuntos internos. Na sequência da adoção das conclusões do Conselho em março de 2021, a cooperação policial com países terceiros foi integrada em todos os planos de ação operacionais da Plataforma Multidisciplinar Europeia contra as Ameaças Criminosas (EMPACT), o que resultou num reforço da participação dos Balcãs Ocidentais nesta plataforma. Em 2022, foram comunicados 300 casos (em comparação com 159 em 2021) em que os parceiros dos Balcãs Ocidentais se comprometeram a participar em ações operacionais. A Albânia continuou a liderar uma ação operacional, tendo o Montenegro e a Albânia liderado conjuntamente quatro e duas ações operacionais, respetivamente, enquanto a Sérvia e a Macedónia do Norte lideraram uma ação operacional cada uma. A Bósnia-Herzegovina é o único parceiro que reduziu a sua participação na EMPACT.
No contexto da EMPACT, os parceiros da região também participaram em várias jornadas de ação conjunta, visando, nomeadamente, a facilitação da imigração irregular, o tráfico de droga e o tráfico de armas de fogo, o que conduziu a resultados imediatos em termos de detenções e apreensão de bens de origem criminosa. Com a ajuda da Europol e da Associação das Chefias de Polícia da Europa do Sudeste, registaram-se progressos satisfatórios no reforço da capacidade da região para realizar análises criminais estratégicas e operacionais de forma harmonizada a nível da UE. Desde o início da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, a Sérvia absteve-se de participar numa série de eventos regionais no domínio da segurança.
As estratégias nacionais em matéria de droga estão desatualizadas e devem ser revistas tanto na Sérvia como no Montenegro. No Kosovo e na Macedónia do Norte estão em vigor estratégias e os respetivos planos de ação. A Bósnia-Herzegovina tem uma estratégia em vigor, mas ainda não foi adotado o plano de ação correspondente. Na Albânia, a questão é abordada no âmbito da estratégia nacional de luta contra a criminalidade organizada mediante um plano de ação específico. São claramente necessários esforços em toda a região para reforçar o quadro estratégico, incluindo com base numa avaliação adequada, e fazer avançar a execução. Apesar do apoio de longa data prestado pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência nesta matéria, os sistemas nacionais de alerta precoce e os observatórios nacionais da droga — contribuintes essenciais para a oferta, a procura e a redução dos danos — ainda não foram criados ou carecem gravemente de recursos e, por conseguinte, não estão operacionais, com exceção da Sérvia. É necessário tomar rapidamente medidas nesta matéria. A recolha de dados nacionais continua parcialmente alinhada com os protocolos do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência e os conjuntos de dados nacionais apresentados pela maioria dos parceiros dos Balcãs Ocidentais estão incompletos ou atrasados. A fraca coordenação institucional entre os organismos nacionais traduz-se, por vezes, em conjuntos de dados fragmentados e incompletos. Recomenda-se, por conseguinte, uma maior sensibilização e a procura de formas alternativas e mais eficientes de motivar os parceiros dos Balcãs Ocidentais a empenharem-se mais e melhor neste domínio de informação a nível político, institucional e técnico. Com o apoio do Centro Regional de Intercâmbio de Informações da Europa do Sudeste e Oriental para o Controlo de Armas Ligeiras e de Pequeno Calibre, todos os parceiros continuaram a participar ativamente na execução do plano de ação da UE para 2020-2025 sobre o tráfico de armas de fogo, que alinhou os objetivos e os principais indicadores de desempenho do roteiro regional de 2018 para uma solução sustentável no caso de posse ilegal, utilização indevida e tráfico de armas ligeiras e de pequeno calibre e respetivas munições nos Balcãs Ocidentais. Os parceiros continuaram a fazer progressos em matéria de alinhamento da legislação pelo acervo da UE.
A prevenção, a ação penal e a cooperação transfronteiras em matéria de tráfico de seres humanos continuam a exigir uma abordagem mais holística, incluindo uma atenção especial às investigações baseadas em informações e proativas. É preciso melhorar a identificação precoce e o encaminhamento das vítimas, em especial das que pertencem a comunidades vulneráveis, para serviços de proteção, apoio e assistência adequados, em consonância com uma abordagem centrada nas vítimas, sensível ao género e às necessidades das crianças.
No entanto, não se registaram alterações na avaliação dos resultados geralmente fracos em matéria de condenações transitadas em julgado no que diz respeito à criminalidade grave e organizada. É preciso um forte apoio interno para reforçar as capacidades estratégicas e operacionais das autoridades policiais e do sistema judiciário para investigar, processar e julgar com êxito processos de criminalidade organizada importantes e, por conseguinte, dissuadir potenciais autores de crimes. As transações penais são regularmente utilizadas em processos complexos de criminalidade organizada grave e de corrupção a alto nível, o que conduz frequentemente a penas desproporcionadamente leves. As investigações financeiras ainda não acompanham sistematicamente os processos penais desde o início e a sua eficácia continua a ser limitada em toda a região. Em consequência, o historial quanto à apreensão e ao confisco de bens de origem criminosa tem de ser substancialmente melhorado. No ano passado, vários processos ilustraram uma vez mais a vulnerabilidade dos organismos policiais e do poder judicial à infiltração de grupos criminosos. Por conseguinte, continua a ser necessária uma ação firme e imediata para prevenir e punir a corrupção, tanto nos Balcãs Ocidentais como na Turquia. A inexistência generalizada de resultados significativos na luta contra a criminalidade e na erradicação da corrupção alimenta um sentimento de impunidade e desigualdade.
A Albânia alcançou novos progressos em matéria de apreensão e confisco de bens de origem criminosa, mas precisa de reforçar a sua capacidade para combater a cibercriminalidade e o abuso sexual de crianças (em linha). A Bósnia-Herzegovina não registou progressos na luta contra a criminalidade organizada e as organizações criminosas que operam no país. A ausência de progressos a todos os níveis aumenta o risco de ocorrerem retrocessos. Apesar de alguns resultados positivos recentes na luta contra a criminalidade organizada, o Kosovo deve melhorar os seus resultados e assegurar resultados concretos, tanto no desmantelamento da rede criminosa como na resolução de processos de alto nível e na realização de investigações mais proativas, nas decisões judiciais transitadas em julgado e no confisco definitivo de bens. A Macedónia do Norte registou alguns progressos, principalmente na cooperação operacional com parceiros internacionais, mas precisa de aumentar os esforços em matéria de recuperação de bens e de luta contra o crime organizado. O Montenegro registou progressos no restabelecimento da plena utilização de medidas especiais de investigação, tendo igualmente alcançado alguns resultados operacionais importantes na luta contra o contrabando de drogas e tabaco. No entanto, é necessário melhorar substancialmente a resposta judicial à corrupção, à corrupção de alto nível e à criminalidade organizada, bem como obter melhores resultados no domínio da corrupção e da corrupção de alto nível, do contrabando de tabaco, do branqueamento de capitais, das investigações financeiras e do confisco de bens. O Montenegro deve também intensificar as medidas destinadas a atenuar o risco de infiltração da criminalidade organizada na polícia e no sistema judicial e tomar medidas para destruir o tabaco apreendido. A Sérvia consolidou um bom nível de cooperação com a Eurojust, a Interpol e a Europol, mas precisa de combater mais eficazmente as redes criminosas e intensificar o confisco de bens. A Turquia realizou progressos limitados e deve ainda alterar a sua legislação em matéria de cibercriminalidade e proteção de testemunhas e criar um serviço de recuperação de bens.
A cooperação com os Balcãs Ocidentais em matéria de luta contra o terrorismo e prevenção da radicalização continua a ser de importância fundamental. Embora o terrorismo e o extremismo violento em todas as suas formas, independentemente da sua origem, continuem a suscitar problemas, durante o período em apreço não ocorreram incidentes de natureza extrema ou violenta. O Fórum Ministerial UE-Balcãs Ocidentais sobre Justiça e Assuntos Internos, realizado em outubro de 2020, reiterou a validade do plano de ação conjunto de luta contra o terrorismo para os Balcãs Ocidentais e discutiu os progressos e as lacunas na sua execução. As conclusões do Conselho de junho de 2022 sobre o tema «Abordagem da dimensão externa da ameaça terrorista e extremista violenta em constante evolução» sublinharam a necessidade de continuar a reforçar a cooperação com os Balcãs Ocidentais, nomeadamente através da continuação da execução do plano de ação conjunto. Na primavera de 2022, os parceiros dos Balcãs Ocidentais apresentaram um quarto conjunto de relatórios sobre a execução do plano de ação conjunto, que confirmaram o empenho e a vontade da região de cumprir os compromissos assumidos.
Regra geral, são necessários mais esforços para prevenir todas as formas de radicalização, incluindo de natureza religiosa, etno-nacionalista ou política, bem como para prevenir e combater os riscos de radicalização em linha. Está a ser assegurado apoio estruturado desde janeiro de 2021 através do projeto «RSR nos Balcãs Ocidentais» e será alargado nos próximos 30 meses através do apoio político da RSR. No caso da Albânia e da Macedónia do Norte, uma vez que a maioria das ações já foi executada, foram iniciados debates a nível técnico a fim de atualizar as respetivas modalidades de execução. O objetivo é reforçar a cooperação e as capacidades de luta contra o terrorismo e o extremismo através da execução de ações adicionais.
A Albânia realizou progressos substanciais e as cinco modalidades de execução foram quase totalmente alcançadas. As ações a executar incluem, no caso da Albânia, uma nova estratégia de luta contra o extremismo violento, em fase de preparação, que incluirá comunicação e medidas estratégicas para combater os conteúdos terroristas em linha. Registaram-se progressos em matéria de luta contra o financiamento do terrorismo e o branqueamento de capitais, mas a Albânia continua incluída na lista do Grupo de Ação Financeira e deve implementar os restantes elementos do plano de ação deste grupo. A concessão de uma amnistia fiscal e penal, contra o parecer da UE e do comité Moneyval em sentido contrário, poderá comprometer os progressos neste domínio. Em dezembro de 2021, o Montenegro adotou uma estratégia de prevenção e repressão do terrorismo, do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo para 2022-2025, com um plano de ação para 2022-2023, que terá de ser implementado. A Macedónia do Norte continua a realizar progressos substanciais no que diz respeito aos quadros legislativo e institucional e à prevenção/luta contra o extremismo violento. A Bósnia-Herzegovina deve prosseguir os seus esforços na luta contra o terrorismo e na prevenção do extremismo violento e adotar urgentemente uma nova lei em matéria de luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo, que seja conforme com o acervo da UE. O ponto de contacto da Europol deve tornar-se plenamente operacional, a fim de facilitar o intercâmbio de informações. Na Sérvia, está a ser elaborada a nova estratégia de luta contra o terrorismo e de prevenção e combate ao extremismo violento. A Sérvia tem de intensificar os esforços para combater e prevenir todas as formas de radicalização e de extremismo violento, incluindo o extremismo violento de direita e o etnonacionalismo. O Kosovo registou alguns progressos na luta contra o terrorismo e na prevenção do extremismo violento, em conformidade com os objetivos enunciados no acordo de execução do Plano de Ação UE-Kosovo de Combate ao Terrorismo nos Balcãs Ocidentais. O Kosovo deve combater mais eficazmente o branqueamento de capitais. São necessários mais esforços na implementação da proteção das infraestruturas críticas a nível regional, sendo o apoio assegurado por um novo projeto regional do IPA. A UE apoia a revisão das estratégias nacionais de luta contra o terrorismo e de prevenção e luta contra o extremismo violento na região.
Os parceiros dos Balcãs Ocidentais continuaram a repatriar combatentes terroristas estrangeiros e respetivos familiares provenientes do nordeste da Síria. Estão empenhados em instaurar ações penais contra este tipo de combatentes e em promover a sua reintegração sistémica e a sua ressocialização, em especial a das mulheres e das crianças. O acompanhamento das medidas de reintegração e de ressocialização, sobretudo nas prisões, tem de ser melhorado, nomeadamente no que se refere à cooperação entre as instituições a nível nacional e local. O intercâmbio de informações através da Aplicação de Intercâmbio Seguro de Informações da Europol registou progressos significativos. Os parceiros dos Balcãs Ocidentais devem continuar a comunicar proativamente, através dos canais adequados, informações sobre o regresso dos combatentes terroristas estrangeiros e das suas famílias.
Estão em vigor em toda a região disposições legais para a ação penal contra os combatentes terroristas estrangeiros após o seu regresso. No Kosovo, a concessão de liberdade condicional de extremistas violentos detidos continua a ser motivo de preocupação, devendo ser envidados mais esforços em matéria de reabilitação e reintegração. Na Bósnia-Herzegovina, a assistência disponível em matéria de abandono do extremismo violento é muito limitada, tanto na prisão como após a libertação. São necessários esforços adicionais significativos para preparar os reclusos para a libertação, incluindo antigos combatentes terroristas estrangeiros. O Montenegro instaurou ações penais contra nacionais que regressam do conflito de 2014 na Ucrânia e do nordeste da Síria, onde os seus nacionais ainda estão presentes.
A Turquia continuou a fazer face a ameaças de diversos grupos terroristas. O país prosseguiu os seus esforços para combater o terrorismo, o que teve como resultado uma redução sustentada das atividades terroristas e uma melhoria da situação em matéria de segurança. A Turquia deu prioridade à luta contra o PKK e ao desmantelamento do movimento Gülen. O PKK continua a constar da lista da UE de pessoas, grupos e entidades envolvidos em atos de terrorismo. A Turquia tem o direito legítimo de combater o terrorismo. No entanto, os esforços de luta contra o terrorismo devem respeitar o Estado de direito e os direitos e liberdades fundamentais. A alteração da legislação e das práticas da Turquia em matéria de luta contra o terrorismo, em conformidade com as normas da UE, continua a ser uma importante reforma que continua por realizar. Em outubro de 2021, a Turquia foi incluída na lista de jurisdições sujeitas a um controlo reforçado (na «lista cinzenta») pelo Grupo de Ação Financeira (GAFI). Na sequência desta decisão, a Turquia não foi acrescentada à lista da UE de países terceiros de risco elevado devido ao seu estatuto de país candidato, ao seu compromisso político de alto nível para com a UE no sentido de colmatar as lacunas ainda existentes identificadas pelo GAFI e ao seu objetivo de pleno alinhamento pelo acervo da UE. Para poder ser retirada da lista cinzenta do GAFI, a Turquia deverá continuar a dar resposta às recomendações pendentes.
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, as ameaças híbridas tornaram-se um problema ainda mais grave e ameaçador nos países do alargamento. Na região dos Balcãs Ocidentais, os intervenientes estatais e não estatais, nomeadamente de fora da região, continuaram a praticar atividades de manipulação da informação, incluindo desinformação, a fim de pôr em causa a credibilidade da UE, minar a confiança do público nas instituições democráticas e aprofundar a polarização e as divisões étnicas. As atividades de manipulação da informação, incluindo campanhas de desinformação, têm sido particularmente intensas desde 24 de fevereiro de 2022 e as narrativas anti-UE têm vindo a propagar-se nos Balcãs Ocidentais. A Sérvia deve tomar medidas urgentes para proteger os seus cidadãos contra a manipulação de informações e interferências estrangeiras e contra narrativas anti-UE, nomeadamente no contexto da agressão da Rússia contra a Ucrânia, que tem efeitos colaterais óbvios em toda a região. Vários meios de comunicação social patrocinados pelo Estado russo que constam da lista de sanções da UE estão a difundir programas de rádio e multimédia, incluindo o canal de desinformação do Kremlin Sputnik Srbija, bem como o Russia Today, que abriu um gabinete em Belgrado no verão de 2022. No entanto, a maior parte da manipulação da informação na região, incluindo a desinformação, é produzida e disseminada por intervenientes nacionais para fins nacionais e/ou atuando como mandatários de países terceiros com o objetivo de influenciar o discurso público, utilizando a manipulação da informação para antagonizar o público contra a UE e as democracias ocidentais em geral.
Dada a atual situação geopolítica e em consonância com as prioridades da UE no âmbito do quadro comum em matéria de luta contra as ameaças híbridas, da Estratégia para os Balcãs Ocidentais e da Declaração de Zagrebe, a Comissão e o alto representante aprofundaram o diálogo político e a assistência aos parceiros do alargamento sobre a luta contra as ameaças híbridas, em especial sobre a ciber-resiliência e a cibersegurança, incluindo a proteção das infraestruturas críticas, a segurança alimentar e a segurança energética. No segundo semestre de 2022, a Albânia, o Kosovo e o Montenegro foram sujeitos a ciberataques. É imperativo que a região adote o quadro da UE em matéria de cibersegurança. É igualmente crucial para os Balcãs Ocidentais honrarem o seu compromisso de aplicar o memorando de entendimento sobre a tecnologia 5G assinado na Cimeira Digital dos Balcãs Ocidentais em 2020 em Tirana. No que diz respeito às comunicações estratégicas e à luta contra a manipulação da informação e a desinformação, foi lançada uma ação mais sólida e orientada para objetivos de reforço da resiliência, centrada na sensibilização, no trabalho de literacia mediática e na colaboração com as instituições locais, os intervenientes da sociedade civil e os meios de comunicação social a fim de fazer face a este tipo de ameaça híbrida para as sociedades dos Balcãs Ocidentais e o seu processo de adesão à UE.
Em outubro de 2021, a Macedónia do Norte adotou a estratégia nacional para reforçar a resiliência e enfrentar as ameaças híbridas (2021-2025), juntamente com um plano de ação. As recomendações dos inquéritos sobre os riscos híbridos
são abordadas com o apoio da UE. Espera-se um acompanhamento dos inquéritos sobre os riscos em determinados países.
A migração irregular continuou a ser um desafio fundamental para os Balcãs Ocidentais e para a Turquia. Prosseguiu a cooperação ao longo das rotas migratórias do Mediterrâneo Oriental/Balcãs Ocidentais. A introdução clandestina de migrantes, os menores não acompanhados, o tráfico de seres humanos e a insuficiente capacidade dos sistemas nacionais de asilo continuam a ser motivos de preocupação. A guerra na Ucrânia e a crise no Afeganistão resultaram num maior número de refugiados ucranianos e afegãos e exigem uma cooperação estreita e contínua entre a UE e os países parceiros. Neste contexto, foram acolhidos refugiados por todos os parceiros na região, em especial no Montenegro, no Kosovo, na Albânia e na Macedónia do Norte.
Em 2022, o número total de chegadas irregulares à UE provenientes dos Balcãs Ocidentais está a aumentar em comparação com 2020, com cerca de 70 770 passagens irregulares das fronteiras registadas nas fronteiras externas da UE nos primeiros sete meses de 2022, quase três vezes mais do que o total no mesmo período no ano anterior. O número total de chegadas irregulares às fronteiras externas da UE provenientes dos Balcãs Ocidentais foi de cerca de 62 000 em 2021, em comparação com 27 000 em 2020. No final de julho de 2022, havia cerca de 9 800 migrantes e refugiados nos centros de acolhimento da região e cerca de 2 900 fora das instalações de acolhimento. A capacidade total de acolhimento é de cerca de 14 500 pessoas. Entre os fatores que influenciam o elevado número de fluxos contam-se os movimentos de migrantes já presentes na região, bem como as pessoas que chegam por via aérea à Sérvia graças a regimes de isenção de vistos. Tendo em conta o forte aumento das chegadas, a Comissão está a acompanhar a situação com uma maior vigilância e a intensificar o seu diálogo com os parceiros dos Balcãs Ocidentais. Embora se registem progressos, são necessários mais esforços nos Balcãs Ocidentais para a criação de instituições, leis e procedimentos mais sólidos nos domínios do asilo, do regresso, da migração legal e da gestão das fronteiras, tendo também em vista a transposição de um acervo da UE complexo e exigente. Estes países devem assumir as suas responsabilidades e apropriar-se de todos os aspetos da migração. É necessário reforçar os sistemas de asilo, intensificar os regressos voluntários e não voluntários e a cooperação em matéria de readmissão com os países de origem, em conformidade com as normas internacionais e as normas da UE. É necessário reforçar a cooperação regional e internacional para combater os grupos de criminalidade organizada envolvidos na introdução clandestina de migrantes e no tráfico de seres humanos. A cooperação regional e a coordenação com a UE continuam a ser fundamentais.
Foram concluídos e operacionalizados acordos relativos ao estatuto com a Albânia, o Montenegro e a Sérvia, o que permite à Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex) destacar equipas da Guarda Europeia de Fronteiras e Costeira com poderes executivos para zonas adjacentes à fronteira externa da UE para apoiar as autoridades nacionais de controlo das fronteiras. Foram negociados acordos semelhantes entre a UE e a Bósnia-Herzegovina e entre a UE e a Macedónia do Norte, mas ainda não foram assinados. Estes acordos terão de ser renegociados para ter em conta as alterações no panorama legislativo desde a sua negociação. A fim de ter em conta as referidas alterações, nomeadamente a adoção do Regulamento relativo à Guarda Europeia de Fronteiras e Costeira em 2019, a Comissão negociou um novo texto do acordo relativo ao estatuto com a Macedónia do Norte em 2022, que deverá ser assinado antes do final do ano.
Tal como corroborado pelo relatório de 2021 ao abrigo do mecanismo de suspensão de vistos, a Albânia, a Bósnia-Herzegovina, o Montenegro, a Macedónia do Norte e a Sérvia devem assegurar um maior alinhamento da política de vistos com as listas da UE de países terceiros sujeitos à obrigação de visto, em especial no que diz respeito aos países terceiros que apresentam riscos de migração irregular ou de segurança para a UE. O alinhamento da política de vistos com a UE é crucial para o bom funcionamento do regime de isenção de vistos destes parceiros com a UE. A Turquia continuou a acolher uma das maiores populações de refugiados do mundo, estando presentes no seu território cerca de 4 milhões de refugiados provenientes da Síria e de outros países. Nos primeiros sete meses de 2022, o número total de chegadas à UE provenientes da Turquia foi de 13 163, em comparação com 7 481 no mesmo período em 2021 (aumento de 76 %). Desses migrantes, 6 225 chegaram a Itália, o que representa um aumento substancial em comparação com o ano anterior, 6 257 à Grécia, 601 à Bulgária e 80 à Roménia. Durante o mesmo período de 2022, foram comunicadas 11 137 chegadas às zonas controladas pelo Governo de Chipre (10 771 através da Linha Verde, 366 por barco), em comparação com 5 118 chegadas através da Linha Verde e por barco no mesmo período do ano passado (aumento de 115 %). A Turquia deve também continuar a harmonizar a sua política de vistos com a política de vistos da UE, incluindo, nomeadamente, um maior alinhamento das suas obrigações neste domínio com as listas da UE de países isentos da obrigação de visto e de países sujeitos a visto.
Tendo em conta a tomada do poder pelos talibãs no Afeganistão e a perceção dos migrantes entre a população turca, as autoridades turcas estão a aumentar o número de regressos para o Afeganistão e a reforçar as suas infraestruturas fronteiriças ao longo da fronteira com o Irão. As autoridades turcas estão também a aumentar os recursos para prevenir e combater a introdução clandestina de migrantes, mas é necessária uma maior cooperação policial internacional em toda a rota de migração, desde os países de origem até à Turquia, incluindo o Irão, os Balcãs Ocidentais e a UE, para combater as redes de passadores. A prossecução de uma estreita cooperação no domínio da gestão das fronteiras e da luta contra a introdução clandestina de migrantes continua a ser uma prioridade fundamental.
Reforma da administração pública
O relatório de prospetiva estratégica da Comissão Europeia inclui o «reforço da resiliência das instituições» como um dos principais desafios para o futuro da Europa. As instituições e as administrações públicas têm de responder às preocupações da sociedade e ser eficazes na execução das políticas. A modernização das administrações públicas continua a ser uma preocupação fundamental em todos os países do alargamento. A politização continua a minar as capacidades e a atratividade das administrações públicas enquanto empregador. Embora seja sabido que existe uma grande necessidade de reforma para criar administrações mais profissionais e baseadas no mérito em geral, serão necessários mais liderança e esforços para melhorar o planeamento das políticas, as finanças públicas, a gestão das pessoas e a responsabilização. Há exemplos de reformas positivas, por exemplo na prestação de serviços digitais. A melhoria da capacidade administrativa será essencial para desempenhar as funções do Estado, planear e executar investimentos essenciais em infraestruturas estratégicas e reforçar o alinhamento pelo acervo da UE.
A qualidade da elaboração de políticas é da maior importância para orientar o desenvolvimento económico e social de um país e ajudar a atravessar crises persistentes. A elaboração de políticas deve ser tão previsível quanto possível. Deve ser planeada a médio prazo e associada à perspetiva orçamental, basear-se em dados concretos e ser objeto de consulta com as partes interessadas. No entanto, entre os parceiros dos Balcãs Ocidentais, um grande número de leis propostas pelos governos não faz parte dos respetivos programas de trabalho. A coerência do planeamento político e da coordenação entre os governos e os parlamentos poderia ser melhorada. O recurso excessivo a procedimentos abreviados dificulta a qualidade legislativa e a responsabilização democrática. A melhoria do acompanhamento das políticas poderia reforçar a eficácia da administração em toda a região.
As administrações públicas responsáveis estão organizadas de forma racional, são eficazes, eficientes e transparentes e atuam com integridade. Este facto reforça a confiança da sociedade, que é essencial para a cooperação e o desenvolvimento. Nos Balcãs Ocidentais, as estruturas governamentais nem sempre seguem estes princípios. Os organismos governamentais nem sempre são criados e organizados de forma racional ou eficaz (por exemplo, na Albânia e no Kosovo). Em vários locais, os quadros regulamentares e institucionais em matéria de responsabilização melhoraram, mas não a prática concreta de responsabilização (Albânia, Macedónia do Norte e Sérvia). A Macedónia do Norte ainda tem de aprovar uma nova lei sobre a organização do Estado, ao passo que a Bósnia-Herzegovina não começou a desenvolver um quadro jurídico que garanta uma maior responsabilização. O Montenegro deve melhorar a responsabilização e o acesso à informação pública. Na Turquia, prosseguiu a politização da administração, com uma responsabilização limitada perante o público e uma persistente falta de vontade política para introduzir reformas.
Recursos humanos estratégicos e profissionais e a gestão da função pública são de importância crucial para que o setor público possa atrair, desenvolver e reter talentos. Tal inclui uma remuneração justa e competitiva e o recrutamento, a promoção e o despedimento com base no mérito. A falta de pessoal qualificado é uma das principais razões para a reduzida capacidade administrativa e o fraco desempenho das autoridades públicas em toda a região. Todos os países da região continuam a ter dificuldade em controlar o clientelismo político, a fim de construir uma administração pública mais profissional e estável.
A melhoria dos serviços públicos às empresas e ao público em geral ocupa um lugar de destaque em toda a região e é o setor em que se registaram mais melhorias. No entanto, a segurança jurídica para as empresas e os cidadãos deve ser melhorada em toda a região, promovendo uma harmonização efetiva da legislação setorial com as normas da legislação relativa aos procedimentos administrativos gerais. A Sérvia, a Albânia, o Montenegro e a Macedónia do Norte lançaram iniciativas e serviços de administração pública em linha. A Albânia implantou uma plataforma abrangente para os serviços digitais, mas precisa de garantir um acesso equitativo para os cidadãos com competências digitais limitadas. A Bósnia-Herzegovina e o Kosovo devem aumentar os esforços para desenvolver uma política global de administração pública em linha e clarificar as responsabilidades institucionais.
A melhoria dos sistemas de contratação pública e de gestão das finanças públicas continua a ser uma prioridade importante para garantir a eficácia e a integridade do Estado em toda a região. O Kosovo, o Montenegro e a Macedónia do Norte alcançaram progressos em matéria de digitalização dos seus sistemas de contratação pública. A Albânia lançou um sistema eletrónico de recursos e queixas. Na Sérvia, as isenções previstas na legislação em matéria de contratos públicos aumentaram substancialmente e suscitam sérias preocupações quanto à inversão dessa tendência e à transparência em geral. A Turquia continua a registar grandes lacunas quanto ao alinhamento da sua legislação pelo acervo da UE, uma vez que o âmbito de aplicação da regulamentação em matéria de contratos públicos é substancialmente reduzido.
A reforma dos sistemas nacionais de governação tendo em vista a boa gestão financeira, a responsabilização dos gestores e a auditoria externa é crucial para assegurar a sustentabilidade das finanças públicas. Registaram-se alguns progressos, uma vez que a Sérvia, o Montenegro e a Macedónia do Norte elaboraram e adotaram novos programas de gestão das finanças públicas. A Albânia tomou medidas para preparar uma nova estratégia de receitas a médio prazo. É agora necessária uma boa execução destes programas. Na Bósnia-Herzegovina, a primeira estratégia global de gestão das finanças públicas aguarda adoção pelo Conselho de Ministros. Na Turquia não se registaram grandes desenvolvimentos no domínio da gestão das finanças públicas.
O reforço dos sistemas e capacidades de gestão do investimento público deve ser encarado como uma clara prioridade para todos os países do alargamento, especialmente no contexto do Plano Económico e de Investimento para os Balcãs Ocidentais. Contudo, registaram-se poucos progressos no último ano. O Montenegro realizou uma avaliação da gestão do investimento público. É agora essencial reforçar as capacidades. Na Macedónia do Norte, a execução do plano de ação para a gestão do investimento público está atrasada e ainda não foi criada uma unidade de gestão do investimento público. A Sérvia tem de aplicar a metodologia completa do decreto sobre a gestão de projetos de investimento a todos os investimentos de capital. Relativamente a todos os países, é necessário criar um sistema unificado, abrangente, eficaz e transparente de planeamento e gestão dos investimentos de capital.
Os progressos em matéria de controlos internos públicos e de responsabilização dos gestores foram lentos de um modo geral, mas três países realizaram alguns progressos. A Albânia adotou orientações para a auditoria dos pagamentos em atraso e aprovou uma metodologia revista para a auditoria de resultados. Na Bósnia-Herzegovina, os regulamentos e metodologias secundários foram atualizados a todos os níveis e incorporados na aplicação informática para o controlo interno das finanças públicas, gerando relatórios anuais consolidados a todos os níveis. A Sérvia implementou dois exercícios-piloto de análise pelos pares sobre as disposições de auditoria interna e, recentemente, melhorou as orientações em matéria de responsabilização dos gestores.
Todos os países do alargamento devem reforçar a sua capacidade para produzir estatísticas de boa qualidade, em conformidade com os princípios da legislação da UE aprofundados no Código das Estatísticas Europeias, que se baseiem na independência profissional, imparcialidade, fiabilidade, transparência e confidencialidade. É também essencial aumentar o fornecimento de dados ao Eurostat. A Macedónia do Norte e a Turquia realizaram censos populacionais e da habitação em 2021. Os restantes países dos Balcãs Ocidentais devem igualmente realizar censos e afetar recursos suficientes aos seus serviços de estatística. Um setor específico em que todos têm de progredir é o setor das estatísticas macroeconómicas, incluindo as estatísticas sobre as finanças públicas. É necessário reforçar a coordenação do sistema estatístico em cada país.
As autoridades de poder regional e local têm um papel fundamental a desempenhar no processo de alinhamento com a UE e na futura aplicação das normas da UE. Os órgãos de governo regionais e locais estão mais próximos dos cidadãos e desempenham um papel fundamental na prestação de serviços públicos, bem como no reforço da confiança dos cidadãos nas suas instituições estatais. Os governos devem assegurar o equilíbrio entre a administração central, regional e local e a aplicação coerente das regras, dos procedimentos, das normas e da gestão dos recursos humanos em toda a administração pública a todos os níveis. Esta situação tem um impacto direto na qualidade das políticas setoriais, dos serviços públicos e, em última análise, da competitividade e do crescimento, devendo, por conseguinte, ser objeto de maior atenção nos países do alargamento.
Sociedade civil
Continua a existir uma sociedade civil muito ativa e dinâmica nos Balcãs Ocidentais, que acompanha a ação governamental e contribui para a elaboração de políticas. A adoção de medidas jurídicas introduziu melhorias em alguns países dos Balcãs Ocidentais; no entanto, o quadro jurídico deve ser melhorado e aplicado de forma coerente, a fim de assegurar um ambiente propício à sociedade civil, nomeadamente no que diz respeito aos processos de registo, ao reforço da disponibilidade e da transparência do financiamento público (Bósnia-Herzegovina, Macedónia do Norte, Sérvia) e às condições para o voluntariado (Albânia, Kosovo). É essencial que as medidas de segurança não sejam utilizadas de forma abusiva, por exemplo, através de legislação em matéria de luta contra o terrorismo ou de legislação sobre prevenção do financiamento da proliferação de armas de destruição maciça (Turquia), da prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo (Kosovo), de restrições ao livre acesso à informação (Montenegro) ou à liberdade de reunião (Bósnia-Herzegovina).
Subsistem insuficiências nos mecanismos institucionalizados de cooperação entre a sociedade civil e o governo. É essencial que os governos assegurem as condições para uma participação significativa e inclusiva das organizações da sociedade civil nos processos de elaboração de políticas.
A sociedade civil tem sido sujeita a pressões na Sérvia e na República Sérvia da Bósnia‑Herzegovina. Os ataques verbais e as campanhas de difamação contra as organizações da sociedade civil e o seu financiamento continuaram na Sérvia, ao passo que o exercício da liberdade de reunião continua a ser limitado na República Sérvia da Bósnia-Herzegovina. Na Turquia continuaram a registar-se retrocessos graves. A sociedade civil enfrentou uma pressão constante e o seu espaço de manobra continuou a diminuir, com restrições às atividades dos defensores dos direitos humanos e da sociedade civil. As organizações da sociedade civil na região do alargamento também continuam a prestar serviços a grupos desfavorecidos, complementando ou substituindo o trabalho das autoridades públicas.
Economia
Após o forte impacto negativo da pandemia de COVID-19 em 2020, as economias dos Balcãs Ocidentais e da Turquia recuperaram rapidamente em 2021. A robustez da retoma variou consideravelmente entre as economias, com um crescimento do PIB real de dois dígitos no Montenegro (12,4 %), na Turquia (11 %) e no Kosovo (10,5 %), um ritmo de expansão ligeiramente mais lento, mas ainda robusto na Albânia (8,3 %), na Sérvia (7,4 %) e na Bósnia‑Herzegovina (7,1 %), e um crescimento do produto mais moderado na Macedónia do Norte (4 %). O levantamento gradual das medidas de contenção relacionadas com a COVID-19 e o efeito das fortes recessões registadas em 2020 (em especial devido à importância do setor do turismo) desempenharam um papel significativo na recuperação em alguns países, tendo contribuído, em especial, para um forte crescimento no Montenegro. Os principais motores de uma recuperação sólida foram os seguintes: um consumo privado dinâmico, alimentado pelo aumento da procura e pela prossecução de medidas de apoio à atenuação da crise em alguns países; aumento do investimento, em especial das despesas de capital público na Sérvia e na Macedónia do Norte; e um forte crescimento das exportações, especialmente no caso da Turquia.
As perspetivas económicas são mito incertas devido sobretudo às consequências económicas da invasão da Ucrânia pela Rússia, que deverá ter um impacto negativo nas economias, embora em graus variáveis, refletindo diferenças nas relações comerciais diretas e indiretas de cada país, na intensidade energética de cada país, na importância da inflação dos preços dos produtos alimentares e no papel do turismo.
Em todos os países, as medidas orçamentais adotadas para atenuar o impacto do aumento dos preços da energia e dos produtos alimentares, juntamente com o efeito de contração económica da guerra da Rússia contra a Ucrânia, poderão eventualmente comprometer ou desacelerar a consolidação orçamental. A inflação acelerou substancialmente nos Balcãs Ocidentais, enquanto na Turquia o efeito das pressões sobre os preços a nível mundial foi agravado por decisões de política monetária pouco ortodoxas, desencadeando uma grande depreciação da lira e impulsionando a inflação para um valor máximo de duas décadas (mais de 80 % em julho de 2022).
A necessidade de acelerar as reformas estruturais tornou-se ainda mais importante para promover uma recuperação sustentável a médio prazo e para avançar no sentido do cumprimento de dois critérios económicos para a adesão à UE: assegurar o bom funcionamento da economia de mercado e demonstrar a capacidade de fazer face à pressão da concorrência e às forças de mercado na UE.
A maioria dos países dos Balcãs Ocidentais realizou alguns progressos, que nalguns casos foram consideráveis, na promoção de economias de mercado funcionais, com exceção da Bósnia-Herzegovina onde se registou algum retrocesso. A Turquia não registou progressos nesta matéria. Atualmente, nenhum dos parceiros dos Balcãs Ocidentais pode ser considerado uma economia de mercado plenamente operacional e o nível de conformidade varia consoante o país em causa. A Bósnia-Herzegovina e o Kosovo ainda se encontrem numa fase inicial, ao passo que a Macedónia do Norte já atingiu um bom nível de preparação. A Albânia e o Montenegro são considerados moderadamente preparados, enquanto a Sérvia se situa entre um nível moderado e um bom nível de preparação. A economia de mercado da Turquia está bastante avançada, mas aumentaram as preocupações quanto ao seu funcionamento, uma vez que se verificou um retrocesso em elementos importantes, como a condução da política monetária, o enquadramento institucional e regulamentar, a intervenção na fixação dos preços e a falta de transparência dos auxílios estatais. Em termos da sua capacidade para fazer face à pressão da concorrência e às forças de mercado, apenas a Turquia está bastante avançada, estando a Sérvia, o Montenegro e a Macedónia do Norte num nível moderado de preparação e a Albânia num certo nível de preparação; a Bósnia‑Herzegovina e o Kosovo ainda se encontram numa fase inicial.
O diálogo económico e financeiro entre a UE e os Balcãs Ocidentais e a Turquia tornou-se, ao longo dos anos, uma plataforma importante para debater e chegar a acordo sobre planos orçamentais a médio prazo bem como estratégias e prioridades de política económica, com base nos programas de reforma económica apresentados anualmente pelos parceiros. O processo culmina em conclusões ministeriais acordadas conjuntamente que contêm orientações políticas específicas por país destinadas a orientar as políticas orçamentais e estruturais nos Balcãs Ocidentais e na Turquia.
O nível de execução das orientações políticas acordadas conjuntamente piorou nos Balcãs Ocidentais e na Turquia, passando de 50,8 % em 2020 para 42,9 % em 2021. Esta deterioração está, em parte, ligada ao regresso, em 2021, a orientações estratégicas sobre reformas mais difíceis, após a ênfase em medidas de curto prazo relacionadas com a crise da COVID-19 em 2020. Importa prosseguir os esforços para reforçar a estabilidade orçamental e orientar os orçamentos para uma composição mais orientada para o crescimento, nomeadamente através da promoção das transições digital e ecológica e do desenvolvimento do capital humano. A redução da vulnerabilidade a choques externos e o aumento da segurança alimentar e energética tornaram-se cruciais. A melhoria do ambiente empresarial e o aprofundamento da integração económica regional com base nas regras e normas da UE aumentariam também significativamente a atratividade da região dos Balcãs Ocidentais enquanto destino de investimento e contribuiriam ainda mais para o seu crescimento económico. Na Turquia, o restabelecimento da independência funcional das autoridades reguladoras económicas e financeiras constitui um desafio fundamental.
Os mercados de trabalho nos Balcãs Ocidentais e na Turquia continuam a caracterizar-se por uma atividade e emprego globalmente baixos (sobretudo entre as mulheres e os jovens), bem como por um elevado nível de informalidade e desemprego. Em 2020, as disparidades entre homens e mulheres no emprego nos países do alargamento variaram entre cerca de 13 e 15 p.p. (pontos percentuais) no Montenegro, na Sérvia e na Albânia e cerca de 33 p.p. no Kosovo e 38 p.p. na Turquia, muito acima da média da UE-27 de 11 pontos percentuais. Existe uma clara necessidade de melhorar as políticas ativas do mercado de trabalho pouco orientadas para ajudar as pessoas a encontrar trabalho ou formação. Neste contexto, os parceiros dos Balcãs Ocidentais comprometeram-se, em julho de 2021, a criar, implementar e reforçar gradualmente os instrumentos da Garantia para a Juventude, seguindo o modelo da UE, e a maioria criou grupos interministeriais de peritos a fim de desenvolver planos de execução da Garantia para a Juventude.
Persistem inadequações estruturais em matéria de competências devido à fragilidade dos sistemas de ensino e ao subinvestimento em capital humano. As reformas e os investimentos nos sistemas educativos, bem como a melhoria das competências e a requalificação, são fundamentais para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e fazer face à crescente escassez de mão de obra qualificada. A digitalização da economia e o desenvolvimento das competências digitais de todos os segmentos da sociedade são cruciais para impulsionar a empregabilidade e promover a economia digital. Os elevados níveis de pobreza continuam a ser um problema em todas as economias parceiras, agravados pela pandemia de COVID-19 e pelas elevadas despesas privadas com os cuidados de saúde, prevendo-se que os níveis de pobreza sejam ainda agravados pelo recente aumento dos preços dos alimentos e da energia. Por conseguinte, a melhoria da eficácia dos sistemas de proteção social e a orientação das despesas sociais para os segmentos mais pobres da população tornaram-se ainda mais importantes.
III. CAPACIDADE PARA ASSUMIR AS OBRIGAÇÕES DECORRENTES DA ADESÃO
O alinhamento no domínio do mercado interno permitirá a estes países beneficiar plenamente dos acordos de estabilização e de associação e reforçar ainda mais a sua integração comercial com a UE, que continua a ser de longe o principal parceiro comercial da região. Tornará também os investimentos da UE mais atrativos e facilitará as sinergias na cadeia de abastecimento, a criação de emprego e o acesso ao capital.
Em geral, os países dos Balcãs Ocidentais atingiram um nível moderado de preparação em muitos dos domínios do mercado interno. No que diz respeito à livre circulação de mercadorias, o Kosovo, o Montenegro e a Sérvia realizaram alguns progressos, a Albânia realizou progressos limitados e a Bósnia-Herzegovina e a Macedónia do Norte não realizaram quaisquer progressos. A Albânia e o Kosovo realizaram alguns progressos em matéria de livre circulação de serviços, enquanto a Macedónia do Norte, o Montenegro e a Sérvia registaram apenas progressos limitados. A Macedónia do Norte realizou progressos satisfatórios em matéria de livre circulação de capitais; a Albânia, o Kosovo e Montenegro realizaram alguns progressos neste domínio. No domínio da política de concorrência, o Kosovo e o Montenegro realizaram alguns progressos, a Albânia e a Sérvia realizaram progressos limitados e a Bósnia-Herzegovina e a Macedónia do Norte não realizaram quaisquer progressos. A Albânia realizou progressos satisfatórios em matéria de direitos de propriedade intelectual, tendo o Kosovo, o Montenegro e a Sérvia realizado alguns progressos. A Albânia realizou progressos satisfatórios no domínio dos serviços financeiros, tendo o Kosovo, a Macedónia do Norte e o Montenegro também registado progressos. A cooperação regional e os quadros de cooperação regional inclusivos, como a Estratégia da UE para a Região Adriática e Jónica ou a Estratégia da UE para a Região do Danúbio, continuaram a facilitar os preparativos para uma eventual participação no mercado interno da UE. Esses quadros promovem a capacidade administrativa em diferentes políticas da UE, incluindo a política de coesão, e proporcionam uma plataforma de cooperação para os diferentes níveis de governação. O mercado comum regional dos Balcãs Ocidentais, que se baseia nas regras e normas da UE, constitui um ponto de partida para a integração mais estreita da região no mercado único da UE antes da adesão. A Turquia registou alguns progressos no domínio dos serviços financeiros e progressos limitados nos domínios da livre circulação de mercadorias, dos direitos de propriedade intelectual e da proteção dos consumidores e da saúde. O país está bastante avançado nos domínios do direito das sociedades, tendo igualmente um nível de preparação satisfatório no domínio da livre circulação de mercadorias, da proteção dos consumidores e da saúde e do direito de propriedade intelectual. No entanto, a quantidade de contrafações continua a ser motivo de preocupação, sendo necessária uma melhor aplicação. Continua numa fase inicial de preparação nos domínios da livre circulação de serviços e da livre circulação de trabalhadores, onde não se registaram progressos.
As reformas no domínio da competitividade e do crescimento inclusivo são extremamente relevantes para os programas de reforma económica dos Balcãs Ocidentais e recebem apoio através do Plano Económico e de Investimento, uma vez que contribuirão para aumentar a competitividade e a atratividade da região para as empresas, bem como para reduzir o fosso existente em relação à economia da UE. A fim de apoiar a competitividade do setor privado, foi lançado em fevereiro de 2022 o primeiro convite à apresentação de propostas de financiamento misto do setor privado no âmbito do Quadro de Investimento para os Balcãs Ocidentais. Durante a reunião do Comité de Gestão realizada em Roma em junho de 2022, as duas primeiras operações de financiamento misto e dois projetos de assistência técnica no valor de 47 milhões de EUR para o setor privado receberam parecer positivo do Comité. A Comissão apresentou igualmente três propostas de garantia no valor de 125 milhões de EUR durante o primeiro Comité de Gestão do FEDS+, em abril de 2022. Os regimes de garantia que apoiam as micro, pequenas e médias empresas, os empresários agrícolas e as medidas para a eficiência energética e a transição digital começarão a ser aplicados no início de 2023.
A maioria dos parceiros dos Balcãs Ocidentais tem um nível moderado de preparação nos domínios ligados a este grupo de capítulos. No entanto, a Bósnia-Herzegovina permanece numa fase inicial em diversos domínios. No domínio da fiscalidade, o Montenegro e a Macedónia do Norte realizaram alguns progressos, a Albânia, o Kosovo e a Sérvia realizaram progressos limitados e a Bósnia-Herzegovina não realizou quaisquer progressos. No domínio da união aduaneira, a Bósnia-Herzegovina e a Macedónia do Norte registaram alguns progressos, ao passo que a Albânia, o Kosovo, o Montenegro e a Sérvia registaram progressos limitados. No domínio da educação e da cultura, a Albânia, o Kosovo, o Montenegro e a Sérvia realizaram alguns progressos. No domínio da ciência e da investigação, o Montenegro e a Sérvia realizaram alguns progressos. O Kosovo registou alguns progressos no domínio da transformação digital e dos meios de comunicação. Registaram-se também alguns progressos no domínio da política económica e monetária por parte do Kosovo e da Macedónia do Norte e no domínio da política social e do emprego por parte da Albânia, do Kosovo, da Macedónia do Norte e do Montenegro. No domínio da política empresarial e industrial, a Albânia, o Kosovo, a Macedónia do Norte e o Montenegro realizaram alguns progressos. Em termos gerais, a região deve empreender reformas socioeconómicas para ultrapassar as deficiências estruturais, a baixa competitividade, a elevada taxa de desemprego e o impacto da pandemia de COVID-19. Os progressos no alinhamento com as regras da UE nos domínios do IVA, dos impostos especiais de consumo e da fiscalidade direta ajudariam a incentivar o comércio intrarregional e internacional. A região precisa também de reforçar significativamente o seu ecossistema de investigação e inovação, a fim de permitir que as economias acompanhem os progressos, nomeadamente no domínio das tecnologias digitais e ecológicas. A Turquia continuou a alinhar-se pelo acervo da UE apenas de forma limitada e registou retrocessos nos domínios da transformação digital e da comunicação social, da política económica e monetária, da política social e do emprego e da política industrial. A Turquia realizou bons progressos nos domínios da ciência e investigação e alguns progressos no domínio da educação e da cultura, devendo o país continuar a tomar medidas para tornar a educação mais inclusiva, especialmente para as raparigas. Os preparativos da Turquia no domínio da ciência e da investigação estão bastante avançados. A integração comercial da Turquia com a UE é elevada e existe um bom nível de preparação para a União Aduaneira, mas os progressos foram limitados, nomeadamente na sua aplicação. Continuam os desvios por parte da Turquia em relação às obrigações que lhe incumbem por força da União Aduaneira, contribuindo para um número elevado de obstáculos às trocas comerciais.
A Agenda Verde e a conectividade sustentável são fundamentais para uma recuperação sustentável e preparada para o futuro, bem como para a integração económica na região e com a UE, o que beneficiará tanto as empresas como o público em geral. Estes objetivos estão também consagrados no Plano Económico e de Investimento.
A Albânia, a Macedónia do Norte e a Sérvia estão moderadamente preparadas no domínio da energia, enquanto o Montenegro se encontra num bom nível de preparação. No domínio das redes transeuropeias, a Albânia, a Bósnia-Herzegovina e o Kosovo têm algum nível de preparação, a Sérvia está moderadamente preparada, o Montenegro está moderadamente preparado/tem um bom nível de preparação e a Macedónia do Norte tem um bom nível de preparação. A Albânia, a Macedónia do Norte, o Montenegro e a Sérvia têm um certo nível de preparação no que diz respeito ao ambiente e às alterações climáticas. A Bósnia-Herzegovina melhorou significativamente o seu sistema de proteção civil e demonstra um compromisso claro no domínio da gestão de catástrofes; em setembro de 2022, o país aderiu ao Mecanismo de Proteção Civil da União como membro de pleno direito. A Albânia também tomou as medidas necessárias para poder aderir ao Mecanismo. O Kosovo e o Montenegro realizaram alguns progressos no domínio da política de transportes, enquanto a Albânia, a Bósnia-Herzegovina, a Macedónia do Norte e a Sérvia registaram progressos limitados. No que diz respeito à energia, o Kosovo e o Montenegro registaram alguns progressos, enquanto os outros parceiros dos Balcãs Ocidentais registaram apenas progressos limitados. No atinente às redes transeuropeias, a Albânia, o Kosovo e a Sérvia realizaram alguns progressos, ao passo que se registaram progressos limitados na Bósnia-Herzegovina, na Macedónia do Norte e no Montenegro. No que diz respeito ao ambiente e às alterações climáticas, os progressos foram limitados em todos os países dos Balcãs Ocidentais pelo segundo ano consecutivo. Por conseguinte, são necessárias medidas urgentes em toda a região para acelerar o alinhamento pelo acervo da UE e reforçar a implementação, a aplicação da lei e os investimentos. A capacidade administrativa no setor deve ser significativamente reforçada e as reformas estruturais devem ser implementadas.
A crise energética afetou os países dos Balcãs Ocidentais e Turquia de forma diferente, dependendo do seu grau de dependência dos combustíveis fósseis russos. Os países que não importam petróleo ou gás da Rússia foram indiretamente afetados pela crise energética e pela agressão da Rússia. Os países têm vindo a enfrentar a crise energética aumentando a eficiência energética, produzindo mais energia a partir de recursos locais, trabalhando no sentido de diversificar as suas fontes de aprovisionamento, aumentando o armazenamento ou acelerando a implantação das energias renováveis. Por exemplo, em janeiro de 2022 foi dado início às obras de construção da interligação de gás entre a Sérvia e a Bulgária. Este projeto, financiado em grande parte pela UE, permitirá à Sérvia diversificar o seu aprovisionamento de gás até ao próximo ano. O Plano Económico e de Investimento para os Balcãs Ocidentais proporcionou um forte apoio a iniciativas emblemáticas em toda a região, como o gasoduto transadriático, o desenvolvimento da produção fotovoltaica flutuante em reservatórios de centrais hidroelétricas ou a reabilitação eficiente do ponto de vista energético dos jardins de infância, escolas e outros edifícios. A Turquia acelerou as importações de gás do Azerbaijão e de outros países, embora continue a depender do gás da Rússia. Continua também a contar com a Rússia para a construção e subsequente exploração da sua primeira central nuclear. Em geral, serão necessários mais esforços para diversificar ainda mais o aprovisionamento energético, em especial de gás natural e de energias renováveis, e reforçar a segurança energética, nomeadamente através de uma maior eficiência energética. Será necessária uma coordenação mais estreita das ações e da cooperação entre os países e com a UE para fazer face à crise energética.
A Agenda Verde para os Balcãs Ocidentais foi aprovada pelos dirigentes dos Balcãs Ocidentais na Cimeira de Sófia, em novembro de 2020, tendo sido aprovado um plano de ação mais específico em Brdo, na Eslovénia, em outubro de 2021. Em consonância com o Pacto Ecológico Europeu, a agenda é um motor da transição para economias modernas, neutras em termos de carbono, resilientes às alterações climáticas e eficientes em termos de recursos, bem como para libertar o potencial da economia circular, dos sistemas alimentares sustentáveis, da luta contra a poluição e da melhoria da gestão dos resíduos, rumo a um futuro mais limpo, mais seguro e mais saudável.
A Turquia está moderadamente preparada em termos de políticas de transportes e de energia. Deve prosseguir os esforços no que diz respeito à liberalização do mercado do gás e desenvolver a cooperação em matéria de segurança e proteção nuclear. Realizou alguns progressos nas redes de energia e de transportes, estando ainda em curso a construção da linha ferroviária Halkali-Kapikule que liga a fronteira búlgara a Istambul. A Turquia tem um certo nível de preparação no domínio do ambiente e das alterações climáticas mas enfrenta desafios ambientais e climáticos críticos, tanto no que diz respeito à atenuação como à adaptação. O país ratificou o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas (estando pendente a apresentação do seu instrumento de ratificação às Nações Unidas). A Turquia também manifestou a sua disponibilidade para cooperar com a UE no que respeita aos objetivos do Pacto Ecológico Europeu. Estes desenvolvimentos são encorajadores. No entanto, foram tomadas muito poucas medidas concretas para traduzir estes objetivos em legislação nacional e a integração da ação climática noutras políticas continua a ser limitada.
Não se registam avanços nos domínios dos recursos, agricultura e coesão. A Macedónia do Norte, o Montenegro e a Sérvia estão moderadamente preparados na maioria dos capítulos deste grupo. A Albânia e o Kosovo têm, na maioria dos casos, algum nível de preparação, enquanto a Bósnia-Herzegovina se encontra ainda numa fase inicial na maioria dos capítulos. No domínio da agricultura e do desenvolvimento rural, a Albânia, a Macedónia do Norte, o Montenegro e a Sérvia realizaram alguns progressos, ao passo que o Kosovo registou progressos limitados. No domínio da segurança alimentar e da política veterinária e fitossanitária, o Kosovo e a Macedónia do Norte registaram alguns progressos; a Albânia e a Sérvia registaram progressos limitados. No que diz respeito às pescas, a Albânia registou progressos satisfatórios. No que diz respeito à política regional e à coordenação dos instrumentos estruturais, a Bósnia-Herzegovina, a Macedónia do Norte e a Sérvia não realizaram quaisquer progressos, ao passo que os outros países dos Balcãs Ocidentais registaram progressos limitados.
A política de apoio agrícola da Turquia afastou-se dos princípios da política agrícola comum da UE. O país alcançou progressos satisfatórios no domínio das pescas e alguns progressos na política regional e coordenação dos instrumentos estruturais. Realizou progressos limitados no domínio da segurança alimentar e da política veterinária e fitossanitária, relativamente aos quais existem preocupações quanto ao nível de resíduos de pesticidas nas exportações de produtos alimentares para a UE.
O grupo de capítulos sobre relações externas abrange as relações externas (Capítulo 30) e a política externa, de segurança e de defesa (Capítulo 31). Todos os parceiros dos Balcãs Ocidentais têm um bom nível de preparação ou estão moderadamente preparados no domínio das relações externas, à exceção da Bósnia-Herzegovina, que tem algum nível de preparação. No domínio da política externa, de segurança e de defesa, a Albânia, o Montenegro e a Macedónia do Norte têm um bom nível de preparação, a Sérvia está moderadamente preparada e a Bósnia-Herzegovina tem algum nível de preparação. No que diz respeito às relações externas, a Albânia registou progressos satisfatórios, o Kosovo e a Macedónia do Norte realizaram progressos limitados e a Sérvia e a Bósnia-Herzegovina não registaram quaisquer progressos. Em matéria de política externa, de segurança e de defesa, a Macedónia do Norte realizou progressos muito satisfatórios, a Albânia e o Montenegro realizaram progressos satisfatórios, a Bósnia-Herzegovina realizou alguns progressos e a Sérvia registou retrocessos. Prosseguiu a estreita cooperação entre a UE e os Balcãs Ocidentais em matéria de política externa e de segurança comum/política comum de segurança e defesa (PESC/PCSD), em especial através dos seus importantes contributos para as missões e operações da PCSD da UE. Aumentou a importância do alinhamento com a política externa e de segurança comum da UE enquanto parte do processo de integração na UE na sequência da agressão militar não provocada e injustificada da Rússia contra a Ucrânia. A Albânia e o Montenegro mantiveram o seu pleno alinhamento; a Macedónia do Norte juntou-se aos dois países, tendo-se alinhado plenamente, a título retroativo, com todas as declarações do alto representante em nome da UE e as medidas restritivas impostas pela UE e continuado a manter uma taxa de 100 % na sequência da agressão da Rússia. A Bósnia-Herzegovina melhorou a sua taxa de alinhamento, aderindo formalmente às declarações do alto representante e às medidas restritivas na sequência da agressão da Rússia, embora subsistam desafios significativos em matéria de execução. O Kosovo também se alinhou unilateralmente por essas medidas. A Sérvia tem-se recusado até à data a alinhar-se com as medidas restritivas adotadas pela UE contra a Rússia, não tendo subscrito a maioria das declarações proferidas pelo alto representante em nome da UE sobre a Federação da Rússia. Mais grave ainda, a Sérvia continuou a manter relações estreitas com a Rússia. Os parceiros dos Balcãs Ocidentais e a Turquia alinharam-se com a grande maioria da comunidade internacional, incluindo a UE, tendo votado duas resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, bem como por ocasião da votação sobre a suspensão da Rússia do Conselho dos Direitos Humanos.
A Turquia está moderadamente preparada no domínio das relações externas e tem um certo nível de preparação no domínio da política externa, de segurança e de defesa; realizou progressos limitados em matéria de relações externas. A taxa de alinhamento do país pela PESC voltou a deteriorar-se para 7 % a partir de agosto de 2022 (11 % em 2021 e 2020 e 21 % em 2019). De um modo geral, a política externa cada vez mais assertiva da Turquia continuou a ser contrária às prioridades da PESC da UE. Embora a Turquia e a UE tenham retomado o diálogo sobre política externa e de segurança e sobre questões regionais, a Turquia deve ainda tomar medidas decisivas para melhorar significativamente o alinhamento com as declarações da UE e as decisões do Conselho.
IV. COOPERAÇÃO REGIONAL E RELAÇÕES DE BOA VIZINHANÇA
Nos Balcãs Ocidentais, as relações de boa vizinhança e a cooperação regional constituem elementos essenciais dos processos de estabilização e de associação, bem como do alargamento.
Após a introdução bem sucedida da «itinerância como em casa» («roam like at home») nas seis economias dos Balcãs Ocidentais em 1 de julho de 2021, foram tomadas novas medidas preparatórias com o objetivo de reduzir as tarifas de roaming entre os Balcãs Ocidentais e a UE. Foi elaborado um roteiro para reduzir os custos de roaming entre a UE e os Balcãs Ocidentais, com base numa combinação de acordos comerciais voluntários e de novas reformas no domínio digital nos Balcãs Ocidentais. O objetivo final do processo é reduzir os preços dos serviços de roaming na UE para um nível próximo dos preços nacionais até 2027. Existem duas vertentes paralelas neste processo: implementação de um conjunto de reformas políticas pelos governos dos Balcãs Ocidentais com o objetivo de melhorar o ambiente empresarial na região e atividades preparatórias com os operadores móveis dos Balcãs Ocidentais e da UE a fim de facilitar a implementação da trajetória de descida proposta a partir de janeiro de 2023.
Em outubro de 2021, os seis países chegaram a acordo sobre um «quadro regional para ao livre fluxo de dados na região dos Balcãs Ocidentais» e trabalharão em conjunto na harmonização da legislação, nomeadamente o alinhamento com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), as decisões de adequação do RGPD entre os países, a livre circulação de dados não pessoais e de dados abertos e a reutilização de informações do setor público. Os Balcãs Ocidentais devem garantir o alinhamento da legislação nacional com o regulamento da UE relativo à identificação eletrónica e aos serviços de confiança para as transações eletrónicas no mercado interno. Relativamente a este tema, os seis países assinaram uma declaração conjunta sobre a interoperabilidade dos Balcãs Ocidentais em 13 de outubro de 2021.
Tem sido realizado um trabalho técnico significativo em todos os domínios abrangidos pela iniciativa relativa ao mercado comum regional. Esse trabalho, realizado sob os auspícios do Conselho de Cooperação Regional, do CEFTA e do Fórum de Investimento das Câmaras de Comércio e Indústria dos seis países dos Balcãs Ocidentais, visa ajuda permitir a livre circulação de pessoas e de profissionais e a prestação de serviços eletrónicos, bem como facilitar o comércio e aligeirar os procedimentos aduaneiros na região. A título de exemplo, foram criados corredores verdes nos pontos de passagem das fronteiras rodoviárias e ferroviárias na região, facilitando o trânsito de mercadorias prioritárias, ao passo que, em julho deste ano, teve início um projeto-piloto entre a Grécia e a Macedónia do Norte para alargar a iniciativa «corredores verdes» entre os Balcãs Ocidentais e a UE. No entanto, as divergências em matéria de estatuto entre Belgrado e Pristina continuaram a impedir a adoção formal de acordos. A região deve demonstrar liderança política para concluir este trabalho e adotar acordos ou decisões juridicamente vinculativos entre todos os parceiros dos Balcãs Ocidentais, em benefício dos seus cidadãos e empresas. Para tal, é necessário colocar conjuntamente a tónica na criação do mercado comum regional, com base nas regras e normas da UE, e evitar medidas unilaterais que ponham em causa este trabalho. A falta de progressos na implementação do mercado comum regional conduziu à iniciativa Balcãs Abertos, que deu os primeiros passos para aplicar as quatro liberdades entre a Albânia, a Macedónia do Norte e a Sérvia. Desde que a iniciativa esteja em consonância com o quadro do mercado comum regional, cumpra as normas da UE e seja totalmente aberta e inclusiva, constitui um passo útil para o desenvolvimento de um mercado comum entre as seis economias da região.
A execução da agenda dos Balcãs Ocidentais em matéria de inovação, investigação, educação, cultura, juventude e desporto continuou a apoiar o desenvolvimento socioeconómico sustentável da região e a criar novas oportunidades para estudantes, investigadores, inovadores e empresários aumentarem as suas competências e acederem a novos mercados. Foi concluída a associação dos parceiros dos Balcãs Ocidentais aos programas Horizonte Europa e Europa Criativa e prosseguiram os trabalhos sobre o desenvolvimento de estratégias de especialização inteligente. A Sérvia e a Macedónia do Norte estão ambas associadas ao Erasmus+, estando esta última também associada ao Corpo Europeu de Solidariedade. Até à data, a Albânia, a Bósnia-Herzegovina, o Kosovo e o Montenegro ainda não se associaram, embora beneficiem da dimensão internacional do Erasmus+, financiada através do Instrumento de Assistência de Pré-Adesão III (IPA III), com um montante específico de 374 milhões de EUR para o período 2021-2027.
Além disso, foi criada uma nova parceria reforçada com as organizações e estabelecimentos de ensino dos Balcãs Ocidentais não associados ao programa Erasmus+. Esta parceria dá-lhes a oportunidade de participar em importantes ações estratégicas, nomeadamente a iniciativa Universidades Europeias. O alargamento e o acesso de todos os parceiros dos Balcãs Ocidentais a essas ações emblemáticas reforçam ainda mais a cooperação com a região.
O Gabinete de Cooperação Regional da Juventude continuou a desempenhar um papel importante no desenvolvimento da cooperação regional e das relações de boa vizinhança, proporcionando oportunidades de cooperação e intercâmbio aos jovens dos Balcãs Ocidentais.
A reunião dos dirigentes da UE e dos Balcãs Ocidentais de 23 de junho constituiu uma oportunidade para reafirmar a perspetiva da UE dos parceiros na região e intensificar a agenda de cooperação e integração. Foi dada especial atenção à integração dos Balcãs Ocidentais nas medidas da UE para reduzir o impacto negativo da agressão russa contra a Ucrânia em termos de abastecimento alimentar e energético e independência, bem como às medidas de apoio ao reforço das capacidades em matéria de cibersegurança e à agenda social, nomeadamente envolvendo os jovens na economia. A referida reunião constituiu também uma oportunidade para debater o aprofundamento da cooperação política, o alinhamento dos Balcãs Ocidentais pelas posições e medidas da UE e a possível conceção e funcionamento de uma comunidade geopolítica europeia.
A normalização global das relações entre a Sérvia e o Kosovo através do diálogo facilitado pela UE continua a ser fundamental para o seu futuro europeu e para a estabilidade de toda a região. O processo continuou durante o período em apreço, tendo sido realizadas reuniões mensais a nível de negociadores principais e organizada uma reunião de alto nível em Bruxelas, em 18 de agosto de 2022. Apesar dos progressos alcançados nos domínios da energia, da gestão integrada das fronteiras e da liberdade de circulação, as relações entre o Kosovo e a Sérvia permanecem tensas. Ambas as partes devem empenhar-se de forma mais construtiva no sentido da conclusão de um acordo de normalização abrangente juridicamente vinculativo que aborde todas as questões pendentes entre elas e de aplicar plenamente todos os acordos celebrados anteriormente no âmbito do Diálogo.
Os acordos bilaterais existentes, incluindo o acordo de Prespa entre a Macedónia do Norte e a Grécia e o tratado de amizade, boa vizinhança e cooperação com a Bulgária, devem continuar a ser aplicados de boa-fé por todas as partes.
É essencial superar o legado do passado e resolver os litígios decorrentes dos conflitos da década de 1990. Há ainda que resolver importantes questões bilaterais pendentes, nomeadamente questões relativas às fronteiras, a necessidade de fazer justiça as vítimas de crimes de guerra, de identificar pessoas que continuam desaparecidas e de elaborar um registo exato das atrocidades cometidas no passado a nível regional. Não há lugar na União para discursos incendiários nem para a glorificação de criminosos de guerra de qualquer das partes.
A cooperação territorial permite aos países dos Balcãs Ocidentais cooperarem com os Estados‑Membros vizinhos em setores sociais e económicos fundamentais. Mais especificamente, os programas de cooperação transfronteiriça criam oportunidades de diálogo e cooperação a nível da administração local, com a participação das comunidades, do setor privado e das organizações da sociedade civil. Como tal, representam instrumentos fundamentais para as relações de boa vizinhança e a reconciliação nas zonas fronteiriças. Tendo em conta a sua ênfase no desenvolvimento local, os programas de cooperação transfronteiriça também trazem o Plano Económico e de Investimento e a Agenda Verde para o nível local, contribuindo para a recuperação económica das zonas mais remotas.
A situação no Mediterrâneo Oriental voltou a estar mais tensa. A Turquia não realizou atividades de perfuração não autorizadas durante o período em apreço. No entanto, foram comunicados incidentes relacionados com as atividades de prospeção na Zona Económica Exclusiva cipriota e com violações do espaço aéreo nacional da República de Chipre. Prosseguiram os exercícios militares da Turquia nas zonas marítimas de Chipre. As relações com a Grécia deterioraram-se em abril de 2022, na sequência de repetidas violações do espaço aéreo grego por aviões de combate turcos e veículos aéreos não tripulados no mar Egeu, incluindo um elevado número de voos em zonas habitadas, bem como de declarações turcas ameaçadoras sobre a soberania das ilhas gregas. Deve ser incentivado o desanuviamento no Mediterrâneo Oriental. A UE tem repetidamente instado a Turquia a evitar todos os tipos de ameaças, fontes de fricção ou ações que prejudiquem as relações de boa vizinhança e a resolução pacífica dos litígios, tendo reiterado esse apelo no Conselho Europeu de junho de 2022.
A UE continua empenhada em defender os seus interesses e os dos seus Estados-Membros, bem como em apoiar a estabilidade regional. Em novembro de 2021, na sequência da segunda revisão do quadro de medidas restritivas, o Conselho prorrogou o regime por mais um ano. Atualmente, há duas pessoas sujeitas a sanções.
Os direitos soberanos dos Estados-Membros da UE incluem, nomeadamente, o direito de concluir acordos bilaterais e de explorar os recursos naturais, em conformidade com o acervo da UE e com o direito internacional, nomeadamente a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. A soberania e os direitos soberanos sobre o espaço aéreo e as zonas marítimas de todos os Estados costeiros vizinhos, incluindo aqueles a que as suas ilhas têm direito, devem ser respeitados, e a delimitação de zonas económicas exclusivas e da plataforma continental deve ser tratada em conformidade com o direito internacional através de um diálogo de boa-fé e visando estabelecer relações de boa vizinhança. É absolutamente necessário manter um diálogo de boa-fé e abster-se de ações unilaterais que sejam contrárias aos interesses da UE e violem o direito internacional e os direitos soberanos do seus Estados-Membros, a fim de garantir um ambiente estável e seguro no Mediterrâneo Oriental e o desenvolvimento de uma relação cooperativa e mutuamente benéfica entre a UE e a Turquia. A Turquia deve pronunciar-se de forma inequívoca em favor de relações de boa vizinhança, de acordos internacionais e da resolução pacífica de litígios, em conformidade com as disposições da Carta das Nações Unidas, recorrendo, se necessário, ao Tribunal Internacional de Justiça.
A firme determinação da Turquia e o seu contributo concreto para as negociações que visam uma resolução da questão cipriota justa, global e viável sob os auspícios das Nações Unidas e em consonância com as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, assumem enorme importância. É importante que a Turquia reafirme o seu empenhamento e compromisso construtivo nas conversações sobre a resolução da questão de Chipre conduzidas pelas Nações Unidas, em consonância com as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, incluindo os seus aspetos externos. Não devem ser tomadas medidas unilaterais que possam suscitar tensões na ilha e comprometer o regresso à mesa das conversações. A Turquia deve reverter imediatamente todas as ações e medidas tomadas em relação a Varosha desde outubro de 2020 que violam as resoluções e declarações pertinentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. É urgente que a Turquia cumpra a sua obrigação de assegurar a plena aplicação do Protocolo Adicional do Acordo de Associação UE-Turquia e progrida na via da normalização das suas relações com a República de Chipre.
As relações de boa vizinhança e a reconciliação estão intrinsecamente ligadas ao Estado de direito, à governação económica e à cooperação regional. O objetivo específico do IPA III neste domínio é contribuir para a coesão social e a resiliência, abordando o legado dos conflitos do passado e trazendo justiça a todas as vítimas dos conflitos. Do mesmo modo, a melhoria das relações de boa vizinhança promove a confiança dos cidadãos e contribui para eliminar os obstáculos ao intercâmbio político, económico e social e à cooperação. A Comissão já adotou as primeiras decisões de financiamento a título do IPA III a fim de a) apoiar a ação penal por crimes de guerra a nível nacional através da disponibilização de conhecimentos especializados às autoridades judiciárias; b) sensibilizar o público para os crimes cometidos anteriormente, nomeadamente através do diálogo e do intercâmbio entre um vasto leque de partes interessadas.
V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Com base na análise que precede e nas avaliações que figuram nos resumos relativos a cada país que figuram em anexo, a Comissão formula as seguintes conclusões e recomendações:
I
1.A invasão brutal da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, alterou radicalmente o panorama geopolítico e tem posto à prova a ordem assente nas normas de direito. Neste contexto, a política de alargamento da UE é, mais do que nunca, um investimento geoestratégico na paz, na estabilidade e na segurança a longo prazo de todo o continente e, por conseguinte, ocupa um lugar de destaque na agenda política da UE. Baseada em condições estritas mas justas e no princípio do mérito próprio, continua a incentivar a transformação e a modernização dos países parceiros e a aproximá-los da UE. Os Balcãs Ocidentais fazem parte da família europeia. É do interesse estratégico da UE, e essencial para a sua própria estabilidade e prosperidade, que todos os parceiros dos Balcãs Ocidentais continuem a avançar na via da plena adesão à UE, adotando plenamente e defendendo a democracia, o Estado de direito e os direitos fundamentais, que estão no cerne dos valores da UE. O futuro destes países e dos seus cidadãos está na União Europeia.
2.No último ano, registaram-se importantes desenvolvimentos na agenda de alargamento da UE. A primeira conferência intergovernamental com a Albânia e uma conferência intergovernamental política com a Macedónia do Norte, com o objetivo de apresentar as próximas etapas do processo de alargamento após a adoção do quadro de negociação, tiveram lugar em 19 de julho de 2022. Abriu-se um novo capítulo na política de alargamento da UE.
O Conselho Europeu reconheceu a perspetiva europeia da Ucrânia, da República da Moldávia e da Geórgia. Os dirigentes da UE decidiram conceder o estatuto de país candidato à Ucrânia e à República da Moldávia e o estatuto de país candidato à Geórgia logo que tenham sido abordadas as prioridades especificadas no parecer da Comissão sobre o pedido de adesão deste país.
3.A Turquia continua a ser um parceiro fundamental da União Europeia em domínios essenciais de interesse comum como a migração, a luta contra o terrorismo, a economia, o comércio, a energia, a segurança alimentar e os transportes. Prosseguiram os diálogos de alto nível e intensificou-se o empenhamento nestes domínios. Em junho de 2019, o Conselho reiterou que a Turquia continua a afastar-se cada vez mais da União Europeia, e que, por conseguinte, as negociações de adesão com a Turquia tinham chegado a um impasse e não era de prever que viessem a ser abertos ou encerrados novos capítulos. Os factos que conduziram a esta apreciação continuam válidos. Aumentaram as tensões bilaterais com alguns Estados‑Membros. A Turquia facilitou o diálogo entre a Rússia e a Ucrânia e desempenhou um papel fundamental no acordo sobre a exportação de cereais. No entanto, decidiu igualmente aumentar as relações comerciais e financeiras com a Rússia e não se alinhou com as medidas restritivas impostas pela UE. Esta questão é motivo de crescentes preocupações que exigem um acompanhamento rigoroso por parte da UE.
4.A guerra da Rússia contra a Ucrânia sublinhou ainda mais a importância do alinhamento pela PESC enquanto aspeto fundamental do processo de integração na UE. O alinhamento a 100 % da Albânia, do Montenegro e da Macedónia do Norte com a PESC continua a ser um sinal forte do seu empenho e da sua escolha estratégica de integração na UE, ao passo que a melhoria significativa da Bósnia-Herzegovina em matéria de alinhamento pela PESC e o alinhamento unilateral do Kosovo são louváveis e devem ser reconhecidos. A Sérvia e a Turquia prosseguiram a sua política de não alinhamento pelas medidas restritivas impostas contra a Rússia. Ambos os países devem tomar medidas decisivas para melhorar o alinhamento com a PESC, incluindo as medidas restritivas impostas pela UE, e evitar ações que contrariem o objetivo declarado de ambos os países de aderirem à UE.
5.A atual crise energética que a Europa enfrenta é um desafio para os Balcãs Ocidentais e para a Turquia, bem como para a UE. A UE convidou os Balcãs Ocidentais a aderirem à plataforma da UE de aquisições conjuntas de energia. A Sérvia e a Macedónia do Norte participaram na primeira reunião do grupo de trabalho regional do Sudeste da Europa. O grupo de trabalho regional já aprovou um plano de ação, nomeadamente para melhorar os fluxos transfronteiriços de energia. A UE presta apoio aos Balcãs Ocidentais na orientação do apoio financeiro para investimentos em energias renováveis e eficiência energética, a fim de reduzir o consumo e os custos de energia. Ao mesmo tempo, espera que todos os parceiros da região se alinhem plenamente com a legislação e as prioridades políticas da UE no domínio da energia, incluindo as que integram o plano REPowerEU, e que reduzam a sua dependência dos combustíveis fósseis da Rússia o mais rapidamente possível. Sob reserva de reformas regulamentares, a UE também está a abrir o seu mercado da eletricidade aos Balcãs Ocidentais através da Comunidade da Energia.
6.A descarbonização é um dos principais pilares da Agenda Verde para os Balcãs Ocidentais, tendo sido integrada no Plano Económico e de Investimento. Na sequência da adoção, em outubro de 2021, do plano de ação de Brdo para implementar a Agenda Verde, esperam-se novos avanços. A UE tem apoiado a região na execução da Agenda Verde, nomeadamente promovendo o desenvolvimento de abordagens regionais; a cooperação regional é um pré‑requisito essencial para fazer face às alterações climáticas e aos desafios e oportunidades em matéria de ambiente.
7.O ano de 2021 foi o primeiro ano completo de execução do Plano Económico e de Investimento para os Balcãs Ocidentais (PEI), com vista a uma integração mais estreita e a colmatar o fosso socioeconómico entre a região e a UE, apoiando-a na sua recuperação pós‑COVID e aproximando os Balcãs Ocidentais do mercado único da UE. Esse esforço é apoiado por um pacote de 9 mil milhões de EUR de subvenções da UE e pelo mecanismo de garantia para os Balcãs Ocidentais para atrair até 20 mil milhões de EUR em investimentos. Desde o seu lançamento, foi aprovado um total de 1 300 milhões de EUR em subvenções ao investimento relacionadas com o PEI ao abrigo do Quadro de Investimento para os Balcãs Ocidentais, para o financiamento de 24 projetos emblemáticos com um valor de investimento total de 3 300 milhões de EUR. O PEI é fundamental para ajudar a região a responder ao impacto da guerra da Rússia contra a Ucrânia, nomeadamente através da aceleração da transição energética para fontes renováveis, da diversificação do aprovisionamento e da melhoria da eficiência energética dos edifícios públicos e privados. Com 500 milhões de EUR adotados em 2021 para a aplicação de medidas no setor agrícola ao abrigo do Instrumento de Assistência de Pré-Adesão para o Desenvolvimento Rural (IPARD), os parceiros da região estão mais bem preparados para fazer face ao possível impacto das crises de segurança alimentar e de abastecimento.
8.Na sequência da adoção do quadro jurídico do IPA III em 2021, a programação da assistência a título do IPA seguiu uma abordagem sólida orientada para as políticas, com especial destaque para os requisitos fundamentais para a adesão.
9.Os parlamentos dos Balcãs Ocidentais reiteraram o seu empenhamento no processo de Berlim. A próxima cimeira do processo de Berlim, a realizar em novembro, deverá constituir uma ocasião para eliminar os obstáculos ainda existentes à integração económica regional inclusiva e assegurar a plena realização dos objetivos fixados nas cimeiras anteriores.
10.Atualmente, a incapacidade de as partes no mercado comum regional acordarem e aplicarem decisões e acordos tecnicamente concluídos que tenham um impacto tangível nos produtores e consumidores de toda a região constitui um obstáculo aos potenciais benefícios que o mercado poderá trazer. Será importante que todos trabalhem de forma construtiva para desbloquear o processo de tomada de decisão e permitir que as medidas entrem em vigor. A iniciativa Balcãs Abertos, lançada pela Albânia, pela Macedónia do Norte e pela Sérvia, pode desempenhar um papel positivo neste processo, desde que esteja em consonância com o quadro do mercado comum regional, se baseie nas regras da UE e seja inclusiva em relação a todos os parceiros dos Balcãs Ocidentais.
11.Os atuais desafios geopolíticos exigem o reforço da nossa cooperação com a região, cuja segurança está, em última análise, ligada à segurança da própria UE. Há muito que a UE é o parceiro económico mais importante dos Balcãs Ocidentais. Com a adoção da Bússola Estratégica da UE, foram lançadas as bases para que a UE e os seus Estados-Membros continuem a reforçar o seu papel enquanto principais parceiros da região em matéria de segurança e defesa, atuando também em estreita cooperação com agentes da segurança internacional que partilham as mesmas ideias. O reforço das capacidades contra ameaças híbridas, como a cibersegurança, o reforço da resiliência das infraestruturas críticas e a luta contra a desinformação, são prioridades fundamentais.
II.
12.No Montenegro, o empenhamento político das autoridades no processo de adesão é apresentado de forma regular e sistemática como a principal prioridade do país e, de um modo geral, reflete-se em decisões políticas concretas. Esse empenhamento incluiu uma taxa de alinhamento de 100 % com a política externa e de segurança comum da UE. No entanto, a volatilidade política, a instabilidade do governo e as tensões travaram os processos de tomada de decisão e a execução das reformas, conduzindo a um abrandamento das negociações.
A Comissão considera que, em conformidade com o quadro de negociação, é assegurado atualmente um equilíbrio global entre, por um lado, os progressos realizados nos capítulos relativos ao Estado de direito e, por outro, os progressos realizados nas negociações de adesão no que respeita aos diferentes capítulos.
A prioridade no que respeita à continuação da realização de progressos gerais nas negociações de adesão, antes de se proceder ao encerramento provisório de outros capítulos ou grupos de capítulos, continua a ser o respeito dos critérios provisórios relativos ao Estado de direito enunciados nos capítulos 23 e 24. A fim de alcançar este marco, o Montenegro deve intensificar os seus esforços para resolver as questões pendentes, nomeadamente nos domínios críticos da liberdade de expressão e da liberdade dos meios de comunicação social, bem como da luta contra a corrupção e a criminalidade organizada, e garantir a funcionalidade e a credibilidade do sistema judicial.
Para tal, é preciso estabilidade política e um empenhamento construtivo de todas as partes interessadas, conduzindo à criação de um governo estável, firmemente empenhado na direção estratégica da UE e num amplo consenso político no Parlamento sobre as principais reformas, mantendo a funcionalidade institucional e reforçando a ênfase nos principais resultados para fazer avançar na prática a agenda de integração da UE.
13.Embora as autoridades sérvias tenham continuado a declarar que a integração europeia é o seu objetivo estratégico, também mantiveram relações estreitas com a Rússia.
A Sérvia fez um importante avanço na sua trajetória de adesão à UE, com a abertura das negociações no âmbito do grupo 4 (Agenda Verde e conectividade sustentável) em dezembro de 2021, na sequência dos progressos em matéria de reformas, nomeadamente quanto à reforma constitucional no setor do sistema judiciário. A Sérvia deu um passo importante em termos de independência e responsabilização do poder judicial com a aprovação das alterações pertinentes à Constituição. A dissolução do Parlamento em fevereiro de 2022 e a realização de eleições legislativas antecipadas conduziram a uma legislatura mais pluralista. No entanto, os resultados eleitorais registaram atrasos significativos, a formação do novo governo ainda não está concluída e o ritmo das reformas relacionadas com a adesão à UE abrandou, não se tendo registado progressos em matéria de liberdade de expressão. A Sérvia deve, com caráter prioritário, criar um governo firmemente empenhado na orientação estratégica europeia e no processo de reforma.
O alinhamento da Sérvia pela política externa e de segurança comum da UE diminuiu significativamente. Até à data, o país recusou-se a alinhar-se pelas medidas restritivas da UE adotadas contra a Federação da Rússia. Algumas declarações e ações de altos funcionários sérvios foram diretamente contrárias às posições da UE em matéria de política externa, nomeadamente em setembro de 2022, com a assinatura de prioridades comuns sobre política externa entre a Sérvia e a Rússia para 2023-2024. A UE espera que a Sérvia defenda princípios, valores e segurança comuns, intensificando os seus esforços de alinhamento progressivo com as posições da UE em matéria de política externa, incluindo declarações e medidas restritivas, em consonância com o quadro de negociação.
No que diz respeito à normalização das relações com o Kosovo, a Sérvia tem-se mantido geralmente empenhada no diálogo. No entanto, o Governo sérvio deve honrar os seus compromissos anteriores e comprometer-se a aplicar plenamente todos os acordos celebrados anteriormente no âmbito do Diálogo. A fim de avançar, a Sérvia deve também envidar esforços para evitar ações que comprometam a estabilidade e a retórica que prejudica o diálogo. O país deve contribuir para criar um ambiente propício à celebração de um acordo de normalização juridicamente vinculativo com o Kosovo, incluindo no quadro das suas relações internacionais. Espera-se que a Sérvia se empenhe de forma mais construtiva nas negociações sobre o acordo de normalização juridicamente vinculativo no próximo período e mostre disponibilidade para chegar a um compromisso a fim de realizar progressos rápidos e concretos.
No que diz respeito ao Estado de direito, são necessários mais esforços e compromissos políticos para prosseguir e aprofundar as reformas e colmatar as lacunas, em especial nos domínios fundamentais do sistema judicial, da luta contra a corrupção e a criminalidade organizada, da liberdade dos meios de comunicação social, da liberdade de reunião e do tratamento, a nível nacional, dos crimes de guerra. Mais concretamente, a Sérvia deverá adotar a legislação necessária para aplicar na prática as alterações constitucionais nos prazos previstos, reforçar eficazmente a independência do poder judicial e a autonomia do Ministério Público e combater as influências indevidas.
Para além das reformas, as autoridades sérvias devem assumir a responsabilidade por uma comunicação pró-ativa e objetiva sobre a UE, que é o principal parceiro político e económico do país, em conformidade com o seu objetivo estratégico declarado de integração europeia. A Sérvia tem também de combater com firmeza todas as formas de desinformação e de manipulação de informação por intervenientes estrangeiros.
Os progressos da Sérvia no domínio do Estado de direito e da normalização das relações com o Kosovo continuarão a determinar o ritmo geral das negociações de adesão. A Comissão considera que, em conformidade com o quadro de negociação, é assegurado atualmente um equilíbrio global entre, por um lado, os progressos realizados nos capítulos relativos ao Estado de direito e à normalização das relações com o Kosovo e, por outro, os progressos realizados nas negociações de adesão no que respeita aos diferentes capítulos.
A avaliação da Comissão segundo a qual a Sérvia cumpriu tecnicamente os critérios de referência para abrir os conjuntos de capítulos n.º 3 (Competitividade e crescimento inclusivo) e n.º 4 (Agenda Verde e conectividade sustentável) continua a ser válida. É essencial que a Sérvia demonstre inequivocamente o seu empenho no objetivo estratégico de integração europeia, tal como estabelecido no quadro de negociação.
14.O lançamento do processo de negociações de adesão à UE com a Macedónia do Norte durante este ano constituiu um avanço importante e marcou o início de uma nova fase nas relações entre a UE e a Macedónia do Norte. A primeira conferência política intergovernamental com a Macedónia do Norte teve lugar em 19 de julho, na sequência da aprovação pelo Conselho do quadro de negociação. Tratou-se de um reconhecimento claro dos progressos alcançados pelo país para fazer avançar a agenda de reformas da UE e produzir resultados tangíveis e sustentados, nomeadamente no âmbito do conjunto de capítulos relativo aos aspetos fundamentais. Na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, a Macedónia do Norte confirmou a sua forte e clara orientação estratégica na direção da UE, alinhando-se plenamente com todas as decisões e declarações em matéria de política externa e de segurança comum da UE, tendo mantido desde então uma taxa de alinhamento de 100 %. Com esta atuação, o país demonstrou a sua vontade de avançar na via da adesão à UE como um parceiro fiável.
Tendo em vista fazer avançar o processo de negociações de adesão da Macedónia do Norte em conformidade com o quadro de negociação, a Comissão deu imediatamente início ao exame analítico (screening), que constitui o primeiro passo do processo de negociação. A Macedónia do Norte demonstrou um elevado nível de empenhamento e o processo de análise está a decorrer sem problemas. Ao longo de todo o processo, é importante assegurar a coordenação entre todas as instituições, bem como uma abordagem inclusiva, trabalhando com todas as partes interessadas e a sociedade civil e comunicando regularmente com o público em geral.
Enquanto país em negociações de adesão, a Macedónia do Norte tem novas responsabilidades mas também novas oportunidades. Esta nova fase, que é exigente, requer um empenhamento construtivo por parte do Governo e da oposição, bem como de outras partes da sociedade, promovendo um amplo consenso sobre as reformas relacionadas com a UE. O país precisa de continuar a apresentar resultados em termos de prioridades relacionadas com as reformas, incluindo em domínios fundamentais como o Estado de direito, a luta contra a corrupção e a criminalidade organizada. O país constitui um bom exemplo de uma sociedade multiétnica. A alteração da Constituição, em consonância com os compromissos assumidos pela Macedónia do Norte, fará avançar ainda mais os direitos fundamentais.
15.O lançamento do processo de negociações de adesão à UE com a Albânia durante este ano constitui um avanço importante e marcou o início de uma nova fase nas relações entre a UE e este país. A primeira conferência intergovernamental sobre negociações de adesão realizada com a Albânia em 19 de julho constituiu um reconhecimento claro dos progressos alcançados pelo país no sentido de fazer avançar a agenda de reformas da UE e produzir resultados tangíveis e sustentados.
A Albânia continuou a registar progressos nas reformas no conjunto de capítulos relativo às questões fundamentais. Prosseguiu a implementação de uma reforma aprofundada no setor da justiça. O empenho do país no reforço do Estado de direito, na luta contra a corrupção e a criminalidade organizada é louvável. A Albânia tem participado ativamente nos trabalhos do Conselho de Segurança das Nações Unidas enquanto membro não permanente, incluindo como co-redator de resoluções que condenam a agressão da Rússia contra a Ucrânia. O pleno alinhamento da Albânia com a política externa e de segurança comum da UE é um forte sinal da sua escolha estratégica de adesão à UE e do seu papel de parceiro fiável.
Tendo em vista fazer avançar o processo de negociações de adesão da Albânia, em conformidade com o quadro de negociação, a Comissão deu imediatamente início ao exame analítico (screening), que constitui o primeiro passo do processo de negociação. A Albânia demonstrou um elevado nível de empenhamento e o exame analítico está a decorrer sem problemas.
Enquanto país em negociações de adesão, a Albânia tem novas responsabilidades mas também novas oportunidades. Embora já tenha sido realizado um trabalho preparatório sólido, esta nova e exigente fase exige um empenhamento sustentado da Albânia e uma coordenação eficaz entre todas as suas instituições, bem como um empenhamento contínuo do Governo e da oposição, bem como de outras partes da sociedade. O país tem de evitar tomar medidas que sejam contrárias ao Estado de direito. A Albânia deve intensificar os seus esforços em domínios fundamentais como a reforma do sistema judicial, a luta contra a corrupção e a luta contra a criminalidade organizada, bem como a liberdade de expressão, os direitos de propriedade e as questões relativas às minorias.
16.Em junho de 2022, o Conselho Europeu declarou-se disposto a conceder o estatuto de país candidato à Bósnia-Herzegovina e, para o efeito, convidou a Comissão a apresentar sem demora um relatório sobre a implementação das 14 prioridades essenciais estabelecidas no seu parecer, prestando especial atenção às que constituem um conjunto substancial de reformas a fim de que o Conselho Europeu volte a decidir sobre a matéria.
Apesar da turbulência política e das próximas eleições legislativas, os dirigentes dos partidos políticos representados na Parlamento da Bósnia-Herzegovina, em junho de 2022, comprometeram-se a respeitar os princípios que garantem uma Bósnia-Herzegovina funcional que avance na via da adesão à União Europeia. As partes acordaram em aplicar estes compromissos com urgência e, o mais tardar, seis meses após a constituição de todas as autoridades, na sequência das eleições de 2 de outubro.
Subsequentemente, em conformidade com as 14 prioridades fundamentais, a Bósnia-Herzegovina adotou alterações à lei dos contratos públicos em agosto e alterações à estratégia global de gestão das finanças públicas por todos os níveis de governo, em junho e julho. O diálogo político com a UE, ao abrigo do acordo de estabilização e de associação, foi também retomado após muitos meses de impasse, devido a um bloqueio por parte dos partidos políticos baseados na República Sérvia da Bósnia de instituições legislativas e executivas a nível estatal. A Presidência ratificou vários acordos internacionais, nomeadamente os programas Horizonte e Europa Criativa e o Mecanismo de Proteção Civil da União. Foram dados passos significativos para melhorar a gestão das migrações. A Bósnia-Herzegovina registou um importante avanço em termos de melhoria do seu alinhamento com a política externa e de segurança da UE, até 81 % no final de agosto de 2022. No entanto, o pleno alinhamento continua pendente.
No que diz respeito à luta contra a corrupção e a criminalidade organizada, a Bósnia‑Herzegovina registou progressos significativos. A operacionalização do ponto de contacto da Europol está quase concluída. Além disso, os preparativos para a formalização da cooperação entre o país e a Eurojust também avançaram.
O Governo da Federação permaneceu em funções durante todo o período de 2018-2022 enquanto governo de gestão. Os partidos políticos não conseguiram chegar a acordo sobre reformas constitucionais e eleitorais, e o alto representante, por sua própria iniciativa, utilizou os Poderes de Bona por quatro vezes, incluindo em matéria de normas eleitorais, financiamento de eleições e alterações à Constituição da Federação. A realização de reformas em matéria de Estado de direito foi adiada e está atrasada. O Conselho Europeu de junho de 2022 exortou os dirigentes da Bósnia-Herzegovina a finalizarem urgentemente as reformas constitucionais e eleitorais pendentes. Essas reformas devem ser efetuadas com a máxima prioridade.
Por conseguinte, a Comissão recomenda que o Conselho conceda à Bósnia-Herzegovina o estatuto de país candidato, no pressuposto de que sejam tomadas as seguintes medidas:
-adoção, com caráter prioritário, de alterações em matéria de integridade na legislação que rege atualmente o Conselho Superior da Magistratura e do Ministério Público;
-adoção de uma nova lei sobre o Conselho Superior da Magistratura e do Ministério Público e adoção da lei relativa aos tribunais;
-adoção da lei sobre a prevenção de conflitos de interesses;
-tomada de medidas decisivas para reforçar a prevenção e a luta contra a corrupção e a criminalidade organizada;
-esforços consistentes no sentido de garantir uma coordenação eficaz, a todos os níveis, da capacidade da gestão das fronteiras e da migração e o funcionamento do sistema de asilo.
-garantia da proibição da tortura, nomeadamente através da criação de um mecanismo nacional de prevenção contra a tortura e os maus tratos;
-garantia da liberdade de expressão e dos meios de comunicação social e proteção dos jornalistas, nomeadamente garantia do acompanhamento judicial adequado dos casos de ameaças e de violência exercida contra jornalistas e profissionais da comunicação social.
-garantia da obtenção de resultados no funcionamento a todos os níveis do mecanismo de coordenação sobre questões ligadas à UE, nomeadamente elaborando e adotando um programa nacional de adoção do acervo da UE.
A Comissão está pronta a continuar a apoiar os esforços da Bósnia-Herzegovina na sua trajetória europeia mediante um reforço do diálogo político e a criação de um fórum político de alto nível para acompanhar a execução das medidas acima referidas bem como a apresentação de um relatório sobre os progressos realizados no terreno. O cumprimento das 14 prioridades fundamentais permitirá à Comissão recomendar a abertura de negociações de adesão à UE com a Bósnia-Herzegovina.
17.O Kosovo gozou de estabilidade política, tendo as autoridades continuado a demonstrar visivelmente o seu empenho na via europeia do país. Este clima político contribuiu para que o Kosovo intensificasse a execução das reformas relacionadas com a UE e o acordo de estabilização e de associação. As eleições autárquicas realizadas em outubro e novembro de 2021 foram, de um modo geral, bem organizadas, transparentes e competitivas. O Kosovo deve intensificar os seus esforços para reforçar a democracia, a administração pública, o Estado de direito e a luta contra a corrupção. Deve igualmente avançar com a aplicação da sua nova estratégia energética, a fim de reforçar a resiliência energética.
No que diz respeito à normalização das relações com a Sérvia, o Kosovo tem-se mantido geralmente empenhado no diálogo. No entanto, o governo do Kosovo deve honrar os seus compromissos anteriores e comprometer-se a aplicar plenamente todos os acordos celebrados anteriormente no âmbito do Diálogo. Para avançar, o Kosovo deve também envidar esforços para evitar ações que comprometam a estabilidade e a retórica que prejudica o diálogo. O Kosovo deve contribuir para um ambiente propício à celebração de um acordo de normalização juridicamente vinculativo com a Sérvia, incluindo no quadro das suas relações internacionais. Espera-se que o Kosovo se empenhe de forma mais construtiva nas negociações sobre o acordo de normalização juridicamente vinculativo no próximo período e mostre disponibilidade para chegar a um compromisso a fim de realizar progressos rápidos e concretos.
A proposta da Comissão relativa à liberalização do regime de vistos está ainda pendente no Conselho e deve ser tratada com urgência. A Comissão mantém a avaliação que fez em julho de 2018, segundo a qual o Kosovo cumpre todos os critérios de referência relativos à liberalização do regime de vistos e acolhe com satisfação a retoma das negociações no Conselho.
18.O Conselho Europeu reiterou repetidamente o seu interesse estratégico em que exista um ambiente estável e seguro no Mediterrâneo Oriental e em que seja desenvolvida uma relação de cooperação mutuamente benéfica com a Turquia. Em junho de 2022 o Conselho Europeu manifestou a sua profunda preocupação com as recentes ações e declarações repetidas da Turquia. A Turquia deve respeitar a soberania e a integridade territorial de todos os Estados‑Membros da UE. Recordando as suas anteriores conclusões e a declaração de 25 de março de 2021, o Conselho Europeu salientou as suas expectativas de a Turquia respeitar plenamente o direito internacional, desanuviar as tensões no interesse da estabilidade regional no Mediterrâneo Oriental e promover relações de boa vizinhança de forma sustentável. Continuou a ser intensificado o diálogo nos principais domínios de interesse comum.
No que diz respeito à guerra de agressão russa contra a Ucrânia, a Turquia procurou facilitar conversações diretas, tendo envidado esforços para incentivar o desanuviamento e alcançar um cessar-fogo. Além disso, tomou uma importante iniciativa diplomática juntamente com as Nações Unidas para facilitar a exportação de cereais ucranianos. O acordo alcançado em julho de 2022, em Istambul, abriu o caminho para as exportações comerciais de produtos alimentares a partir dos principais portos ucranianos e deverá ajudar a prevenir a escassez alimentar de milhões de pessoas em todo o mundo.
O não alinhamento da Turquia com as medidas restritivas impostas pela UE contra a Rússia é motivo de preocupação devido à livre circulação de produtos, incluindo produtos de dupla utilização, no âmbito da União Aduaneira UE-Turquia. Esta questão é motivo de crescentes preocupações que exigem um acompanhamento rigoroso por parte da UE. Além disso, a Turquia assinou um memorando de entendimento para continuar a desenvolver as suas relações económicas e comerciais com a Rússia. A UE está empenhada em salvaguardar a eficácia das medidas restritivas adotadas em resposta à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.
A Turquia deverá apoiar ativamente as negociações com vista a uma resolução justa, global e viável da questão cipriota sob os auspícios das Nações Unidas, em conformidade com as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança da ONU e com os princípios em que a UE se funda. No que diz respeito a Varosha, a Turquia deve reverter imediatamente as ações unilaterais anunciadas e todas as medidas tomadas desde outubro de 2020 que violam as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mais ainda, é urgente que a Turquia cumpra a sua obrigação de assegurar a aplicação integral e não discriminatória do Protocolo Adicional do Acordo de Associação UE-Turquia e que suprima todos os obstáculos à livre circulação de mercadorias, nomeadamente as restrições a que estão sujeitas as ligações de transporte diretas com a República de Chipre.
Existem graves deficiências no funcionamento das instituições democráticas da Turquia. As profundas preocupações manifestadas pela UE quanto à deterioração contínua da democracia, do Estado de direito, dos direitos fundamentais e do sistema judicial não foram devidamente tidas em conta pela Turquia. O país deve, prioritariamente, inverter esta tendência negativa a fim de fazer face ao enfraquecimento do sistema de equilíbrio de poderes no seio do seu sistema político. O diálogo sobre o Estado de direito e os direitos fundamentais continua a ser parte integrante das relações UE-Turquia.
A Declaração UE-Turquia de março de 2016 continuou a produzir resultados e a Turquia continuou a desempenhar um papel fundamental na gestão dos fluxos migratórios ao longo da rota do Mediterrâneo Oriental. No entanto, os regressos das ilhas gregas ainda não foram retomados e a migração irregular para Chipre e Itália aumentou substancialmente. A Turquia prosseguiu os seus enormes esforços para acolher uma grande população de refugiados e a UE continuou a demonstrar a sua solidariedade, nomeadamente através de uma contribuição financeira adicional para os refugiados e as comunidades de acolhimento no país (cerca de 10 mil milhões de EUR desde 2016).
No que diz respeito à economia, aumentaram as preocupações quanto à acumulação de desequilíbrios macroeconómicos, ao bom funcionamento da economia de mercado e à falta de independência das autoridades reguladoras. Tanto a UE como a Turquia continuam a beneficiar da União Aduaneira. Apesar dos poucos desenvolvimentos positivos, a Turquia deve continuar a aprofundar o seu diálogo com a Comissão para resolver os diferendos comerciais que impedem o bom funcionamento da União Aduaneira.
VI. ANEXOS
1.Resumos das conclusões dos relatórios
2.Execução do Plano Económico e de Investimento para os Balcãs Ocidentais
3.Dados estatísticos
4.Indicadores de terceiros relacionados com o estatuto da democracia, da boa governação e do Estado de direito nos países candidatos e potenciais candidatos