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Document 52004IE0317

Parecer do Comité Comité Económico e Social Europeu sobre a «Proposta dos desafios colocados pela energia nuclear na produção de electricidade»

JO C 110 de 30.4.2004, p. 77–95 (ES, DA, DE, EL, EN, FR, IT, NL, PT, FI, SV)

30.4.2004   

PT

Jornal Oficial da União Europeia

C 110/77


Parecer do Comité Comité Económico e Social Europeu sobre a «Proposta dos desafios colocados pela energia nuclear na produção de electricidade»

(2004/C 110/14)

Em 23 de Janeiro de 2003, o Comité Económico e Social Europeu decidiu, em conformidade com o disposto no n.o 2 do artigo 29.o do Regimento, elaborar um parecer sobre «Os desafios colocados pela energia nuclear na produção de electricidade».

A Secção Especializada de Transportes, Energia, Infra-estruturas e Sociedade da Informação, incumbida da preparação dos correspondentes trabalhos, emitiu parecer em 8 de Janeiro de 2004, sendo relator C. CAMBUS.

Na 406.a reunião plenária de 25 e 26 de Fevereiro de 2004 (sessão de 25 de Fevereiro), o Comité Económico e Social Europeu adoptou, por 68 votos a favor, 33 votos contra e 11 abstenções, o seguinte parecer:

INTRODUÇÃO

O presente parecer de iniciativa, que visa contribuir para a clarificação do debate sobre a produção nuclear de electricidade, foi apresentado no momento em que a Comissão relançou esse debate ao publicar o Livre Verde sobre a segurança do aprovisionamento energético da União e o «pacote nuclear» sobre os princípios gerais no domínio da segurança e sobre a gestão do combustível nuclear irradiado e dos resíduos radioactivos.

O CESE exprimiu-se favoravelmente sobre cada uma dessas iniciativas. No parecer sobre o Livre Verde (CES 705/2001, de 1 de Maio de 2001), afirmava especificamente: «A energia nuclear tem os seus problemas, mas também oferece evidentes vantagens. Os Estados-Membros têm poder de decisão em matéria de energia nuclear. Todavia, é difícil imaginar como poderá a UE satisfazer a procura de energia no futuro, a um preço acessível e tendo em conta os desafios das alterações climáticas, sem preservar, pelo menos, a actual quota-parte da energia nuclear na produção de electricidade.» (5.7.8).

No parecer sobre o «pacote nuclear» (CES 411/2003, de 26 de Março de 2003), o CESE aprovou em larga medida a iniciativa da Comissão, não deixando, no entanto, de contribuir com sugestões, fruto da sua experiência.

O presente parecer trata os outros aspectos e desafios da energia nuclear — nomeadamente ambientais, fisiológicos e económicos — que, no entender do Comité, são indispensáveis a uma completa compreensão da problemática energética da União para que o debate seja o mais amplo e informado possível.

Por uma questão de coerência, os dados quantitativos e qualitativos que constam do presente parecer reportam-se à UE a 15, pois as perspectivas baseiam-se numa análise da evolução passada. A inclusão dos países em vias de adesão e dos países candidatos altera em certa medida os números, mas não afecta a problemática, quer se trate dos aspectos positivos ou dos aspectos negativos da utilização da energia nuclear.

Importa mencionar que a questão da segurança das instalações de produção de energia nuclear dos novos países da UE e dos que a ela aderirão tem sido objecto, desde 1992, de análise e de programas de melhoramento comportando, sempre que necessário, decisões de paragem de instalações, adaptação de instalações e de organizações e formação em matéria de segurança. De forma a manter, ou melhorar, este nível de segurança, é necessário proceder a uma vigilância constante dos operadores e das autoridades de segurança dos Estados-Membros em causa.

Note-se, enfim, que os limites deste parecer constam do próprio título; trata-se de um elemento de um debate mais amplo sobre a política energética, já objecto de outros pareceres, que deve prosseguir, mormente quanto ao desenvolvimento das energias renováveis e ao controlo da procura.

1.   PRIMEIRA PARTE: PAPEL DA ENERGIA NUCLEAR NA PRODUÇÃO DE ELECTRICIDADE HOJE EM DIA

1.1   Produção mundial de electricidade a partir da energia nuclear actualmente

1.1.1

Em 2002, existiam no mundo 441 reactores nucleares em funcionamento, que representavam uma capacidade instalada de 359 Gwe e 32 novos reactores em construção. Os reactores em funcionamento asseguraram uma produção de 2 574 TWh, ou seja, cerca de 17 % da produção mundial total de electricidade. Na UE, a quota-parte de energia nuclear na produção de electricidade é de 35 %.

1.1.2

Em relação às necessidades totais de energia primária, que eram de 9 963 Mtep em 2002, a energia nuclear contribuía com 6,7 %, as energias renováveis com 13,8 % (biomassa e resíduos urbanos 11 %, energia hidráulica 2,3 %, energia geotérmica, solar e eólica 0,5 %) e os combustíveis fósseis com 79,5 % (petróleo 34,9 %, carvão 23,5 % e gás 21,1 %).

1.1.3

São 32 os países que produzem electricidade de origem nuclear. Em 2002, a quota de energia nuclear na produção total de electricidade variava entre 80 % na Lituânia, 77 % em França e 1,4 % na China. Prosseguiu a construção de 32 novos reactores de potência, demonstrando-se, assim, que a energia nuclear constitui, a nível mundial, um sector industrial em desenvolvimento, o que não pode ser desprezado pela UE, tanto na sua reflexão sobre a energia como sobre a indústria. Na UE, a empresa finlandesa TVO obteve, em Janeiro de 2002, uma decisão «de princípio» do governo com vista à construção de uma quinta central nuclear, que foi confirmada por votação do Parlamento, em Maio de 2002.

1.1.4

Contrariamente, a Suécia tinha-se exprimido em referendo realizado em 1980 a favor da paragem dos seus 12 reactores nucleares até 2010. Mas o Parlamento e o governo sueco viram-se obrigados a reconhecer, em 1997, que o objectivo de substituir estes reactores por outras fontes de energia não era exequível. Em 2003, apenas um reactor (de 600 MW), Barsebäck 1, pôde ser parado. O futuro de Barsebäck 2 está actualmente a ser debatido, pois não poderá ser parado em 2003. Fala-se em negociar com as empresas proprietárias das centrais nucleares — tal como aconteceu na Alemanha — o abandono gradual da energia nuclear. Uma sondagem de opinião recente revela uma evolução significativa na opinião da população, que parece ser actualmente favorável à continuação da utilização da energia nuclear.

1.1.5

Na Bélgica, em Março de 2002, o governo tomou a decisão de abandonar a energia nuclear a partir de 2015, decisão essa que foi validada pelo Parlamento no início de 2003. A legislação limita a 40 anos o período de exploração das centrais, o que deverá conduzir ao seu encerramento entre 2015 e 2025, e estipula que nenhuma central nuclear nova pode ser criada e/ou começar a funcionar. Deixa, no entanto, aberta a porta para que a energia nuclear possa continuar a ser utilizada se existir ameaça para a segurança do abastecimento de electricidade.

1.1.6

Na Alemanha, o governo de coligação entre Social-Democratas (SPD) e Verdes decidiu adoptar uma política de abandono progressivo da energia nuclear, tendo chegado a um consenso a este respeito mediante um acordo voluntário com a indústria nuclear: após difíceis negociações, foi concluído um acordo com os proprietários das 19 centrais nucleares alemãs, que prevê limitar o tempo de vida dessas centrais a 32 anos, em média, a contar da sua entrada em funcionamento. A primeira central nuclear foi já desactivada. O encerramento da maior parte dos reactores só se efectuará após 2012 e até 2022.

1.1.7

Fora da UE, mas geograficamente no seu seio, na Suíça, os cidadãos rejeitaram duas iniciativas anti-nucleares em Maio de 2003, a «Moratória Mais» e a «Electricidade Sem Energia Nuclear». A primeira, que consistia em prolongar por mais dez anos a actual moratória de dez anos para a construção de novas centrais, foi rejeitada por 58,4 % dos votos; quanto à segunda, que instava ao abandono progressivo da energia nuclear — sem recorrer aos combustíveis fósseis — e à suspensão do reprocessamento dos combustíveis usados, foi rejeitada por 66,3 % dos votos

1.1.8

Diferentes tecnologias utilizadas

O quadro seguinte apresenta as tecnologias aplicadas (sectores).

Designação habitual do tipo de reactores

Nível de energia dos neutrões

Moderador

Combustível

Refrigerante

Número total de unidades instaladas/ Número de países

Água natural (dita ligeira) pressurizada (PWR)

baixo

água natural

urânio enriquecido com ou sem plutónio

água natural pressurizada*

258/25

Água natural (dita ligeira) ebuliente (BWR)

-id-

água natural

-id-

água natural ebuliente *

91/10

Água pesada pressurizada (PWR ou Candu)

-id-

água pesada

urânio natural

água pesada

41/6

Gás-grafite (UGG ou Magnox ou AGR)

-id-

grafite

urânio natural ou ligeiramente enriquecido

CO2 ou He

32/1

Água natural – grafite (RBMK)

-id-

-id-

urânio enriquecido

água natural ebuliente*

13/3

Rápido (FBR)

elevado

sem

urânio e plutónio

sódio fundido

4/4

1.1.9

Principais países produtores de electricidade nuclear: Estados Unidos, 780 TWh (20,3 % da sua produção total), França, 416 TWh (78 %), Japão, 313 TWh (34,5 %), Alemanha, 162 TWh (30 %), Rússia, 129 TWh (16 %), Coreia do Sul, 113 TWh (38,6 %), Reino Unido, 81,1 TWh (22 %) (NdR: valores de 2002).

1.1.10

Outros países em que a quota de produção de electricidade de origem nuclear é significativa: Arménia, 40,5 %, Bélgica, 57 %, Finlândia, 30 %, Hungria, 36 %, Lituânia 80 %, Eslováquia 73 %, Suécia 46 %, Suíça, 40 % e Ucrânia, 46 % (NdR: valores de 2000).

1.1.11

A situação da UE a 15 caracteriza-se por uma produção de electricidade de 855,6 TWh em 2002, ou seja, 35 % da electricidade produzida. Esta taxa não sofrerá grande alteração com o alargamento, quando os 10 novos Estados aderirem à UE em 2004. A energia nuclear é, por conseguinte, a fonte mais importante de produção de electricidade e, devido à sua quota-parte na energia primária consumida na UE (15 %), um factor primordial para a segurança do aprovisionamento energético da União.

1.2   Redução da produção de CO2 na UE graças à utilização da energia nuclear

1.2.1

Em 1990, as emissões totais de gases com efeito de estufa (GEE) atingiam 4 280 milhões de toneladas (Mt ou Tg) de equivalente CO2.

1.2.2

O relatório de 2002 da Agência Europeia do Ambiente refere, em relação a 2000, um total das emissões de GEE de 4 059 Mt, o que representa um aumento de 0,3 % em relação aos níveis de 1999 e uma diminuição de 3,5 % em relação aos de 1990.

1.2.3

Relativamente ao objectivo de redução de 8 % das emissões totais de GEE no final do período 2008-2012, o valor registado em 2000 (4 059 Mt) está acima do objectivo para esse ano calculado através da redução linear entre 1990 e 2010 (4 208 menos 4 % dá 4 039 Mt).

1.2.4

As várias utilizações de energia (utilizações industriais, refinarias, produção de electricidade, aquecimento dos espaços e carburantes para os transportes) são responsáveis pela parte essencial destas emissões com 3 210 Mt em 2000, das quais 1 098 para a produção de energia e apenas 836 Mt para a produção de electricidade para utilização das redes.

1.2.5

No que toca exclusivamente ao CO2, que representa 82 % dos GEE, as emissões situaram-se nas 3 325 Mt em 2000, ou seja, apenas 0,5 % abaixo do nível de 1990 (3 342 Mt).

1.2.6

Todos estes números mostram que vai ser difícil cumprir os compromissos de Quioto. Correspondendo eles a um período de fraco crescimento, o resultado seria ainda menos bom se a UE tivesse atingido os objectivos de crescimento fixados (3 %).

1.2.7

Em relação a estes números, a energia nuclear permitiu evitar, por ano, na Europa, de acordo com os dados referidos, entre 300 e 500 Mt (1) de emissões de CO2. Estes números são da mesma ordem de grandeza das emissões de CO2 produzidas por todos os veículos de transporte de passageiros na UE em 1995, isto é, 430 Mt (2).

1.2.8

Um estudo «bottom-up» (da base para o topo) de 2001 (3) efectuado para a Comissão por um grupo de peritos do sector da energia indicava, para 1990, um valor de 1 327 Mt para as emissões de CO2 no sector da energia (excluindo os transportes) com uma projecção — a tecnologia constante — de 1 943 Mt para 2010. Perante tal crescimento, o recurso a novos meios de produção de vapor e de electricidade com base em quatro hipóteses reduziria as emissões de CO2 em:

500 milhões de toneladas mediante recurso ao gás natural em ciclo combinado para todas as novas instalações; importa salientar que apostar totalmente no gás para a produção de electricidade em complemento das energias renováveis acelerará o esgotamento das reservas de gás e não constituirá uma atitude «sustentável»;

229 milhões de toneladas suplementares mediante recurso às energias renováveis;

23 milhões de toneladas através da optimização dos ciclos das refinarias de petróleo;

50 milhões de toneladas pela captação de CO2 sob condição de se aprofundarem os estudos e mediante um aumento sensível dos custos;

280 milhões de toneladas, mantendo, segundo um outro estudo (Shared Analysis Project) (4), a actual proporção de energia nuclear produzida, o que implicaria, contudo, a instalação de uma capacidade nuclear de 100 Gwe (correspondente a cerca de 70 reactores);

O recurso a estas diversas possibilidades, associado a uma política enérgica de gestão da procura, permitirá melhorar a eficiência energética em 1,4 % por ano, como referido no ponto 2.4.2.2 do presente parecer.

1.2.9

Deste modo, no caso de se concretizarem todos os potenciais ganhos, os objectivos de Quioto parecem poder ser atingidos. No entanto,

por um lado, não é possível tomar posição, actualmente, sobre a total exequibilidade das políticas correspondentes nem sobre a aceitabilidade dos seus custos;

por outro, os objectivos de Quioto são globais, não bastando reduzir em 8 % as emissões do sector energético se não se conseguirem reduzir, por exemplo, as do sector dos transportes;

por último, renunciar à energia nuclear para a produção de electricidade provocaria um «desfasamento positivo» anual de 300 milhões de toneladas de emissões de CO2 do sector energético.

1.3   Gestão dos resíduos radioactivos e dos combustíveis nucleares usados

1.3.1

As centrais electronucleares são hoje os maiores produtores de resíduos radioactivos, à frente dos estabelecimentos médicos, das instalações industriais e dos laboratórios de investigação, que utilizam fontes radioactivas para efectuarem exames e medições.

1.3.2

Para a classificação dos resíduos, entram em linha de conta dois parâmetros: a intensidade da radiação, muitas vezes designada de actividade, e o seu tempo de vida útil (período). Fala-se, portanto, de fraca, média ou alta actividade e de resíduos de vida curta ou de vida longa. Note-se que o tempo de vida útil mais longo não significa que os produtos sejam os mais radioactivos; pelo contrário, o tempo de vida longo significa que a desintegração e, por conseguinte, a radioactividade são mais fracas.

1.3.3

No atinente à gestão destes resíduos, já existem soluções técnicas. Para os resíduos de fraca actividade e de vida curta, o armazenamento à superfície é uma solução aceitável, que já foi oficialmente adoptada e posta em prática por alguns Estados-Membros. Para os resíduos altamente radioactivos ou de vida longa, o armazenamento em camada geológica profunda é reconhecido internacionalmente pelos peritos como sendo a solução técnica de referência, mas, até que os Estados-Membros em causa decidam democraticamente qual a opção de gestão, a armazenagem à superfície constitui a solução provisória. Relativamente a estes produtos, importa precisar que o acondicionamento e a armazenagem à superfície respondem às exigências legítimas de segurança e que esta solução provisória é gerida enquanto se aguarda a aplicação de soluções definitivas. O «pacote nuclear» proposto pela Comissão ao abrigo do Tratado Euratom visa acelerar o processo de decisão sobre o armazenamento geológico.

1.3.4

Dado que se verifica uma relação directa entre a produção de combustíveis usados e a quantidade de electricidade gerada, os Estados-Membros mais afectados são os que produzem maiores quantidades de energia nuclear. Quanto aos resíduos altamente radioactivos ou de vida longa, a situação diverge de um Estado-Membro para outro:

a Finlândia, que é o país mais avançado, optou pela solução do armazenamento geológico e escolheu um local de armazenamento;

a Suécia optou também pelo armazenamento geológico e está em curso o processo para determinação de um local;

a França está a proceder à avaliação de três eixos de investigação, o armazenamento geológico, a redução do tempo de vida útil por separação e transmutação e a armazenagem de longa duração à superfície ou próximo da superfície;

os outros países ainda não deram início ao processo de escolha de uma solução definitiva para os resíduos altamente radioactivos ou de vida longa.

Quanto aos outros resíduos, de fraca actividade e de vida curta, a técnica do armazenamento à superfície em vigor na maior parte dos Estados-Membros poderá ser considerada a solução aceitável.

1.3.5

Situação nos países candidatos (5).

«Nos países candidatos que exploram centrais electronucleares e reactores de investigação de concepção russa, a gestão do combustível irradiado tornou-se uma questão crucial na última década, porque deixou de ser possível reenviar para a Rússia o combustível irradiado para reprocessamento ou armazenagem. Estes países tiveram de construir urgentemente instalações de armazenagem temporária para o seu combustível irradiado. A aplicação de programas de gestão a longo prazo e de eliminação definitiva destes resíduos pouco ou nada avançou.

No que respeita aos resíduos menos perigosos provenientes da exploração de centrais electronucleares, só a República Checa e a Eslováquia dispõem de locais de eliminação definitiva operacionais. Vários países possuem depósitos de concepção russa destinados aos resíduos radioactivos de origem institucional (não provenientes do ciclo do combustível nuclear). Mas estas instalações não cumprem as normas de segurança actualmente em vigor. Em alguns casos, os resíduos poderão ter de ser retirados e eliminados noutros locais.».

1.3.6

Na UE, foram já eliminados 2 000 000 m3 de resíduos radioactivos de fraca actividade ou de vida curta. Estes resíduos, que totalizam volumes bem mais importantes que as categorias mais perigosas, não colocam grandes dificuldades técnicas no que respeita à sua eliminação mas necessitam de um acompanhamento rigoroso durante o período de armazenagem temporária (COM(2003) 32 final).

2.   SEGUNDA PARTE: PERSPECTIVAS ENERGÉTICAS A LONGO PRAZO (2030)

2.1

É difícil propor perspectivas a longo prazo quanto à evolução do consumo de energia, pois são muitos os factores de incerteza. Sabe-se que o aumento do consumo de energia foi condição para todos os nossos progressos recentes, quer se trate da tecnologia, das condições de vida e de conforto, da higiene e da saúde, da economia, da cultura, etc.. Também é verdade que, inversamente, a intensidade energética das nossas actividades (quantidade de energia consumida por unidade de produção) diminui com as mudanças estruturais da economia (terciarização) e com o desenvolvimento dos processos que utilizam a energia. As necessidades de energia dos milhões de habitantes dos países em vias de desenvolvimento não podem ser subestimadas. Por último, tomamos consciência dos efeitos do consumo de energia sobre o ambiente e sobre o clima.

2.2

No que se refere a estes desafios, consultámos dois dos estudos disponíveis, realizados em nome da Comissão: «European Energy Outlook» de P. CAPROS e L. MANTZOS da Universidade de Atenas (6) e o «World Energy, Technology and Climate Policy Outlook» (WETO) da D-G Investigação (7). Optámos por estes estudos, porque tanto um como outro procuram clarificar as perspectivas para 2030, centrando-se, porém, o primeiro nas perspectivas europeias e considerando como dado adquirido o abandono da energia nuclear e o segundo incidindo nas perspectivas mundiais e pressupondo a continuação da utilização das tecnologias actualmente disponíveis.

2.3

Têm em comum recorrerem a modelos de extrapolação das tendências verificadas no passado, incluindo a evolução das estruturas e os progressos técnicos, mas não podem integrar as novas políticas em ruptura com o passado, o que não passa de um inconveniente menor, porquanto ninguém consegue prever com precisão as rupturas de tendências. Utilizamos estes estudos como elementos de apreciação da natureza dos desafios e não como estudos de previsão.

2.4

Os elementos marcantes destes dois trabalhos são os seguintes:

2.4.1   Estudo CAPROS-MANTZOS

Em 2030, o PIB da UE deverá exceder o dobro do de 1995, mas graças aos progressos tecnológicos realizados, tanto nos sectores de produção de energia como nos processos de consumo, e ainda à evolução das estruturas económicas, o consumo de energia deverá passar de 1 650 para 1 968 Mtep (UE-25), o que corresponde a um aumento de 20 %, ou seja, uma diminuição média anual da intensidade energética de 1,7 %.

Nesta perspectiva, o petróleo mantém uma parte preponderante, seguido pelo gás e pelo carvão. As emissões totais de CO2 (4 208 Mt em 1990), que tinham diminuído do índice 100 em 1990 para 98,7 em 1995, deverão aumentar para 109,5 em 2020 e para 117,2 em 2030. Este cenário de base não permite manter os compromissos de Quioto. Analisando-se o aumento das emissões de CO2 (avaliada no estudo em 568 Mt entre 1995 e 2030), verifica-se uma diminuição gradual das emissões provenientes dos sectores industrial, terciário e doméstico, mas, em contrapartida, um aumento de 163 Mt e 533 Mt nos sectores dos transportes e da produção de energia, respectivamente. O abandono da energia nuclear deverá ser o principal responsável por este último valor.

2.4.2   Estudo WETO

2.4.2.1   Perspectivas mundiais para 2030

A população mundial deverá aumentar de 6,1 mil milhões em 2000 para 8,2 mil milhões em 2030, e o crescimento médio anual do produto mundial bruto será de 3 % (foi de 3,3 % durante 30 anos, de 1970 a 2000).

O consumo de energia deverá aumentar 70 % entre 2000 e 2030 (passando de 9 963 Mtep para cerca de 17 Gtep), ou seja, apenas 1,8 % de crescimento anual para um aumento do PNB de 3 %.

Quanto aos combustíveis fósseis, a quota-parte do petróleo deverá atingir 5,9 GTep, ou seja, 34 % do consumo mundial, a do gás natural 4,3 Gtep, ou seja, 25 %, e o carvão, mais competitivo em termos de preço, deverá atingir 4,8 Gtep, ou seja, 28 %.

A energia nuclear deverá aumentar anualmente 0,9 % durante esse período, mas não deverá ir além dos 5 % do consumo total em 2030 em comparação com os 6,7 % de 2000.

A quota-parte da energia hidráulica produzida pelas grandes centrais e da energia geotérmica deverá estabilizar em 2 % do total (2,3 % em 2000). A energia solar, a energia hidráulica produzida por pequenas centrais e a energia eólica deverão aumentar, por ano, 7 % entre 2000 e 2010 e 5 % após essa data; apesar disso, em 2030, deverão representar apenas 1 % do total do consumo de energia (0,5 % em 2000).

A parte correspondente à lenha e à incineração de resíduos deverá diminuir, não indo além dos 5 % em 2030 comparativamente aos actuais 11 %.

No total, as energias renováveis deverão representar 8 % em 2030 do consumo mundial total.

Pode-se concluir deste balanço que o consumo global aumentará 1,8 % ao ano para um aumento da população de 1 % e um crescimento da riqueza per capita de 2,1 %, o que significa que a redução da intensidade energética é de - 1,2 % por ano.

2.4.2.2   Perspectivas da UE para 2030

A população na UE deve manter-se estável. Prevê-se que a riqueza per capita aumente 1,9 % e que os progressos da gestão da procura de electricidade (GPE) permitam uma redução da intensidade energética de 1,4 %, o que significa um aumento da procura de energia de 0,4 % por ano.

A procura total deverá passar de 1,5 Gtep em 2000 para 1,7 Gtep em 2030. Esta hipótese tem em conta a adesão dos novos Estados-Membros com taxas de crescimento mais elevadas, mas ganhos em termos de intensidade energética também superiores (8).

Na UE, a quota-parte do gás natural (GN) deverá atingir 27 %, atrás do petróleo, com 39 %, mas à frente do carvão e da lignite com 16 %.

2.4.2.3   Perspectivas para a produção de electricidade

A produção mundial de electricidade deverá aumentar regularmente 3 % por ano. Mais de metade da produção será fornecida por tecnologias que surgiram a partir dos anos noventa, como as turbinas de gás de ciclo combinado, as tecnologias avançadas do carvão e as energias renováveis.

A quota-parte do gás na produção de electricidade deverá aumentar nas três principais regiões onde ele existe.

O desenvolvimento da energia nuclear não é suficiente para manter a sua quota-parte na produção mundial de electricidade, que deverá descer para apenas 10 %.

As energias renováveis deverão cobrir 4 % das necessidades (contra 2 % de 2000), principalmente devido à produção de electricidade eólica. Em relação à UE-25, a produção total de electricidade deverá aumentar de 2 900 TWh, em 2000, para 4 500 TWh, em 2030, passando a quota-parte das energias renováveis de 14,6 % para 17,7 %, a da co-geração de 12,5 % para 16,1 %, ao passo que a energia nuclear deverá descer de 31,8 % para 17,1 %.

2.4.2.4   Emissões de CO2

De 1990 a 2030, de acordo com o cenário de referência, as emissões mundiais de CO2 anuais deverão aumentar para mais do dobro, passando de 21 para 45 gigatoneladas (Gt).

Por exemplo, em 2030, a China deverá tornar-se na maior economia (o seu PNB deverá aumentar dez vezes em relação a 1990) e a maior fonte de emissões de CO2, que deverão aumentar 290 % em relação a 1990.

Quanto à UE, a quota-parte do carvão deverá diminuir 7 %, a do petróleo 4 %, enquanto a do gás deverá aumentar 10 %, tendo como consequência uma redução modesta da intensidade de carbono do consumo de energia, que, aliada a um crescimento global do consumo, conduzirá a um aumento de 18 % das emissões de CO2 entre 1990 e 2030.

2.4.2.5   Variantes ao cenário de base

Os elementos referidos dizem respeito ao cenário de referência do estudo WETO, que inclui ainda quatro variantes a esse mesmo cenário:

a variante «gás», que presume abundância de recursos e introdução de importantes progressos em matéria de turbinas a gás de ciclo combinado e de células de combustível, levaria a um aumento de 21,6 % no consumo de gás em relação ao cenário de referência e a uma diminuição de 1,6 % das emissões de CO2;

a variante «carvão», que pressupõe desenvolvimentos importantes nas tecnologias avançadas dos geradores de ciclos supercríticos, gaseificação integrada a ciclos combinados e caldeiras de combustão directa, levaria a um aumento de 15 % no consumo de carvão em relação ao cenário de referência, sem qualquer alteração nas emissões de CO2;

a variante «nuclear», assente em importantes inovações em termos de custos e de segurança com repercussões nos reactores de água ligeira e, mais particularmente, em novas gerações de reactores, levaria a uma produção electronuclear suplementar de 77,5 % e a uma redução de 2,8 % das emissões de CO2;

a variante «energias renováveis», baseada em importantes progressos, em particular, no que toca a energia eólica, as centrais térmicas solares, as pequenas produções hidroeléctricas e as células fotovoltaicas, levaria a um aumento de 132 % da quota-parte dessas energias e a uma redução de 3 % nas emissões de CO2.

2.5

Do exposto se conclui que, não havendo modificações suplementares no estado das tecnologias e das regulamentações à data de 2000 (o ano de referência dos dois estudos), será muito difícil conseguir estabilizar as emissões de GEE, tanto a nível mundial como ao nível da UE alargada.

Estes dois estudos mostram que, entre os meios tecnológicos actualmente conhecidos, a contribuição da energia nuclear para o controlo do clima é tão importante quanto a das energias renováveis.

3.   TERCEIRA PARTE: PERSPECTIVAS DA INVESTIGAÇÃO

3.1   Resultados da investigação e desenvolvimento nuclear

3.1.1

A energia nuclear é, sem dúvida, a fonte de energia que requer maior intensidade de I & D. Com a adopção em 1957 do Tratado EURATOM, a União Europeia encorajou a investigação e a difusão dos conhecimentos no domínio da energia nuclear muito antes da inclusão no Tratado CE de uma política geral relativa à investigação. A investigação incidiu sobre os sectores tecnológicos e sobre as questões de segurança, de protecção dos trabalhadores, das populações e do ambiente.

3.1.2

Para os países que utilizam a energia nuclear para produzir parte da electricidade de que necessitam, a aplicação da investigação nuclear para fins civis tem como consequência concreta a redução da factura energética para os cidadãos e para as empresas, uma maior segurança de abastecimento energético e uma evidente contribuição para reduzir a emissão dos GEE.

3.2   Principais desafios da investigação no domínio da energia nuclear

3.2.1

O Livro Verde da Comissão Europeia «Para uma Estratégia Europeia de Segurança do Aprovisionamento Energético» (2001) aborda o principal desafio para a União Europeia: como poderá ela, pobre em recursos energéticos e dependente em 50 % de importações — essencialmente de energias fósseis – provenientes de países, muitas vezes, instáveis, preservar a competitividade, respeitar os compromissos de Quioto e assegurar o bem-estar da sua população? Esta equação torna-se bastante mais complicada perante a perspectiva de um aumento desta dependência para 2020-2030 e devido à necessidade de medidas urgentes de luta contra as alterações climáticas.

3.2.2

O Livro Verde sugere nomeadamente que «a União Europeia deve conservar o controlo da tecnologia nuclear civil para dispor da competência necessária para desenvolver reactores de cisão mais eficazes (...)» numa lógica de desenvolvimento sustentável que concilie, ao mesmo tempo, o desenvolvimento económico, o equilíbrio social e o respeito pelo ambiente. Na sua resposta ao Livro Verde, o Parlamento Europeu confirma a existência destes desafios. É fundamental ter consciência de que, para conservar esta competência, é necessário manter o parque de reactores em funcionamento actualmente.

3.3   Temas fulcrais da investigação no sector nuclear

3.3.1

Tal como em outros sectores tecnológicos, a investigação levada a cabo no sector da energia nuclear tem como objectivo a melhoria da eficácia nos diferentes domínios em questão. Os esforços de investigação no âmbito do 6.o programa-quadro de I&D ao abrigo do Tratado Euratom incidem na questão dos resíduos e dos efeitos da radioactividade em fracas doses.

3.3.2

A investigação no domínio da gestão dos resíduos radioactivos visa garantir um controlo dos resíduos radioactivos tão perfeito quanto possível. Existem hoje soluções industriais seguras para o armazenamento definitivo dos resíduos de fraca radioactividade e para o acondicionamento (vitrificação) e armazenagem de resíduos de elevada radioactividade ou de vida longa.

3.3.2.1

No atinente aos resíduos de elevada radioactividade ou de vida longa, estão também em curso estudos sobre projectos de depósitos à superfície ou próximo da superfície (a algumas dezenas de metros de profundidade) com condições para conservar os resíduos acondicionados em contentores selados durante vários séculos. Prosseguem outras investigações relativamente ao armazenamento em formação geológica e ao armazenamento directo de combustíveis usados.

3.3.2.2

Está também a ser estudada a possibilidade de melhorar as operações de reprocessamento dos combustíveis usados tendo em vista separar e depois «transmutar» (transformar em elementos radioactivos de vida mais curta) os resíduos de vida longa mais radiotóxicos ainda presentes nos actuais resíduos finais. A «transmutação» poderia ser realizada em reactores nucleares de tecnologia actual ou em reactores que ainda estão em estudo (cf. conceitos inovadores).

3.3.3

A investigação realizada no domínio dos conceitos inovadores inscreve-se na lógica do desenvolvimento sustentável. O desafio mundial que consiste em assegurar o fornecimento de energia às próximas gerações implica que se utilizem todas as tecnologias que beneficiam de recursos energéticos a longo prazo.

3.3.4

A energia nuclear prepara-se, no sentido industrial do termo, para dar resposta a este desafio através do desenvolvimento, numa primeira fase por volta do ano 2010, de tecnologias evolutivas, as chamadas tecnologias de geração 3 +, com base nos reactores de água ligeira existentes, e, numa segunda fase, por volta de 2035/2040, através do desenvolvimento de novos sectores, os chamados sectores de geração 4, com base em tecnologias diferentes (por exemplo, em que o refrigerante utilizado é um gás ou metal líquido).

3.3.5

As investigações realizadas sobre os novos reactores visam vários objectivos, a saber, o reforço da competitividade da energia nuclear (principalmente, através da diminuição da duração do investimento) e da segurança destes reactores, a redução ao mínimo da produção de resíduos e a reciclagem de matérias valorizáveis, bem como a polivalência, que permitiria produzir, através da co-geração, não só electricidade, mas também outros produtos, por exemplo o hidrogénio. Também são de esperar progressos em matéria de dessalinização da água do mar.

3.3.6

O tipo de reactor de alta temperatura (HTR–High Temperature Reactor), reactores modulares refrigerados a hélio a temperatura muito elevada, equipados com um sistema de conversão em ciclo directo por turbina a gás, situa-se entre as gerações 3+ e 4. O conceito é conhecido e a sua aplicação deverá beneficiar dos progressos tecnológicos relativamente aos ciclos clássicos de alta temperatura, mas existem ainda obstáculos tecnológicos à sua industrialização.

3.3.7

A investigação no domínio dos sistemas do futuro desenvolve-se num contexto de dimensão internacional e, principalmente, no âmbito do programa internacional Geração IV, iniciado pelos Estados Unidos e no qual participam 10 países. A partir de uma centena de propostas, foram avaliadas 19 séries de conceitos e seleccionados 6, contendo muitas vezes vários projectos de reactores. Os conceitos seleccionados encontram-se em vários estádios de desenvolvimento e poderão ser industrializados a datas diferentes, a partir de 2035/2040. Alguns deles satisfarão «mercados» de energia mais latos, incluindo a produção de calor e de hidrogénio.

3.3.8

Os reactores de quarta geração, quando disponíveis, valorizarão melhor o potencial energético do urânio, utilizarão outros combustíveis (plutónio, tório) e queimarão os seus próprios resíduos sendo, simultaneamente, muito económicos e muito seguros e satisfazendo, assim, plenamente as exigências de desenvolvimento sustentável. Todos os conceitos seleccionados apresentam perspectivas muito interessantes para cada um dos objectivos visados pela Geração IV, nomeadamente, durabilidade (utilização dos recursos de combustível e minimização de resíduos), segurança e economia. Tal como os reactores existentes, oferecem todas as garantias de não proliferação de matérias nucleares para fins militares. Quanto aos reactores electrogéneos, todos eles possuem um ciclo de combustível fechado.

3.3.9

Os programas de I&D ao abrigo do Tratado EURATOM conferem à radioprotecção uma prioridade temática e abrangem uma vasta gama de investigações: estudo das doses fracas (com abordagens tanto à biologia celular e molecular como à epidemiologia), exposições médicas (principalmente, o desenvolvimento de radioterapias adaptadas em função da sensibilidade às radiações de cada doente) e fontes naturais de radiações, protecção do ambiente e radioecologia, gestão dos riscos e das urgências, protecção dos locais de trabalho, etc.. Todas estas investigações recorrem, actualmente, às mais modernas técnicas, por exemplo, de genómica e no âmbito das biotecnologias. Os resultados destas investigações são e serão utilizados para desenvolver os métodos de protecção do homem e do ambiente, bem como as normas correspondentes.

3.3.10

A segurança das instalações nucleares é, evidentemente, uma das grandes prioridades no domínio da investigação nuclear. Também aí, os programas de I&D ao abrigo do Tratado EURATOM (9) identificaram claramente as prioridades na matéria, sublinhando que se trata, antes de mais, e principalmente ao nível europeu, de melhorar a segurança das instalações nucleares existentes nos Estados-Membros, bem como nos países em vias de adesão e nos países candidatos. Esta investigação está centrada na gestão das instalações — incluindo também os efeitos do envelhecimento — e no desempenho dos combustíveis. Integra também a gestão de acidentes graves, em especial, o desenvolvimento de códigos digitais avançados de simulação. Será também útil partilhar entre os intervenientes as capacidades e conhecimentos europeus resultantes da prática do desmantelamento e organizar o trabalho em comum para a elaboração de bases científicas relativas à segurança e ao intercâmbio das melhores práticas ao nível europeu.

3.3.11

Por último, numa perspectiva a mais longo prazo mas igualmente promissora, é de salientar a investigação no domínio da fusão termonuclear controlada, que é objecto de um parecer de iniciativa, por parte do CESE, actualmente em curso.

QUARTA PARTE: SAÚDE, PROTECÇÃO CONTRA AS RADIAÇÕES,   SEGURANÇA

4.1   Efeitos biológicos das radiações

4.1.1

As radiações ionizantes agem arrancando electrões (ionização) aos principais átomos que constituem a matéria viva. Estas radiações podem ser constituídas por partículas (alfa ou beta) ou serem radiações electromagnéticas (raios X, raios gama).

4.1.2

As emissões de radiações ionizantes medem-se pela sua «actividade», ou seja, o número de emissões por segundo. A unidade é o bequerel (Bq), que corresponde a uma emissão por segundo (o Curie (Ci) é a actividade de um grama de rádio, ou seja, 37 mil milhões de Bq).

4.1.3

Desde a sua origem, os organismos vivos estão imersos em radiações ionizantes, às quais devem, em parte, a sua evolução. Actualmente, estamos permanentemente sujeitos a radiações ionizantes provenientes do nosso corpo (6 000 a 8 000 Bq) e do ambiente que nos rodeia, da terra, que contém urânio (650 000 Bq por metro cúbico de terra), do ar, que contém rádon, do céu, através dos raios cósmicos, e de produtos tão vulgares quanto a água do mar (10 Bq/litro) ou o leite (50 Bq/litro).

4.1.4

Os efeitos das radiações ionizantes são quantificados em «dose absorvida», o gray (energia de 1 joule por quilograma de tecido), e «dose efectiva», o sievert (soma das doses absorvidas por cada órgão com coeficientes que têm em conta a natureza da radiação (mais ou menos perigosa) e a do tecido (mais ou menos sensível)).

4.1.5

Expressa em dose efectiva, a radiação natural e médica (responsável por 30 % das radiações) numa pessoa que vive em Paris ou Bruxelas é de aproximadamente 2,5 mSv/ano (milésimo de sievert por ano). Atinge cerca de 5 mSv/ano em locais graníticos, tais como o Maciço Central em França, e ultrapassa os 20 mSv/ano nalgumas regiões do mundo (Irão, Kerala). Em comparação com estes valores, a irradiação associada à indústria nuclear representa para um cidadão europeu cerca de 0,015 mSv/ano.

4.1.6

O organismo humano possui os seus próprios sistemas de reparar os prejuízos causados pelas radiações ionizantes nos cromossomas. Isto explica o facto de as radiações ionizantes administradas em doses fracas não serem cancerígenas (nunca foi possível demonstrar esse efeito) e de nas regiões do mundo onde a radiação natural atinge 20 mSv/ano o número de casos de cancro registados não ser maior do que noutros locais.

4.1.7

As radiações ionizantes podem ter dois tipos de efeitos:

4.1.7.1

«efeitos deterministas» ou «não aleatórios», para além de 700 mSv; como não aparecem senão em determinados níveis, é bastante fácil protegermo-nos deles, ficando abaixo desses níveis e providenciando uma margem de precaução.

4.1.7.2

«efeitos aleatórios», que são de dois tipos: as induções de cancro, cuja probabilidade aumenta com a dose; foram apenas verificados com valores que ultrapassam os 100-200 mSv nos adultos e os 50-100 mSv nas crianças; o segundo tipo é o surgimento de deformações congénitas hereditárias; este efeito, constatado em ratos, nunca foi provado de forma científica no homem nem, em particular, nas populações atingidas de Hiroshima-Nagasaki, nem nas de Chernobil.

4.2   Política de protecção contra as radiações ionizantes

4.2.1

A política de protecção contra as radiações ionizantes resulta de uma sucessão de etapas nas quais intervêm várias entidades internacionais e nacionais.

4.2.2

Num nível «inicial», estão presentes o UNSCEAR (10) (instância da ONU cujos membros são nomeados pelos respectivos governos) e sobretudo a CIPR (Comissão Internacional de Protecção Radiológica, organização internacional independente, cujos membros são cooptados), que analisam a literatura científica e elaboram recomendações sob a forma de relatórios. Por exemplo, o relatório CIPR 73 aborda as radiações resultantes das práticas médicas.

A seguir intervém (a nível da Europa) a Comunidade Europeia, que adapta os textos da CIPR sob a forma de recomendações ou de directivas. Por exemplo, a CIPR 73 conduziu à Directiva 97/43/Euratom relativa à protecção da saúde das pessoas contra os perigos resultantes de radiações ionizantes em exposições radiológicas médicas.

Por último, os Estados-Membros transpõem as recomendações ou directivas comunitárias para o direito nacional.

4.2.3

As normas de base (11) para protecção da população contra os perigos resultantes das radiações ionizantes são muito rigorosas ao imporem o limite de 1 mSv/ano por pessoa para a exposição suplementar decorrente de actividades nucleares industriais. Este limite regulamentar, sem qualquer relação com os números mencionados no capítulo sobre os efeitos biológicos, foi fixado, essencialmente, em função das possibilidades técnicas da indústria nuclear.

4.2.4

As normas de base para protecção dos trabalhadores da indústria nuclear fixam os limites das doses recebidas em 100 mSv por um período de cinco anos consecutivos, ou seja, uma média anual de 20 mSv, na condição de esse valor não ultrapassar os 50 mSv em cada ano.

4.2.5

As empresas que exploram a energia nuclear realizaram progressos contínuos; podemos citar a mais importante em número de instalações na UE, cujos trabalhadores expostos viram diminuir as doses anuais recebidas de 4,6 mSv em 1992 para 2,03 mSv em 2002.

4.2.6

Estes resultados puderam ser alcançados graças a uma organização das intervenções nas zonas expostas, que as submete sistemática e antecipadamente aos princípios fundamentais de justificação, optimização e limitação. Para permitir à indústria pôr em prática estes três princípios, foi desenvolvida por todos os operadores do sector uma iniciativa «ALARA» (as low as reasonably achievable – ao nível mais baixo possível).

4.3   Princípio da organização da segurança

4.3.1

A segurança nuclear assenta num conjunto de disposições que dizem respeito à concepção, construção, funcionamento, paragem e desmantelamento das instalações nucleares, assim como ao transporte das matérias radioactivas.

4.3.2

Estas disposições, destinadas a prevenir os acidentes e a limitar os seus efeitos, assentam no conceito de «defesa em profundidade», que consiste em aplicar sistematicamente várias linhas de defesa:

prevenção para evitar as falhas; trata-se essencialmente do respeito pelas regras de funcionamento;

fiscalização (ou detecção), que visa antecipar as falhas através de ensaios e/ou controlos; esta fiscalização pode ser realizada sob forma de ensaios periódicos dos materiais necessários à segurança;

os meios de acção ou de tratamento que permitem limitar as consequências de uma falha e fazer com que ela não se possa repetir;

a realização de uma análise sistemática dos aspectos de exploração susceptíveis de indiciarem uma degradação de situação.

Há que distinguir três tipos de disposições:

materiais, respeitantes à concepção e à fiabilidade das instalações;

organizacionais: no trabalho, o sistema de qualidade assenta na definição clara das responsabilidades de cada interveniente, nos controlos relevantes e na implementação de recursos adaptados quando as circunstâncias o exigem, principalmente, nas situações de crise;

e humanas, tendo em vista garantir que à actuação das pessoas subjaz uma formação específica à profissão e às suas responsabilidades, bem como uma cultura de segurança, que incite cada interveniente ao rigor e à vigilância.

4.4   Responsabilidade e controlo da segurança

4.4.1

A segurança nuclear é da responsabilidade de quem explora a instalação que está sob o controlo e opera segundo as regras definidas pelas autoridades nacionais em matéria de segurança.

Intercâmbios internacionais entre autoridades nacionais em matéria de segurança e operadores nucleares conduzem à publicação regular de indicadores representativos da qualidade de funcionamento. São organizados intercâmbios regulares através de inspecções internacionais (como as missões do OSART – Operational Safety Review Team — sob a égide da AIEA — Agência Internacional da Energia Atómica — ou «Peer Review» (exame pelos pares) sob a égide da WANO — Associação Mundial dos Operadores Nucleares), no decorrer das quais uma instalação é visitada por uma equipa de peritos internacionais.

4.4.2

Estes indicadores mostram uma constante melhoria dos resultados de exploração das unidades nucleares da União Europeia e, em especial, a redução do número de «incidentes significativos» (nível 1 na escala INES — The International Network of Engineers and Scientists for Global Responsibility — que inclui 7 níveis) e a redução dos resíduos radioactivos no ambiente.

4.4.3

Recentemente, a Comissão definiu (COM(2003) 32) uma função de verificação comunitária da eficácia dos dispositivos nacionais de controlo da segurança nuclear. Nessa ocasião, o Comité relembrou que, neste domínio, as directivas europeias sobre a segurança das instalações nucleares e sobre os procedimentos de controlo devem deixar bem claro que o actual domínio de competências e de atribuições dos Estados-Membros não é afectado e que o explorador das instalações nucleares continuará a assumir plena responsabilidade pela segurança das mesmas. Esta última obrigação decorre do princípio do poluidor-pagador, que o CESE considera da máxima importância.

5.   DESAFIOS ECONÓMICOS SUSCITADOS PELA UTILIZAÇÃO DA ENERGIA NUCLEAR PARA A PRODUÇÃO DE ELECTRICIDADE

5.1

A produção de electricidade nuclear caracteriza-se por um esforço muito grande em termos de capital e por um custo de funcionamento muito baixo e estável. Ressalte-se que o número de centrais que produzem electricidade nos países da OCDE é de 362 e que, hoje em dia, são, de um modo geral, competitivas no seu próprio mercado, quer se trate de um mercado desregulamentado ou não.

5.2

A competitividade da energia nuclear a longo prazo depende estreitamente dos cenários que se adoptem para as energias concorrentes e, particularmente, o gás, que parece ser hoje uma referência, tendo em conta os imperativos de redução das emissões de CO2. Continua a ser uma vantagem importante para a electricidade produzida a partir da energia nuclear poder apresentar um preço estável, para além de competitivo, numa altura em que o mercado da electricidade começa a desencadear subidas de preço sempre que o equilíbrio oferta procura está comprometido (a rede Nordel demonstrou isto mesmo no Inverno de 2002-2003).

5.3

A competitividade da energia nuclear depende do custo dos investimentos. Para uma taxa de rentabilidade financeira de 5 %, a energia nuclear é claramente competitiva em mais de um quarto dos países da OCDE que forneceram dados sobre os seus estudos de investimentos na produção de electricidade em 2005. Para uma taxa de 10 % já não o é.

5.4

Mas os resultados do estudo publicado em 1998 assentam na hipótese assumida pela AIE (Agência Internacional da Energia) de o preço do gás nos próximos 25 anos ser inferior ao do ano 2000 e menos de metade do preço do ano de 1980, em valor real. É muito improvável que, no período de vida útil de uma central nuclear (40 a 60 anos), não se registe uma forte tendência de alta no preço do gás.

5.5

A questão principal reside na aceitação do risco financeiro por um operador que investe na produção de electricidade num mercado que se tornou fortemente concorrencial. o que leva as indústrias de energia nuclear a colocarem de novo a questão da dimensão das unidades de produção. Até agora, a tendência era de aumentar a dimensão para realizar economias de escala. Actualmente, tendo em conta as novas características do mercado da electricidade, é necessário testar projectos que dêem resposta a necessidades de menor capacidade unitária. Para países como a Finlândia, a França e o Japão, a energia nuclear aparece sempre como a forma mais económica de produção de electricidade.

5.6

Os construtores de instalações nucleares (AREVA-Framatome e BNFL/Westinghouse) apresentam baixas de custos para reactores de água ligeira actualmente na ordem dos 25 % em relação ao preço dos reactores em serviço. O verdadeiro teste será a consulta realizada pela TVO na Finlândia, dado que esta empresa obteve todos os acordos para investir numa nova unidade de produção electronuclear.

5.7

Para os estudos da responsabilidade do Fórum Internacional Geração-IV, o objectivo reside numa redução de 50 % nos custos de capital associada a uma redução também do tempo de construção, de modo a aproximar o nível do risco financeiro do das outras redes concorrentes.

5.8

A mais longo prazo, a competitividade da energia nuclear dependerá também dos preços das energias renováveis. Estas são, na sua maioria, intermitentes e necessitam ainda de instalações complementares de produção ou de armazenamento de electricidade, o que faz com que o seu custo se mantenha elevado, enquanto não forem feitos progressos importantes.

5.9

Convém recordar que o preço da electricidade nuclear integra custos de tratamento dos resíduos e de desmantelamento das instalações, estimados estes, de um modo geral, em 15 % do custo inicial das instalações.

5.10

De entre os elementos que concorrem para determinar as escolhas e as decisões deve-se também referir que na actual UE as indústrias nucleares civis empregam 400 000 assalariados em funções, de um modo geral, altamente qualificadas.

5.12

Embora não se trate de um desafio económico enquanto tal, pode colocar-se a questão da pressão no sentido de reduzir os custos que acompanha geralmente um mercado liberalizado concorrencial e dos seus efeitos nas disposições tomadas para melhorar a segurança das instalações, bem como dos trabalhadores e das populações. No entender do Comité, a Comissão deverá consagrar uma atenção muito especial a este aspecto no âmbito das disposições que propõe em matéria de segurança.

6.   CONCLUSÕES

6.1

Com base nos dados recolhidos em publicações da União Europeia e de agências especializadas, durante audições de peritos e junto de industriais e que são retomados no presente parecer, o Comité entende dever salientar, em particular, os pontos a seguir referidos, de modo a dar resposta à questão dos desafios suscitados pela utilização da energia nuclear para a produção de electricidade.

6.2

A energia nuclear produz uma parte importante da electricidade da UE (35 %) e constitui 15 % das energias primárias consumidas. Contribui consideravelmente para a segurança do aprovisionamento e para a redução da dependência energética da União.

6.3

Evita, por ano, 300 a 500 Mt de emissões de CO2. Contribui, por isso, de forma útil para a panóplia de soluções que permitem respeitar os compromissos de Quioto.

6.4

Assegura preços de produção estáveis, contribuindo, assim, para a estabilidade dos preços na União e elimina, no que aos agentes económicos interessa, um factor de incerteza sobre as perspectivas de desenvolvimento.

6.5

As energias renováveis, cujo desenvolvimento é desejável e é encorajado pela União (Cf. Directiva 2001/77/CE), não bastam para, no final da vida útil das actuais instalações nucleares, responder simultaneamente ao desafio da sua substituição e ao aumento da procura de electricidade. A energia eólica, por exemplo, apenas oferece uma disponibilidade relativamente limitada e geralmente imprevisível na ordem de 2 000 a 2 500 horas por ano.

6.6

O controlo da procura de energia contribuirá certamente para reduzir a intensidade energética das actividades humanas (economia e vida privada), mas não aduz qualquer argumento determinante em prol da paragem da produção da energia nuclear, pois, devido às quantidades em causa, deverá incidir prioritariamente sobre outras utilizações que não a electricidade, tais como os transportes.

6.7

As questões suscitadas pela energia nuclear são: a segurança, a protecção contra os efeitos fisiológicos das radiações ionizantes e os resíduos e combustíveis usados. As duas primeiras foram já objecto de respostas técnicas e regulamentares que, com o tempo, evoluirão. A evolução dos riscos de agressão externa com que se defrontam a sociedade e as actividades industriais deve ser tomada em consideração pelos órgãos de poder público e pela indústria nas correspondentes políticas de segurança e de protecção.

6.8

Alguns Estados-Membros têm feito muitos progressos no sentido de resolver a questão dos resíduos. Dois países (Finlândia e Suécia) já escolheram a solução e mesmo o local; outros (França e Espanha) adoptaram soluções para os produtos de fraca actividade e prosseguem as investigações em relação aos resíduos com maior radioactividade; a Comissão lançou uma acção ao abrigo do Tratado Euratom destinada a acelerar o processo. Foi instalada na França e no Reino Unido uma indústria de acondicionamento dos produtos altamente radioactivos. A armazenagem é uma realidade e o facto de prosseguirem outros estudos não pode ser interpretado como inexistência de solução.

6.9

Tendo em conta os elementos do presente parecer e as conclusões supra, o Comité considera, tal como o Livro Verde o havia referido, que a energia nuclear deveria constituir uma das vertentes de uma política energética diversificada, equilibrada, económica e sustentável na UE. Atendendo às questões que este tipo de energia suscita, não se trata de apostar tudo na energia nuclear, mas, por outro lado, o Comité considera que o seu abandono parcial ou total comprometeria as hipóteses de respeitar os compromissos da União quanto à questão climática. Naturalmente, devido ao princípio da subsidiariedade, a definição consensual de uma opção energética para o futuro realiza-se nos Estados-Membros que estão aptos a tomar em consideração as próprias especificidades nacionais.

6.10

O Comité sugere que, dando continuidade ao presente parecer, se preveja e se leve a cabo um esforço de informação sobre os verdadeiros desafios que se colocam à indústria nuclear — segurança do aprovisionamento, não emissão de CO2, preços competitivos, segurança e gestão dos combustíveis usados —, de modo a permitir à sociedade civil organizada analisar de forma crítica o conteúdo dos debates que lhe são propostos sobres estas questões.

Bruxelas, 25 de Fevereiro de 2004

O Presidente

do Comité Económico e Social Europeu

Roger BRIESCH


(1)  A Comissão chegou a este valor utilizando como referência uma produção equivalente de electricidade a partir do gás. De facto, se, em vez disso, se tomar como referência o conjunto das energias da década finda, foram 500 milhões de toneladas equivalentes — CO2 que foram evitadas anualmente graças à energia nuclear.

(2)  Economic Evaluation of Sectoral Emission Reduction Objectives for Climate Change, Bottom-up Reports, Energia, Comissão Europeia — Ambiente, Março de 2001, capítulo 1.3.4.

(3)  Ver nota de rodapé 2.

(4)  The Shared Analysis Project, Economic Foundations for Energy Policy — Direcção-Geral de Energia.

(5)  Extracto do COM(2003)32 final – 2003/0022 (CNS), Preâmbulo, ponto 5.

(6)  The European Energy Outlook to 2010 and 2030 (Energia– Perspectivas Europeias para 2010 e 2030), P. CAPROS e L. MANTZOS, 2000.

(7)  World energy, technology and climate policy outlook 2030 — WETO — (Energia, Tecnologia e Política Climática: Perspectivas Mundiais para 2030) Direcção-Geral de Investigação, (investigação energética), 2003.

(8)  Elementos mais recentes fornecidos pela Comissão indicam 1 650 Mtep em 2000 e 1 968 Mtep em 2030 para a UE-25.

(9)  Os elementos que se seguem correspondem, nomeadamente, aos eixos de investigação prioritários identificados no programa específico de investigação no domínio da energia nuclear e que serão abrangidos pelo 6.o PQID no âmbito do Tratado EURATOM.

(10)  Comité Científico das Nações Unidas para o estudo dos efeitos das radiações ionizantes.

(11)  Uma directiva europeia no âmbito do Tratado Euratom (Directiva 96/29/Euratom), adoptada em Maio de 1996, fixa os limites de doses efectivas recebidas pelas populações e pelos trabalhadores do sector da energia nuclear.


ANEXO I

ao parecer do Comité Económico e Social Europeu

As seguintes alterações, que obtiveram, pelo menos, um quarto dos votos expressos, foram rejeitadas durante o debate.

Introdução — 6.o parágrafo

Alterar como segue:

«Importa mencionar que a questão de manter em funcionamento e de continuar a desenvolver com um elevado nível de segurança da segurança das instalações de produção de energia nuclear dos novos países da UE e dos que a ela aderirão tem sido objecto, desde 1992, de análise e de programas de melhoramento comportando, sempre que necessário, decisões de paragem de instalações, adaptação de instalações e de organizações e formação em matéria de segurança. De forma a manter, ou melhorar, este nível de segurança, é necessário proceder a uma vigilância constante dos operadores e das autoridades de segurança dos Estados-Membros em causa. Não se deve perder de vista que a questão da segurança das instalações de produção de energia nuclear adquiriu indubitavelmente uma nova dimensão com os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.».

Justificação

A segurança das instalações de produção de energia nuclear não deveria manter-se no nível actual mas ser melhorada, sempre que necessário. Por exemplo, é indispensável proteger estas instalações contra a queda de aviões.

Resultado da votação

Votos a favor: 34, Votos contra: 60, Abstenções: 8

Ponto 1.1.3

Alterar como segue:

«São 332 os países que, no mundo inteiro, produzem electricidade de origem nuclear, e em 18 deles não vai ser construída mais qualquer central nuclear. Em 2002, a quota de energia nuclear na produção total de electricidade variava entre 80 % na Lituânia, 77 % em França e 1,4 % na China. O planeamento ou, em parte, Prosseguiu a construção de 32 novos reactores de potência, demonstrando-se, assim, que a energia nuclear constitui, fora da União Europeia, e apesar dos elevados riscos económicos, políticos e ao nível da segurança técnica a nível mundial, um sector industrial em desenvolvimento, e isto em alguns países em que não é de excluir a utilização do material cindível para fins militares. o que não pode ser desprezado pela UE, tanto na sua reflexão sobre a energia como sobre a indústria. Depois de ter sido lançado o primeiro concurso público na Europa, em 1985, para a construção de uma central nuclear, em Janeiro de 2002, o governo finlandês mostrou-se, em princípio, disposto a autorizar a Na UE, a empresa finlandesa TVO obteve, em Janeiro de 2002, uma decisão “de princípio” do governo com vista à construção de a construir uma quinta central nuclear, autorização essa que foi confirmada por votação do Parlamento, em Maio de 2002; não foi, porém, ainda apresentado um pedido oficial de licença de construção.».

Justificação

Ao ler este texto fica-se com a impressão de que continua a existir ao nível mundial (e, portanto, também na Europa) uma grande procura de centrais nucleares, o que não é verdade. Uma parte das instalações referidas como «em construção» estão desactivadas já há vários anos. Na Europa, a última adjudicação para a construção de uma nova central teve lugar há cerca de vinte anos.

Resultado da votação

Votos a favor: 30, Votos contra: 58, Abstenções: 9

Ponto 1.1.4 (novo)

Aditar este ponto depois do ponto 1.1.3, 1.1.4:

«Na UE a 15, há actualmente 145 reactores em 8 Estados-Membros a produzir electricidade. Portugal, a Grécia, e a Itália (desde 1987), a Áustria (referendo em 1978), Luxemburgo e a Irlanda prescindem completamente da energia nuclear. Nos Países Baixos, ainda se encontra em funcionamento um reactor, depois de o segundo ter sido encerrado em 1997.A Espanha (9 reactores) optou, tal como a Bélgica (ver ponto 1.1.5), por uma moratória, enquanto na Grã-Bretanha o sector nuclear se debate com grandes dificuldades económicas que apenas se pode manter activo graças a subvenções provenientes das tarifas cobradas sobre outras fontes de energia.».

Justificação

Se se deseja descrever a situação na UE então é preciso fazê-lo exaustivamente.

Resultado da votação

Votos a favor: 36, Votos contra: 55, Abstenções: 8

Ponto 1.1.11

Alterar como segue:

«A situação da UE a 15 caracteriza-se por uma produção de electricidade de 855,6 TWh em 2002, ou seja, 35 % da electricidade produzida. Esta taxa não sofrerá grande alteração com o alargamento, quando os 10 novos Estados aderirem à UE em 2004. A energia nuclear é, por conseguinte, actualmente, uma a fonte mais importante de produção de electricidade e, devido à sua quota-parte na energia primária consumida na UE (15 %), um factor primordial para a segurança do aprovisionamento energético da União. Mas tal é apenas verdade enquanto os reactores existentes, cujo período de exploração está prestes a expirar, estiverem em actividade. Se se pretende manter esta quota-parte a médio ou a longo prazo, por julgar-se que talvez não seja possível substituí-los por um aumento da eficiência energética, por fontes de energia renováveis, etc., seria necessário construir de raiz um número equivalente de novas centrais nucleares. No entanto, continua inteiramente em aberto a questão de saber-se até que ponto a construção de raiz de, digamos, umas cem novas centrais nucleares, seria social e politicamente viável.».

Justificação

Com uma percentagem de 35 %, a energia nuclear não é actualmente a mais importante, mas sim uma importante fonte de energia. Este parecer talvez não seja o espaço mais adequado para a realização de um debate sobre a política energética, mas há pelo menos uma questão decisiva dentro da UE a que não podemos esquivar-nos: a construção de raiz de (muitas) novas centrais nucleares é realmente viável? O CESE pensa que uma questão desta relevância não deve ficar por abordar.

Resultado da votação

Votos a favor: 36, Votos contra: 65, Abstenções: 8

Ponto 1.2.9 – Terceiro travessão

Aditar no fim:

«por último, renunciar à energia nuclear para a produção de electricidade provocaria um »desfasamento positivo« anual de 300 milhões de toneladas de emissões de CO2 do sector energético. Este apenas será reduzido na medida em que, por um lado, o abandono da energia nuclear se estender por um período mais longo e, por outro lado, forem criadas novas capacidades de produção com base em fontes de energia renováveis e reforçadas as medidas de aumento da eficiência.».

Justificação

A quantidade de emissões indicada não é mais que um instantâneo, pelo que não é possível pronunciar-se claramente sobre os níveis de emissões no futuro os quais dependem do desenvolvimento das necessidades de energia, da intensidade energética e das capacidades de produção.

Resultado da votação

Votos a favor: 32, Votos contra: 66, Abstenções: 9

Ponto 1.3.3

Alterar como segue:

«No atinente à gestão, ao armazenamento e ao armazenamento definitivo destes resíduos, ainda se está à procura de já existem soluções técnicas definitivas, face aos problemas inerentes às substâncias perigosas. Para os resíduos de fraca actividade e de vida curta, o armazenamento à superfície é uma solução aceitável, que já foi oficialmente adoptada e posta em prática por alguns Estados-Membros. Tal não significa, contudo, que já existam soluções seguras. Para os resíduos altamente radioactivos ou de vida longa, o armazenamento em camada geológica profunda é reconhecido internacionalmente pelos peritos como sendo a solução técnica de referência, mas, até que os Estados-Membros em causa decidam democraticamente qual a opção de gestão, a armazenagem à superfície constitui a solução provisória. Na UE nem existe um depósito definitivo de resíduos nucleares e muito menos experiências de longo prazo neste domínio, sem as quais não se pode chegar a uma conclusão. Relativamente a estes produtos, importa precisar que o acondicionamento e a armazenagem à superfície deverão responder m às exigências legítimas de segurança e que esta solução provisória é gerida enquanto se aguarda a aplicação de soluções definitivas. O ”pacote nuclear“ proposto pela Comissão ao abrigo do Tratado Euratom visa acelerar o processo de decisão sobre o armazenamento geológico. É óbvio que os critérios de segurança a preencher por um depósito de resíduos definitivo, que se mantenha seguro ao longo de um milhão de anos, são extremamente exigentes. Os custos do armazenamento terão de ser incluídos nos custos da produção de energia.».

Justificação

É pura e simplesmente falso afirmar que já existem soluções praticáveis para todas as questões do armazenamento (definitivo) dos resíduos nucleares.

Resultado da votação

Votos a favor: 34, Votos contra: 68, Abstenções: 7

Ponto 2.1

Aditar no fim:

«É difícil propor perspectivas a longo prazo quanto à evolução do consumo de energia, pois são muitos os factores de incerteza […] consciência dos efeitos do consumo de energia sobre o ambiente e sobre o clima.

Estudos baseados em determinados cenários procuram dar uma ideia das diversas vias de desenvolvimento possíveis. Estes indicarão possibilidades alternativas que a sociedade debaterá com o objectivo de chegar a um conceito consensual sobre o aprovisionamento. Dele ressaltará fatalmente a necessidade de encontrar fundamentos para uma tal abordagem da questão energética.».

Justificação

É óbvio. Este aditamento tem sentido aqui para melhor se compreender o valor dos estudos de que se fala a seguir.

Resultado da votação

Votos a favor: 32, Votos contra: 60, Abstenções: 15

Ponto 2.3

Alterar como segue:

«Têm em comum recorrerem a modelos de extrapolação das tendências verificadas no passado, incluindo a evolução das estruturas e os progressos técnicos. Neles se parte do princípio de que, no período analisado, não se logrará uma alteração fundamental nas decisões de investimento no sector da energia. Referem, a título de exemplo, que decisões políticas não conduzem automaticamente a um aumento tangível da quota-parte de investimentos em fontes de energia renováveis nem a um aumento da eficiência energética que vá além da tendência actual., mas não podem integrar Esses estudos omitem, porém, actuações que representam uma as novas políticas em ruptura com o passado, o que não passa de um inconveniente menor, porquanto ninguém consegue prever com precisão as rupturas de tendências. Utilizamos estes estudos como elementos de apreciação da natureza dos desafios e não como estudos de previsão.».

Justificação

Nos dois estudos em análise trata-se essencialmente dos chamados cenários de referência que não têm em conta as alterações – defensáveis técnica e politicamente – nos fluxos de investimento. Se, entretanto, o que não é de excluir, forem tomadas tais decisões, a redução da intensidade energética poderá ser consideravelmente acelerada, por exemplo, dadas as capacidades existentes. Isto não é de modo algum utópico, mas uma consequência lógica da política da UE. A Comissão Europeia propõe, neste contexto, no presente projecto de directiva (COM(2003) 739 final), o aumento cumulativo, através de medidas políticas, da eficiência energética, que hoje já chega, na tendência do mercado, a uma média de 1,5 % ao ano, em pelo menos 1 % nos próximos anos. Tal faria diminuir sensivelmente o consumo de energia.

Resultado da votação

Votos a favor: 33, Votos contra: 64, Abstenções: 10

Ponto 2.5

Alterar como segue:

«Do exposto se conclui que, não havendo modificações suplementares no estado das tecnologias e das regulamentações à data de 2000 (o ano de referência dos dois estudos), será muito difícil conseguir estabilizar as emissões de GEE, tanto a nível mundial como ao nível da UE alargada.

Estes dois estudos mostram que, entre os meios tecnológicos actualmente conhecidos, a contribuição da energia nuclear para o controlo do clima é tão importante quanto a das energias renováveis.

No caso do prosseguimento das actividades das centrais nucleares, a sua contribuição para o controlo das alterações climáticas nos próximos anos, tomando como ponto de partida o actual nível de desenvolvimento tecnológico, seria de uma ordem idêntica à da contribuição das fontes de energia renováveis. De qualquer modo, a longo prazo, apenas será possível resolver os problemas ambientais por meio de fontes de energia renováveis e da eficiência energética, uma vez que a matéria-prima da energia nuclear, o urânio, é um recurso exaurível.».

Justificação

A restrição («No caso do prosseguimento das actividades...») procura traduzir o facto de que em um dos dois cenários considerados se prescinde da energia nuclear e apenas em um deles se permite o prosseguimento das actividades. Por este motivo, é apenas fundamentado um único cenário (energia nuclear), e não como dois cenários como se afirma. A quantidade de emissões adicionais perigosas num cenário de abandono poderá ser evitada não só graças ao prosseguimento das actividades da central nuclear (ou seja, o não abandono das actividades), mas também através da intensificação dos esforços no sentido de recorrer a fontes de energia renováveis ou à eficiência energética ou ainda através de quaisquer outras medidas. Ora, na versão inicial este facto é omitido.

Resultado da votação

Votos a favor: 29, Votos contra: 62, Abstenções: 9

Ponto 3.3.2

Alterar como segue:

«A investigação no domínio da gestão dos resíduos radioactivos visa deve ter por objectivo garantir um controlo absolutamente perfeito dos resíduos radioactivos tão perfeito quanto possível. Ainda não eExistem hoje soluções industriais seguras para o armazenamento definitivo dos resíduos de fraca radioactividade e para o acondicionamento (vitrificação) e armazenagem de resíduos de elevada radioactividade ou de vida longa. O CESE questiona-se por quanto tempo a investigação neste sector industrial deve ser entendida e financiada como despesa pública.».

Justificação

O relator já havia indicado no ponto 3.11 que «a energia nuclear é, sem dúvida, a fonte de energia que requer maior intensidade de I & D». A questão está em saber por quanto tempo o erário público comparticipará nas despesas de investigação neste sector industrial, quando é evidente que a energia nuclear não tem futuro pelo facto de as reservas de urânio não serem ilimitadas.

Resultado da votação

Votos a favor: 29, Votos contra: 72, Abstenções: 7

Ponto 4.1.6.

Suprimir o ponto 4.1.6.

Justificação

Afirmação demasiado geral.

Resultado da votação

Votos a favor: 43, Votos contra: 58, Abstenções: 9

Ponto 4.3.1

Aditar novo ponto 4.3.1

«4.3.1.

Durante anos, a população receou a energia nuclear devido aos riscos de segurança associados à sua produção, quer em caso de funcionamento normal, quer em caso de acidente. A horrível catástrofe de Chernobil mostrou que não se pode excluir completamente a hipótese de erro humano e que, em termos técnicos e de segurança, não podem ser previstas todas as situações possíveis. Apresentar Chernobil como uma falha de um determinado sistema político seria demasiado fácil. O acidente nuclear ocorrido nos EUA, em Harrisburg, mas também os inúmeros casos de leucemia detectados nas proximidades de centrais nucleares alemãs, mostram que os “reactores ocidentais” devem também ser objecto de uma análise crítica.».

Justificação

Dispensa qualquer explicação.

Resultado da votação

Votos a favor: 32, Votos contra: 63, Abstenções: 8

Ponto 4.3.2

Aditar novo ponto 4.3.2

«4.3.2

Um novo e grave perigo associado à produção de energia nuclear, até agora desconhecido, é o dos actos terroristas, mas também o de potenciais conflitos bélicos. A produção nuclear de electricidade é a única forma de produção de electricidade de interesse fundamental para os terroristas. No início da produção nuclear, os engenheiros e os políticos nem sequer sonhavam com esta forma de ameaça, mas, infelizmente, os tempos mudaram drasticamente e é necessário ter este aspecto em consideração. Desconhece-se até que ponto os Estados de Direito democráticos poderão acautelar estes riscos. Este perigo é ainda maior em países politicamente instáveis.».

Justificação

Dispensa qualquer explicação.

Resultado da votação

Votos a favor: 32, Votos contra: 63, Abstenções: 8

Ponto 5.1

Alterar como segue:

«A produção de electricidade nuclear caracteriza-se por um esforço muito grande em termos de capital e por um custo de funcionamento muito baixo e estável. Tal deve-se, entre outros aspectos, a auxílios/subvenções elevados, técnicas amortizadas, reservas para impostos, não consideração dos custos totais do armazenamento definitivo, inexistência de um seguro suficiente dos riscos, bem como ao grande apoio na área da investigação. Tudo isto contribui para Ressalte-se que o número de centrais que produzem electricidade nos países da OCDE sejaé de 362, sendo que estas e que, hoje em dia, são, de um modo geral, competitivas no seu próprio mercado, quer se trate de um mercado desregulamentado ou não. Ao mesmo tempo, note-se que, por exemplo, no Reino Unido todos os esforços para privatizar a produção de energia nuclear falharam, o que é a prova de que também existem inseguranças económicas.».

Justificação

Dispensa qualquer explicação.

Resultado da votação

Votos a favor: 26, Votos contra: 69, Abstenções: 6

Ponto 5.2

Alterar como segue:

«A competitividade da energia nuclear a longo prazo depende estreitamente dos cenários que se adoptem para as energias concorrentes e, particularmente, o gás, que parece ser hoje uma referência, tendo em conta os imperativos de redução das emissões de CO2. Continua a ser uma vantagem importante para a electricidade produzida a partir da energia nuclear poder apresentar um preço estável, para além de competitivo, numa altura em que o mercado da electricidade começa a desencadear subidas de preço sempre que o equilíbrio oferta procura está comprometido (a rede Nordel demonstrou isto mesmo no Inverno de 2002-2003). A competitividade da energia nuclear varia em função do preço do gás. Pode igualmente contribuir para a estabilidade dos preços no mercado interno da electricidade, ao reduzir os efeitos dos desequilíbrios entre oferta e procura, imanentes ao mercado interno (veja-se a situação da rede escandinava Nordel no Inverno de 2002-2003), evitando assim que daí resultem flutuações de preços acentuadas.».

Justificação

A primeira frase explica a primeira frase do ponto 5.2, na qual se afirma que a competitividade da energia nuclear depende sobretudo do preço do gás. A frase inicial (a energia nuclear é (...) competitiva), contradiz, de forma apodíctica, a primeira frase e deve ser, portanto, suprimida. A segunda frase explica o mecanismo de acção da estabilidade dos preços.

Resultado da votação

Votos a favor: 27, Votos contra: 65, Abstenções: 9

Ponto 5.3

Alterar como segue:

«A competitividade da energia nuclear depende do custo dos investimentos, das subvenções e das demais condições-quadro existentes no domínio da política energética. Para uma taxa de rentabilidade financeira de 5 %, a energia nuclear é claramente competitiva em mais de um quarto dos países da OCDE que forneceram dados sobre os seus estudos de investimentos na produção de electricidade em 2005. Para uma taxa de 10 % já não o é.».

Justificação

Dispensa qualquer justificação.

Resultado da votação

Votos a favor: 38, Votos contra: 63, Abstenções: 6

Ponto 5.10

Alterar como segue:

«De entre os elementos que concorrem para determinar as escolhas e as decisões deve-se também referir que na actual UE as indústrias nucleares civis empregam 400 000 assalariados em funções, de um modo geral, altamente qualificadas. O emprego mais intensivo e o desenvolvimento contínuo de energias renováveis e de tecnologias eficazes vão criar na UE postos de trabalho adicionais, da mesma ordem do número atrás referido.».

Justificação

Face à situação precária no mercado de trabalho, as atenções dever-se-ão centrar nos mercados capazes de criar novos postos de trabalho. A estimativa quantitativa parece-nos conservadora devido ao facto de as estimativas no que diz respeito ao «isolamento de edifícios» calcularem, só para a Alemanha, cerca de 200 000 novos postos de trabalho (sindicato da indústria BAU) e de a Eurosolar indicar que o número de eventuais novos postos de trabalho na UE no sector das energias renováveis é da ordem dos 500 000.

Resultado da votação

Votos a favor: 28, Votos contra: 61, Abstenções: 18

Ponto 5.11

Alterar como segue:

«Embora não se trate de um desafio económico enquanto tal, pode colocar-se a questão da pressão no sentido de reduzir os custos que acompanha geralmente um mercado liberalizado concorrencial e dos seus efeitos nas disposições tomadas para melhorar a segurança das instalações, bem como dos trabalhadores e das populações. Nalgumas grandes empresas já se verificaram cortes substanciais no pessoal. No entender do Comité, a Comissão deverá consagrar uma atenção muito especial a este aspecto no âmbito das disposições que propõe em matéria de segurança.».

Justificação

Dispensa qualquer justificação.

Resultado da votação

Votos a favor: 28, Votos contra: 63, Abstenções: 18

Ponto 6.3

Alterar como segue:

«Evita, por ano, 300 a 500 Mt de emissões de CO2. Contribui, por isso, de forma útil para a panóplia de soluções que permitem respeitar os compromissos de Quioto.».

Justificação

Consonância com a alteração ao ponto 1.2.9.

Resultado da votação

Votos a favor: 27, Votos contra: 67, Abstenções: 12

Ponto 6.4

Alterar como segue:

«Assegura preços de produção estáveis, contribuindo, assim, para a estabilidade dos preços na União e elimina, no que aos agentes económicos interessa, um factor de incerteza sobre as perspectivas de desenvolvimento. No entanto, considerações de ordem económica e de segurança técnica a longo prazo originam uma avaliação de custos diferente.».

Justificação

Evidente.

Resultado da votação

Votos a favor: 31, Votos contra: 65, Abstenções: 6

Ponto 6.5

Alterar como segue:

«As energias renováveis, cujo desenvolvimento é desejável e é encorajado pela União (cf. Directiva 2001/77/CE), ainda não bastam para, no final da vida útil das actuais instalações nucleares, responder simultaneamente ao desafio da sua substituição das actuais instalações nucleares e ao aumento, em parte, da procura de electricidade. A seu desfavor há também problemas de ordem estrutural: de facto, actualmente, a A energia eólica, por exemplo, oferece uma disponibilidade relativamente baixa, em média entre 2 000 e 2 500 horas por ano. Todavia, tal poderá mudar radicalmente, aplicando, por exemplo, medidas de eficiência energética ou através do desenvolvimento de fontes de energia sustentáveis, como a biomassa, etc.».

Justificação

As fontes de energia renováveis encontram-se ainda em fase de introdução no mercado. Em especial as fontes de energia renováveis como a biomassa ou a energia geotérmica, que estariam aptas a substituir a energia nuclear, inclusivamente no correspondente campo de aplicação privilegiado, encontram-se ainda num estádio inicial. O mesmo se aplica aos sistemas de armazenamento, que podem tornar as energias intermitentes, como a eólica ou a solar, em potências constantes. Por esta razão, a situação descrita deverá ser entendida como momentânea, ou seja, que reflecte o estado actual.

Resultado da votação

Votos a favor: 27, Votos contra: 54, Abstenções: 16

Ponto 6.6

Introduzir novo ponto 6.6:

«6.6

O CESE considera importante a referência ao facto de, em breve, a UE ter de fazer opções decisivas. O período de vida útil das actuais centrais nucleares aproxima-se gradualmente do fim. Deste modo, a Europa depara-se com a questão de saber se quer, por mais uma geração, continuar a recorrer à energia nuclear e em que medida esta é viável em termos sociais. A última grande questão é política: Ou envidar-se-ão desde já todos os esforços possíveis no sentido de dar início à era da política energética sem utilização das energias fósseis e nucleares. Alcançá-lo não é uma questão de se ser “a favor” ou “contra”, mas antes de “quando”.».

Justificação

Vivemos à custa das fontes de energia fósseis, geralmente da energia solar armazenada (sob a forma de carvão, petróleo e gás). Entrar numa nova era da utilização energética é apenas uma questão de tempo. O CESE não pode ignorá-la.

Resultado da votação

Votos a favor: 32, Votos contra: 58, Abstenções: 15

Ponto 6.6

Alterar como segue ponto 6.6:

«O controlo da procura de energia contribuirá certamente para reduzir a intensidade energética das actividades humanas (economia e vida privada). No que se refere ao sector da electricidade, há ainda um grande potencial por explorar. Contudo, só o seu esgotamento não é suficiente para compensar um possível aumento provindo da energia nuclear. As possibilidades de diminuição da intensidade energética são maiores nos sectores do aprovisionamento de calor e transportes. Sobretudo o sector dos transportes merece especial atenção, de forma a, também aqui, se alcançar uma redução significativa das emissões de dióxido de carbono e, simultaneamente, garantir a mobilidade sustentável.».

Justificação

Estas conclusões resultam logicamente dos cenários descritos na segunda parte do parecer.

Resultado da votação

Votos a favor: 34, Votos contra: 59, Abstenções: 13

Ponto 6.9

Elidir ponto e substituir como segue:

«Não obstante o amplo e controverso debate social sobre energia atómica a que se assiste nos Estados-Membros, o CESE conclui que, ao abrigo do princípio da subsidiariedade, mantém-se consensual que a decisão sobre o conjunto das fontes de energia compete prioritariamente aos respectivos decisores nacionais. Importa ter em conta as especificidades nacionais, sobretudo o grau de disponibilidade das fontes de energia domésticas. Estas deviam ser as mais utilizadas, de forma a diminuir a elevada dependência da importação no tocante ao sector energético comunitário, como o Livro Verde da Comissão sobre a segurança de aprovisionamento já identificou como prioritário. É indiscutível que as fontes de energia renováveis e o aumento da eficiência energética adquirem especial importância, na medida em que, simultaneamente, reduzem a dependência da importação e não prejudicam o clima através das emissões de gases com efeito de estufa. O desenvolvimento das fontes de energia renováveis e da eficiência é um elemento determinante na construção de uma Europa baseada no conhecimento, altamente desenvolvida, competitiva e orientada para a exportação, concretizando, assim, os objectivos de Lisboa estabelecidos para o sector energético. Ademais, deste modo, são criados mais postos de trabalho.».

Justificação

O texto justifica-se por si mesmo, indo ao encontro da reflexão da UE sobre a política energética. Adicionalmente, este ponto oferece o necessário posicionamento da energia nuclear no debate geral acerca de um conjunto das fontes de energia sustentável.

Resultado da votação

Votos a favor: 33, Votos contra: 61, Abstenções: 13


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