This document is an excerpt from the EUR-Lex website
Document 52013DC0150
GREEN PAPER LONG-TERM FINANCING OF THE EUROPEAN ECONOMY
LIVRO VERDE O FINANCIAMENTO A LONGO PRAZO DA ECONOMIA EUROPEIA
LIVRO VERDE O FINANCIAMENTO A LONGO PRAZO DA ECONOMIA EUROPEIA
/* COM/2013/0150 final */
LIVRO VERDE O FINANCIAMENTO A LONGO PRAZO DA ECONOMIA EUROPEIA /* COM/2013/0150 final */
1. Introdução O premente desafio com
que a Europa se confronta é voltar a colocar a UE na via de um crescimento
inteligente, sustentável e inclusivo, criando postos de trabalho, explorando as
áreas em que tem vantagens sobre a concorrência e, por conseguinte, aumentando
a sua competitividade no mercado mundial. Para
lhe dar resposta, a Europa enfrenta grandes necessidades de investimento a
longo prazo, na linha das prioridades da Estratégia «Europa 2020»[1], da
atualização das ações da política industrial de 2012[2], da Iniciativa
«União da Inovação»[3]
e do Mecanismo «Interligar a Europa»[4].
O investimento a longo prazo é a constituição de capital duradouro, abrangendo
ativos corpóreos (como infraestruturas de energia, transportes e comunicações,
instalações industriais e de serviços, habitação e tecnologias ligadas às
alterações climáticas e à ecoinovação) e incorpóreos (como a formação e a
investigação e desenvolvimento) que impulsionam a inovação e a competitividade.
Muitos destes investimentos trazem ainda benefícios adicionais, uma vez que
geram rendimentos mais elevados para a sociedade no seu conjunto através do
apoio a serviços essenciais e da melhoria dos padrões de vida. O seu impacto
poderá começar a sentir-se no curto prazo. Permitem que as empresas e as
administrações públicas produzam mais com menos recursos, dando resposta aos
novos desafios económicos, sociais[5]
e ambientais, facilitando a transição para uma economia mais sustentável e
aumentando a capacidade produtiva e industrial da economia. A evolução das
alterações climáticas e o esgotamento dos recursos naturais vieram salientar
ainda mais o desafio do crescimento sustentável, demonstrando a necessidade de
um maior investimento a longo prazo em energias hipocarbónicas, na eficiência
energética e de utilização dos recursos e nas infraestruturas, em consonância
com os objetivos políticos de limitar o efeito das alterações climáticas a uma
variação de dois graus centígrados e de se dissociar o crescimento económico da
utilização de recursos. Para
financiar esses investimentos a longo prazo, as administrações públicas e as
empresas, seja qual for o seu tamanho, precisam de ter acesso a um
financiamento a longo prazo e que seja previsível. A capacidade da economia
para disponibilizar este tipo de financiamento a longo prazo depende do sucesso
do sistema financeiro na canalização eficaz e eficiente das poupanças das
administrações públicas, das empresas e das famílias para os destinatários e
fins mais apropriados, através de mercados abertos e competitivos. Esse
processo pode envolver vários intermediários (p. ex.: bancos, seguradoras e
fundos de pensões) ou um acesso direto aos mercados de capitais. O presente
Livro Verde está centrado no funcionamento desses processos. Para haver
investimento a longo prazo com um custo razoável, a economia terá antes de
gerar e atrair poupança. As políticas públicas podem contribuir para esse fim
assegurando a solidez das políticas orçamentais, sistemas fiscais eficientes e
um ambiente favorável às empresas e que aumente a atratividade da economia para
os investidores, nomeadamente estrangeiros. A
existência de bons processos de financiamento a longo prazo é fundamental para
apoiar as reformas económicas estruturais e para regressar ao crescimento
económico a longo prazo. O financiamento a longo prazo é igualmente necessário
ao longo de todo o ciclo de vida de uma empresa, contribuindo para a criação do
negócio, permitindo-lhe crescer e depois apoiando esse crescimento. O
financiamento a longo prazo apoia a evolução das empresas ao longo deste ciclo
de vida. Implica o conhecimento e a disponibilidade de diferentes instrumentos
e processos financeiros. O financiamento a longo prazo contribui também para o
financiamento das exportações e, desse modo, para a melhoria da competitividade
externa. A importância do financiamento a longo prazo para o crescimento e a
criação de emprego foi reconhecida a nível internacional pelo G20[6]. A
crise financeira afetou a capacidade do setor financeiro da Europa para
canalizar as poupanças em função das necessidades de investimento a longo
prazo. Acima de tudo, a crise financeira e a precária situação macroeconómica
que vivemos criaram um clima de incerteza e aversão ao risco, em particular nos
Estados-Membros sob pressão financeira e para as PME. A crise financeira
prejudicou a capacidade de concessão de empréstimos com prazos de reembolso
mais alargados pelos bancos, que precisam de diminuir a sua alavancagem,
corrigindo os erros do passado. Concomitantemente, a crise teve também um
impacto negativo na confiança e apetência pelo risco dos potenciais mutuários e
dos investidores institucionais. Uma das principais
lições da crise é que, para restabelecer a estabilidade financeira e a
confiança nos mercados, será necessário assegurar uma regulação e supervisão
adequadas do setor financeiro. No quadro de uma resposta política mais
alargada, é conveniente assegurar que, no seu pormenor, o novo quadro de
regulamentação e supervisão permita que o setor financeiro apoie a economia
real da forma mais eficaz possível, sem pôr em causa a estabilidade financeira.
Em termos de perspetivas
pós-crise financeira, uma questão que assumirá importância é saber se a forte
dependência da intermediação bancária que caracterizou historicamente a Europa
no domínio do financiamento a longo prazo irá dar lugar a um sistema mais
diversificado, com um aumento significativo do financiamento direto junto dos
mercados de capitais e do envolvimento dos investidores institucionais e dos
mercados financeiros alternativos. Não há dúvida de que, tendo em conta as suas
competências no domínio da gestão dos riscos, o conhecimento local e as
relações que estabeleceram com as empresas, os bancos continuarão a ser
importantes parceiros na canalização dos investimentos a longo prazo. No
entanto, não se sabe ao certo até que ponto os bancos comerciais voltarão à sua
prática que consistia em conservar os ativos a longo prazo até ao final do
respetivo prazo de vencimento. A diminuição do papel
dos bancos no crédito a longo prazo resultará em novas necessidades e
oportunidades para que outros tipos de instituições financeiras e mecanismos de
intermediação do mercado possam canalizar financiamentos para o investimento a
longo prazo. No entanto, as possibilidades dos investidores institucionais e
dos mercados preencherem esta lacuna dependerá de diversos fatores. Para além
de uma correta calibração do quadro de regulamentação prudencial, muitas são as
vozes que afirmam que os princípios contabilísticos, a forma como são feitas as
avaliações do valor e o comportamento dos gestores de ativos geram custos
adicionais e incentivos mal orientados. Por outro lado, os mercados europeus de
obrigações, de capitais próprios e de titularização continuam a estar
relativamente subdesenvolvidos em comparação com outras economias, com o
financiamento alternativo ao setor bancário a revelar-se praticamente
inacessível às PME. A
disponibilização de canais de intermediação concretos e eficientes para o
financiamento a longo prazo é uma tarefa complexa e pluridimensional. O
objetivo do presente Livro Verde é lançar um amplo debate sobre as formas de
aumentar a disponibilidade de financiamento a longo prazo e de melhorar e
diversificar o sistema de intermediação financeira para os investimentos a
longo prazo na Europa. Como demonstram as questões colocadas no quadro da
consulta, a discussão deverá contemplar as especificidades dos diferentes
atores dos mercados financeiros e também questões relacionadas com um conjunto
muito diverso de condicionantes para um bom funcionamento do sistema. As
respostas às questões colocadas na consulta contribuirão para uma melhor
avaliação pela Comissão dos obstáculos ao financiamento a longo prazo, tendo em
vista identificar eventuais ações políticas para os ultrapassar. O eventual seguimento
que lhe será dado poderá revestir várias formas: em certas áreas poderá ser
necessário, por exemplo, adotar nova regulamentação ou alterar a regulamentação
existente, enquanto noutras o papel da UE poderá limitar-se a encorajar uma
maior coordenação e a promoção das melhores práticas, ou assumir a forma de um
acompanhamento específico de determinados Estados-Membros no contexto do
Semestre Europeu. O presente Livro Verde é acompanhado de um documento de
trabalho dos serviços da Comissão que define a análise subjacente de forma mais
pormenorizada. 2. Disponibilização de financiamento a
longo prazo e características dos investimentos a longo prazo A capacidade de uma
economia para o financiamento dos investimentos a longo prazo depende do seu
poder de geração de poupança e de atração e retenção dos investimentos diretos
estrangeiros (IDE). Diferentes prestadores,
incluindo as administrações públicas, as empresas e as famílias, podem atuar
como fontes de financiamento a longo prazo. As administrações públicas e as
empresas procuram também obter financiamento a longo prazo. Na Europa, os
rácios de investimento ou de poupança em relação ao PIB andam ambos perto dos
20%, situação que é favorável em comparação com outras regiões. Contudo, esta
imagem global oculta o facto de os investimentos privados em 2011 terem chegado
a níveis bastante inferiores a 2007 e de esta diminuição ter sido quatro vezes
superior à diminuição do PIB real durante o mesmo período[7]. Tanto os
aforradores como os investidores enfrentam atualmente elevados graus de
incerteza, de aversão ao risco e de falta de confiança em resultado da
precariedade da situação e das perspetivas macroeconómicas. Esta situação
poderá vir a ter efeitos duradouros, criando mais barreiras permanentes à disponibilização
de financiamento a longo prazo e afetando a procura: ·
Administrações
públicas:
os recursos públicos, provenientes da tributação e da dívida pública,
desempenham um papel vital no financiamento dos investimentos a longo prazo,
tendo em conta as externalidades positivas muitas vezes associada aos
investimentos do Estado e a sua complementaridade com o investimento privado.
As administrações públicas desempenham e continuarão a desempenhar um papel
fundamental na disponibilização de bens e infraestruturas públicos, mas o
aumento da eficiência dos investimentos através de uma análise custo-benefício
mais sistemática e de um seguimento cuidado dos projetos tem constituído desde
sempre um grande desafio. Por outro lado, os recursos públicos, na forma de
subvenções ou empréstimos, são utilizados em apoio do investimento privado a
longo prazo em setores onde as insuficiências do mercado impedem que se atinjam
níveis ótimos de financiamento e/ou investimento privado. Nessas áreas, os
recursos públicos não deverão substituir o financiamento privado, mas poderão
potenciar esse investimento e ajudar a gerir os riscos que lhe estão
associados; ·
Empresas: As empresas
financiam os seus investimentos através de recursos próprios ou recorrendo ao
sistema financeiro. A baixa da procura e a incerteza dos mercados afetaram o
rendimento das empresas. Ao mesmo tempo, o investimento das empresas tem vindo
sempre a diminuir, o que resulta, em alguns Estados-Membros, no aumento das
poupanças internas, em especial pelas grandes empresas – estima-se que as
posições em dinheiro e equivalentes das grandes empresas tenham aumentado cerca
de quatro pontos percentuais entre 2009 e 2011[8].
Contudo, muitas PME sofrem continuamente de uma escassez de liquidez; ·
Famílias: As famílias são
a principal fonte de fundos para financiamento dos investimentos. Contudo, as
poupanças a curto prazo são o seu instrumento favorito. Durante o período
2000-2010, por exemplo, as famílias reduziram as suas participações no capital
das empresas em oito pontos percentuais, em proporção dos ativos financeiros[9]. As famílias
preferem, regras geral, dispor de liquidez e da possibilidade de poderem
mobilizar rapidamente os seus depósitos. A estabilidade é preferida e a aversão
ao risco é a norma. Assim sendo, é necessário mobilizar mais poupanças a longo
prazo; e ·
Financiamento
externo:
o IDE é tradicionalmente outra das fontes de financiamento para os projetos a
longo prazo. Apesar da crise, os fluxos de IDE para a UE recuperaram em 2011,
após o acentuado declínio observado nos anos mais recentes. Os fluxos de IDE
para a UE ascenderam a 242 mil milhões de € em 2011, o que representa um
crescimento de 13% em relação aos níveis de 2010. No interior da UE,
constatam-se importantes disparidades entre os países. As perspetivas de
crescimento a longo prazo de qualquer economia dependem, nomeadamente, da forma
como o setor financeiro conseguir canalizar as referidas fontes de poupança
para o investimento produtivo. O presente Livro Verde analisa os
investimentos a longo prazo na perspetiva da constituição de capital corpóreo e
incorpóreo de longa duração. Está
centrado, portanto, no capital produtivo (por oposição a «financeiro»), numa
conceção semelhante à das contas nacionais, em que o investimento é
especificado em termos de formação bruta de capital fixo. A formação de capital
produtivo foi profundamente afetada pela crise financeira e os níveis de
investimento são ainda inferiores aos níveis anteriores à crise em muitos
países da UE. O investimento em capital produtivo, tanto em relação com ativos
corpóreos como incorpóreos, é essencial para transformar a economia da UE e
constituirá uma pedra angular de qualquer estratégia de crescimento a longo
prazo. A tónica é colocada nos
bens de capital de longa duração (como infraestruturas económicas e sociais,
construção e I&D, educação e inovação), o que não quer dizer que esses
mesmos bens sejam mais importantes para o crescimento do que os bens de curto
prazo (como computadores, telemóveis e veículos). Pelo contrário, os volumes de
investimento em bens de equipamento com curto ciclo de vida são fortemente
pró-cíclicos. Atualmente esses volumes estão a diminuir devido às más
perspetivas macroeconómicas na Europa, embora se espere que venham a recuperar
logo que a económica voltar a crescer. O mesmo se poderá dizer de outras
despesas das empresas do setor produtivo, como os custos de pessoal
(contratação) ou as aquisições de produtos intermédios. A situação é muito
diferente no que respeita aos bens de capital de longa duração, que se
caracterizam por longos períodos de investimento/construção e exigem financiamento
a longo prazo, uma vez que os fluxos de caixa que geram o retorno do
investimento só começam a surgir após um período considerável. Uma vez que
parte significativa dos volumes de capital produtivo a longo prazo consiste em
infraestruturas públicas, este tipo de capital tem desempenhado
tradicionalmente um papel estabilizador para a economia – que depende da
capacidade das administrações públicas para disponibilizar investimento público
de forma anticíclica, e da confiança do setor financeiro, quando fornece os
fundos para investimento, em que a economia estará a funcionar em pleno no
final do período de construção. Não existe uma definição
única e universalmente aceite de financiamento a longo prazo. Em termos gerais,
o financiamento a longo prazo pode ser considerado como o processo pelo qual o
sistema financeiro fornece financiamento para pagar investimentos que se
estendem por muito tempo. Esta definição está centrada nas características
associadas ao financiamento a longo prazo[10].
Em alternativa, os trabalhos em curso a nível internacional sob os auspícios do
G20 em relação ao investimento a longo prazo definem o mesmo num âmbito mais
restrito, fundamentalmente centrado nos financiamentos com prazo de vencimento
superior a cinco anos e incluindo as fontes de financiamento sem prazo de
vencimento definido (p. ex.: títulos representativos de capital). Perguntas: 1) Concorda com a análise acima apresentada em relação à disponibilização e às características do financiamento a longo prazo? 2) Tem opinião sobre a definição mais adequada de financiamento a longo prazo? 3. Melhorar o financiamento a longo
prazo da economia europeia Tal como para todos os
tipos de financiamento, a capacidade da economia para financiar o investimento
a longo prazo depende da forma como o sistema financeiro conseguir canalizar de
forma eficaz e eficiente estes fundos para os utilizadores e os investimentos
mais apropriados através de mercados abertos e competitivos. Esse processo pode
envolver vários intermediários – incluindo bancos, seguradoras e fundos de
pensões – ou um acesso direto aos mercados financeiros. Contudo, uma série de
fatores impede que o seu desempenho seja totalmente eficaz em matéria de
financiamento a longo prazo. Alguns desses fatores levarão mais tempo a
resolver do que outros. Uma das principais
lições da crise é que, para restabelecer a estabilidade financeira e a
confiança nos mercados, será necessário assegurar uma regulação e supervisão
adequadas do setor financeiro. A UE tem vindo a aplicar um programa abrangente
de reformas financeiras nesse contexto, em complemento de uma reforma económica
e orçamental mais alargada. A estabilidade financeira é essencial mas, por si só,
insuficiente. Como parte de uma resposta política mais abrangente, os
pormenores do novo quadro regulamentar e de supervisão deverão, nomeadamente na
área da tributação, incentivar e criar condições para que o setor financeiro
possa apoiar efetivamente a economia real sem pôr em causa a estabilidade
financeira. Tanto as autoridades
públicas como os operadores do mercado partilham responsabilidades pela criação
desse tipo de ambiente, pela reposição da confiança e da segurança e pelo
reforço da atratividade global da Europa enquanto destino do investimento
mundial. Com base nesses elementos, as medidas de reforço do financiamento da
economia europeia a longo prazo deverão abranger um vasto leque de fatores
interligados: ·
Capacidade das instituições financeiras para
canalizar os financiamentos a longo prazo; ·
Eficácia e eficiência dos mercados financeiros
em termos de oferta de instrumentos de financiamento a longo prazo; ·
Fatores transversais que possibilitem as
poupanças e financiamento a longo prazo; e ·
Facilidade com que as PME conseguem aceder a
financiamentos junto dos setores bancário e não-bancário. 3.1. Capacidade
das instituições financeiras para canalizar os financiamentos a longo prazo Bancos
comerciais Os bancos são
tradicionalmente os intermediários financeiros mais importantes na Europa. O
setor bancário apresenta na UE uma importância maior do que acontece noutras
paragens, em especial nos EUA, refletindo uma maior dependência da Europa em
relação à intermediação bancária. No futuro, esta situação trará desafios em
matéria de financiamento a longo prazo. A crise veio salientar
os riscos associados à utilização excessiva da alavancagem e da transformação
dos prazos de vencimento. Juntamente com uma quebra da procura nalguns países
em recessão, esta situação resultou na desalavancagem levada a cabo por muitos
bancos, que contribuiu particularmente para a atual escassez de financiamento a
longo prazo[11].
Mesmo quando este processo de desalavancagem estiver concluído, a alteração
da forma como é calculado o preço do risco na sequência da crise irá aumentar o
custo do capital. Os custos associados aos instrumentos de gestão de crises nos
bancos poderão também aumentar o custo do capital, embora os efeitos positivos
do estabelecimento de um setor bancário mais passível de resolução sejam
extremamente benéficos para a sociedade e para a economia. As interligações
entre as entidades bancárias e soberanas e a regulamentação mais estrita
resultaram também num aumento da concentração das atividades bancárias nos mercados
nacionais, conduzindo a uma redução do financiamento transfronteiras e à
fragmentação do mercado único, o que reduz ainda mais a disponibilidade de
financiamento e aumenta o custo do capital, em especial nos países que se
encontram sob maior pressão. Para o
futuro, as regras prudenciais europeias comuns aplicáveis aos bancos
visam, evitar que os excessos do passado se reproduzam, aumentar a capacidade
de resistência dos bancos ao risco e incutir confiança no mercado, e elaborar
um conjunto único de regras para proteger a integridade do mercado único. Na
perspetiva do financiamento a longo prazo, a regulamentação prudencial deverá
abordar os riscos enfrentados pelos bancos quando utilizam os depósitos a curto
prazo para financiar empréstimos a longo prazo. Daí não decorre necessariamente
que as regras que limitam a capacidade dos bancos para utilização dos
financiamentos a curto prazo desta forma se venham a traduzir numa redução do
crédito para a economia real. Todavia, o potencial arbítrio entre a limitação
da criação de liquidez para assegurar a estabilidade e a concessão de
financiamento a longo prazo para a economia real explica a necessidade de
aplicar as regras com uma calibração adequada e de forma progressiva. As
recentes propostas do Comité de Basileia no que respeita aos requisitos de
liquidez visam reforçar a capacidade de resistência dos bancos, assegurando ao
mesmo tempo que as restrições à transformação dos prazos de vencimento não
tenham consequências indesejadas. A Comissão propôs um período de seguimento
das medidas, bem como uma revisão da calibração dos parâmetros aplicáveis no
cálculo dos requisitos de liquidez[12].
Outra consequência da
crise que poderá afetar a capacidade dos bancos para canalizar o financiamento
a longo prazo é o crescente debate sobre se será ou não necessário aplicar
reformas adicionais diretamente orientadas para a estrutura dos mesmos, tendo
em vista reduzir ainda mais a probabilidade e o impacto das situações de
colapso, garantir a continuação das funções económicas vitais e proteger melhor
os clientes vulneráveis. O recente relatório do grupo de peritos de alto nível
sobre a reforma estrutural do setor bancário da UE documenta a forma
como o comportamento dos bancos ao longo das últimas décadas conduziu a um
aumento das operações entre entidades do setor financeiro, por oposição àquelas
que envolvem clientes, nomeadamente no quadro do financiamento das empresas a
longo prazo. O grupo recomendou que as práticas de negociação de maior risco
fossem limitadas e separadas das restantes atividades. A Comissão está
atualmente a refletir sobre a forma de dar seguimento a esse relatório. Os
bancos não irão, como é evidente, desaparecer da cadeia de intermediação na
Europa. As suas competências em matéria de avaliação do risco de crédito, o seu
conhecimento local e o seu relacionamento com as empresas implicam que os
bancos continuarão e precisarão de continuar a ser intervenientes importantes.
Contudo, e perante a evolução da situação desde a crise do setor bancário,
existem novas necessidades e oportunidades para que outros intermediários
venham complementar o papel dos bancos, canalizando o financiamento para
investimentos a longo prazo de forma mais equilibrada. Pergunta: 3) Tendo em conta a natureza evolutiva do setor bancário, qual será o papel dos bancos, no futuro, em matéria de canalização do financiamento para investimentos a longo prazo? Bancos
de desenvolvimento nacionais e multilaterais e incentivos financeiros Os bancos de
desenvolvimento ativos tanto a nível internacional como nacional deverão
desempenhar um papel de apoio á catalisação do financiamento a longo prazo e
aumentar a eficiência e a eficácia dos mercados e instrumentos financeiros.
Apesar das contribuições líquidas positivas de certos investimentos para o
bem-estar económico, as insuficiências do mercado poderão nalguns casos impedir
que os investidores aceitem certos riscos e/ou cheguem a certas decisões de
investimento. Nestes casos, os bancos de desenvolvimento nacionais e
multilaterais poderão ser úteis para estimular o financiamento privado, tendo
em conta os seus objetivos específicos de política pública, em que o valor
acrescentado é encarado num sentido mais lato, isto é, económico, social e
ambiental, e não puramente financeiro. Desde que se concentrem nos casos em que
existe demonstradamente uma insuficiência do mercado, a sua participação poderá
desempenhar um importante papel anticíclico, nomeadamente reduzindo a
volatilidade dos custos de financiamento para determinadas categorias de
investidores e limitando a visão a curto prazo por parte dos intervenientes do
setor privado. Importa aqui notar que a governação dos bancos de
desenvolvimento deverá assegurar que estes não utilizem a sua posição
vantajosa, dada a sua maior facilidade de mobilização de financiamento, para
excluírem do mercado o financiamento privado. Deverão, isso sim, procurar
catalisar o financiamento privado nas áreas em que este não surja com
facilidade. A intervenção pública
pode ser assegurada, direta ou indiretamente, pela oferta ou contribuição para
um leque de produtos de financiamento, incluindo a partilha e/ou garantia dos
riscos[13],
bem como pela ligação dos intermediários financeiros em redes apropriadas[14].
Ao abrigo do atual orçamento da UE, diversos instrumentos financeiros a nível
da UE[15],
muitos dos quais são geridos conjuntamente pela Comissão, pelo Banco Europeu de
Investimento (BEI) e pelo Fundo Europeu de Investimento (FEI), ou em parceria
com os Estados-Membros, visam especificamente colmatar determinadas lacunas do
mercado e facilitar o acesso ao financiamento, nomeadamente a mais longo prazo[16].
Para o futuro, o quadro financeiro plurianual (QFP) da UE prevê uma maior
utilização desses instrumentos financeiros, que poderão desempenhar um papel
importante no reforço do impacto das despesas da UE, aumentando a respetiva
alavancagem e catalisando o financiamento privado a longo prazo. Em especial, a
maior parte do QFP, incluindo todos os instrumentos estruturais da UE, poderão
vir a ser utilizados em instrumentos financeiros. A sua eficácia dependerá da
estreita ligação em rede e cooperação entre a Comissão, o Grupo do BEI e os
Estados-Membros. É igualmente importante
que a intervenção pública não contribua para a fragmentação do mercado único. A
coordenação, avaliação e prestação de contas entre o nível nacional e o nível
da UE pode ajudar a evitar esta situação, reforçando o valor acrescentado de
uma abordagem europeia. Uma cooperação mais estreita entre os bancos de
desenvolvimento nacionais e multilaterais, sob a égide da Comissão e do BEI,
poderia proporcionar um meio para essa coordenação, nomeadamente apoiando a
criação de agrupamentos europeus de interesse económico para o financiamento de
projetos transfronteiras. Deverá igualmente considerar-se o impacto dos fundos
soberanos estrangeiros, bem como a possibilidade de reforçar ou criar os seus
equivalentes europeus. Perguntas: 4) Qual será a melhor forma de os bancos de desenvolvimento nacionais e multilaterais apoiarem o financiamento do investimento a longo prazo? Haverá margem para uma maior coordenação entre esses bancos na procura da realização dos objetivos políticos da UE? Qual será a melhor forma de utilizar os instrumentos financeiros previstos no orçamento da UE em apoio do financiamento a longo prazo para um crescimento sustentável? 5) Existem outros instrumentos e quadros de política pública que possam apoiar o financiamento do investimento a longo prazo? Investidores
institucionais Dados os horizontes temporais mais longos dos seus modelos
empresariais, os investidores institucionais – como companhias de seguros de
vida, fundos de pensões, fundos mutualistas e fundações – podem ser
fornecedores de financiamento a longo prazo. Em conjunto, detêm um total
estimado em cerca de 13.8 biliões de € em ativos, valor que é superior ao PIB
da UE[17]. Outros
investidores institucionais – como os fundos soberanos, fundos de
infraestruturas e, em certa medida, os fundos de participações privadas –
também surgiram como fornecedores de capital a longo prazo. O capital de risco
pode também contribuir para esse financiamento. A
longa duração dos seus passivos permite que os investidores institucionais,
pelo menos em princípio, adquiram e conservem investimentos em ativos
produtivos a longo prazo, obtendo rendimentos mais elevados para compensar o
risco a longo prazo e a reduzida liquidez inerente a muitos desses ativos. Os
horizontes temporais mais longos permitem aos investidores institucionais
comportar-se de forma paciente e anticíclica, limitando a «visão a curto prazo»
e reduzindo a necessidade de transformação dos prazos de vencimento. A
necessidade de diversificação e a busca de rendimento, num contexto de baixas
taxas de juro, levaram à sua expansão para o financiamento a longo prazo,
afetando partes significativas das suas carteiras para instrumentos de longo
prazo como capitais próprios, participações privadas e outros ativos ilíquidos
(a título de exemplo, certos fundos de pensões têm vindo, ao longo dos últimos
anos, a investir diretamente em projetos de energias renováveis em grande
escala). Perante este pano de
fundo, e como acontece com os bancos, os investidores institucionais são
obrigados a cumprir uma série de regulamentos prudenciais e as normas de
contabilidade. A nova regulamentação prudencial das empresas de seguros
(Diretiva Solvência II)[18]
exige que detenham ativos suficientes para a cobertura da natureza e duração
das suas responsabilidades; a detenção de investimentos a longo prazo é
coerente com as funções sociais destas empresas. A Diretiva Solvência II visa
introduzir um regime económico harmonizado e baseado no risco e determina que
seja atribuído aos ativos um valor económico de forma coerente com o que se
passa no mercado. O impacto das novas regras prudenciais sobre a capacidade de
financiamento a longo prazo das seguradoras dependerá, em parte, da sua
situação de partida e da forma exata como vierem a ser tratados os ativos a
longo prazo. O debate incidiu sobre o modo de garantir que os encargos
associados à conservação de um determinado capital regulamentar não se tornem
excessivamente pesados no caso dos ativos a longo prazo, e também assegurar que
não haja uma redução dos incentivos positivos do enquadramento Solvência II no
sentido de recompensar a equilibragem dos passivos a longo prazo através de
investimentos equivalentes também a longo prazo. Neste contexto, os
serviços da Comissão solicitaram à Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões
Complementares de Reforma (EIOPA) uma análise para determinar se a calibração
pormenorizada dos requisitos de fundos próprios para investimentos em
determinados ativos ao abrigo do regime Solvência II (incluindo o financiamento
de infraestruturas e a emissão de obrigações para financiamento de projetos (project
bonds), o financiamento das PME, a titularização da dívida, etc.) deve ser
ajustada para garantir que não existam obstáculos ao financiamento a longo
prazo, sem criar riscos prudenciais adicionais. A Comissão, o Conselho e o
Parlamento discutiram também medidas tendentes a facilitar a oferta de produtos
seguradores com garantias a longo prazo e de investimentos a longo prazo nos
termos da Diretiva Solvência II. A EIOPA irá avaliar essas medidas até junho de
2013. Com base nas conclusões técnicas, a Comissão apresentará um relatório
sobre as medidas apropriadas que poderiam ser incluídos na Diretiva Solvência
II ou nos atos delegados relacionados. É necessário que os
fundos de pensões administrem os seus próprios riscos por forma a gerar o nível
necessário de rendimento anual para os beneficiários. As regras aplicáveis ao
capital dos fundos de pensões variam de Estado-Membro para Estado-Membro e são
diferentes das aplicáveis às seguradoras, tendo em conta as diferenças ao nível
dos riscos associados aos fundos de pensões de reforma e dos recursos de financiamento
a que estes podem aceder. A Comissão tenciona voltar a analisar a diretiva
relativa às instituições de realização de planos de pensões profissionais
(Diretiva IRPPP)[19].
Essa análise terá nomeadamente como objetivo reforçar a proteção dos membros
desses regimes e facilitar a atividade transfronteiras neste domínio. Será
importante assegurar que as novas regras prudenciais para os regimes de pensões
profissionais não desencorajem o financiamento sustentável a longo prazo. A
análise da Diretiva IRPPP deverá, por conseguinte, ter em conta o seu potencial
impacto sobre o financiamento a longo prazo e o crescimento económico. No entanto, e para além
das regras prudenciais, diversos outros fatores estruturais afetam as
possibilidades dos investidores institucionais para desempenhar um papel no
financiamento a longo prazo. O abrandamento económico terá provavelmente um
impacto duradouro nas estratégias de afetação dos ativos a longo prazo pelos
investidores institucionais, promovendo estratégias de investimento mais
prudentes. Por exemplo, a exposição média dos investidores institucionais a
ativos do setor das infraestruturas continua a ser baixa, quando comparada
tanto com os bens imobiliários como com as reais necessidades de investimento
em infraestruturas. Em termos de gestão e diversificação dos riscos, os
investidores institucionais poderão recear a grande escala dos projetos de
investimento a longo prazo. As funções de gestão de ativos dos investidores
institucionais não-bancários poderão igualmente ter pouca experiência no
tratamento de ativos mais ilíquidos, que até aqui eram muitas vezes geridos por
seguradoras especializadas (monoline) na garantia desse tipo de ativos.
Ao longo do tempo, isto significa que alguns investidores se poderão ver na
necessidade de alargar as suas competências atuais em apoio das suas decisões
de investimento. Por conseguinte, parece
haver margem para ter em conta iniciativas destinadas a reunir recursos
financeiros[20]
e a estruturar pacotes de financiamento de acordo com as diversas fases de
risco. O diálogo entre os investidores e as empresas não-financeiras, bem como
a divulgação das boas práticas e casos de estudo, poderão ajudar a alcançar
este objetivo[21].
A Comissão comprometeu-se também[22]
a apresentar propostas sobre as possíveis formas de fundos de investimento a
longo prazo (FILP). As primeiras indicações recolhidas junto das partes
interessadas sugerem que um novo mecanismo para os FILP poderá facilitar a
mobilização de capitais em toda a União. Poderá ainda ajudar a que os
investidores institucionais de média ou grande dimensão invistam, por exemplo,
numa vasta gama de projetos de infraestruturas. O FILP ajudará os investidores
institucionais na diversificação e repartição dos riscos. Além disso, os
gestores dos FILP poderão ainda trazer novas perspetivas sobre a forma de
examinar as operações subjacentes ou de selecionar e gerir os projetos de infraestruturas
a longo prazo. Perguntas: 6) Em que medida e de que modo podem os investidores institucionais desempenhar um papel mais importante no quadro em mutação do financiamento a longo prazo? 7) Como poderão os objetivos de supervisão e a vontade de melhor apoiar o financiamento a longo prazo ser equilibrados em termos da conceção e aplicação das regras prudenciais aplicáveis respetivamente às seguradoras, empresas de resseguros e fundos de pensões, incluindo as instituições de realização de planos de pensões profissionais? 8) Quais são os entraves à criação de mecanismos de investimento conjunto? Poderão ser desenvolvidas plataformas desse tipo a nível da UE? 9) Que outras opções e instrumentos poderiam ser considerados para reforçar as capacidades dos bancos e investidores institucionais na canalização do financiamento a longo prazo? Efeitos
combinados da reforma regulamentar sobre as instituições financeiras A
UE tem vindo a aplicar um programa abrangente de reformas financeiras. Na
análise de todas as alterações já aprovadas ou planeadas da regulamentação
prudencial aplicável aos diferentes atores financeiros (bancos, seguradoras,
gestores de planos de reforma, etc.), é importante determinar se o impacto
cumulativo sobre a formação macroeconómica de capital a longo prazo poderá ser
superior à simples soma dos efeitos de cada reforma. Por exemplo, se os bancos
reduzirem a sua exposição a ativos reais de longo prazo, em consequência do
aumento dos requisitos de liquidez, os investidores institucionais com passivos
a longo prazo poderiam preencher essa lacuna, desde que o quadro regulamentar
evite uma dependência excessiva da volatilidade a curto prazo. No entanto, a
introdução simultânea de requisitos de liquidez aplicáveis a todos os atores
dos mercados financeiros poderá desencorajar os investimentos em ativos menos
líquidos e, por conseguinte, bloquear vários canais possíveis de financiamento
dos investimentos a longo prazo ao mesmo tempo. Essa
possibilidade exige um acompanhamento atento dos eventuais efeitos cumulativos
das reformas de caráter prudencial. As entidades reguladoras internacionais,
como o Conselho de Estabilidade Financeira e o Grupo dos Ministros das Finanças
e dos Bancos Centrais do G20, estão já a analisar a questão. O desafio consiste
em alcançar os objetivos regulamentares de maior estabilidade macrofinanceira e
de convergência regulamentar a nível global de uma forma que evite quaisquer
incentivos negativos ao financiamento do investimento produtivo a longo prazo. Pergunta: 10) Existe algum impacto cumulativo das reformas prudenciais atuais e previstas sobre o nível e o caráter cíclico dos investimentos globais a longo prazo, e até que ponto esse impacto é significativo? Qual será a melhor forma de lidar com quaisquer desses impactos? 3.2. Eficácia
e eficiência dos mercados financeiros em termos de oferta de instrumentos de
financiamento a longo prazo Juntamente com os
investidores institucionais, a existência de mercados de capitais e de
infraestruturas que funcionem bem e atinjam uma dimensão suficiente será
necessária para proporcionar uma vasta gama de instrumentos que permitam
canalizar o financiamento a longo prazo. Os mercados
obrigacionistas europeus desenvolveram-se fortemente durante as últimas décadas[23]. No entanto,
as obrigações de empresas não-financeiras na Europa continuam a representar
apenas 15% da dívida das empresas, nível esse que continua a ser inferior ao
que se verifica noutras economias. Na prática, só as grandes empresas têm
acesso aos mercados obrigacionistas europeus, enquanto a maioria das PME e
empresas de média capitalização dificilmente conseguem aceder aos mesmos. Os
mercados europeus de titularização estão também subdesenvolvidos em comparação
com outras partes do mundo, o que limita ainda mais a gama disponível de
instrumentos de financiamento a longo prazo. A Comissão propôs
reformas para melhorar a estrutura do mercado através da criação de novas
plataformas de negociação; do aumento da transparência e da eficiência da
informação; do reforço dos requisitos de redução das atividades de negociação a
curto prazo e especulativas; e de uma melhor proteção dos investidores[24]. Terá de se
verificar em que medida estas reformas conseguem garantir que os mercados de
capitais canalizam o financiamento a longo prazo tão eficazmente quanto
possível. Poderão vir a ser necessários esforços suplementares. Os mercados
de obrigações cobertas (covered bonds)[25]
revelaram-se relativamente resistentes durante a crise. No entanto, os mercados
estão fragmentados em função das fronteiras nacionais, e é necessária uma
análise mais aprofundada para tentar determinar se e em que medida uma maior
harmonização poderá impulsionar a utilização de obrigações cobertas, em
conformidade com as recentes iniciativas lideradas pelo mercado e tendo
simultaneamente em devida conta as preocupações ligadas ao potencial aumento do
ónus desses ativos sobre os balanços dos bancos. A
reformulação dos mercados de titularização poderá igualmente ajudar a
materializar fontes adicionais de financiamento a longo prazo. Sob reserva de
uma fiscalização adequada e da transparência dos dados, poderão contribuir para
que as instituições financeiras libertem capitais que poderão ser mobilizados
para empréstimos adicionais, gerindo simultaneamente os respetivos riscos. As
iniciativas do mercado destinadas a estimular os mercados de titularização
incluem a criação de rótulos para garantir que as operações de titularização
apresentam elevada qualidade, transparência e grau de normalização. Há margem
para desenvolver produtos de titularização simples, com base em estruturas
claras e não alavancadas e ativos subjacentes bem escolhidos, diversificados e
de baixo risco. Entre os temas mais importantes a considerar conta-se a
eventual criação de mercados especificamente dedicados às PME, com regras
prudenciais e supervisão adequadas. Deve continuar a ser examinada a
possibilidade de criar produtos associados a setores específicos. A UE
nunca teve, no seu todo, um verdadeiro projeto de mercado europeu de
obrigações para financiamento de projetos[26].
A Comissão, juntamente com o BEI, começou a abordar esta questão através da
iniciativa Project Bond, uma solução na esfera dos mercados financeiros
para resolver as imperfeições do mercado e a questão da solvabilidade. A
iniciativa pretende demonstrar a viabilidade do financiamento obrigacionista de
projetos de infraestruturas e, em última análise, criar um mercado de
obrigações para financiamento de projetos com liquidez. Embora ainda em pequena
escala, outros atores do mercado estão também a desenvolver diversas
plataformas, produtos e instrumentos de investimento para estimular os mercados
de obrigações para financiamento de projetos. Há mérito em refletir sobre a
forma de promover uma maior utilização dessas obrigações, tendo igualmente em
conta a prevista avaliação intercalar da iniciativa[27]. Muitos sustentam também
que a economia, as empresas e os projetos de investimento carecem de maior
capitalização e não de mais dívida. Os capitais próprios podem ser um
melhor instrumento de financiamento para os investimentos a longo prazo, de
alto risco, bem como para os investimentos que envolvam assimetrias de
informação e riscos morais significativos. Desde a crise, a incerteza
macroeconómica e a baixa das taxas de poderão ter afetado a procura de capitais
próprios a longo prazo pelas empresas, bem como a sua apetência pelo risco. Em
vez disso, os investidores têm procurado refúgio em instrumentos de dívida
pública com forte solvabilidade. Paralelamente, as janelas de mercado para as
OPI são mais pequenas do que nunca, limitando o acesso das empresas ao capital,
e as bolsas europeias desempenham cada vez mais uma função de fornecimento de
liquidez, em vez de novo capital. Globalmente, o custo do capital continua
elevado, enquanto o custo do financiamento da dívida diminuiu. Este facto
evidencia um défice em capitais próprios na Europa, que demorará provavelmente
algum tempo a resolver. A situação parece ter afetado mais as empresas de média
capitalização. As políticas públicas e a regulamentação devem ser tão neutrais
quanto possível no que respeita à forma como os agentes privadas decidem
financiar-se, através de capitais próprios ou de dívida (ver, por exemplo, o
ponto relativo à tributação das empresas). Perguntas: 11) De que forma se poderá melhorar o financiamento dos investimentos a longo prazo pelos mercados de capitais na Europa? 12) Como poderão os mercados de capitais ajudar a colmatar o défice em fundos próprios na Europa? O que deve mudar no modo de funcionamento da intermediação de mercado para assegurar um melhor fluxo do financiamento para investimentos a longo prazo, bem como um melhor apoio ao financiamento de investimentos a longo prazo num quadro de crescimento sustentável em termos económicos, sociais e ambientais e uma proteção adequada dos investidores e dos consumidores? 13) Quais são os prós e os contras da criação de um enquadramento mais harmonizado para as obrigações cobertas? Que elementos poderia integrar esse enquadramento? 14) De que modo poderá o mercado de titularizações na UE ser reativado a fim de alcançar o justo equilíbrio entre a estabilidade financeira e a necessidade de melhorar a transformação dos prazos de vencimento pelo sistema financeiro? 3.3 Fatores transversais conducentes à
poupança e ao financiamento a longo prazo Outros fatores de
caráter mais transversal são relevantes para o investimento a longo prazo e
deverão ser considerados devido ao seu potencial impacto, tanto em termos de
oferta como de intermediação do financiamento a longo prazo. A ação das autoridades
públicas, incluindo os regimes fiscais, desempenha um papel importante na
indução de projetos de investimento a longo prazo, na capacidade das famílias
para poupar a longo prazo e dos atores do mercado para canalizar o
financiamento a longo prazo para investimentos produtivos e na criação de
incentivos para que isso aconteça. Os enquadramentos a longo prazo estabelecidos
pelas autoridades públicas apoiam o desenvolvimento de agendas de investimento
estratégico independentes do ciclo político, proporcionando uma maior
transparência e uma maior segurança aos investidores e empresas. É importante
que a intervenção do Estado neste contexto não falseie a concorrência, não
exclua do mercado os investidores privados nem comprometa a igualdade de
condições de concorrência no mercado único. Alguns Estados-Membros atuaram
igualmente no sentido de promover as poupanças e decisões de investimento a
longo prazo pelas famílias. Alguns países adotaram regimes
complementares de reforma de participação voluntária. Outros criaram contas de
poupança orientada[28]
para apoiar o financiamento de projetos de investimento a longo prazo, com um
rendimento fixo garantido (pelo Estado) e, em alguns casos, determinados
benefícios fiscais. Os fundos existentes nessas contas são então investidos em
bens públicos como hospitais, habitação social e universidades. A mais longo
prazo, poderá valer a pena verificar se a disponibilização de linhas de
crédito específicas a nível da UE não poderia ser útil para ajudar a
mobilizar uma poupança a longo prazo mais elevada e mais diretamente ligada a
objetivos de caráter social mais vastos. Para ser aplicável a nível da UE, esse
modelo precisaria de ser devidamente adaptado. As avaliações do valor,
os princípios contabilísticos e as estratégias desenvolvidas pelos gestores de
ativos são também citados por muitos comentadores como fatores que complicam a
cadeia de intermediação, aumentam os respetivos custos e criam incentivos
desalinhados, nomeadamente resultantes da tendência no sentido da especulação e
da visão de curto prazo, que são também devidos a uma maior perceção dos riscos
e aos prazos de retorno por definição mais longos do investimento a longo
prazo. Pergunta:
15)
Quais são as vantagens dos diferentes modelos de contas de poupança orientada
disponíveis a nível da UE? Será possível avançar para um modelo da UE? Tributação
A estrutura e o nível da
tributação podem ter um impacto sobre os investimentos e decisões de poupança
e, por conseguinte, sobre o crescimento. Em geral, os sistemas fiscais devem
ser concebidos de modo a distorcer o mínimo possível as decisões económicas dos
cidadãos e das empresas, salvo quando os impostos se destinarem a corrigir
externalidades resultantes de insuficiências do mercado específicas e
claramente definidas: ·
Tributação e investimento: O imposto sobre o rendimento das sociedades (IRS) é um dos muitos
fatores que influenciam as decisões relativas aos níveis e às formas de
investimento. Em particular, os sistemas de IRS que vigoram na maioria dos
Estados-Membros tendem a favorecer a dívida em relação aos capitais próprios,
criando incentivos para uma maior alavancagem pelas empresas, uma vez que o
pagamento de juros é fiscalmente dedutível, enquanto o retorno do capital não
beneficia geralmente desse benefício fiscal. Uma base tributável bem concebida
e que reduza o efeito de distorção da alavancagem poderá também diminuir a
vulnerabilidade das empresas face a uma redução a curto prazo do crédito.
Poucos são, contudo, os Estados-Membros que adotaram reformas para tentar
eliminar essa distorção. A continuação do debate sobre a conceção, em termos de
neutralidade financeira, das bases tributáveis para efeitos do imposto sobre o
rendimento das sociedades poderá por conseguinte ser útil em toda a UE; ·
Tributação e poupanças:
A tributação das poupanças tem diversas repercussões económicas importantes,
nomeadamente porque afeta o montante total das poupanças geradas na economia e,
portanto, a afetação de capital e do investimento. Tendo em conta estes
efeitos, as políticas fiscais nesta área devem ser cuidadosamente pensadas.
Muitos Estados-Membros puseram já em vigor uma série de incentivos para
aumentar as poupanças (a longo prazo), nomeadamente no que diz respeito às
poupanças associadas à reforma. Além disso, muitos Estados-Membros aplicam
sistemas de tributação diferenciada dos rendimentos, em que os rendimentos de
capital são geralmente tratados separadamente e tributados a uma taxa inferior
a outras fontes de rendimento; e ·
Incentivos fiscais: Os
incentivos fiscais são frequentemente considerados como instrumentos de
incentivo a determinados tipos de investimento; um subsídio por via fiscal pode
justificar-se quando o retorno social de um investimento for superior ao
retorno privado para o investidor, o que indica que os níveis de investimento
se encontram abaixo do ótimo social (p. ex.: I&D e preocupações
ambientais). Embora se justifique em certos casos recorrer a incentivos
fiscais, estes criam igualmente encargos administrativos, aumentando o número
de isenções ou regras adicionais a aplicar. Além disso, em certos casos, a
multiplicidade de diferentes regras nacionais pode criar possibilidades de
arbitragem. Perguntas: 16) Que tipo de reformas poderiam ser levadas a cabo a nível do IRS para melhorar as condições de investimento, eliminando as distorções entre a dívida e os capitais próprios? 17) Que considerações devem ser contempladas para a fixação de incentivos adequados a nível nacional para a poupança a longo prazo? Em particular, de que forma deverão os incentivos fiscais ser utilizados para incentivar de forma equilibrada a poupança a longo prazo? 18) Que tipos de incentivos ao nível do imposto sobre as sociedades serão benéficos? Que medidas poderão ser utilizadas para enfrentar os riscos de arbitragem, quando são concedidas isenções/incentivos para determinadas atividades? 19) Poderia uma maior coordenação fiscal na UE apoiar o financiamento dos investimentos a longo prazo? Princípios
contabilísticos A contabilidade não é
neutra, influenciando as decisões económicas: as normas e medidas no domínio da
contabilidade (como as IFRS) ajudam a criar uma linguagem comum entre os
empresários, investidores e autoridades públicas, contribuindo para a confiança
e a segurança. Significa isto que deverão conciliar diferentes pontos de vista:
o interesse económico e o interesse financeiro/dos investidores. Os princípios
de contabilização pelo justo valor permitem aumentar a transparência e a
coerência da informação financeira, uma vez que mostram o valor de mercado dos
ativos e passivos e permitem apresentar informação sobre a situação financeira
relativa das diferentes instituições. No entanto, podem também revelar-se
prejudiciais para a estabilidade e para o financiamento a longo prazo. A título
de exemplo, existem estudos que destacam uma redução dos instrumentos de
capitais próprios nas carteiras de investimento dos investidores
institucionais, que os consideram mais voláteis e arriscados do que os
investimentos em obrigações. Outros estudos ainda argumentam que uma avaliação
coerente com os valores de mercado poderá incentivar os investidores a longo
prazo a aumentar a sua exposição ao risco, se a volatilidade for reconhecida
fora das suas contas de ganhos e perdas. Importa aprofundar a análise destas
normas, para determinar se são adequadas no que respeita ao investimento a
longo prazo. Neste contexto, seria útil identificar meios para chegar a um
equilíbrio entre a exatidão da informação prestada aos investidores e um
incentivo suficiente à detenção e gestão de ativos a muito longo prazo. Pergunta: 20) Em que medida considera que a aplicação dos princípios da contabilização pelo justo valor terão conduzido a uma visão de curto prazo no comportamento dos investidores? Que alternativas ou outras formas de compensar estes efeitos poderiam ser sugeridas? Mecanismos de governo das sociedades A
forma como os ativos são geridos pode desempenhar um importante papel no
financiamento a longo prazo, em termos de alinhamento dos incentivos para que
os gestores de ativos, investidores e empresas adotem estratégias a longo
prazo, atenuando as preocupações que se prendem com as estratégias a curto
prazo, a especulação e as relações de agência. Já existem regras no que
respeita aos deveres fiduciários, aos conflitos de interesses, às remunerações,
ao exercício dos direitos de voto e divulgação dos custos e à prestação de
serviços de consultoria de investimento e de gestão de carteiras[29]. Outras
medidas ainda, incluindo eventuais alterações à diretiva relativa aos direitos
dos acionistas, são descritas no Plano de Ação sobre o direito das
sociedades e o governo das sociedades na Europa[30]. Poderiam equacionar-se
medidas adicionais, nomeadamente uma avaliação mais aprofundada das estruturas
de incentivos para os gestores de ativos, a fim de melhor tomar em conta as
considerações de longo prazo, ou a exigência de uma maior transparência por
parte desses mesmos gestores no cumprimento dos seus deveres fiduciários. Foram
igualmente aventadas ideias para incentivar uma maior participação dos
acionistas a longo prazo, nomeadamente diferentes possibilidades de concessão
de direitos de voto ou dividendos adicionais aos investidores a longo prazo,
que poderiam justificar uma análise mais aprofundada. Perguntas: 21) Que tipos de incentivos poderiam ajudar a promover uma melhor participação dos acionistas a longo prazo? 22) De que forma poderão os mandatos e incentivos dados aos gestores de ativos evoluir de modo a apoiar estratégias de investimento e relacionamentos a longo prazo? 23) Existirá a necessidade de reexaminar a definição de «obrigação fiduciária» no contexto do financiamento a longo prazo? Informação e apresentação de relatórios As
análises mais recentes evidenciam uma exigência crescente de divulgação de
informação não-financeira pelas empresas. Os estudos realizados sugerem que
as empresas que gerem ativa e sistematicamente os aspetos de sustentabilidade
das suas operações têm custos de capital mais baixos e tendem a apresentar um
melhor desempenho do que os seus concorrentes, a longo prazo. O estabelecimento
de requisitos genéricos de divulgação poderá não ser suficiente para estimular
decisões sobre os investimentos a longo prazo, pelo que a Comissão está a
trabalhar no sentido de desenvolver um quadro mais robusto para a divulgação de
informação não-financeira. A divulgação de informação não-financeira pelos
gestores e proprietários de ativos poderá também merecer alguma reflexão
adicional, nomeadamente quanto à forma de apresentar os riscos e impactos
específicos associados à sustentabilidade na gestão de carteiras. Diversos
analistas consideram igualmente que a apresentação de relatórios trimestrais
cria incentivos errados, levando os atores do mercado a concentrar-se nos
resultados a muito curto prazo. Na revisão da Diretiva Transparência[31], a Comissão
propôs o levantamento da obrigação de apresentação de relatórios trimestrais. Os parâmetros de referência
e as notações de risco podem também estar centrados numa perspetiva
anual ou de curto prazo. A Comissão propôs um reforço das regras por forma a
reduzir a dependência das notações tradicionais, tendo sido alcançado, em
novembro de 2012, um acordo político sobre as diferentes reformas legislativas[32]. O
desenvolvimento de métodos de medição e de notações que encorajem um equilíbrio
entre uma perspetiva a longo prazo e uma responsabilização a curto prazo poderá
constituir um instrumento útil para ajudar os investidores a longo prazo. Perguntas: 24) Em que medida pode a maior integração da informação financeira e não-financeira ajudar a proporcionar uma visão mais clara do desempenho de uma empresa a longo prazo, contribuindo para melhores decisões de investimento? 25) Será necessário desenvolver padrões de referência específicos para o longo prazo? 3.4 Facilidade
com que as PME conseguem aceder a financiamento bancário e não-bancário As pequenas e médias
empresas (PME) dos dias de hoje podem vir a ser a base do crescimento a longo
prazo no futuro. Historicamente, viram-se confrontadas com dificuldades
significativas no acesso ao financiamento de que precisavam para crescer. Dada
a sua dependência do financiamento bancário, essas dificuldades foram agravadas
pelo processo de desalavancagem dos bancos. Por outro lado, as PME são agora
confrontadas com a fragmentação dos mercados financeiros na UE, uma vez que o
acesso a boas condições de financiamento varia consideravelmente de país para
país. A menor disponibilidade
de financiamento bancário já levou à adoção de decisões políticas no sentido de
promover o desenvolvimento de canais alternativos, não-bancários, para a
concessão de empréstimos às PME. A Comissão adotou em 2011 um plano de ação
destinado a resolver os problemas de financiamento com que se confrontam as PME[33]. Foram já
acordadas certas iniciativas, nomeadamente novos enquadramentos da UE para o
investimento em capital de risco e em fundos de empreendedorismo social. Estão
também em curso algumas iniciativas políticas que visam facilitar o acesso das
PME aos mercados de capitais. No entanto, outras propostas legislativas ligadas
ao plano de ação continuam por aprovar. Foram igualmente apresentadas propostas
que visam permitir que os operadores de plataformas de negociação multilateral
também sejam registados sob o rótulo de «Mercado de PME em crescimento» e criar
um regime proporcionado que diminua os custos e encargos administrativos para
as PME que pretendam aceder aos mercados para financiamento[34]. Em paralelo,
tem sido registado algum crescimento em mercados muito tradicionais, como o
financiamento de ativos ou de cadeias de abastecimento, bem como em algumas
inovações financeiras que utilizam a tecnologia e a Internet, como por exemplo
o financiamento coletivo (crowd-funding). No entanto, estas
medidas são insuficientes para resolver as dificuldades com que as PME se
confrontam no acesso ao financiamento. Deverão ser ponderadas novas medidas,
nomeadamente: ·
Desenvolver o capital de risco. O setor do capital de risco sofre de falta de recursos e é
influenciado pela regulamentação prudencial dos setores bancário e segurador.
Os fundos de fundos poderiam ser instrumentos eficazes para aumentar o volume
do capital de risco. Um fundo de garantia para os investidores institucionais
poderia reduzir mais ainda os condicionalismos neste mercado; ·
Desenvolver mercados e redes dedicados às PME. Os fundos de capital de risco estão também dependentes do surgimento
de bolsas de valores orientadas para as PME que funcionem corretamente e que
consigam transformar os seus investimentos em ofertas públicas iniciais. As
medidas a adotar poderiam incluir a criação de uma abordagem distinta para as
PME, indo mais longe do que a Diretiva MiFID II, bem como o desenvolvimento de
regras contabilísticas específicas para as PME cotadas e para as novas
plataformas de negociação. A existência de mercados especificamente orientados
para as PME poderia contribuir para aumentar a sua visibilidade, atrair novos
investidores e apoiar o desenvolvimento de novos instrumentos de titularização
para as PME; A criação de enquadramentos para as redes empresariais poderia
facilitar a combinação dos meios, a partilha de riscos, a mutualização e a
diversificação das PME, melhorando assim as suas condições de acesso ao
financiamento; ·
Desenvolvimento de novos instrumentos de
titularização para as PME. A Comissão já criou um
instrumento de titularização para as PME e propôs a continuação do apoio à
titularização através do programa COSME. Por outro lado, e de acordo com os
critérios da UE para os investimentos industriais de interesse europeu em PME,
certas linhas de crédito estruturado poderão vir a ser objeto de um sistema de
rótulo europeu. Tendo em conta as grandes diferenças entre os setores
industriais e os ciclos de investimento, estes instrumentos devem ser
diferenciados; ·
O desenvolvimento de normas em matéria de
avaliação do risco de crédito das PME poderia ajudar a resolver o problema
da falta de informação fidedigna sobre essas empresas e as dificuldades
associadas ao facto de os potenciais investidores terem dificuldade em avaliar
a sua solvabilidade. O desenvolvimento de normas mínimas comuns de qualidade
sobre a avaliação externa das empresas de média capitalização e as PME poderia
facilitar ainda mais o seu acesso ao financiamento, nomeadamente
transfronteiras, e aprofundar a integração do mercado; e ·
Desenvolvimento ou promoção de outras fontes de
financiamento «não tradicionais», como a locação
financeira; financiamento da cadeia de abastecimento; fontes de financiamento
baseadas na Internet, como o financiamento coletivo, etc. Será necessário
continuar a refletir sobre as formas de assegurar que esses mercados se
desenvolvam numa base sustentável e recebam um apoio adequado no âmbito
regulamentar. Perguntas: 26) Que medidas adicionais poderiam ser previstas, em termos de reforma da regulamentação da UE ou outras, para facilitar o acesso das PME a fontes de financiamento alternativas? 27) De que forma poderão ser concebidos instrumentos de titularização para as PME? Quais serão as melhores formas de utilizar a titularização para mobilizar os intermediários financeiros no sentido de assegurar empréstimos/investimentos adicionais para as PME? 28) Seria oportuno criar uma abordagem totalmente separada e distinta para os mercados dedicados às PME? Como e quem poderia desenvolver um mercado dedicado às PME, nomeadamente com produtos titularizados especificamente concebidos em função das necessidades de financiamento das PME? 29) Um enquadramento regulamentar da UE seria vantajoso ou prejudicial para o desenvolvimento destas fontes alternativas de financiamento não-bancário para as PME? Que reformas seriam úteis para ajudar a manter a sua tendência de crescimento? Pergunta: 30) Para além da análise e das potenciais medidas contidas no presente Livro Verde, que outras ações poderiam contribuir para o financiamento a longo prazo da economia europeia? 4. Próximas etapas Com
base nos resultados desta consulta, a Comissão irá considerar a oportunidade
das ações a prosseguir. As respostas recebidas estarão disponíveis no sítio Web
da Comissão, salvo quando seja especificamente solicitada confidencialidade, e
a Comissão publicará uma síntese dos resultados da consulta. As partes interessadas
são convidadas a enviar os seus comentários, até 25 de junho de 2013, para o
seguinte endereço de correio eletrónico:
markt-consultation-long-term-financing@ec.europa.eu [1] Ver http://ec.europa.eu/europe2020/index_pt.htm. [2] Ver
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2012:0582:FIN:PT:PDF [3] Ver
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2010:0546:FIN:PT:PDF [4] Ver
http://ec.europa.eu/bepa/pdf/cef_brochure.pdf [5] A Comunicação da Comissão
intitulada «Investimento social a favor do crescimento e da coesão» (COM(2013)
83) salienta a necessidade de que os Estados-Membros aumentem o recurso a
abordagens de financiamento mais inovadoras no setor social, nomeadamente
mediante a participação do setor privado. [6] Ver
http://www.g20.org/news/20130216/781212902.html [7] Ver McKinsey Global Institute
(2012). [8] Com base num inquérito à
evolução da caixa e equivalentes de caixa em 170 grandes empresas europeias
exteriores ao setor financeiro notadas pela Fitch. [9] Ver McKinsey Global Institute
(2011). [10] Estas características incluem as
características do investidor, a natureza do ativo, o tipo de intermediação
financeira e a avaliação e determinação do preço dos ativos. Para mais pormenores, ver o documento de trabalho
dos serviços da Comissão que acompanha o presente Livro Verde. [11] Por exemplo, o inquérito do BCE
sobre o crédito bancário, de outubro de 2012, indicou que o reforço das normas
aplicáveis à concessão de crédito pelos bancos da zona euro no que respeita aos
empréstimos e linhas de crédito a empresas atingiu 15% em termos líquidos, em
comparação com 10% no segundo trimestre de 2012. Do mesmo modo, o volume de novos empréstimos a longo prazo diminuiu
acentuadamente no primeiro semestre de 2012 e o volume que representam tem
vindo a revelar uma tendência significativa e rapidamente decrescente. [12] Ver
http://ec.europa.eu/internal_market/bank/regcapital/new_proposals_en.htm. [13] Os «produtos de transição» são
instrumentos que podem atenuar a aversão ao risco por parte dos investidores ou
das instituições financeiras. Podem
incluir, por exemplo, instrumentos de melhoria do risco de crédito como a
cobertura das primeiras perdas ou fundos de financiamento intercalar
(mezzanine) ou linhas de crédito
especializadas na fase de lançamento de novos projetos ou em projetos de
demonstração em grande escala, com financiamento do setor público a par do
setor privado. [14] Por exemplo, através do Long-Term
Investors Club, ver http://www.ltic.org/. [15] Participações e capital de risco,
garantias ou outros instrumentos de partilha dos riscos apoiados pelo orçamento
central ou pelo orçamento dos Fundos Estruturais da UE. Para mais pormenores, ver a Comunicação da Comissão intitulada «Um
quadro para a próxima geração de instrumentos financeiros inovadores -
plataformas dos instrumentos de capital e de dívida da UE» (COM(2011) 662). [16] Por exemplo, a iniciativa Project
Bond e os instrumentos que permitem utilizar recursos dos Fundos Estruturais e
dos Fundos de Investimento para financiamento da dívida, de instrumentos
intercalares do tipo mezzanine ou de capitais próprios para as PME, municípios
e projetos de infraestruturas. Em
2011, a Comissão propôs um pacote relativo às infraestruturas, composto por um
novo instrumento orçamental, o Mecanismo Interligar a Europa, bem como
orientações revistas para os transportes, a energia e as TIC e ainda um
Programa para a Competitividade das Empresas e PME (COSME). A Comissão e o BEI criaram duas linhas de
crédito para financiar a partilha de riscos, nomeadamente o Mecanismo de
Financiamento da Partilha de Riscos (MFPR), destinado às empresas com atividade
intensiva de investigação e às empresas inovadoras, e o Instrumento de Garantia
de Empréstimos para as RTE-Transportes (LGTT), destinado a projetos de
transportes. Ao abrigo dos Fundos
Estruturais para o período 2007-2013, pelo menos €10 700 milhões de € foram
investidos até à data pela UE em instrumentos de engenharia financeira,
principalmente pelo FEDER e com vista a assegurar o acesso das PME ao
financiamento. Esses fundos serão
reinvestidos a longo prazo em benefício da economia europeia. [17] Ver Fitch 2011 e EFAMA (2012). [18] Ver
http://ec.europa.eu/internal_market/insurance/solvency/future/index_en.htm. [19] Ver
http://ec.europa.eu/internal_market/pensions/directive/index_en.htm. [20] Os exemplos incluem o sistema a
proposta Pension Infrastructure Platform, no Reino Unido, e as ideias para um
fundo comum de investimento em participações privadas e infraestruturas que
reunirá alguns fundos de pensões numa base regional. [21] Foi criada, por exemplo, uma mesa
redonda para discutir as finanças com vista a identificar oportunidades para o
desenvolvimento de instrumentos financeiros inovadores em apoio da eficiência
na utilização dos recursos. [22] Ver http://ec.europa.eu/internal_market/smact/index_pt.htm. [23] Por exemplo, o valor agregado dos
títulos de dívida emitidos por sociedades não-financeiras da área do euro
ascendia, em julho de 2012, a 940 000 milhões de €, contra cerca de 652
000 milhões de € no início de 2008 (Fonte: ECB). [24] Ver
http://ec.europa.eu/internal_market/securities/isd/mifid_en.htm. [25] As obrigações cobertas são títulos
garantidos por pacotes de hipotecas que permanecem no balanço do emitente, por
oposição aos títulos garantidos por créditos hipotecários, em que os ativos são
retirados do balanço. [26] As obrigações para financiamento
de projetos são emissões de dívida privada por uma empresa de projetos
especificamente destinadas a financiar um determinado projeto com meios
extrapatrimoniais. [27] A análise poderá incluir: a) a normalização e rotulagem das obrigações para
financiamento de projetos emitidas por empresas de projeto da UE; b) a eventual necessidade de um quadro
regulamentar específico; e c) a
análise da necessidade e mérito de um esforço no sentido da criação de um
mercado de obrigações para o financiamento de projetos (p. ex.: através de uma
plataforma de negociação). Do mesmo
modo, as obrigações para o financiamento de projetos poderiam ser alargadas por
forma a incluir também «obrigações verdes» (green bonds) e obrigações
especificamente dedicadas ao financiamento de projetos de demonstração
(demonstration project bonds), nomeadamente para a realização de projetos de
demonstração industrial de caráter inovador à escala comercial. [28] P. ex.: Livret A, em França; Libretti Postali, em Itália;
Bausparvertrag (poupança contratualizada para aquisição de
habitação), na Alemanha. [29] Ver
http://ec.europa.eu/internal_market/investment/ucits_directive_en.htm e
http://ec.europa.eu/internal_market/investment/alternative_investments_en.htm. [30] Ver
http://ec.europa.eu/internal_market/company/docs/modern/121212_company-law-corporate-governance-action-plan_en.pdf. [31] Ver
http://ec.europa.eu/internal_market/securities/docs/transparency/modifying-proposal/20111025-provisional-proposal_pt.pdf. [32] Ver
http://ec.europa.eu/internal_market/securities/agencies/index_en.htm. [33] Ver
http://ec.europa.eu/enterprise/policies/finance/index_pt.htm. [34] Ver http://ec.europa.eu/internal_market/securities/prospectus/index_en.htm.