COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU, AO CONSELHO, AO COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU E AO COMITÉ DAS REGIÕES Energia azul Materializar o potencial da energia oceânica nos mares e oceanos da Europa no horizonte de 2020 e mais além /* COM/2014/08 final */
COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO
EUROPEU, AO CONSELHO, AO COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU E AO COMITÉ DAS
REGIÕES Energia azul Materializar o potencial da energia
oceânica
nos mares e oceanos da Europa no horizonte de 2020 e mais além 1. Contribuição para os
objetivos nas áreas do emprego, da inovação, do clima e da energia Aos mares e oceanos não falta potencial para
se tornarem fontes importantes de energia ecológica. As fontes marinhas
renováveis de energia, designadamente o vento do largo e o próprio oceano[1], oferecem à UE
oportunidades de fomentar o crescimento económico e criar emprego, reforçar a
segurança do seu abastecimento energético e impulsionar a competitividade com a
inovação tecnológica. À luz da comunicação de 2008 sobre a energia eólica marítima[2], a presente comunicação
analisa o potencial de contribuição da energia oceânica para os objetivos da
Estratégia Europa 2020[3]
e para as metas de longo prazo de redução das emissões de gases com efeito de
estufa na UE. Procura também olhar para o futuro desta promissora tecnologia,
delineando um plano de ação para o aproveitamento das suas potencialidades. O conhecimento e a exploração sustentável do
potencial económico dos mares e oceanos que banham a Europa é um elemento
fundamental da política marítima da UE[4].
Na comunicação da Comissão sobre o crescimento azul[5], recentemente
publicada, a energia oceânica integra as cinco áreas de desenvolvimento da
«economia azul» que poderão criar emprego nas zonas costeiras. A importância da
energia oceânica é igualmente reconhecida noutros documentos políticos da
Comissão, como a comunicação sobre as tecnologias e inovações energéticas[6] e o plano de ação para
a região atlântica[7],
os quais propugnam o seu desenvolvimento apostando na I&D em colaboração e na
cooperação transnacional. A investigação e as consultas efetuadas no
âmbito do estudo de impacto que acompanha a presente comunicação revelam que o
reforço do apoio a este setor emergente poderá trazer à UE importantes
benefícios económicos e ambientais. O estudo destaca particularmente os
seguintes aspetos: ·
Os recursos mundiais de energia oceânica excedem as
nossas necessidades energéticas atuais e mesmo as futuras, de acordo com as
previsões. Na UE, é o litoral atlântico que oferece as maiores potencialidades
de exploração desta fonte de energia, mas há também possibilidades nas bacias
do Mediterrâneo e do Báltico e nas regiões ultraperiféricas. A exploração deste
recurso autóctone atenuaria a dependência dos combustíveis fósseis para
a produção de eletricidade e reforçaria a segurança energética na UE. Particularmente
beneficiadas seriam as nações e regiões insulares, onde a energia oceânica pode
contribuir para a autossuficiência energética e substituir a eletricidade
dispendiosamente produzida por motogeradores diesel. ·
A energia oceânica poderá tornar-se um setor
importante da economia azul, impulsionando o crescimento económico nas
regiões costeiras e também no interior. Com a expansão do setor, poderão
desenvolver-se cadeias de abastecimento pan‑europeias, envolvendo
PME inovadoras e grandes empresas transformadoras com competências inter
alia na construção naval, na engenharia mecânica, eletrotécnica ou marítima
ou nos estudos de impacto ambiental e na gestão da higiene e segurança. Seria
também de esperar o aumento da procura de navios especializados, cuja
construção se faria provavelmente em estaleiros europeus. ·
A posição da indústria europeia no mercado
mundial da energia oceânica é forte. Evidencia-o o facto de ser na Europa
que se encontra a maior parte dos conceptores de tecnologias, embora seja
previsível que cresça a concorrência exercida pela China, o Canadá e outras
nações industrializadas. A Carbon Trust do Reino Unido estima que o mercado
mundial da energia ondomotriz e maremotriz poderá chegar a um valor de 535 000
milhões de euros entre 2010 e 2050[8].
Criar as condições para que o setor possa prosperar desde já capacitaria a UE
para ganhar futuramente uma parcela substancial desse mercado. A inovação
assente na I&D pode abrir à UE oportunidades de exportação,
tanto de tecnologias como de saber. É essencial, portanto, assegurar que a UE
será capaz de conservar a sua liderança industrial à escala mundial. ·
A energia oceânica pode criar emprego de alta
qualidade, na conceção e execução de projetos, na construção de componentes
e na exploração propriamente dita. As estimativas apresentadas no estudo de
impacto indicam que se poderão criar, até 2035, 10 500 a 26 500 postos
de trabalho permanentes e 14 000 postos temporários. Outras fontes, mais otimistas,
apontam para 20 000 (até 2035) só no Reino Unido[9] e para 18 000 em
França (até 2010)[10].
As regiões costeiras atlânticas, atualmente com taxas de desemprego elevadas,
absorverão parte importante destas oportunidades de emprego. ·
A passagem a um nível superior na exploração da
energia oceânica serviria os objetivos de descarbonização traçados na
Europa. Explorar com eficiência e economia todas as fontes de energia
hipocarbónica será importante para a UE respeitar o compromisso de reduzir 80 a
95 % as suas emissões de gases com efeito de estufa no horizonte de 2050. ·
A produção obtida com a exploração da energia do
oceano é distinta da que se obtém a partir de outras fontes renováveis. A
energia oceânica poderia, assim, contrabalançar a produção das outras fontes
renováveis, como a eólica e a solar, contribuindo para assegurar um
fornecimento constante de eletricidade verde à rede. Seria, portanto, uma
valiosa componente do cabaz energético da UE. ·
As instalações de exploração da energia oceânica
encontram-se geralmente submersas, total ou parcialmente, pelo que o seu
impacto visual é diminuto. Com as oportunidades de expansão das instalações
terrestres de produção de energia a partir de fontes renováveis a diminuírem, o
espaço marinho representa uma possibilidade de solução do problema do impacto
visual e, logo, de resposta às reticências do público, potencialmente
inibidoras da expansão das renováveis em terra. 2. Panorama atual das
renováveis marinhas A situação atual da
exploração da energia oceânica é por vezes equiparada à fase inicial de
exploração da energia eólica ao largo, nos anos 80 e 90. Desde essa altura, o
setor da energia eólica, incluindo a produção ao largo, cresceu
exponencialmente, graças ao apoio de que beneficiou tanto ao nível dos Estados-Membros
como ao nível da UE. A capacidade de produção eólica ao largo registou em 2012
uma taxa de crescimento de 33 %, superior à da
produção eólica terrestre[11].
No final de 2012, a produção eólica ao largo contava
com 55 parques distribuídos por 10 países europeus, com uma capacidade
instalada de quase 5 GW, e podia assegurar 0,5 % do consumo total de
eletricidade na UE. Nos primeiros seis meses de 2013, entraram em
funcionamento ao largo 277 novas turbinas eólicas, totalizando 1 GW. Prevê-se
que a capacidade instalada chegue aos 43 GW em 2020, representando cerca
de 3 % do consumo total de eletricidade na UE.
Graças ao aperfeiçoamento das tecnologias e ao
reforço do apoio público ao seu desenvolvimento, a exploração da energia
oceânica poderá vir a desenvolver-se a uma escala equiparável à da eólica ao
largo. Este é um setor ainda incipiente, com tecnologias, designadamente a
ondomotriz e a maremotriz cinética, relativamente mais desenvolvidas que
outras. A capacidade instalada destes dois modos de produção na UE é atualmente
de 10 MW[12],
ou seja, quase o triplo dos 3,5 MW de há quatro anos. Estes projetos, em
execução no Reino Unido, Espanha, Suécia e Dinamarca, são essencialmente de
natureza pré‑comercial e o seu intuito é demonstrar a fiabilidade e capacidade
de sobrevivência das instalações. Aponta-se já, todavia, para um crescimento
gigantesco, em resultado dos projetos em estudo (predominantemente no Reino
Unido, França e Irlanda) totalizando cerca de 2 GW. Se todos estes
projetos se concretizarem, a eletricidade produzida poderá abastecer mais de 1 500 000
agregados familiares. Outro conceito promissor é o da produção
eólica ao largo com turbinas flutuantes. Na costa atlântica, o afundamento do
leito marinho encarece demasiado a instalação de turbinas com fundações fixas.
Nestas águas, a solução mais económica e eficiente consistiria na instalação
das turbinas em plataformas flutuantes, ancoradas ao leito. Dois projetos de
demonstração desta tecnologia estão em curso, em Portugal e na Noruega. Nas regiões
ultraperiféricas localizadas nos trópicos, onde a diferença de temperatura das
águas superficiais e profundas é mais elevada, tem alto potencial a tecnologia
OTEC (conversão da energia térmica oceânica). A sua utilização local poderá dar
resposta às necessidades de água potável, climatização e eletricidade. Estão em
curso estudos de viabilidade na Martinica e na Reunião. Embora os resultados da exploração da energia
oceânica sejam modestos quando comparados com os da produção eólica ao largo, o
interesse comercial do setor está a aumentar, como evidencia o envolvimento
crescente de grandes fabricantes de equipamento e companhias de distribuição de
eletricidade. A recente publicação do «Vision Paper» é mais um sinal da
capacidade acrescida do setor para identificar as suas necessidades e
condicionantes e delinear soluções para lhes dar resposta. Os investimentos
privados nos últimos sete anos excedem 600 000 000 EUR e é de esperar
que venham a atingir valores superiores se as condições forem favoráveis à
expansão do setor. 3. Apoios disponíveis O crescimento dos setores da energia eólica e
solar nos últimos anos demonstra claramente que um esforço concertado para
estabelecer políticas de enquadramento e condições de financiamento adequadas
pode gerar os incentivos de que a indústria necessita para apresentar
resultados. Ao nível nacional, os Estados-Membros têm procurado fomentar o
investimento nas tecnologias das renováveis, através de regimes de apoio aos
rendimentos, subvenções em capital e financiamentos à investigação, mas só
alguns têm regimes de apoio específicos para a energia oceânica. Ao nível da UE, tomou-se um conjunto de
disposições para favorecer as fontes de energia renováveis, constituindo a
Diretiva «Renováveis» e o RCLE (regime de comércio de licenças de emissão) o
necessário enquadramento regulamentar. Desde 2008, o Plano SET (Plano
Estratégico Europeu para as Tecnologias Energéticas)[13] tem sido fundamental
para acelerar o desenvolvimento e a implantação de tecnologias energéticas
hipocarbónicas. O regulamento relativo às orientações para as infraestruturas
energéticas transeuropeias[14]
procura responder ao desafio colocado pelas infraestruturas, estabelecendo como
prioridade a criação de uma rede integrada offshore de eletricidade.
Define igualmente um processo de identificação e monitorização dos projetos de
infraestruturas selecionados, os quais beneficiarão de tratamento preferencial,
designadamente procedimentos acelerados de licenciamento, e de apoio
financeiro. São escassos, todavia, os projetos consagrados a soluções de rede
em malha offshore. A UE também disponibilizou financiamentos para
medidas de promoção das tecnologias de exploração da energia oceânica.
Estabeleceu-se, por exemplo, no âmbito da Aliança Europeia de Investigação Energética
(EERA), um programa conjunto de promoção da energia oceânica. A nova rede de
programas de investigação nacionais e regionais criada no âmbito do Espaço
Europeu da Investigação, a ERA-net, vocacionada especificamente para a energia
oceânica, encoraja a participação dos Estados-Membros. Esta rede apoiará a
coordenação das atividades de investigação, promoverá uma maior participação
transnacional na investigação, identificará prioridades e criará escala na UE.
Na primeira ronda do programa NER-300, atribuiu-se um total de
60 000 000 EUR a três projetos na área da energia oceânica que irão
possibilitar a demonstração de matrizes de geradores a partir de 2016. Os
fundos estruturais apoiaram também alguns projetos. A promoção da energia
oceânica merece destaque na recente comunicação da Comissão que estabelece um plano
de ação para a região atlântica[15],
na qual se convidam as administrações nacionais e regionais a estudar o recurso
aos fundos estruturais e de investimento da UE, bem como aos fundos consagrados
à investigação ou aos empréstimos do Banco Europeu de Investimento, para
financiar o desenvolvimento do setor. A UE financiou igualmente vários projetos no
âmbito dos programas-quadro de investigação e do programa «Energia Inteligente
para a Europa», com um total de 90 000 000 EUR desde os anos 80. O
novo programa de investigação e inovação da UE, Horizonte 2020, debruça-se
sobre desafios societais importantes, como a energia verde e a investigação
marinha. Constitui, portanto, um poderoso instrumento, a explorar para pôr o
setor da energia oceânica na via da industrialização e lhe permitir, assim,
criar emprego e favorecer o crescimento económico. 4. Desafios a vencer Alguns dos desafios que se
colocam à exploração da energia oceânica assemelham-se aos enfrentados pela
produção eólica ao largo. Prendem-se, nomeadamente, com os problemas da ligação
à rede elétrica, da cadeia de abastecimento e do funcionamento e manutenção em
condições ambientais duras. A exploração da energia oceânica encontra-se, todavia,
numa fase decisiva. Passar da demonstração de protótipos à exploração comercial
nunca foi fácil tratando-se de tecnologias emergentes. No clima económico
vigente, é particularmente difícil. Tal como as outras
renováveis, a energia oceânica contará com um enquadramento político claro,
estável e incentivador, para poder atrair investimento e se alçar ao seu
potencial. Tendo por base os resultados da consulta às partes interessadas e do
estudo de impacto, a Comissão identificou um conjunto de problemas que é
necessário atacar no curto e médio prazo para que o setor ganhe escala e possa
competir ao nível dos preços com outros modos de produção de eletricidade. ·
Os custos tecnológicos são elevados e o
acesso a financiamento difícil. Na sua maior parte, as tecnologias existentes
não demonstraram ainda a sua viabilidade e capacidade de sobrevivência no meio
marinho. O custo da eletricidade produzida é, portanto, ainda elevado, mas
tenderá a diminuir à medida que as tecnologias forem progredindo na «escola da aprendizagem».
A demonstração das instalações no mar é dispendiosa e arriscada e às PME faltam
muitas vezes os recursos necessários para desenvolverem os seus protótipos. A diversidade
de tecnologias em ensaio indica que a redução dos custos de capital leva
tempo. ·
Para absorver o volume futuro de produção elétrica
oceânica e transportar a eletricidade produzida para os centros de procura,
será necessário expandir e reforçar a infraestrutura da rede de transporte
de eletricidade, no mar, em terra e através das fronteiras. Embora as
orientações para a RTE-E[16]
recentemente adotadas possam trazer melhorias no futuro, a ligação à rede em
tempo útil continua a suscitar preocupação. Outros problemas relacionados com a
infraestrutura, designadamente as dificuldades de acesso a instalações
portuárias apropriadas e a falta de navios especializados para a
montagem e manutenção das instalações, terão igualmente de encontrar solução. ·
A complexidade dos procedimentos de licenciamento
e autorização pode atrasar os projetos e agravar os custos, e a incerteza
quanto à correta aplicação da legislação ambiental pode alongar os
procedimentos. Interessa, pois, integrar a energia oceânica nos planos nacionais
de ordenamento do espaço marítimo. ·
Ainda não se conhecem aprofundadamente todas as
incidências das instalações de exploração da energia oceânica no meio ambiente.
Para se compreenderem e minimizarem os efeitos adversos que estas instalações
poderão ter nos ecossistemas marinhos, será necessário intensificar a
investigação do impacto ambiental e melhorar o intercâmbio de dados
neste domínio. Necessário será também avaliar a sua acumulação com o impacto de
outras atividades humanas, no contexto da obtenção do bom estado ambiental,
preconizado pela Diretiva-Quadro «Estratégia Marinha», e do bom estado
ecológico, preconizado pela Diretiva-Quadro «Água». A integração da
energia oceânica nos planos nacionais de ordenamento do espaço marítimo
é igualmente importante no contexto da segurança marítima. ·
Vivendo-se um clima económico difícil, vários
governos diminuíram substancialmente o subvencionamento e o apoio aos
rendimentos das renováveis, em alguns casos introduzindo mesmo alterações
retroativas a estes regimes. Estas situações podem erodir a confiança dos
investidores e comprometer o desenvolvimento do setor. A falta de um apoio
financeiro estável, reflexo da posição das tecnologias no ciclo do seu
desenvolvimento, pode prolongar o tempo necessário para que os projetos ganhem
rendibilidade. 5. Plano de ação em prol da
energia oceânica Vencer estes desafios será a chave para o
setor da energia oceânica se desenvolver futuramente e ser capaz de fornecer à
Europa um grande volume de eletricidade com baixa componente carbónica.
Instrumentos como o programa conjunto da EERA, a ERA-net e o Horizonte 2020 possibilitarão
que se materializem os benefícios da cooperação pan-europeia na investigação e
desenvolvimento, em particular ajudando a resolver os problemas técnicos
remanescentes. Para as tecnologias pré-comerciais de exploração da energia oceânica
é essencial, todavia, um enquadramento de apoio estável e de baixo risco,
que assegura a credibilidade dos projetos aos olhos dos financiadores
potenciais e permite, assim, o crescimento da capacidade instalada. A Comissão
emitiu recentemente orientações sobre as melhores práticas para os regimes de
apoio à produção de energia de fontes renováveis[17]. Além de acentuarem a
necessidade de se dar maior peso ao princípio da economia e eficiência, estas
orientações indicam que os regimes de apoio deverão servir para promover a
inovação tecnológica. Abrem assim caminho a projetos de primeira utilização à
escala comercial, reconhecendo implicitamente a necessidade de um enquadramento
de apoio dirigido às tecnologias, designadamente as de exploração da energia
oceânica. São necessárias, no entanto, medidas
específicas ao nível da UE que complementem estas iniciativas e as tomadas ao
nível nacional para superar os condicionalismos ao desenvolvimento da
exploração da energia oceânica. A presente comunicação estabelece, assim, um
plano de ação em duas fases, para ajudar este promissor setor industrial a
materializar o seu potencial, assente em larga medida nos trabalhos e projetos
em curso, designadamente ORECCA, SI OCEAN e SOWFIA. À luz do estudo de
impacto, identificaram-se várias medidas com boa relação custo-benefício,
algumas das quais foram concebidas como «chamamento à ação» inicial, a
complementar ulteriormente com medidas adicionais, se necessário. A vantagem
desta estratégia a dois tempos é que possibilita a acumulação de uma massa
crítica de protagonistas e a construção coletiva de soluções para os problemas
em jogo, forjando-se assim entre as partes envolvidas um sentimento de posse
partilhada. 5.1. Primeira fase (2014 – 2016) i. Fórum da
Energia Oceânica Criar-se-á o Fórum da Energia Oceânica,
organizado em grupos de trabalho em que as partes interessadas poderão chegar a
um entendimento comum dos problemas e desenhar coletivamente soluções
exequíveis. Congregando um leque vasto de participantes, o fórum terá um papel
determinante na criação de capacidade e massa crítica e no reforço da
cooperação. Irá também explorar as sinergias com outros setores da economia
marinha, particularmente o da produção eólica ao largo, em aspetos como as
cadeias de abastecimento, a ligação à rede elétrica, o funcionamento e a
manutenção das instalações, a logística e o ordenamento espacial. Consoante as
questões em debate, poderão ser convidados a participar representantes de
outros setores. À Comissão caberá um papel de facilitação e coordenação. Os
trabalhos do fórum articular-se-ão em torno de três vertentes: a) Tecnologias e recursos A exploração comercial da energia oceânica passa
pelo aperfeiçoamento das tecnologias e por melhoramentos nas infraestruturas de
ligação à rede elétrica e outras infraestruturas offshore para a cadeia
de abastecimento. É essencial reduzir os custos e melhorar a
fiabilidade, a capacidade de sobrevivência, a operabilidade e a estabilidade
das instalações de exploração da energia oceânica[18]. Já há consenso quanto
às áreas prioritárias em que deverá incidir a investigação tecnológica, por
exemplo a conceção de sistemas de amarração mais sofisticados ou de novos
materiais. Poder-se-á igualmente identificar as possibilidades concretas de
colaboração para promover a utilização mais eficiente dos recursos e facilitar
a convergência tecnológica. Será estabelecido um calendário, com as metas
tecnológicas essenciais. Esta vertente compreenderá a avaliação detalhada
dos recursos energéticos oceânicos e de infraestruturas como portos e navios,
cujo melhoramento ajudaria a otimizar a gestão das instalações de exploração da
energia oceânica, e portanto a reduzir os custos. Um dos seus objetivos será também promover novos
avanços na integração, no sistema de energia, da eletricidade de fontes
renováveis produzida no mar. O setor terá a oportunidade de dar a conhecer as
suas necessidades, designadamente de I&D das tecnologias de rede elétrica,
e outras áreas poderão ser exploradas, como as metodologias de previsão da produção
e as tecnologias de armazenamento. Os resultados serão depois transmitidos às
partes interessadas, como as entidades reguladoras e os operadores das redes de
transporte de eletricidade, e a outras instâncias interessadas, como a North
Seas Countries’ Offshore Grid Initiative. b) Questões administrativas e de financiamento As questões identificadas como mais urgentes são o
longo intervalo de tempo que separa o projeto da concretização, decorrente da
morosidade dos processos de licenciamento, e a dificuldade do acesso a
financiamento. Esta vertente
centrar-se-á na análise dos procedimentos administrativos aplicáveis nos
Estados‑Membros às instalações de exploração da energia oceânica, bem
como dos efeitos potenciais destas instalações na navegação marítima. Estas
questões administrativas e de segurança terão de ser estudadas conjuntamente
pelas autoridades dos Estados-Membros e pelo setor neste grupo de trabalho,
para se chegar a um entendimento comum dos problemas e da forma de os resolver.
Os dados e informações recolhidos por ocasião dos debates servirão para
compilar um catálogo das melhores práticas, complementado com estudos de casos.
Analisar-se-á igualmente a questão do
financiamento. Vistas a novidade e a complexidade das tecnologias de exploração
da energia oceânica, os investidores não estarão necessariamente alerta para as
oportunidades que esta atividade oferece. Neste grupo de trabalho participarão
autoridades nacionais, bancos de desenvolvimento, financiadores privados e
promotores de projetos, que debaterão as melhores formas de mobilizar o
investimento necessário. Avaliar-se-á também a adequação dos vários mecanismos
de partilha dos riscos, como os empréstimos bonificados, o coinvestimento e as
garantias públicas. As oportunidades de financiamento a título dos programas de
investigação e inovação da UE, designadamente o Horizonte 2020, do programa NER300
e do programa do BEI de financiamento das renováveis serão objeto de atenção
especial. c) Ambiente Os estudos de impacto ambiental são essenciais
para que este setor emergente se possa desenvolver de forma sustentável. Para
os promotores dos projetos, a recolha de dados do meio ambiente representa,
todavia, um encargo desproporcionado, à luz da dimensão individual dos projetos.
A vertente «ambiente» incentivará a colaboração na monitorização das
incidências ambientais das instalações de exploração da energia oceânica,
existentes e planeadas, e no estudo de meios inovadores de atenuar o seu
impacto no meio marinho. Os dados relativos às incidências ambientais e à
monitorização terão de ser sistematicamente comunicados às autoridades
nacionais, para os fins das Diretivas-Quadro «Estratégia Marinha» e «Água». Há já todo um arsenal de legislação da UE nos
domínios da conservação da natureza, da avaliação do impacto ambiental e das
fontes de energia renováveis, a que se soma a proposta de diretiva relativa ao
ordenamento do espaço marítimo (OEM), apresentada pela Comissão. Não obstante,
importará avaliar, no âmbito desta vertente, a necessidade de diretrizes de
aplicação setoriais, a exemplo das já formuladas para a energia eólica, em complemento
das Diretivas «Habitats» e «Aves», do artigo 13.º da Diretiva
«Renováveis» e da eventual futura Diretiva OEM. ii. Roteiro estratégico da
energia oceânica Os resultados dos trabalhos do Fórum da
Energia Oceânica servirão para se elaborar um roteiro estratégico, que
estabelecerá objetivos precisos para a industrialização do setor e o respetivo
calendário de realização. O roteiro definirá prioridades tecnológicas, à luz
dos princípios e linhas de evolução essenciais anunciados pela Comissão na
comunicação «Tecnologias e inovação energéticas»[19], e contribuirá para o
«roteiro integrado»[20],
do qual fará parte. Na sua elaboração, que seguirá uma metodologia estruturada
e participativa, conforme se indica atrás, colaborarão as empresas do setor da
energia oceânica, os Estados‑Membros, as autoridades regionais
interessadas, ONG e outras partes interessadas. O roteiro congregará dados de
todos os domínios relevantes para o desenvolvimento do setor e constituirá um
programa acordado de promoção da industrialização do setor. 5.2. Segunda fase (2017 – 2020) iii. Iniciativa Industrial Europeia Com base nos resultados do Fórum da Energia
Oceânica poderá lançar-se uma Iniciativa Industrial Europeia (IIE), à
semelhança das já lançadas no âmbito do Plano SET. As IIE são parcerias
público-privadas em que participam empresas, investigadores, Estados‑Membros
e a Comissão e cuja finalidade é traçar objetivos comuns concretos e
realizá-los num horizonte temporal definido. Estas parcerias podem aumentar a
eficácia da I&D para a inovação e servir de plataforma para a partilha do
risco do investimento. A iniciativa europeia para a energia eólica, por
exemplo, já deu várias pistas para a I&D neste domínio na UE, além de
promover uma melhor canalização dos fundos públicos europeus e nacionais para
as prioridades identificadas. Para que a IIE seja viável, é preciso,
contudo, que os parceiros industriais já tenham uma estratégia clara para o
desenvolvimento do setor e estejam bem organizados, para poderem concretizar os
objetivos definidos. A iniciativa partiria de um processo coletivo, com a
participação da Comissão, dos Estados-Membros e de organizações do mundo
empresarial e da investigação. A forma concreta da cooperação terá de ser
definida ulteriormente, uma vez que a orgânica do Plano SET poderá vir a ser
alterada, conforme anunciado na comunicação sobre as tecnologias e a inovação[21]. Encontrando-se as tecnologias de exploração da
energia oceânica numa fase ainda incipiente, o estabelecimento de parcerias
público-privadas a grande escala poderá ser um meio eficaz de partilhar os
riscos e mobilizar investimento privado. Como indica o estudo de impacto, uma
IIE ou outra forma apropriada de parceria público-privada poderá ser um
importante trampolim para a passagem à escala industrial, contribuindo para
formalizar a cooperação entre as partes interessadas, facilitar o acesso ao
financiamento e implementar o roteiro estratégico anunciado na presente
comunicação. iv. Diretrizes setoriais para a aplicação
da legislação vigente À luz da experiência ganha nas vertentes
«questões administrativas e de financiamento» e «ambiente», poderão elaborar-se
diretrizes atinentes a racionalizar e facilitar a aplicação das Diretivas «Habitats»
e «Aves» e do artigo 13.º da Diretiva «Renováveis» e orientar o processo de
ordenamento do espaço marítimo. Seria seu intuito reduzir a incerteza, dando
orientações mais claras e concretas para o licenciamento de projetos e
aligeirando, assim, o ónus suportado pelos poderes públicos e pelos promotores
dos projetos. 6. Avaliar os progressos Uma vez iniciadas e em bom andamento as ações
atrás delineadas, será importante avaliar os progressos do setor da energia oceânica
na exploração do potencial desta fonte energética estratégica. Essa avaliação
poderá fazer-se, por exemplo, através de parâmetros como o nível de capacidade
instalada e de produção de eletricidade, o número de projetos em execução e
planeados, a escala do investimento, o nível de redução dos custos de capital e
o número de empresas que colaboram nos projetos. Igualmente importante será
avaliar a contribuição do setor para os objetivos mais vastos da UE nos
domínios do emprego, do crescimento e do desenvolvimento sustentável. A Comissão fará uma primeira avaliação em 2017
e uma avaliação completa em 2020, o mais tardar. O processo de avaliação
atenderá à evolução da política geral da UE em prol do desenvolvimento da
produção de energia a partir de fontes renováveis e das tecnologias energéticas.
7. Conclusão Numa altura em que a UE estuda a sua política
energética e climática no horizonte além-2020, é oportuno explorar todas as
opções, num esforço coletivo e sustentado para atenuar os efeitos das alterações
climáticas e diversificar o leque de fontes de energia renováveis na Europa.
O apoio à inovação no domínio das tecnologias energéticas hipocarbónicas
pode contribuir para a superação destes desafios. Nenhuma possibilidade poderá
ser deixada de lado. Para que a energia oceânica possa materializar o seu
potencial, é tempo de os Estados-Membros, o setor e a Comissão se empenharem
coletivamente no desenvolvimento da sua exploração. A presente comunicação
estabelece um plano de ação para o efeito, cuja realização no período 2014-2017
contribuirá para a industrialização do setor e, assim, para a sua capacidade de
produzir, com economia e eficiência, eletricidade com baixa componente
carbónica e proporcionar à economia da UE emprego e crescimento. Os objetivos
comuns são mais bem servidos com políticas coordenadas e inclusivas. Sendo hoje
um setor de dimensão relativamente pequena, a exploração da energia oceânica
poderá ganhar escala e ficar em posição de contribuir para o crescimento
económico e a criação de emprego na UE. Poderá igualmente contribuir para as
metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa na UE no horizonte
de 2050, se se criarem desde já as condições necessárias. Proporcionando-se a
este setor emergente o indispensável impulso político, com as medidas aqui
delineadas, ele será capaz de ganhar, no médio a longo prazo, a massa crítica
necessária para avançar para a escala comercial e se tornar outro caso de
sucesso da indústria europeia. 8. Anexo 1: Síntese das medidas
propostas Realizações || Calendário Fase 1 Criação do Fórum da Energia Oceânica, em que participarão as empresas do setor e outras partes interessadas · Vertente «Tecnologias e recursos» · Vertente «Questões administrativas e de financiamento» · Vertente «Ambiente» || 2014 - 2016 2014 - 2016 2014 - 2016 Projeto de roteiro estratégico || 2016 Fase 2 Lançamento eventual de uma Iniciativa Industrial Europeia || 2017 - 2020 Elaboração eventual de diretrizes para facilitar a aplicação da legislação vigente e orientar o ordenamento do espaço marítimo || 2017 - 2020 [1] A energia oceânica apresenta-se sob várias formas. A
energia das ondas (ondomotriz) depende da altura, velocidade e comprimento da
vaga e da densidade da água. A energia das correntes de maré é gerada pelo
fluxo da água em canais estreitos (energia maremotriz cinética), enquanto as
barragens de maré, em estuários ou baías represados, exploram a amplitude das
marés (energia maremotriz potencial). A diferença de temperatura da água
superficial e subsuperficial é outra fonte de energia oceânica, enquanto a
energia do gradiente salino depende da diferença de salinidade da água salgada
e doce. [2] COM(2008) 768 de 13.11.2008 [3] COM(2010) 2020 de 3.3.2010 [4] COM(2007) 575 de 10.10.2007 [5] COM(2012) 494 de 13.9.2012 [6] COM(2013) 253 de 2.5.2013 [7] COM(2013) 279 de 13.5.2013 [8] Carbon Trust (2011), Marine Renewables Green
Growth Paper [9] Renewable
UK (2013), Wave and Tidal Energy in the UK:
http://www.renewableuk.com/en/publications/reports.cfm/wave-and-tidal-energy-in-the-uk-2013 [10] Relatório
de 2012 do Senado francês sobre temas marítimos:
http://www.senat.fr/rap/r11-674/r11-6741.pdf [11] Associação Europeia da Energia Eólica (2013), Wind in
power: 2012 European statistics [12] A capacidade instalada atual sobe para 250 MW se se
entrar em linha de conta com a barragem de maré de La Rance, em funcionamento
desde 1966. Esta é uma tecnologia amadurecida, mas as possibilidades de
expandir a sua utilização são limitadas, dada a escassez de localizações
apropriadas e o forte impacto ambiental. [13] COM(2009) 519 de 7.10.2009 [14] Regulamento (UE) n.º 347/2013 de 25.4.2013 [15] COM(2013) 279 de 13.5.2013 [16] Regulamento (UE) n.º 347/2013 de 25.4.2013 [17] SWD (2013) 439 final, 5.11.2013 [18] Extraído do roteiro ORECCA (2012) [19] COM(2013) 253 [20] A medida de execução proposta na comunicação COM(2013)
253. [21] COM(2013) 253, 2.5.2013