COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO Análise Anual do Crescimento 2013 /* COM/2012/0750 final */
Introdução A economia da UE continua
a debater-se com o processo de correção na sequência da crise financeira. As tensões financeiras continuaram na área do euro, antes do verão,
enquanto a desaceleração da economia mundial reduziu a contribuição potencial
das exportações para a recuperação. Por conseguinte, as perspetivas a curto
prazo para a economia da União Europeia continuam frágeis, prevendo-se porém,
um regresso gradual ao crescimento em 2013 e uma nova consolidação em 2014.
Estas perspetivas complicam ainda mais o ajustamento que é, no entanto,
necessário em muitos Estados-Membros da UE. Em especial, as fracas perspetivas
de crescimento entravam o investimento, a criação de emprego e aceleram o
desemprego, uma vez que as margens que permitem o recurso à flexibilidade no
mercado de trabalho se encontram agora reduzidas. Os desafios que se colocam
à economia da UE continuam a ser incomensuráveis. Em
particular, algumas economias dos Estados-Membros continuam a enfrentar
importantes desalavancagens tanto no setor privado como público, o que reflete
a correção de desequilíbrios financeiros acumulados, ligados aos anteriores
níveis insustentáveis de despesa financiados pelo crédito, promovidos, em
alguns casos, por preços especulativos dos ativos no setor privado, ou pela
falta de rigor orçamental no setor público. Esta desalavancagem está agora a
pesar no crescimento, na medida em que as despesas são reduzidas e as receitas
canalizadas para o reembolso da dívida. Do lado positivo, há
sinais de que o ajustamento nas economias da UE progride. A situação do mercado financeiro melhorou depois do verão, graças à
progressiva implementação do programa de reformas, incluindo os progressos
realizados na arquitetura da UEM, e às importantes decisões políticas adotadas
na área do euro, nomeadamente pelo BCE. Os importantes esforços de reforma
envidados nos Estados-Membros vulneráveis também estão a dar os seus frutos: a
alavancagem retrocedeu nos setores públicos e privado e a competitividade
regista melhorias em países com graves problemas neste domínio, criando
condições para que o ajustamento avance. As exportações contribuem cada vez
mais para reduzir os elevados défices das balanças de transações correntes, o
que constitui um bom prenúncio do caráter duradouro da correção. As grandes
disparidades de crescimento entre os países da UE são também um reflexo do
ajustamento em curso: um crescimento temporariamente mais fraco ou negativo é
muitas vezes um reflexo de ajustamentos profundos, mas que abrem o caminho para
um crescimento e convergência mais sustentáveis, cujos efeitos deverão fazer-se
sentir já em 2014. O processo de
desalavancagem e de ajustamento é inevitável e a principal tarefa dos decisores
políticos é geri-lo e encontrar formas de atenuar as consequências sociais e
económicas a ele associadas. O ajustamento orçamental
tem de prosseguir seguindo uma estratégia de consolidação diferenciada e
favorável ao crescimento, tendo em conta os elevados níveis de endividamento e
os desafios de longo prazo para as finanças públicas.
No entanto, atendendo aos eventuais efeitos negativos da consolidação
orçamental sobre o crescimento a curto prazo, o processo tem de ser conduzido
de molde a favorecer o crescimento, ou seja: –
o ritmo da consolidação orçamental deve ser diferente
consoante os países, de acordo com a sua margem de manobra orçamental, a fim de
se obter o justo equilíbrio entre potenciais efeitos do crescimento negativo e
os riscos que ameaçam a sustentabilidade da dívida. O Pacto de Estabilidade e
Crescimento e o papel central do saldo orçamental estrutural constituem o
quadro adequado para determinar os diferentes ritmos do ajustamento; –
a consolidação deve incidir do lado das despesas,
contudo, importa estabelecer um conjunto de medidas, tanto do lado das receitas
como das despesas, que promovam o crescimento, dirigidas à proteção dos
principais pilares do crescimento, assegurando simultaneamente a eficiência da
despesa. Além disso, se a consolidação
estiver assente num quadro orçamental de médio prazo credível e for acompanhada
de reformas destinadas a encontrar uma solução para a problemática da
sustentabilidade a longo prazo decorrente do envelhecimento da população, a sua
credibilidade e os seus efeitos positivos são reforçados. A desalavancagem ordenada
do setor privado exige um setor financeiro sólido e eficaz. Por conseguinte, as medidas de recuperação financeira e a
reestruturação têm de ir em frente, nomeadamente no setor bancário, tendo em
conta o seu importante papel na economia da UE, devendo igualmente ser promovidas
novas fontes de financiamento. O estabelecimento de um quadro político micro e
macroprudencial coerente é fundamental para restabelecer a confiança na
estabilidade do setor bancário, fomentar um fluxo sustentável de capitais para
atividades produtivas e assegurar um financiamento estável da economia. São necessárias reformas
estruturais com vista a facilitar o ajustamento e a melhorar as condições de
enquadramento do crescimento. As reformas estruturais,
que melhoram a competitividade, a adaptabilidade salarial e a flexibilidade dos
preços, são fundamentais para intensificar a capacidade de ajustamento e
estimular a transferência de recursos de setores em declínio para outros em
expansão. As reformas a favor da criação de emprego, o investimento em
inovação, competências e crescimento inclusivo são determinantes para lutar
contra o risco de histerese e atenuar o impacto negativo da crise sobre as
condições sociais. Para se alcançar um crescimento sustentado, é importante uma
distribuição equitativa do esforço de ajustamento por toda a sociedade.
Contudo, é indispensável um conjunto de políticas coerentes que inclua,
simultaneamente, políticas macrofinanceiras e estruturais, para assegurar o
regresso ao crescimento. Por conseguinte, é necessária uma ação política
determinada em todas estas frentes para contrariar a dinâmica negativa e
melhorar a situação económica de forma sustentável. Os países da área do euro
estão numa situação especial, em virtude das suas fortes interligações
económicas e financeiras e dos efeitos colaterais daí decorrentes. Os fluxos de capitais na
área do euro alteraram-se abruptamente, abandonando os países vulneráveis. O consequente défice de financiamento externo foi colmatado
através da disponibilização de liquidez pelo setor oficial, o que impediu uma
correção desordenada. Contudo, em consequência desta distorção crescente, as
condições de financiamento entre os países da área do euro tornaram-se cada vez
mais divergentes, tanto no setor público como no privado. Esta situação
conduziu à instauração de um conjunto de políticas rigorosas nos
Estados-Membros vulneráveis da área do euro, à medida que o agravamento das
condições de financiamento se vem juntar à indispensável consolidação
orçamental. Este facto está a entravar o ajustamento, contribuindo para
aumentar as divergências entre as economias da área do euro e pondo em causa a
estabilidade de toda a zona monetária. A principal prioridade da
área do euro será prosseguir na via da reforma estrutural e travar a fragmentação
financeira, melhorar as condições de financiamento nos países vulneráveis e
incentivar o afluxo e afetação eficiente de capital, a fim de apoiar o
ajustamento. Estes elementos são indispensáveis para o
crescimento e o ajustamento. Por outro lado, a necessidade de reduzir os
desequilíbrios macroeconómicos põe em evidência a necessidade de um ritmo de
desalavancagem diferenciado entre os países excedentários e os deficitários.
Por último, tendo em conta a política monetária única, as reformas estruturais
destinadas a aumentar a flexibilidade salarial e dos preços, assim como a
facilitar o ajustamento, desempenham um papel ainda mais preponderante na área
do euro. A perseverança na
realização das reformas é de importância capital para dar resposta aos desafios. O Mecanismo Europeu de Estabilidade está operacional desde 8 de
outubro de 2012 e, em setembro de 2012, o BCE decidiu introduzir as Transações
Monetárias Definitivas. Trata-se de importantes contributos para enfrentar o
desafio mais premente de estabilizar a situação financeira e restaurar a
confiança. A reestruturação e o reequilíbrio das economias darão os seus frutos
a médio prazo, uma vez que, normalmente, as reformas estruturais levam tempo a
produzir plenamente os seus efeitos. Por último, uma verdadeira UEM é um
objetivo a desenvolver a longo prazo, embora importe desde já envidar esforços
concretos para apoiar a dinâmica das reformas. Consequentemente, apesar de uma
certa acalmia recentemente observada nos mercados financeiros, estes mantêm-se
instáveis tendo-se tornado dependentes da manutenção das políticas de apoio.
Por conseguinte, qualquer bloqueio nas reformas pode provocar imediatamente um
recrudescimento das tensões e anular as recentes melhorias. 1. Consolidação
orçamental favorável ao crescimento A existência de finanças
públicas sólidas e sustentáveis é um pré-requisito essencial para a
estabilidade macroeconómica e, consequentemente, o crescimento. Tal é especialmente o caso na área do euro, onde a política monetária
única não pode reagir à situação inerente a cada país e os orçamentos nacionais
têm de demonstrar a sua capacidade para assumir uma função estabilizadora no
caso de perturbações próprias do país. Por outro lado, os Estados-Membros da
área do euro sofrerão fortes repercussões caso sejam aplicadas políticas
orçamentais inviáveis, sobretudo a nível financeiro, tal como claramente
demonstrado pela atual crise. Esta situação exige uma maior responsabilidade em
termos da evolução orçamental a nível nacional, o que constitui a estrutura da
governação orçamental baseada nas regras previstas no Tratado e no Pacto de
Estabilidade e Crescimento (PEC). O respeito destas regras é fundamental para o
bom funcionamento da UEM. A consolidação orçamental
tem efeitos negativos no crescimento a curto prazo, na medida em que a
contenção orçamental reduz a despesa global, mas apresenta benefícios
redobrados a médio prazo. O impacto da política
orçamental no crescimento pode ser superior ao habitual num contexto de crise
financeira, uma vez que os denominados multiplicadores orçamentais são
considerados mais importantes do que em condições normais de mercado[1]. A curto prazo, o ajustamento
poderá igualmente provocar efeitos adversos nos rácios da dívida se forem
elevados à partida e, por conseguinte, as necessidades de consolidação, são
consideráveis. No entanto, em alguns
Estados-Membros, a consolidação é a única alternativa viável, e sem ela as
consequências poderiam ser ainda mais graves.
Atendendo aos elevados e crescentes níveis da dívida, importa igualmente
analisar a sustentabilidade da dívida, um conceito a médio prazo. A análise da
Comissão[2]
mostra que só em cenários bastante improváveis (grau de «miopia» dos mercados
muito elevado, reações muito invulgares dos prémios de risco) a consolidação
provocaria efeitos negativos na dívida a médio prazo. Além disso, a criação de
condições para uma consolidação permanente e as expectativas daí resultantes,
são uma componente importante para evitar os efeitos negativos na dívida, na
medida em que a perceção de inversão na consolidação pode anular os seus
potenciais efeitos positivos sobre os prémios de risco. Por outro lado, nos
Estados-Membros com acesso limitado ao mercado, a avaliação dos custos do
processo de consolidação, mesmo a curto prazo, depende do cenário alternativo
previsto. Quando a sustentabilidade financeira está em risco, a ausência de
consolidação pode levar a um aumento dos prémios de risco ou à total
inacessibilidade ao mercado, o que obrigaria a um ajustamento muito mais
dramático, com consequências muito mais devastadoras para o crescimento do que
no caso de uma consolidação ou da melhoria da sustentabilidade orçamental Embora alguns países da UE
beneficiem de uma maior margem de manobra, os riscos decorrentes do
abrandamento da consolidação orçamental têm de ser cuidadosamente avaliados. Alguns Estados-Membros da UE beneficiam atualmente de taxas de juro
historicamente baixas para a sua dívida pública e poderiam, aparentemente,
aumentar os seus empréstimos sem correrem o risco de entrar numa espiral
insustentável. Contudo, esses países também atingiram elevados níveis de
endividamento nunca registados em tempo de paz. Além disso, em quase todos
eles, as despesas públicas deverão aumentar devido ao envelhecimento da
população e, em alguns casos, às fracas perspetivas de crescimento. Por
conseguinte, não se pode excluir que um abrandamento do compromisso em relação
a políticas orçamentais sustentáveis não conduza a uma mudança na perceção do
mercado, O que teria graves consequências, não só para os países em causa, mas
também para a capacidade de gestão de crises em toda a área do euro, que
assenta na solvabilidade dos mesmos. Gráfico 1. Dívida pública e défice público nos Estados-Membros da UE (2012, em % do PIB) Fonte: Serviços da Comissão, previsões da UE do outono de 2012 As finanças públicas da UE
enfrentam grandes desafios e a estabilidade orçamental deve ser restaurada de
forma permanente (gráfico 1). Os desafios
resultam da necessidade de reduzir os elevados níveis da dívida, numa
conjuntura de fracas perspetivas de crescimento, de pressões sobre as despesas
a longo prazo e de uma carga fiscal já relativamente elevada. Por conseguinte,
continua a ser determinante o princípio geral de levar a cabo uma consolidação
orçamental favorável ao crescimento. A estratégia defendida pela Comissão na
anterior AAC revelou-se eficaz, mesmo se não puderam ser evitadas certas
consequências negativas a curto prazo, conforme já referido, e que os seus
plenos benefícios só sejam visíveis a médio prazo. O efeito da consolidação orçamental no crescimento pode ser influenciado pela sua composição.
Além disso, para garantir o caráter permanente da consolidação orçamental e
melhorar as expectativas de sustentabilidade orçamental, a consolidação terá de
ser acompanhada de reformas que reforcem a viabilidade a longo prazo das
finanças públicas e apoiada por um sólido quadro institucional. Ritmo da consolidação
orçamental O ritmo da consolidação
orçamental deve continuar a ser diferente consoante os países, em função da sua
margem de manobra orçamental. Em especial, tendo em
conta a pressão constante dos mercados sobre os países com elevadas dívidas
públicas, aqueles que perderam o acesso aos mercados financeiros ou estão
sujeitos a uma enorme pressão do mercado devem prosseguir os compromissos
orçamentais acordados. Os outros Estados-Membros devem continuar a respeitar os
compromissos assumidos no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC),
o que permite aos estabilizadores automáticos funcionarem com base na
trajetória de ajustamento orçamental estrutural acordada, garantindo
simultaneamente a sustentabilidade a longo prazo das finanças públicas. O Pacto de Estabilidade e
Crescimento proporciona um quadro flexível e eficaz, para definir o ritmo diferenciado
da consolidação. As regras do PEC permitem adaptar o
ritmo da consolidação orçamental consoante as características específicas dos
Estados-Membros. No âmbito do PEC, são fixados objetivos nominais por país, em
prol da transparência e da consolidação das políticas orçamentais. No entanto,
as recomendações do Conselho também especificam o esforço estrutural
necessário, que deve incidir na situação orçamental subjacente, sem ter em
conta os efeitos cíclicos e as medidas extraordinárias. Se um país realizou o
esforço estrutural acordado, mas não atingiu os seus objetivos devido,
exclusivamente, a um crescimento menos favorável do que o previsto, o prazo
para a correção do défice excessivo pode ser prorrogado. Esta opção foi tida em
conta em várias ocasiões no passado, mais recentemente em relação à Espanha e a
Portugal. Composição da consolidação A consolidação deve
incidir do lado da despesa, porém importa instaurar um conjunto de medidas
tanto a nível da despesa como da receita, que sejam globalmente eficazes e
favoreçam o crescimento. A análise de etapas
anteriores de consolidação sugere que a consolidação baseada nas despesas tem
maiores probabilidades de êxito. Além disso, dada a carga fiscal relativamente
elevada na UE, mais aumentos de impostos poderiam afetar negativamente o
crescimento futuro, devendo, por conseguinte, ser introduzidos com prudência.
De um modo geral, a fim de limitar os efeitos negativos a curto prazo sobre o
crescimento, a composição adequada das consolidações deverá integrar medidas
favoráveis ao crescimento tanto do lado das despesas como das receitas. A eficiência das despesas
e a qualidade das finanças públicas em geral é cada vez mais importante tendo
em conta os desafios a enfrentar pelas finanças públicas a longo prazo. Atendendo aos níveis de endividamento historicamente elevados e ao
impacto a longo prazo decorrente do envelhecimento demográfico, é provável que
a pressão sobre as despesas públicas se mantenha para além do atual ajustamento
orçamental. Por conseguinte, é cada vez mais importante reapreciar a eficiência
das despesas ao equacionar a necessidade de finanças públicas sustentáveis e a
prestação de serviços públicos de nível satisfatório. As melhores práticas
internacionais mostram que, em muitos países, ainda há margem para poupanças
dos recursos públicos, mantendo o mesmo nível de serviços. A prossecução das reformas
do setor público e a introdução das melhores práticas em matéria de
orçamentação orientada para os resultados poderão ter um papel determinante no
reforço da eficácia das despesas públicas. Há uma
interação importante em termos de objetivos e prazos entre as reformas da
administração pública baseadas na análise das despesas e a orçamentação baseada
nos resultados. Embora esse modelo de orçamentação favoreça uma abordagem
global e exija uma visão a longo prazo, tanto para introdução, como para a
obtenção de resultados, as reformas da administração pública podem gerar
resultados significativos e rápidos em termos de eficácia das despesas públicas
e de poupança, desde que se baseiem numa análise rigorosa das despesas e se
inscrevam em estratégias a mais longo prazo. As reformas da administração
pública poderiam centrar-se na obtenção de poupanças, sempre que os
indicadores, incluindo as comparações entre países e a nível nacional,
apontarem para um maior potencial de poupança (ver igualmente secção 3). Outras
medidas relevantes para a eficiência da despesa podem refletir a diversidade
dos objetivos socioeconómicos das diferentes rubricas de despesas, incluindo as
questões distributivas, tais como uma melhor conceção e escopo das
transferências sociais, dos auxílios estatais e de outras subvenções, a
identificação dos projetos de investimento público mais produtivos ou uma maior
eficiência na oferta de bens e serviços públicos. Contudo, independentemente do
instrumento escolhido para reforçar a eficácia da despesa pública, terá de
basear-se numa gestão orientada para os resultados a todos os níveis da
administração. As poupanças a nível da
despesa devem preservar rubricas que tenham um impacto positivo no crescimento
e no potencial de crescimento. Sempre que estejam
previstos cortes, estes devem ser minimizados nos domínios relacionados com o
desenvolvimento do capital humano e os progressos tecnológicos. A situação é
menos clara quando se trata de investimentos públicos em ativos fixos. Esse
tipo de investimento contribui para o crescimento potencial na medida em que as
novas infraestruturas são fatores de produção para o investimento privado, o
que se aplica, principalmente, aos investimentos nos transportes, comunicações
e determinados serviços públicos de base. Em segundo lugar, o investimento
público em ativos fixos só é benéfico até um certo ponto e para os
Estados-Membros que já dispõem de um nível satisfatório de infraestruturas, os
aspetos a valorizar devem privilegiar, sobretudo, a sua manutenção e eventual
modernização. Do
lado das receitas orçamentais, não obstante as recentes reformas, muitos
Estados-Membros continuam confrontados com importantes desafios decorrentes da
subida de impostos. Alguns Estados-Membros poderiam
beneficiar, embora em diferentes graus, de medidas do lado das receitas para
consolidar as suas finanças públicas e assegurar a sua sustentabilidade.
Contudo, essas medidas devem visar a melhoria dos sistemas fiscais,
assegurando, simultaneamente, uma distribuição equitativa dos encargos da
consolidação por todos os setores da sociedade. As receitas adicionais devem,
preferencialmente, obter-se através do alargamento das bases coletáveis e não
do aumento das taxas ou da instauração de novos impostos. Neste sentido,
poderia ser necessário rever as despesas fiscais e outras lacunas na tributação
dos rendimentos das pessoas singulares e das sociedades, limitando
simultaneamente as possibilidades de isenção ou de taxas reduzidas do IVA ou
aumentando as taxas reduzidas para um nível mais próximo da taxa uniformizada.
As isenções de impostos especiais de consumo poderão também ser revistas, a fim
de aumentar as receitas e contribuir eficazmente para outras políticas públicas
(por exemplo, nos domínios da saúde e do ambiente). Uma
melhor governação fiscal poderia igualmente complementar as medidas de aumento
das receitas. Algumas medidas para combater a evasão
fiscal, tais como o levantamento do sigilo bancário, parecem ter proporcionado
importantes receitas fiscais adicionais, mesmo a curto prazo. No entanto, é
normalmente difícil estimar antecipadamente o ganho de receitas provenientes de
uma melhor governação fiscal, pelo que não deverão ser sobrestimadas no quadro
de uma política orçamental prudente, em especial a curto prazo. O reforço da
disciplina fiscal poderia assumir diversas formas, como, por exemplo, reduzir a
economia paralela, combater a potencial fraude e evasão ao IVA, ou promover a
eficácia da administração fiscal. Melhorar a administração fiscal é um desafio
que muitos Estados-membros têm de enfrentar para obter receitas suplementares,
reduzir o elevado custo das receitas líquidas cobradas e aliviar a carga
administrativa excessiva para as pequenas e médias empresas. Quanto
ao reforço do potencial de crescimento e de emprego das economias europeias,
poderia estudar-se a hipótese de reformas neutras do ponto de vista das
receitas. Tal é o caso, nomeadamente, dos
Estados-Membros que têm de transferir a tributação dos rendimentos do trabalho
para uma tributação com menos efeitos distorcivos (impostos sobre o consumo,
impostos recorrentes sobre imóveis, impostos ambientais) e que dispõem de
margem para o efeito. Uma composição fiscal com uma elevada percentagem de
impostos diretos e contribuições para a segurança social, juntamente com uma
baixa percentagem de impostos indiretos, poderá dar margem para aplicar uma
tributação desse tipo. Uma reforma neutra do ponto de vista das receitas também
permitiria reduzir as elevadas taxas do imposto sobre o rendimento das
sociedades. A
elaboração da estratégia de consolidação e das reformas fiscais deverá ter em
conta outras questões referentes à conceção de impostos específicos. Em primeiro lugar, a fiscalidade das empresas é frequentemente
orientada para o financiamento da dívida em vez dos capitais próprios. Em
segundo lugar, a fiscalidade sobre a habitação baseia-se demasiado na
tributação das transações em vez de incidir nos impostos recorrentes sobre
imóveis, com efeitos menos nocivos, enquanto a dedutibilidade dos juros
hipotecários gera distorções da dívida e um risco de sobre-investimento no
setor da habitação. Por último, os impostos ambientais podem desempenhar um
papel fundamental na realização dos objetivos comuns nesta área e, com o tempo,
oferecer incentivos adequados para reduzir as emissões prejudiciais,
nomeadamente de gases com efeito de estufa. As reformas fiscais deverão
refletir as considerações de eficiência económica e a equidade social, de
acordo com as preferências coletivas. A conceção das reformas dos sistemas
fiscais deverá ter em conta a componente distributiva. Sustentabilidade a
longo prazo A necessidade de
consolidação é ainda maior devido aos desafios colocados às finanças públicas
pelo envelhecimento da população. O relatório de 2012
sobre a sustentabilidade orçamental[3]
mostra que a dívida na UE se manterá estável até 2020, graças aos recentes
esforços de consolidação orçamental e aos progressos das reformas que quase
estabilizam as despesas ligadas ao envelhecimento demográfico. No entanto, a
partir de 2021, os custos relacionados com o envelhecimento da população terão
mais peso e a dívida pública na UE recomeça a subir, devendo situar-se perto
dos 90% do PIB em 2030. Esta dinâmica só pode ser travada graças aos esforços
sustentados dos Estados-Membros. Se o saldo estrutural melhorasse 0,5% do PIB
por ano até que o objetivo de médio prazo fosse alcançado e mantido a longo
prazo, em conformidade com o Pacto de Estabilidade e Crescimento, o nível da
dívida desceria para cerca de 60% do PIB até 2030. Embora alguns países já estejam a fazer face à pressão do
envelhecimento demográfico sobre as despesas, ainda há muito a fazer, para além
da execução dos planos atuais. Muitos Estados-Membros
já empreenderam esforços substanciais na última década para reformar os
sistemas de pensões, com resultados positivos concretos a nível orçamental.
Porém, a longo prazo, é ainda de esperar um novo aumento das despesas públicas
com as pensões, à escala europeia[4] (+ 1,5 pontos percentuais do PIB até 2060). Assim, é necessário
intensificar os esforços para reestruturar os regimes de pensões, especialmente
nos países cujos aumentos das despesas neste setor deverão ser muito superiores
à média da UE e em que o processo de reforma ainda não foi verdadeiramente
iniciado. Foram formuladas recomendações à maioria dos Estados-Membros para
adaptarem a política de pensões em 2012. Embora se tenham observado progressos
significativos em vários países, nomeadamente através da limitação do acesso à
reforma antecipada e à harmonização da idade de reforma entre homens e
mulheres, noutros Estados-Membros, o programa de reformas tem de ser
intensificado ou ativado. Associar a idade de
reforma à esperança de vida contribuiria para estabilizar o equilíbrio entre
anos de trabalho e anos de reforma. Para evitar
negociações sucessivas e difíceis, essa associação deverá, de preferência,
seguir regras automáticas. Esta medida é uma forma eficaz de reduzir o risco de
longevidade, abordando, simultaneamente as questões de sustentabilidade e de
adequação, através da concessão de incentivos ao prolongamento da idade ativa
e, por conseguinte, direitos de pensão mais elevados. Para o êxito do aumento
da idade ativa, as reformas dos sistemas de pensões têm que ser sustentadas por
políticas que desenvolvam as oportunidades de emprego para os trabalhadores
mais velhos e apoiem o envelhecimento ativo e saudável, complementadas por
políticas fiscais e de prestações que ofereçam incentivos para que as pessoas
permaneçam mais tempo no mercado de trabalho e possibilitem o acesso à
aprendizagem ao longo da vida. snoovrlp1Gráf. 2. Evolução orçamental – na área do euro snoovrlp1 snoovrlp1Source: Serviços da Comissão Os Estados-Membros
mostraram determinação em prosseguir a consolidação orçamental e reduzir os
défices de forma significativa. De acordo com as
previsões do outono de 2012 dos serviços da Comissão, em média, o défice das
administrações públicas na UE deverá diminuir 0,8 pontos percentuais em 2012 e
situar-se em 3,6% do PIB. Na área do euro, a situação é semelhante, com o
défice a diminuir para 3,3% do PIB. Com a prossecução da consolidação
orçamental em 2013, o défice das administrações públicas na área do euro deverá
passar para menos de 3% do PIB, pela primeira vez desde 2008 (gráfico 2). Na
maioria dos Estados-Membros, a composição da consolidação pode ser considerada,
de um modo geral, favorável ao crescimento e globalmente equilibrada entre
receitas e despesas. Entre 2007 e 2012 as principais poupanças do lado da
despesa registaram-se no consumo intermédio, despesas de investimento e massa
salarial do setor público. No mesmo período, a parte das transferências sociais
aumentou em geral, particularmente nos países mais fortemente atingidas pela
crise económica. A consolidação orçamental
afigura-se ter sido mais robusta em termos estruturais do que nominais. Prevê-se que em 2012 os ajustamentos estruturais excedam 1 p.p., tanto
na UE como na área do euro. Para atingir esse resultado, os Estados-Membros
respeitaram, em média, os seus objetivos nominais, tendo aplicado medidas
corretivas ao longo do ano, face à deterioração do contexto macroeconómico. A
trajetória de consolidação deverá manter-se estável em 2013, uma vez que os
Estados-Membros têm de executar o esforço orçamental exigido no âmbito do
Procedimento relativo aos défices excessivos (PDE) que lhes foi aplicado, ou de
convergir na via dos seus objetivos de médio prazo, o que deverá reduzir o
défice estrutural na UE em mais de 0,5 pp em 2013. Governação e instituições
orçamentais A existência de quadros
orçamentais nacionais sólidos é determinante para a tomada de decisões orçamentais
firmes. Nos termos dos tratados, as decisões
orçamentais definitivas continuam a ser da competência das autoridades
nacionais. É, pois, fundamental que os Estados-Membros tomem medidas a nível
nacional que aumentem a previsibilidade e a credibilidade dos seus compromissos
em matéria de política orçamental prudente. A Diretiva relativa aos quadros
orçamentais nacionais e o Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação
(TECG) melhoram substancialmente os quadros orçamentais nacionais. A correta
transposição da diretiva até ao final de 2013, deverá assegurar quadros
orçamentais sólidos nos Estados-Membros da UE, incluindo estatísticas completas
e atempadas, planificação a médio prazo, previsões realistas e definição de
regras orçamentais nacionais que promovam o cumprimento das obrigações
orçamentais do Tratado. Além disso, através do TECG, 25 Estados-Membros
comprometeram-se a introduzir no direito nacional o objetivo de um orçamento
equilibrado ou excedentário, consagrando assim nas suas ordens jurídicas um
princípio fundador do PEC. A conformidade deverá ser ainda reforçada através de
mecanismos nacionais de correção automática, a conceber segundo princípios
comuns, e acionados em circunstâncias bem definidas. A governação orçamental a
nível europeu foi intensificada e a Comissão apresentou aos colegisladores
novas propostas de melhorias. O pacote composto por 6
propostas legislativas (o chamado «six-pack»)[5]
reforçou a vertente preventiva da supervisão orçamental da UE e a capacidade de
detetar e corrigir os desequilíbrios orçamentais numa fase precoce. Introduziu
novos instrumentos, tais como limiares de despesa e uma regra numérica para a
dívida. Dado que as políticas orçamentais dos Estados-Membros que partilham a
mesma moeda têm maiores efeitos indiretos, reforçaram-se as sanções financeiras
por incumprimento, a aplicar aos Estados-Membros da área do euro, mas de forma mais
progressiva e aplicáveis numa fase mais precoce. A Comissão propôs novas
melhorias da supervisão orçamental para os Estados-Membros da área do euro, nos
dois regulamentos que constituem o «Two‑Pack». O Regulamento relativo ao
reforço da supervisão racionaliza e intensifica a supervisão orçamental dos
Estados-Membros ameaçados ou que enfrentam dificuldades financeiras, enquanto o
Regulamento relativo ao reforço das políticas orçamentais instaura uma
supervisão mais rigorosa dos Estados-Membros objeto de um PDE, a fim de
garantir a correção atempada dos défices excessivos. Reforça igualmente a ação
preventiva a nível da UE, ao estabelecer marcos para uma coordenação efetiva
das políticas orçamentais na UEM, por exemplo, um calendário orçamental comum,
a apresentação coordenada dos planos orçamentais nacionais anuais à Comissão,
antes da sua aprovação pelo parlamento. 2. Restaurar a estabilidade financeira No ano passado,
continuaram as tensões financeiras nos mercados financeiros da UE,
registando-se, porém, recentemente, sinais de melhoria. O ciclo de retroação negativa entre os mercados da dívida soberana, o
setor bancário e o crescimento continuaram a alimentar as pressões financeiras
e a minar a confiança. As firmes medidas políticas adotadas pela UE e pelas
autoridades nacionais traduziram-se recentemente em melhorias, mas os juros da
dívida soberana nos países vulneráveis mantiveram-se elevados e instáveis. Ao
mesmo tempo, alguns outros países da UE beneficiaram de importantes entradas de
capitais privados e registaram níveis historicamente baixos, ou mesmo
negativos, de taxas de juro, sobre as suas obrigações da dívida soberana. As
fortes interligações entre mercados da dívida soberana e o setor bancário da UE
continuam a representar sérias ameaças para a estabilidade financeira na UE e
na área do euro em particular. O setor bancário da UE
continua a debater-se com problemas de liquidez e de financiamento estrutural. Particularmente nos Estados-Membros vulneráveis, alguns bancos
continuam a ter dificuldades em se financiar no mercado. A descida das notações
de crédito destes Estados-Membros reduziu as garantias dos bancos nas suas
operações com o Eurosistema, o que provocou uma descida das suas notações e
aumentou os seus custos de financiamento. No primeiro semestre de 2012, as
dificuldades de financiamento dos Estados-Membros mais vulneráveis da área do
euro foram agravadas pela retirada de depósitos, enquanto os Estados-Membros
mais bem cotados registaram um afluxo de depósitos. O financiamento interno dos
bancos também ficou sobre pressão devido às fracas perspetivas de crescimento
e, consequentemente, a um menor potencial de receitas. A resposta dos bancos às
dificuldades de financiamento foi privilegiar a concessão de crédito a
mutuários seguros e a emissão de obrigações garantidas, o que se traduziu por
um claro aumento do montante dos ativos hipotecados nos seus balanços. Esta
situação constitui uma nova fonte de preocupação. snoovrlp1Gráf. 3. Empréstimos às famílias e às sociedades não financeiras – área do euro snoovrlp1 snoovrlp1Fonte: Serviços da Comissão A escassez de
financiamento pelos mercados e o aumento dos riscos de crédito, devido à
estagnação do crescimento, entravam a capacidade de empréstimo dos bancos à
economia real. Os condicionalismos de financiamento
são especialmente pesados para as pequenas e médias empresas, que constituem a
espinha dorsal da economia da UE e proporcionam o maior volume de emprego. As
dificuldades de concessão de empréstimos são mais graves nos países vulneráveis
onde os bancos em dificuldade têm vindo a reduzir a concessão de crédito, ainda
que as fracas perspetivas de crescimento e a necessidade de reduzir a dívida
das empresas e das famílias também diminuam a necessidade de contração de
empréstimos (gráfico 3). Entretanto, os bancos prosseguiram os
necessários ajustamentos dos seus balanços, não havendo nenhum indício de
desalavancagem excessiva ou desordenada. Os fluxos de capitais públicos, que
atenuaram o êxodo de capitais privados, bem como o exercício de recapitalização
coordenado conduzido pela Autoridade Bancária Europeia, desempenharam um papel
fundamental neste capítulo. Contudo, a necessidade de desalavancagem variou
consoante os países, com os bancos nos Estados-Membros vulneráveis a ajustar
mais rapidamente os seus balanços do que os outros. Tendo em conta estes
elementos, é um sinal positivo que os empréstimos bancários ao setor privado se
tenham estabilizado, em 2012, no conjunto da área do euro, tendo o último
inquérito do BCE revelado uma certa atenuação das tensões de financiamento. O recrudescimento dos
riscos associados à dívida soberana inverteu o processo de integração
financeira na área do euro. A introdução do euro,
assim como a avaliação do risco de crédito a nível mundial, antes da eclosão da
crise, estimulou a integração dos mercados financeiros na área do euro e
facilitou os fluxos de crédito entre os países nela participantes. O colapso
das bolhas de ativos em alguns países e o eclodir da crise das dívidas
soberanas, provocou uma queda drástica dos fluxos transfronteiriços,
mantendo-se o capital dentro das fronteiras nacionais. Em particular, os fluxos
de capital privado, que na década anterior fluíam do norte para o sul da área
do euro, diminuíram drasticamente, dado que os bancos reduziram a sua exposição
transfronteiras face aos setores público e privado nos países vulneráveis. O
défice de financiamento externo daí resultante foi colmatado pela liquidez
proveniente do Eurossistema e nas fases ulteriores, pelos empréstimos UE/FMI,
no âmbito de programas de assistência financeira. A distorção na detenção de
títulos da dívida soberana também se acentuou, agravando os ciclos viciosos
entre Estados fragilizados e bancos em dificuldade. Divergências nas condições
de financiamento entre os países da área do euro. O
aumento dos prémios de risco nos empréstimos transfronteiras conduziu a uma
fragmentação financeira crescente dos mercados financeiros e,
concomitantemente, ao agravamento das disparidades das taxas de juro dos
empréstimos às empresas e às famílias na área do euro. Nos países vulneráveis,
o setor privado confronta-se agora com taxas de juro consideravelmente mais
elevadas do que noutros Estados-Membros, nomeadamente os considerados
"porto seguro" pelos mercados (gráficos 4 e 5). Gráfico 4. Taxas de juros dos empréstimos às empresas || Gráfico 5. Empréstimos às empresas || Nota: Novas empresas, prazo de vencimento até 1 ano Fonte: Serviços da Comissão || Nota: Índice da taxa annual de crescimento das reservas nacionais Fonte: Serviços da Comissão O disfuncionamento dos
mercados de crédito na área do euro constitui um sério problema para o
funcionamento da União Monetária. O ajustamento em
curso e a reestruturação das economias dos Estados-Membros mais vulneráveis da
área do euro pesa fortemente sobre o crescimento. Os seus processos de
ajustamento dependem do restabelecimento de condições normais de concessão de
crédito pelo sistema bancário, que atualmente não desempenha o seu papel de intermediação
no mercado único. A supervisão micro e macroprudencial transfronteiras deverá
contribuir para que o sistema bancário integrado restaure a sua função de
intermediário financeiro. As condições relativas à
atividade normal de concessão de crédito à economia só poderão ser
restabelecidas se forem abordadas as causas profundas das dificuldades dos
bancos. A UE
tomou medidas vigorosas para quebrar o ciclo vicioso entre os bancos em
dificuldades e o respetivo Estado, abordar os problemas de financiamento, a
fragmentação financeira e as deficiências dos mecanismos de transmissão da
política monetária na área do euro. Nos seus esforços para se
alcançar uma verdadeira UEM, em junho de 2012, os Chefes de Estado e de Governo
da UE concordaram em avançar para uma união bancária, sendo a criação do
mecanismo único de supervisão (MUS) um primeiro passo concreto nesse sentido. Na sequência desse acordo, a Comissão apresentou uma proposta para
criar o MUS e conferir poderes de supervisão ao Banco Central Europeu. Ao mesmo
tempo, a Autoridade Bancária Europeia inserir-se-ia no novo quadro de
supervisão bancária, a fim de assegurar a coerência a nível da UE. O MUS visa
suprimir as diferenças nas práticas de supervisão que acentuaram a tendência
para a fragmentação do mercado financeiro europeu e colocaram o setor bancário
em risco. Graças ao MUS todos os Estados-Membros participantes poderão confiar
plenamente na qualidade e imparcialidade da supervisão bancária. Este aspeto é
importante para garantir que os fluxos de capitais apoiarão o reequilíbrio a
curto prazo e não conduzirão a novos desequilíbrios no futuro (ver também a
secção 3). Com a criação do Mecanismo
Europeu de Estabilidade (MEE), a área do euro foi dotada de uma forte proteção
permanente. Dotado de uma grande capacidade de
financiamento (500 mil milhões de EUR) e de um conjunto de instrumentos
flexíveis o MEE está bem equipado para quebrar o ciclo de retroação negativa
entre bancos e dívidas soberanas e contribuir para o restabelecimento da
confiança. Para além de disponibilizar empréstimos e linhas de crédito para
fazer face aos problemas de liquidez dos Estados-Membros da área do euro, o MEE
dispõe de um vasto conjunto de instrumentos e pode, se estiverem reunidas
determinadas condições prévias, intervir nos mercados obrigacionistas primário
e secundário, sem recorrer a um programa de ajustamento macroeconómico. A possibilidade de
utilizar o MEE para recapitalizar os bancos diretamente constituirá, em última
análise, uma ferramenta poderosa para quebrar o ciclo vicioso entre os bancos e
as dívidas soberanas na área do euro. O MEE pode
também conceder empréstimos especificamente destinados à recapitalização dos
bancos. No entanto, até agora, estes empréstimos só podiam ser concedidos aos
Estados-Membros que, por seu turno, os aplicariam na recapitalização de bancos
em dificuldades. Embora trazendo algum alívio às limitações de liquidez dos
Estados, esta abordagem é uma solução provisória para o problema da
interligação entre bancos e os respetivos países. Em especial, esses
empréstimos seriam inscritos nas contas orçamentais dos Estados-Membros e
aumentariam a sua dívida pública. Para solucionar este problema, a Cimeira da
área do euro decidiu, em junho de 2012, autorizar o MEE a recapitalizar os
bancos diretamente, logo que o MUS tiver sido efetivamente estabelecido. Esta
possibilidade deverá contribuir fortemente para quebrar as ligações entre os
bancos e os Estados-Membros da área do euro e permitirá a esta última dar um
passo importante na resolução da crise que a atinge. O Banco Central Europeu
tomou medidas eficazes para reduzir os problemas de financiamento dos bancos e
aperfeiçoar o mecanismo de transmissão da política monetária. As duas operações de refinanciamento a longo prazo por um período de 3
anos, realizadas pelo BCE em dezembro de 2011 e fevereiro de 2012, permitiram
colmatar as lacunas de refinanciamento dos bancos da área do euro, garantindo o
seu acesso ao financiamento de médio prazo, a menores custos. Contudo, face às
dificuldades de financiamento persistentes e ao aparecimento, em alguns
Estados-Membros da área do euro, de sinais de fortes perturbações do mecanismo
de transmissão da política monetária, o BCE criou um novo instrumento; as
transações monetárias definitivas (TMD) (Outright Monetary Transactions -OMT),
para assegurar a boa transmissão da política monetária na área do euro. As OMT
são transações definitivas no mercado secundário das obrigações soberanas e
sujeitas a rigorosa condicionalidade no quadro de um programa de ajustamento financiado
pelo MEE. Embora o instrumento ainda não tenha sido utilizado, o seu anúncio já
conduziu a melhorias no mercado das obrigações soberanas da área do euro e,
juntamente com os planos para implementar a união bancária, tem grande
potencial para atenuar as tensões financeiras na área do euro e restaurar as
condições para uma atividade sã de concessão de empréstimos à economia. Embora as firmes medidas
políticas tenham atenuado as tensões nos mercados, estes últimos continuam
muito dependentes da manutenção de políticas de apoio e da concretização dos
compromissos assumidos. Ainda existem vulnerabilidades
subjacentes na UE e, em especial, no sistema financeiro da área do euro. Ao
mesmo tempo, devido à persistência da crise na área do euro, a evolução dos
mercados depende fortemente das medidas adotadas. Por conseguinte, para conter
a instabilidade dos mercados, é fundamental instaurar um clima de segurança em
torno das ações políticas e uma aplicação efetiva das medidas e das reformas
nacionais acordadas. O empenho em construir uma verdadeira UEM e, nomeadamente,
uma efetiva uma união bancária, irá restabelecer a estabilidade financeira a
título permanente. 3. Reformas estruturais para apoiar o
crescimento e corrigir os desequilíbrios Melhorar a confiança e
estimular o crescimento a curto prazo, criando simultaneamente condições para
um crescimento sustentável no futuro constitui atualmente o principal desafio. Num contexto de políticas macroeconómicas austeras, as reformas
estruturais são um elemento fundamental da estratégia de crescimento e
reequilíbrio, que visam explorar o potencial das economias da União Europeia. À
medida que a crise avançou, os países vulneráveis envidaram esforços
consideráveis de reforma. Embora a necessidade de intervenção nestes
Estados-Membros seja mais premente, o crescimento, a curto e médio prazos, é um
problema à escala da UE que exige uma resposta coletiva. Apesar das acentuadas
diferenças entre os Estados-Membros quanto à situação económica, uma abordagem
coordenada das reformas nos planos nacional e da UE despoletaria uma dinâmica
política, atenuaria os condicionalismos económicos e facilitaria o processo de
reforma. Gráfico 6. Saldos da balança de transações correntes - área do euro e Estados-Membros || Gráfico 7. Custos unitários de trabalho e de remuneração nominal por trabalhador – área do euro || Fonte: Serviços da Comissão || Fonte: Serviços da Comissão O crescimento da economia
da UE está atualmente condicionado pela persistência de desequilíbrios
macroeconómicos e a necessidade de ajustar os excessos do passado a nível do
consumo e do endividamento. Um crescimento
temporariamente baixo ou negativo é uma consequência dos profundos ajustamentos
em curso, na medida em que as economias estão sob um processo de reestruturação,
os recursos são transferidos dos setores não exportadores para setores
exportadores e os balanços de todos os setores da economia têm de ser
ajustados. O ajustamento necessário prosseguiu ao longo do último ano, estando
a dar os seus frutos, não obstante a difícil conjuntura económica. Os
principais valores dos saldos das contas correntes, os dados comerciais e da
procura interna revelam que o ajustamento avança na UE, nomeadamente nos países
da área do euro, mas é necessário realizar mais progressos (gráfico 6). O
ajustamento também está em curso nos países sujeitos a um programa de
assistência e noutros países vulneráveis, incluindo naqueles em que, até ao
presente, os progressos se afiguram limitados. Regista-se não só uma diminuição
dos desequilíbrios das contas correntes, mas também uma evolução dos custos
unitários do trabalho mais favorável a um reequilíbrio no futuro (gráfico 7).
Em alguns países deficitários, está a proceder-se a um ajustamento dos salários
nominais nos setores público e privado. snoovrlp1Gráfico 8. Balança corrente e posição de investimento internacional líquida (PIIL) – países excedentários e deficitários snoovrlp1 snoovrlp1Fonte: Serviços da Comissão O ajustamento das posições
externas em curso parece ser em grande medida estrutural. Os países deficitários sofreram uma forte contração das importações e,
em certa medida, uma expansão das exportações. A contração das importações foi
até agora a nota dominante, contudo os ganhos de competitividade preparam o
terreno para uma futura expansão das exportações e – segundo as previsões
económicas do outono dos serviços da Comissão – a contribuição das exportações
para o reequilíbrio deverá aumentar durante o período de previsão. Se os ganhos
de competitividade se mantiverem, o aumento das exportações deverá conduzir ao
desenvolvimento das indústrias viradas para a exportação e contribuir para o
caráter permanente do ajustamento. Não obstante, o reequilíbrio externo dos
fluxos de capital na balança de transações correntes ainda não é suficiente
para alterar as tendências insustentáveis das reservas (posição de investimento
internacional líquida e dívida externa) (Gráfico 8). Na maioria dos países
deficitários, os rácios da dívida externa/PIB continua a aumentar; se
diminuírem, tal deve-se principalmente a grandes revalorizações de passivos.
Será necessário um ajustamento de vulto, cujo custo – nomeadamente em termos de
emprego – dependerá da capacidade do ajustamento do Estado-Membro em causa. Os
progressos na redução dos desequilíbrios bilaterais das balanças correntes
entre países deficitários e excedentários foram muito mais visíveis. Em relação
aos países excedentários, também há sinais de reequilíbrio a nível da procura
interna, embora o ajustamento dos excedentes da balança de transações correntes
reflita que esta se tornou excedentária no conjunto da área do euro. Embora o efeito integral
das reformas estruturais no crescimento e reequilíbrio seja concretizável a
médio/ longo prazo, poderá também haver ganhos a curto prazo. Os processos de reforma estão normalmente associadas a custos de
ajustamento e de transição a curto prazo, em parte devido à sua distribuição,
geralmente, desigual entre empresas e famílias. No entanto, as reformas
estruturais podem igualmente ter efeitos expansionistas imediatos, na medida em
que melhoram a confiança e as expectativas entre os agentes económicos. Deverá
ser dada prioridade às reformas que tenham menor impacto nos custos orçamentais
(como as que promovam a competitividade e a concorrência nos mercados de
produtos ou a redução da carga regulamentar e administrativa para as empresas),
embora a tónica deva também ser colocada na procura de melhores condições (por
exemplo, promoção do diálogo social), a fim de apoiar as ações em setores
tradicionalmente mais resistentes às reformas, como o mercado de trabalho. Além
disso, há que ter em conta as sinergias entre diferentes áreas de reforma. Por
exemplo, as reformas do mercado de trabalho destinadas a moderar os custos
unitários do trabalho, poderiam reforçar a competitividade se fossem associadas
às reformas do mercado de produtos que visam aumentar a concorrência e diminuir
as margens. Em geral, há que analisar cuidadosamente as interações entre as
diferentes áreas de reforma, assim como um calendário adequado, tendo em conta
a situação específica de cada Estado-Membro. A regulamentação e
supervisão financeiras são determinantes para assegurar um reequilíbrio
ordenado e evitar ciclos oscilatórios prejudiciais. O
necessário processo de desalavancagem a realizar no setor privado de alguns
países da UE, e as condições financeiras difíceis descritas na secção 2,
poderão afetar negativamente o crescimento a curto prazo. É, no entanto, uma
condição prévia para a correção dos desequilíbrios excessivos, internos e
externos. Paralelamente, o crescimento excessivo do crédito e a alavancagem no
setor financeiro, observados antes da crise, conduziram a uma acumulação de
vulnerabilidades no setor, com um elevado risco de correção desordenada e
enormes consequências negativas para o crescimento económico. Neste contexto, é
crucial desenvolver instrumentos eficazes macro e microprudenciais para
garantir que, uma vez normalizadas as condições de financiamento em toda a UE,
o reequilíbrio manter-se-á com base em fluxos sustentáveis de capitais
orientados para atividades mais produtivas e necessidades de investimento a
longo prazo da UE, e que esta situação de desequilíbrio excessivo não volta a
verificar-se. As reformas estruturais
propícias à produtividade continuam a ser uma prioridade para impulsionar as
perspetivas de crescimento a médio prazo e assegurar um reequilíbrio duradouro
da economia da UE. A experiencia mostra que as
reformas destinadas a aumentar a eficiência dos mercados do trabalho, dos
produtos e dos serviços podem fomentar a produtividade, a inovação e aumentar
os níveis de produção e de emprego. As reformas estruturais orientadas
especificamente para apoiar a inovação, o investimento e a utilização das TIC,
e intensificar a liberalização do comércio, também podem ter um impacto direto
na produtividade. Essas reformas também favorecem a reafetação do trabalho e do
capital, permitindo transferências para setores com elevado potencial de
crescimento (nomeadamente o crescimento verde e a economia digital). Além
disso, este tipo de reformas estruturais pode desempenhar um papel essencial na
redução dos desequilíbrios internos e externos, por exemplo, através do aumento
da competitividade e dos resultados das exportações. As reformas estruturais
são particularmente relevantes na área do euro, onde os preços relativos não
podem ser influenciados pela variação das taxas de câmbio nominais. Promover as oportunidades
de crescimento verde poderia traduzir-se em melhores resultados, tanto a nível
macroeconómico como microeconómico. Uma mudança para
padrões de produção hipocarbónica e eficiente em matéria de recursos irá
aliviar a pressão dos choques dos preços dos produtos de base nos níveis de
custos e nas expectativas inflacionistas. Tal reduzirá a dependência de recursos
e de energia e, concomitantemente, o défice comercial de energia, para além de
aumentar a competitividade da economia da UE a longo prazo. A UE desenvolveu
políticas para melhorar a eficiência na utilização dos recursos, incluindo
metas ambiciosas com implicações para todos os Estados-Membros. Estas políticas
só produzirão plenamente os seus efeitos se forem acompanhadas de um quadro
regulamentar estável e previsível para orientar os investimentos, de uma
transferência da carga fiscal do trabalho para o consumo e o ambiente, de uma
eliminação progressiva das subvenções prejudiciais para o ambiente, de molde a
promover as novas tecnologias e os novos mercados «verdes», assim como a tornar
mais ecológicos os atuais padrões de produção e de consumo. A dinâmica da
liberalização dos mercados de produtos e serviços deverá ser mantida. São necessárias novas medidas para suprimir restrições injustificadas e
melhorar a concorrência nos mercados dos produtos e dos serviços, em especial
nos setores do comércio a retalho, profissões regulamentadas, construção,
turismo e serviços às empresas, bem como as indústrias de rede. Isto
exige igualmente uma ação a nível da UE, onde o bom funcionamento do mercado
único poderia, simultaneamente, melhorar o potencial de crescimento e
contribuir para a correção dos desequilíbrios. A fim de atingir o seu pleno
potencial, o desenvolvimento do mercado único exige melhorias ambiciosas, quer
reforçando a execução quer redobrando os esforços de reforma a nível nacional,
como previsto nos atos relativos ao mercado único (I e II). Neste
contexto, convidam-se os Estados-Membros, em especial, a tomar medidas
ambiciosas para executar a Diretiva Serviços, dado o seu potencial de
crescimento e a sua capacidade de ajustamento[6].
Gráfico 9. Índice de eficácia das administrações públicas, Estados-Membros da UE, 2011 Nota: O índice de eficácia do Banco Mundial sobre a eficácia das adminsitrações públicas reflete o sentimento do público em geral sobre a qualidade dos serviços públicos e o seu grau de independência relativamente às pressões políticas, qualidade da formulação e da execução das políticas, e a credibilidade dos compromissos das autoridades públicas para com estas políticas. O índice varia entre -2.5 to 2.5. Fonte: Banco Mundial É urgente melhorar o
ambiente empresarial, nomeadamente procurando formas de aumentar a eficiência
do setor público. Um ambiente empresarial aberto e
eficaz é um catalisador para o crescimento, na medida em que favorece a
atividade empresarial e reduz os custos desnecessários para as empresas. Os
factos provam que a complexidade administrativa ou a burocracia têm um impacto
negativo considerável no espírito empresarial, inovação e competitividade, e
nos fluxos de IDE que poderiam desempenhar um papel significativo no combate
aos desequilíbrios. Além disso, uma carga regulamentar excessiva tende a
alimentar a economia paralela. Uma administração pública eficiente deverá
fornecer serviços ao conjunto da economia, sem impor encargos burocráticos
desproporcionados aos agentes económicos (gráfico 9). A resolução dos problemas
da administração pública contribuiria tanto para a consolidação orçamental como
para melhorar as perspetivas de competitividade e crescimento. Em especial, as
reformas do sistema judicial deverão reduzir os riscos e a incerteza na criação
e funcionamento das empresas, o que favoreceria o investimento e contribuiria
para reduzir os custos de transação e reforçar a concorrência. Para o efeito,
vários Estados-Membros já adotaram medidas que tornem os serviços públicos mais
racionais e eficazes. Os sistemas judiciais, uma maior utilização da
administração em linha e a realização dos contratos públicos por via eletrónica
são domínios prioritários das reformas. O desemprego tornou-se um
problema muito preocupante em vários países da UE, com a agravação das suas
consequências económicas, sociais e políticas (gráfico 10). O aumento do
desemprego é acompanhado por um grande aumento das divergências entre os vários
mercados de trabalho da UE. Embora na maioria dos países, o desemprego tenha
aumentado, atingindo, nalguns casos níveis sem precedentes, noutros
Estados-Membros registou-se uma diminuição. Tendo em conta os períodos de
desemprego mais longos e a inadequação entre a procura e a oferta de trabalho
em muitos países da UE, devido, nomeadamente a mudanças setoriais em alguns
países, o desemprego poderá tornar-se cada vez mais estrutural, com
consequências nefastas para o potencial de crescimento a longo prazo. snoovrlp1Gráfico 10. Crescimento do emprego e taxa de desemprego – UE snoovrlp1 snoovrlp1Fonte: Serviços da Comissão As reformas estruturais
desempenham um papel essencial na luta contra o desemprego, ao melhorarem o
crescimento e promoverem o ajustamento. Para reduzir significativamente as
taxas de desemprego, há que criar condições para restabelecer a confiança e dar
estabilidade à procura de emprego. Ao mesmo tempo, a redução do desemprego será
fundamental para reforçar a confiança e garantir a sustentabilidade social e a política
das reformas em curso. No entanto, o desafio imediato consiste em gerir as
elevadas e persistentes taxas de desemprego num contexto de fraco crescimento
e, em alguns países, num contexto de desalavancagem e de reequilíbrio externo
em curso. À luz das diferentes condições do mercado de trabalho na UE, a
resposta política deve ser coordenada, mas adaptada às circunstâncias
específicas de cada país. Desde o início da crise,
vários países da UE adotaram uma política ativa em matéria de reforma do
mercado de trabalho. Em alguns casos, foram adotados
ambiciosos planos de reforma, com o objetivo de criar condições mais favoráveis
ao emprego (gráfico 11). As reformas empreendidas recentemente afiguram-se, de
um modo geral, consentâneas com as prioridades estabelecidas a nível europeu,
nomeadamente com as medidas que contribuem para o dinamismo dos mercados de
trabalho, a redução da precariedade e a melhoria da competitividade. Alguns
países com uma elevada taxa de desemprego e grandes desequilíbrios externos
tomaram em mãos o desafio de melhorar a capacidade de resposta dos salários e a
sua capacidade de ajustamento do mercado de trabalho, nomeadamente através da
reforma da legislação em matéria de proteção do emprego e o sistema de fixação
salarial. As políticas de proteção dos rendimentos, de ativação e de
assistência à procura de emprego foram adaptadas aos crescentes desafios do
mercado de trabalho. Contudo, até à data, nem todos os países tomaram as
medidas necessárias para responder aos desafios políticos que têm pela frente. Gráfico 11. Número de medidas no mercado de trabalho por domínio, total UE Nota: As PAMT não têm em conta a formação. Fonte: Serviços da Comissão. base de dados LABREF da DG ECFIN. Combater o desemprego e
apoiar a criação de emprego deviam ser as principais prioridades políticas. Importa
manter a dinâmica de reforma do mercado de trabalho, em especial nos países
confrontados com grandes desafios nesta área. A sustentabilidade do
crescimento potencial, depende em grande medida do êxito com que os estrangulamentos
no mercado de trabalho são abordados e da resolução dos riscos de histerese no
desemprego. É urgente tomar as medidas adequadas para fazer face aos desafios
institucionais e estruturais do mercado de trabalho (segmentação do mercado de
trabalho, deterioração da correspondência entre oferta e procura de emprego e
desemprego estrutural persistente). Os países confrontados com grandes
problemas no mercado de trabalho têm de prosseguir as reformas estruturais
ambiciosas que favoreçam o ajustamento (legislação sobre a proteção do emprego,
fixação de salários) e executar as medidas adotadas. Podem igualmente ser ponderadas
medidas específicas para aumentar a procura de mão de obra, reduzindo a
fiscalidade sobre o trabalho (nomeadamente nos grupos com salários baixos),
quando a situação orçamental o permitir, e apoiando o espírito empresarial e a
economia social. Além disso, são igualmente necessárias medidas específicas
para promover a contratação de grupos específicos de trabalhadores em risco de
abandonarem o mercado de trabalho (por exemplo desempregados de longa duração
ou trabalhadores jovens sem experiência), nomeadamente através da implementação
de políticas ativas do mercado de trabalho e com uma boa relação custo-eficácia
e da exploração do potencial dos setores geradores de emprego. Anexo. Indicadores macro-económicos selecionados [1] Contudo, algumas propostas recentes sobre a grande
dimensão dos multiplicadores não se baseiam em nenhuma prova concreta. Ver, por
exemplo, Forecast errors and multiplier uncertainty (erros de previsão e
incerteza ligada aos multiplicadores) em Previsões Económicas Europeias, outono
de 2012, European Economy 7/2012. [2] Ver relatório da Comissão Europeia (2012) sobre as
finanças públicas na UEM 2012, European Economy 4/2012, DG Assuntos
económicos e financeiros. [3] Ver Comissão Europeia (2012) "Fiscal Sustainability
Report 2012", European Economy 8/2012. [4] Ver Comissão Europeia e Economic Policy Committee (2012) "2012 Ageing Report: Economic
and budgetary projections for the 27 EU Member States (2010-2060)",
European Commission, European Economy, No 2. [5] O pacote legislativo, composto por cinco regulamentos e
uma diretiva, entrou em vigor a 13 de dezembro de 2011. A legislação reforçou o
Pacto de Estabilidade e Crescimento e introduziu um novo conjunto de regras
para a supervisão dos desequilíbrios macroeconómicos. Ver também: http://ec.europa.eu/economy_finance/articles/governance/2012-03-14_six_pack_en.htm
[6] Os serviços da Comissão estimam em cerca de 0,8% do PIB
da UE os ganhos associados à atual aplicação da Diretiva Serviços nos
Estados-Membros, embora uma aplicação ligeiramente mais ambiciosa, com cada
país a apresentar um nível médio europeu de obstáculos ao fornecimento
transfronteiras de serviços e estabelecimento de atividades, traga ganhos
adicionais correspondentes de 0,4 pontos percentuais do PIB. Num cenário
extremamente ambicioso, se cada Estado-Membro atingisse a média dos cinco
países com melhor desempenho, obter-se-ia 1,8% suplementares de crescimento do
PIB a nível da UE. INTRODUÇÃO O projeto do Relatório
Conjunto sobre o Emprego, previsto pelo artigo 148.º do TFUE, integra a Análise
Anual do Crescimento que lança o Semestre Europeu de 2013. Enquanto contributo
fundamental para reforçar a orientação das políticas económicas, o relatório
consubstancia as principais mensagens da Análise Anual do Crescimento. A
análise que veicula baseia-se na situação do emprego e na situação social na
Europa, na aplicação das Orientações para o Emprego[1],
bem como nos resultados do exame dos diferentes programas nacionais de
reformas, que conduziram às recomendações específicas por país adotadas pelo
Conselho em julho de 2012, e na sua aplicação até agora. O relatório é publicado num momento em que: A retoma do emprego cessou, há menos postos de
trabalho e as perspetivas para 2013 são sombrias. A criação de emprego não se
afigura animadora e a situação agravou-se apesar de haver potencialidades por
explorar em alguns setores ricos em emprego e no mercado interno. A segmentação
do mercado de trabalho continuou a aumentar, com um número crescente de
contratos temporários e de trabalho a tempo parcial. A fiscalidade do trabalho
mantém-se elevada e aumentou em vários Estados-Membros. O desemprego está de novo em alta, tendo atingido
níveis sem precedentes nos países da zona euro, com o desemprego de longa
duração a chegar a uma situação alarmante, em especial nos Estados-Membros que
estão a ser alvo de medidas de forte consolidação orçamental. No mercado de
trabalho, o desemprego atinge mais de um em cada cinco jovens e corre-se o
risco de se perder uma geração. As disparidades entre Estados-Membros no tocante às
taxas de desemprego intensificaram-se dramaticamente, refletindo os efeitos de
choques assimétricos e as diferentes capacidades de resistência às crises por
parte dos mercados laborais. Os salários e os custos do trabalho começaram a
ajustar-se, mas os efeitos das reformas ainda não são plenamente visíveis.
Confirmam-se os sinais de desencontro entre a oferta e a procura nos mercados
laborais europeus, havendo o risco de que o crescente desemprego estrutural se
torne persistente. O rendimento médio das famílias está a diminuir em
muitos Estados-Membros e dados recentes apontam para níveis mais acentuados e
formas mais graves e profundas de pobreza e exclusão social, com cada vez mais
trabalhadores pobres e polarização social. Os efeitos da proteção social enquanto estabilizador
automático têm vindo a esvanecer-se desde 2010, com o consequente aumento das
taxas de pobreza. Há profundas diferenças nos Estados-Membros no tocante à
eficácia das respetivas despesas quando se trata de reduzir a pobreza. A situação do emprego e do mercado de trabalho
na Europa, e em alguns Estados-Membros em particular, exige uma ação mais
determinada por parte das autoridades públicas e dos parceiros sociais. Estão
em curso reformas ambiciosas, mas são necessários esforços acrescidos para
modernizar os mercados de trabalho e investir em capital humano, de forma a
criar condições propícias a uma retoma rica em emprego.
1.
Tendências recentes na evolução do mercado de trabalho e da situação
social
As
perspetivas económicas e do emprego são sombrias e têm-se agravado nos últimos
meses. 2012 foi um ano negativo para o emprego e o fraco aumento do PIB que se
prevê para 2013 não vai ser suficiente para criar postos de trabalho e reduzir
o desemprego. Para 2014, as perspetivas para os mercados de trabalho são já
mais positivas. A UE é atualmente a única grande região do mundo onde o
desemprego continua em alta. A retoma do emprego cessou
e o número de postos de trabalho está a diminuir. Na
UE, o número de pessoas no escalão dos 20-64 anos com emprego baixou 0,2% entre
o segundo trimestre de 2011 e o segundo trimestre de 2012. No período
2008-2011, o emprego diminuiu 1,7 %, revelando maior resistência do que nos EUA
no mesmo período (-5,8). Contudo, o declínio foi mais pronunciado na zona do
euro, em especial nos países que empreenderam consolidações orçamentais mais
substanciais. Desde o início da crise económica e financeira em 2008, o número
de empregos perdidos ascende já a 5 milhões, dos quais 4 milhões na zona euro. As
flutuações no emprego total desde que estalou a crise explicam-se
essencialmente pelo trabalho a tempo parcial e o emprego temporário, ainda que
os contratos permanentes também tenham sido afetados. Figura 1: Emprego e desemprego na UE-27, 2005-2012 Fonte:
Eurostat, contas nacionais e LFS Uma característica
positiva é o facto de a taxa de emprego dos trabalhadores mais velhos ter
aumentado 1,8 pontos percentuais entre 2008 e 2011,
contra um declínio de apenas 1,5 pontos percentuais na taxa de emprego total. Também
as mulheres resistiram à crise económica relativamente melhor do que os homens,
com taxas de emprego virtualmente ao mesmo nível de 2008, ao passo que a dos
homens declinou 2,6 pontos percentuais durante o mesmo período. Ao mesmo tempo,
a taxa de emprego dos jovens caiu 3,8 pontos percentuais. O desemprego está
novamente em alta e atingiu níveis sem precedentes na zona euro. A taxa global de desemprego na UE é atualmente de 10,6%, chegando aos
11,6 % na zona euro, o que corresponde ao nível mais elevado desde a criação da
UEM. Em maio de 2012, o número de pessoas desempregadas na UE superava, pela
primeira vez, os 25 milhões, tendo aumentado 0,75 milhões no trimestre
seguinte, o que representa uma subida total de quase 9 milhões desde 2008. O
desemprego apresenta tendência em alta na maioria dos Estados-Membros, com
apenas seis países a registar uma diminuição nos 12 meses anteriores a agosto
de 2012. O desemprego de longa
duração atingiu níveis alarmantes. No segundo
trimestre de 2012, havia 11,1 milhões de europeus que estavam no desemprego há
mais de 12 meses, representando 4,6% da população ativa[2]. Trata-se
de um aumento de 4,8 milhões comparativamente ao ano de 2008. Em 2011, 70% dos
desempregados de longa duração na UE-27 estavam concentrados nos seis maiores
países, com a Espanha a representar mais de 21% do total da UE e a contribuir
com 1,6 milhões para o aumento de 3,7 milhões do número de desempregados de
longa duração no período 2008-2011. A probabilidade de um
desempregado encontrar emprego baixou na maior parte dos Estados‑Membros desde que estalou a crise, tanto para os desempregados de curta como
para os de longa duração. Esta baixa tem sido particularmente acentuada nos
Estados-Membros que estão sujeitos a significativas medidas de consolidação
orçamental. Em Espanha, a probabilidade decresceu de 50% para 30% e na Grécia
passou de 25% para 15%, tendo permanecido estável nos Países Baixos e melhorado
na República Checa e na Estónia. Figura
2: Desemprego de longa duração em % da população ativa, 2008 e 2011 Fonte:
Eurostat, LFS O desemprego de longa
duração aumentou para todos os grupos, mas sobretudo para os jovens e as
pessoas com baixos níveis de habilitações educativas. Contudo,
em 2011, o risco de desemprego de longa duração para os trabalhadores mais
velhos era de 55% contra 30% para os jovens. Em 2011, o desemprego de longa
duração entre os trabalhadores pouco qualificados era quatro vezes superior ao
verificado nos trabalhadores com qualificações elevadas. Também os nacionais de
países terceiros registavam níveis de desemprego de longa duração duas vezes
superiores à média da UE em 2011. Alguns Estados-Membros têm sido capazes de
limitar a extensão do desemprego de longa duração, ou porque a recessão foi
mais curta ou porque as instituições do mercado de trabalho se revelaram mais
eficazes. O desemprego juvenil
atinge mais de um em cada cinco jovens. Esta situação
representa uma emergência económica e social, já que há 5,52 milhões de jovens
sem emprego. Nos últimos 12 meses, o desemprego juvenil aumentou na grande
maioria dos Estados-Membros, tendo em dois deles persistido acima dos 50% e em
seis acima dos 30%. Em 2011, a taxa de emprego dos jovens entre os 20 e os 34
anos que completaram, no mínimo, o ensino secundário superior baixou 4,2 pontos
percentuais para 77,2% em relação a 2008, evidenciando crescentes dificuldades
na transição do ensino para o emprego. Os
jovens que abandonam precocemente o ensino têm perspetivas de emprego sombrias. Os jovens em situação de
abandono escolar precoce constituem talvez o subgrupo mais vulnerável da
mão-de-obra europeia. Na UE, mais de metade dos jovens que abandonam o ensino
sem diploma estão desempregados. O abandono escolar precoce passou de 14,1% em
2010 para 13,5% em 2011. Persistem importantes disparidades entre os
Estados-Membros no que se refere ao abandono escolar precoce, mas aqueles que
tomaram medidas eficazes e exaustivas para combater o fenómeno têm vindo a
registar melhorias significativas. O abandono escolar precoce continua a ser
mais frequente entre os jovens oriundos de grupos desfavorecidos, migrantes e
minorias étnicas, designadamente os ciganos e, atinge mais os rapazes. A
percentagem de jovens que não trabalham, não estudam e não seguem uma formação
(os chamados NEET) continua a aumentar. Mais
preocupante é o facto de a situação se estar a agravar nos Estados-Membros que
registavam já os índices mais elevados neste domínio. Apesar de os maiores
aumentos se registarem em relação à população masculina, também as mulheres são
atingidas pelo fenómeno em quase todos os países europeus. Figura 3: Percentagem de jovens NEET na faixa etária
dos 15-24 anos Fonte:
Eurostat, LFS A
dispersão das taxas de desemprego entre Estados-Membros acentuou-se muito nos
últimos anos, em especial na zona euro. A diversidade
também é acentuada no plano regional e local, com zonas que concentram níveis
muito elevados de desemprego juvenil e de longa duração. Em agosto de 2012, a
Áustria registava a taxa de desemprego mais baixa, com apenas 4,5%, enquanto a
Espanha atingia os 25,1%. Uma percentagem significativa do desemprego está
concentrada em relativamente poucos países. Com efeito, o número de
desempregados na Itália e na Espanha e nos países que beneficiam de programas
de assistência financeira (Grécia, Irlanda, Portugal e Roménia) representa
quase metade do desemprego total na UE e esta proporção aumentou
significativamente durante a crise. Figura
4: Variação (pontos
percentuais) da taxa de desemprego nos últimos 12 meses e nos últimos três
meses até agosto de 2012 e evolução da distribuição das taxas de desemprego
entre agosto de 2009 e agosto de 2012 Fonte:
Eurostat Nota: Gráfico 2 - Faltam dados de 2008-2012
relativamente a 5 EM. Dados utilizados: junho para EE e LV, julho para EL, HU e
UK. Os indicadores sociais e
de emprego revelam um acentuar do fosso entre os Estados-Membros. Esta situação é particularmente visível entre os países do sul e os
países periféricos. Os Estados‑Membros que até aqui mostraram resistir
melhor são os da Europa setentrional e central. Os choques parecem ser
assimétricos, mas muitas vezes os países com mercados de trabalho relativamente
pouco segmentados, sistemas de proteção social fortes e capacidade para
ajustamentos temporários do horário e do tempo de trabalho (flexibilidade
interna) são os que melhor resistem. Dados
recentes mostram que os salários e os custos do trabalho vão no sentido de um
reajuste externo. Em 2011, os mercados laborais
europeus mostravam sinais claros de melhoria da dinâmica salarial, com custos
unitários do trabalho nominais a subir de forma moderada após os declínios dos
salários reais em 2010. A remuneração real por trabalhador baixou em cerca de
metade dos Estados-Membros em 2011 e progrediu a um ritmo inferior ao da
produtividade, confirmando assim a tendência iniciada em 2010 para um declínio
da quota-parte salarial. A evolução dos custos unitários do trabalho nominais
difere consoante o Estado-Membro. Em geral, esta evolução segue cada vez mais
padrões de reajuste externo, com uma diferenciação sempre mais clara entre os
países com maiores necessidades de reduzir o desemprego e de reequilibrar as
posições externas e os países onde a retoma se revela mais sustentada e com
excedentes nas contas correntes. Figura 5: Taxa de crescimento anual dos custos
unitários do trabalho nominais (2011Q2/2012Q2) e tendências em oito
Estados-Membros (os que foram destinatários de recomendações específicas em
matéria de salários), 2008Q2-2012Q2 Nota:
Dados trimestrais corrigidos de variações sazonais Fonte:
Eurostat, Gráfico 1: Para Chipre, a comparação é feita entre 2011Q1 e 2012Q1
(não há dados para 2012Q2) Fonte: Eurostat O
paradigma que prevaleceu antes da crise, caracterizado por uma mais forte
dinâmica dos salários reais nos países confrontados com elevado desemprego,
inverteu-se desde 2010. Esta evolução contribuiu para
a melhoria gradual da competitividade dos setores orientados para a exportação.
Nos países que iniciaram ou quase concluíram processos de correção dos défices
das balanças correntes, a procura de mão-de-obra e os salários no setor dos
bens transacionáveis apresentam níveis mais sustentados. Acresce que os factos
revelam que, até 2009, a dinâmica dos salários reais foi mais forte, mas esta
situação inverteu-se desde 2010. Em vários Estados-Membros,
o rendimento médio das famílias está a baixar. Entre
2009 e 2011, o rendimento bruto disponível baixou em dois em cada três Estados-Membros
e acentuaram-se as diferenças entre os países. Na maior parte dos
Estados-Membros, a prolongada crise económica e do mercado de trabalho,
associada à necessidade de prosseguir a consolidação orçamental (que implica
cortes nas prestações e aumentos de impostos), enfraqueceu o efeito de proteção
dos estabilizadores automáticos nacionais ao longo do tempo, à medida que os
beneficiários foram perdendo os direitos ou viram reduzido o nível das
prestações. Em consequência, a queda dos rendimentos da famílias fez-se sentir
com particular incidência nos Estados-Membros onde a recessão foi prolongada. As
medidas de consolidação orçamental implementadas desde 2010 parecem ter
contribuído para reduzir significativamente o rendimento disponível das
famílias. Figura 6: Variação do rendimento bruto disponível das
famílias durante a crise Fonte:
Eurostat, contas nacionais. A percentagem da população
da UE que dá conta de dificuldades financeiras nos respetivos agregados
familiares continua a atingir níveis sem precedentes, com um agravamento nos
últimos meses. Em 2012, o aumento anual do indicador
de stress financeiro no quintil inferior de rendimento foi especialmente forte
em Espanha e na Itália (10 pontos percentuais), enquanto seis Estados-Membros
davam conta de diminuições. Dados recentes apontam
para níveis mais elevados e formas mais graves de pobreza e exclusão social. A percentagem de pessoas em risco de pobreza e exclusão social aumentou
em vários Estados-Membros desde 2008, superando aqueles em que diminuiu. Alguns
grupos têm sido particularmente atingidos (crianças, famílias monoparentais,
população em idade ativa e, mais especificamente, os jovens). A evolução da
gravidade da pobreza confirma que as pessoas em risco de pobreza estão a ficar
mais pobres em muitos países, em especial naqueles onde esse risco é elevado. Em
2010, o rendimento mediano das pessoas em risco de pobreza situava-se 22%
abaixo do limiar de pobreza, o que mostra que o fosso de pobreza se está a
acentuar na maior parte dos Estados-Membros desde 2008. Figura 7: Evolução do número de pessoas em risco de
pobreza ou exclusão social (AROPE) nos Estados-Membros da UE entre 2008 e 2011 Fonte: UE-SILC, *dados:
SILC 2011(2010) A pobreza no trabalho e a
polarização social estão a aumentar em muitos Estados-Membros. Os trabalhadores
pobres representavam um terço dos adultos em idade ativa em risco de pobreza em
2011. Em 2010, 8,4% das pessoas com emprego viviam
abaixo do limiar de pobreza e o risco era particularmente elevado nas famílias
com crianças dependentes (10,7%). A incidência da pobreza na população com
emprego agravou-se para as mulheres e continua elevada para os homens. A
pobreza no trabalho aumentou significativamente entre 2006 e 2010 em um em cada
três Estados-Membros, incluindo alguns dos mais prósperos, com economias e
mercados de trabalho mais resistentes. Fatores como os ajustamentos salariais,
a redução do tempo de trabalho, o desemprego parcial e o recurso cada vez mais
frequente ao trabalho a tempo parcial e aos contratos temporários podem ter
contribuído para esta situação.
2.
Principais desafios para o mercado de trabalho
As tendências recentes do
mercado de trabalho explicam-se em parte pelos movimentos cíclicos e
designadamente pela profunda crise económica, mas devem-se também aos desafios
estruturais e institucionais que afetam a atividade económica e o desempenho
dos mercados laborais. A criação líquida de
postos de trabalho (crescimento do emprego) tem vindo a decrescer
continuadamente no conjunto da UE e nos Estados-Membros, com exceção do ano de
2010. Desde o segundo semestre de 2011, toda a Europa
voltou a registar níveis negativos em matéria de crescimento do emprego. Estes
factos, que resultam da diferença líquida entre as entradas no emprego
(desempregados que encontraram trabalho), que tendem a diminuir, e as saídas do
emprego, cada vez mais numerosas, requerem políticas que favoreçam a procura de
mão-de-obra e um modelos de crescimento mais rico em emprego[3]. Ao
mesmo tempo, contudo, os programas de criação de emprego apoiados pelos fundos
estruturais e o fundo de coesão registam progressos significativos, tanto em
termos de criação de emprego como de apoio a novas atividades (start-ups). Figura 8: Taxa de desemprego e vagas de emprego
preenchidas na UE-27, 2007Q1-2011Q4 Fonte:
Cálculos dos serviços da Comissão com base em dados do Eurostat A potencialidade de
criação de emprego em alguns setores estratégicos pode ser ainda mais explorada
se foram colmatadas as faltas de competências. Prevê-se
que a eco-indústria venha a criar cerca de 8 milhões de postos de trabalho até
2020, sendo cerca de 2,8 milhões o resultado de medidas de utilização eficiente
de recursos, 2 milhões o produto das políticas de eficiência energética e
outros 3 milhões provenientes do desenvolvimento do setor das energias
renováveis[4]. Em 2012, o número de pessoas que se
espera virem a trabalhar nas eco-indústrias na UE deverá atingir 3,4 milhões,
representando um aumento de 2,7 milhões em 2008, o que demonstra que, mesmo na
atual conjuntura económica, há potencialidades de criação de emprego neste
setor. Entre 2005 e 2009, o setor das energias renováveis contribuiu para a
criação de mais de 300 000 novos empregos. Durante o período 2008-2011, o setor
da saúde e ação social criou cerca de 1 866 000 novos postos de
trabalho. Além disso, espera-se que a procura mão-de-obra neste setor venha a
aumentar, prevendo-se oito milhões de novas oportunidades de emprego entre 2010
e 2020. No que se refere às TI, espera-se que até 2015 haja cerca de 70 000
vagas por preencher, destinadas a profissionais do setor. Tanto as TI como a
saúde enfrentam desafios análogos quanto se trata de substituir uma mão-de-obra
que está a envelhecer por trabalhadores mais jovens. Há uma escassez
significativa de competências em vários setores da economia verde, nas TI e no
setor dos cuidados de saúde, em especial para profissões com elevado nível de
especialização técnica. A carga fiscal sobre o
trabalho continua elevada e aumentou mesmo em vários Estados-Membros, mas as
mudanças na sua composição estão a reduzir o custo do trabalho. Uma carga fiscal elevada desincentiva o segundo elemento de um agregado
familiar e as pessoas pouco qualificadas a optar pelo trabalho e pode ter um
impacto negativo nas taxas de emprego a um nível agregado. Em 2011, a carga
fiscal média na UE-27 era de 39,6%, contra 21% na Suíça, 29,5% nos EUA e 30,8%
no Japão e no Canadá. Em média, a carga fiscal na Europa aumentou 0,3 pontos
percentuais entre 2010 e 2011, tendo afetado também os rendimentos mais baixos.
Os aumentos foram mais significativos nos Estados-Membros onde a fiscalidade já
era mais elevada. Contudo, esta situação fica essencialmente a dever-se a
mudanças na tributação do rendimento individual, em certos casos acompanhadas
de reduções das contribuições sociais dos empregadores, fazendo assim baixar os
custos do trabalho. Figura 9: Carga fiscal total sobre os rendimentos mais
baixos (com referência a 67% do ordenado médio para este grupo) em 2011 e
variação anual 2010-2011 Descrição
sucinta: *Os dados para os países da UE que não integram a OCDE (BG, LV, LT,
MT e RO) só estão disponíveis relativamente a 2010; **CY dados para 2007. Para
estes países, as variações da carga fiscal referem-se ao período 2009-2010
(para CY período 2006-2007). Fonte: OCDE A segmentação do mercado
de trabalho continuou a aumentar, verificando-se um aumento dos contratos
temporários e do trabalho a tempo parcial. Entre 2007
e 2011, a percentagem de trabalhadores que, involuntariamente, exerciam a
respetiva atividade profissional a tempo parcial ou com contratos a prazo
aumentou em 21 dos 27 Estados-Membros. Há fortes divergências entre os
Estados-Membros, mas os países mediterrâneos e a Polónia apresentam a
segmentação mais forte. As assimetrias na legislação em matéria de proteção do
emprego entre emprego permanente e emprego a prazo/temporário são uma das
principais causas da segmentação do mercado de trabalho. Em 2011, no grupo etário
dos 15-64 anos, 60,4% das pessoas trabalhavam involuntariamente com contratos a
prazo. A probabilidade de se ser contratado para um lugar permanente é mais
baixa nos Estados-Membros onde a legislação laboral é mais restritiva. Figura
10: Percentagem de trabalhadores com contratos a prazo ou a tempo parcial (em
2007 e 2011) e transições de empregos temporários para empregos permanentes
(dados de 2010) Descrição
sucinta: *Os dados da SI referem-se a 2011; **IE dados disponíveis só para
2007. Fonte:
Eurostat, LFS e SILC Os jovens estão fortemente
sobre-representados no trabalho temporário nos mercados laborais da UE e a sua situação tem vindo a agravar-se. Em 2011, cerca de 42,5% dos
jovens com emprego na UE trabalhavam com contratos temporários contra 14,0% da
média da população em idade ativa. Os dados disponíveis revelam que, entre os jovens,
o emprego temporário pode, em certa medida, servir de trampolim para o emprego
permanente, mas isto não é o caso em muitos outros Estados-Membros onde as
taxas de transição dos contratos temporários para os contratos permanentes são
particularmente baixas. Figura 11: Trabalhadores com contratos permanentes e
temporários, trabalhadores por conta própria e número total de trabalhadores
(15-64), 2007Q1-2012Q1 Fonte:
Eurostat Foi o emprego a tempo
parcial que contribuiu de forma significativa para o crescimento do emprego
verificado durante a crise. Ainda que o emprego total
tenha diminuído entre 2008 e 2010 e que haja menos 6,2 milhões de trabalhadores
a tempo inteiro, o número de trabalhadores a tempo parcial aumentou 1,1 milhões
durante o mesmo período. A expansão do emprego a tempo parcial tem sido
constante nos últimos anos, chegando aos 18,8% em 2011. Cerca de um terço das
mulheres com emprego trabalham a tempo parcial, contra apenas 8,1% dos homens,
situação que reflete o facto de os serviços de assistência à infância só
abrangerem 28% das crianças com menos de 3 anos e 84% das que têm mais de 3
anos. Há sinais recentes de
deterioração no processo de correspondência entre oferta e procura de emprego
nos mercados laborais europeus. Para a maior parte dos
Estados-Membros, a curva de Beveridge, que relaciona o desemprego e as vagas
existentes, continuou a deslocar-se para a direita. Contudo, três
Estados-Membros têm evoluído na curva de Beveridge (BE, AT e FI) desde o início
de 2008 e num Estado-Membro (DE) a curva deslocou-se para o interior,
demonstrando uma melhoria da situação dos mercados de trabalho e do encontro
entre oferta e procura de emprego. A deterioração pode ser uma consequência dos
desencontros entre as competências e as habilitações académicas exigidas para
certos empregos, da escalada do desemprego de longa duração, da resposta
inadequada à evolução demográfica e da ineficácia das prestações dos serviços
de emprego. Contudo, pode também ser o resultado de fricções e barreiras à
mobilidade profissional e geográfica e de assimetrias na circulação da
informação entre empregadores e trabalhadores. Os cidadãos europeus continuam a
ter de enfrentar obstáculos legais, administrativos e práticos quando pretendem
cruzar fronteiras. Estão previstas reformas para transformar a rede EURES[5]
numa ferramenta, orientada pela procura, de recrutamento, colocação
profissional e correspondência entre oferta e procura de emprego intra-UE,
permitindo que os Estados-Membros desenvolvam os seus serviços EURES em função
das respetivas necessidades económicas, dando apoio, por exemplo, a profissões
que conhecem défices de competências e a grupos específicos de trabalhadores,
incluindo os jovens. Figura 12: Curva de Beveridge, UE-27, 2008 (Q1) — 2012
(Q3) Fonte:
Eurostat, dados utilizados: (i) taxa de desemprego (UR, %), e (ii) o
indicador de escassez de mão-de-obra (LSI, %) proveniente dos resultados do
inquérito às empresas da UE O desemprego estrutural
persistente corre o risco de se tornar endémico. A deslocação
da curva de Beveridge para a direita pode ser temporária, à medida que o
mercado de trabalho procura reagir e adaptar-se à evolução da atividade
económica, por exemplo através de mudanças na dinâmica salarial, de
reconversões ou de um reforço das políticas ativas de emprego. Contudo, essa
deslocação pode também ser indício de problemas estruturais mais profundos que
ameaçam provocar um aumento permanente do desemprego estrutural. Os dados
mostram que o desemprego estrutural medido pela a taxa de desemprego compatível
com uma taxa de crescimento constante dos salários (NAWRU) subiu na maior parte
dos Estados-Membros da UE desde que estalou a crise e que essa progressão
evoluiu paralelamente à deterioração da curva de Beveridge. Figura 13: Taxa de desemprego compatível com uma taxa
de crescimento constante dos salários (NAWRU) por Estado-Membro Fonte:
AMECO Assistiu-se recentemente a
um declínio das despesas com políticas ativas de emprego, por pessoa
desempregada. Os dados mostram que estas políticas têm
efeitos positivos nas taxas de emprego, em especial no caso das mulheres e das
pessoas pouco qualificadas. Os Estados-Membros que apresentam os
níveis mais baixos de desemprego de longa duração também são os que registam
níveis mais elevados de participação em medidas ativas de emprego, ainda que
outros fatores possam ter contribuído para estes resultados favoráveis. Porém,
a redução dos recursos das políticas ativas de emprego por pessoa desempregada
superou os 20% entre 2007 e 2010[6].
Figura
14: Participação em medidas ativas de emprego em 2010 e taxa de desemprego de
longa duração em 2011 Fonte:
Eurostat A rede de segurança que o
sistema de proteção social constitui para os rendimentos das famílias, agindo
como estabilizador automático, começou a enfraquecer depois de 2009. Na primeira fase da crise, as prestações sociais desempenharam um
importante papel de apoio aos rendimentos das famílias. Na zona euro, as
prestações sociais líquidas e as reduções fiscais tiveram um impacto positivo
no rendimento disponível bruto durante o ano de 2009 e nos primeiros dois
trimestres de 2010. Contudo, na segunda fase da crise económica, este efeito
positivo começou a esvanecer. No final de 2010, o impacto das prestações
sociais na variação do rendimento das famílias começou a evoluir negativamente.
Em alguns países, há cada vez mais pessoas sem qualquer cobertura social. Esta
situação decorre da progressiva redução dos direitos às prestações, da
supressão gradual de certas medidas de apoio ao rendimento e, em alguns países,
do corte nas despesas sociais no âmbito de programas de consolidação
orçamental. Há fortes
diferenças entre os Estados-Membros no tocante à eficiência das respetivas
despesas, designadamente do ponto de vista dos resultados e dos efeitos de redução
da pobreza conseguidos por unidade de despesa, quando
se parte de modelos e estruturas de despesas com proteção social semelhantes. Os
sistemas fiscais e de prestações contam-se entre os instrumentos mais
importantes para prevenir e combater a pobreza monetária. Em 2012, a despesa
com prestações sociais (excluindo pensões) reduziu a taxa de pobreza na UE de
26% para 16%, o que representa uma diminuição de 37%. Contudo, Estados-Membros
que gastam o mesmo com proteção social obtêm resultados diferentes. Alguns
países conseguem reduzir a pobreza das crianças e dos idosos ou o absentismo
por doença gastando menos do que outros. Alguns países têm níveis de prestações
melhores porque conseguem reduzir o tempo durante o qual pagam as prestações,
fazendo com que as pessoas regressem mais depressa ao trabalho. A procura de
equilíbrio entre prestações universais e prestações sujeitas a condições de
recursos e entre prestações pecuniárias e prestações em espécie pode contribuir
para incentivar as pessoas a regressar ao trabalho. Quando se mede as despesas
de proteção social em relação à redução da pobreza, fica-se com a ideia de que
há sistemas mais eficientes do que outros. Bulgária, Letónia, Polónia e Roménia
são países que gastam pouco e cujas despesas têm pouco impacto; Espanha,
Itália, Portugal, Chipre (e Grécia) apresentam resultados análogos mas com
níveis de despesas mais elevados. Estes países também dão conta de resultados
abaixo da média da UE em matéria de redução da pobreza infantil. Os
grandes desafios que se colocam estão na plena implementação de estratégias de
inclusão ativas centradas simultaneamente num adequado
apoio ao rendimento, em mercados de trabalho inclusivos e no acesso a serviços
de qualidade. São visíveis agora em vários Estados-Membros passos concretos em
prol de políticas sociais ativas e de eliminação dos desincentivos financeiros
ao trabalho. Contudo, persistem disparidades no grau de cobertura da
assistência social e dos regimes de rendimento mínimo nos Estados-Membros,
mantendo-se o desafio de chegar aos grupos que conhecem as formas mais
profundas de pobreza (como os sem-abrigo e os ciganos). A garantia de medidas
adequadas de apoio ao rendimento constitui um instrumento eficaz para facilitar
a transição para o trabalho, promover a inclusão social e dinamizar a procura
agregada. A disponibilidade de estruturas de acolhimento de crianças, de
qualidade e a preços comportáveis, é um precioso apoio para que os pais possam
participar na atividade económica, ao mesmo tempo que proporciona às crianças
as melhores perspetivas de vida. Porém, a realidade mostra que as famílias mais
vulneráveis apresentam, de um modo geral, taxas de participação mais baixas
devido fatores como a disponibilidade e o acesso, o preço, a elegibilidade e a
escolha dos pais.
3.
Realizar reformas estruturais do mercado de trabalho
O Conselho Europeu de 1 e 2
de março de 2012, tomando por base a Análise Anual do Crescimento de 2012 da
Comissão, determinou as orientações políticas para os Estados-Membros na
apresentação dos seus programas nacionais de reformas contendo os respetivos
projetos de reforma do mercado de trabalho, com vista a atingir os grandes
objetivos da UE estabelecidos nas orientações para as políticas de emprego. Com
base nas propostas da Comissão, o Conselho adotou recomendações específicas por
país, sublinhando os domínios em que os Estados-Membros deveriam realizar
reformas políticas no quadro geral das orientações para as políticas de
emprego. A secção que se segue trata
das medidas políticas tomadas pelos Estados‑Membros no âmbito da
realização dos seus programas nacionais de reformas e tendo em conta as
prioridades definidas na Análise Anual do Crescimento de 2012.
3.1.
Mobilizar o trabalho a favor do crescimento
Vários
Estados-Membros (Bélgica, República Checa, Estónia, Hungria, Irlanda e Portugal)
estão a tomar medidas para reforçar as políticas ativas do mercado de
trabalho e os serviços públicos de emprego. Na Bélgica, aumentaram os
subsídios para os chamados trabalhadores do conhecimento (por exemplo, investigadores
no setor público ou privado). Na República Checa, as atividades de interesse
comunitário são usadas como medidas de ativação coordenadas pelos serviços de
emprego. Na Estónia, o novo programa de emprego para 2012-2013 propõe um vasto
conjunto de políticas ativas do mercado de trabalho e alarga o grupo de
potenciais beneficiários de diferentes medidas. Na Hungria, as políticas ativas
do mercado de trabalho foram reforçadas, com incidência na formação dos
trabalhadores dos serviços públicos de emprego, no desenvolvimento de modelos
de serviços orientados para o cliente, em pacotes de serviços para as
micro-empresas e as PME, na expansão das funções do portal e dos serviços em
linha dos serviços públicos de emprego e na transformação das iniciativas em
matéria de empregos de utilidade pública. Na Irlanda, está a ser reforçada a
condicionalidade das prestações, a fim de incentivar os trabalhadores a tempo
parcial a optar pelo trabalho a tempo inteiro. Por fim, em
Portugal, foram tomadas medidas para tornar mais eficientes os serviços
públicos de emprego, tendo sido introduzidos sistemas de subvenções salariais
para os desempregados. Em 2011 e
2012, a carga fiscal sobre o trabalho continuou elevada, tendo-se registado um
aumento do custo do trabalho, ainda que haja progressos a assinalar para certas
categorias de trabalhadores vulneráveis como os pouco qualificados/remunerados.
Vários Estados-Membros (Bélgica, Dinamarca, Chipre, Finlândia, Grécia,
Espanha, Irlanda, Itália, França, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal,
Eslovénia, Reino Unido) aumentaram recentemente os impostos sobre os
rendimentos das pessoas singulares, muitas vezes mercê de subidas das taxas
do imposto. Estes aumentos foram introduzidos numa base temporária, sob a forma
de sobretaxas ou de contribuições de solidariedade com incidência sobre os
rendimentos elevados (Grécia, Itália, Chipre, Luxemburgo, Portugal, SP). A
Áustria e a República Checa também preveem introduzir medidas análogas. As
contribuições para a segurança social também aumentaram em vários países
(Áustria, Bulgária, Chipre, França, Grécia, Hungria, Letónia, Polónia, Portugal
e Reino Unido). As
medidas destinadas a reduzir a carga fiscal sobre o trabalho foram
essencialmente concebidas para reforçar os incentivos ao trabalho para certos
grupos específicos e comportaram geralmente alterações da base tributável. Na Bélgica, por exemplo, foi instituído um conjunto de reduções das
contribuições para a segurança social para os jovens, as pessoas com salários
baixos e os trabalhadores mais velhos, assim como para ajudar as PME e os
trabalhadores por conta própria a contratem pessoal. A Finlândia e a Hungria
também concederam reduções fiscais aos que auferem rendimentos médios e baixos,
por meio do aumento de créditos de imposto e outras prestações de base. A
Suécia aumentou a parte isenta de impostos nos rendimentos do trabalho das
pessoas com mais de 65 anos, a fim de que prologuem a vida ativa. Foram tomadas medidas para promover a criação
de empresas e o emprego por conta própria (Áustria. Bélgica, Bulgária,
Estónia, Espanha, Irlanda, Malta, Hungria, Polónia, Portugal, Reino Unido). Na Áustria, foi lançado um projeto piloto para apoiar os estagiários e
as empresas que lhes proporcionam oportunidades de aprendizagem, incluindo
consultoria jurídica e mediação. Na
Bélgica, foram tomadas medidas para melhorar o acesso das empresas ao crédito,
promover a simplificação administrativa ou reduzir as contribuições sociais no
setor da restauração. Na Bulgária, o emprego por conta própria é promovido
através de consultoria, formação e assistência no arranque de novas atividades
ou financiamento da aquisição ou reparação de equipamento para pequenas
empresas de criação recente. Em Espanha, a criação de empresas está a ser
simplificada mediante a redução dos encargos administrativos e a extensão dos
horários de atendimento nas zonas turísticas. Na Irlanda, foram lançados
regimes de ajudas que incluem subvenções, fundos de empréstimos e garantias,
incentivos à criação de novas empresas, etc. Em Malta, foram tomadas medidas
para reduzir as formalidades burocráticas para os empresários individuais,
tendo sido anunciado um novo sistema de micro-garantias para ajudar os
trabalhadores por conta própria e as pequenas empresas a obter garantias para os
empréstimos bancários. Na Polónia, a promoção do empreendedorismo, do emprego
por conta própria e da atividade empresarial é feita através do FSE. Em
Portugal, procura-se garantir o acesso ao crédito aos empresários e aos
trabalhadores por conta própria e prestar apoio técnico aos desempregados que
pretendem criar o seu próprio negócio. No Reino Unido, foi lançado um sistema
(National Loan Guarantee Scheme ) para encorajar os bancos a conceder crédito
às PME. Alguns Estados-Membros tomaram medidas para adaptar
as prestações de desemprego afim de facilitar o regresso ao trabalho
(Bélgica, Espanha, Irlanda, Itália e Suécia). Na Bélgica, a reforma dos regimes
de prestações de desemprego faz com que os subsídios diminuam mais cedo e mais
depressa do que anteriormente. Em Espanha, as prestações
de desemprego foram reduzidas para vários grupos. Em Portugal, a nova
legislação veio reduzir o período de concessão e o montante das prestações de
desemprego a fim de conter o risco de dependência das prestações e de desemprego
de longa duração. Na
Suécia, foram impostas regras de elegibilidade mais rigorosas e introduzidas
taxas de substituição do rendimento mais baixas e períodos máximos de concessão
de prestações de desemprego. Em Espanha, procura-se reforçar a responsabilidade
mútua dos intervenientes, pondo a condicionalidade em relação com as
políticas ativas do mercado de trabalho. Na Irlanda, foi reforçada a
condicionalidade para os candidatos a emprego e em especial para os
desempregados de longa duração. Em Itália, o novo regime de seguro social de
emprego irá progressivamente substituir o atual sistema de prestações de
desemprego. Vários
Estados-Membros tomaram medidas em matéria de fixação dos salários, a
fim de garantir uma evolução dos salários consentânea com a produtividade
(Grécia, Espanha e Portugal). Em Espanha, a recente reforma do mercado de
trabalho dá prioridade às decisões tomadas à escala de cada empresa em matéria
de tempo de trabalho e de remunerações, facilitando às empresas a renúncia a
acordos setoriais. Em Portugal, a evolução dos salários em função das condições
de cada empresa é garantida através de isenção de acordos coletivos quando as
organizações patronais representam menos de 50% do total da mão-de-obra. Na Alemanha, o sistema de
salário mínimo setorial está a ser alargado a mais setores. Na Hungria, o
novo código laboral entrou em vigor em 1 de julho de 2012, tendo tido por
consequência um aumento do salário mínimo de 19%. Na Grécia, as medidas
salariais introduzidas implicaram a redução dos salários mínimos e a introdução
de um salário mínimo diferenciado para os jovens. Vários Estados-Membros (Áustria, Bulgária,
Alemanha, Espanha, Letónia e Hungria) tomaram medidas para reforçar a
mobilidade profissional. Na Áustria, a introdução do cartão Rot-Weiß-Rot
(Vermelho-Branco-Vermelho), um sistema de pontos para o acesso ao mercado de
trabalho de nacionais de países terceiros, foi completada pela abertura do
sistema a trabalhadores especializados em profissões onde a mão-de-obra é
deficitária. Na Bulgária, a adoção de um quadro nacional de qualificações vai
conferir maior transparência à formação profissional de estudantes e
trabalhadores, atendendo também às expectativas dos empregadores relativamente
aos sistemas de ensino e formação. Na Alemanha, foi promulgada uma lei que
baixa o limiar de rendimento para os migrantes de países terceiros titulares de
um diploma universitário. Na Letónia, foi proposto um sistema para fixar uma
prestação de re-instalação para compensar os trabalhadores que mudam de local
de residência para ir trabalhar noutra localidade. Na
Hungria, o governo apoia a mobilidade através de subsídios para pagamento de
rendas de casa aos desempregados que mudam para mais de 100 km de distância do
seu lugar de origem. Os
Estados-Membros estão a tomar medidas para reduzir a saída precoce do
mercado de trabalho (Áustria, Bélgica, Espanha, Dinamarca, Irlanda, Países
Baixos, Hungria, Reino Unido). Na Áustria, foram tomadas medidas para limitar o
número de pensões por invalidez. Na Bélgica, o limite de idade para acesso ao
sistema de crédito horário para os trabalhadores mais velhos foi alargado e o
sistema de pré-reforma a tempo parcial foi terminado. Na Dinamarca, os
programas de reforma por deficiência exigem que seja exploradas possibilidades
de ativação entes que possa ser considerada a possibilidade de reforma. Em
Espanha, o calendário para a entrada em vigor do aumento da idade de reforma
vai ser acelerado, a idade de reforma antecipada passa dos 61 para os 63 anos
com penalizações acrescidas e uma suspensão do acesso à reforma antecipada
durante dois anos. Na Irlanda, novas iniciativas vão permitir que os
beneficiários de pensões por doença ou invalidez continuem a trabalhar e a
receber um apoio ao rendimento, além de que a idade legal de reforma passará
para os 68 anos até 2028. Os Países Baixos estão a tomar medidas
graduais para passar a idade da reforma para os 67 anos até 2023, podendo em
seguida ser alinhada pela esperança de vida. A Hungria acabou com a reforma
antecipada. O governo do Reino Unido anunciou recentemente planos para ligar a
idade de reforma à esperança de vida. As
medidas também incidem no prolongamento da vida ativa (Áustria, Bélgica,
Bulgária, Alemanha, Estónia, Finlândia, Luxemburgo, Polónia e Reino Unido). Na
Áustria, as medidas ativas do mercado de trabalho, as de reintegração e
reconversão profissional, os subsídios por trabalho a tempo parcial e as ajudas
ao emprego estão agora disponíveis para os trabalhadores mais velhos com
problemas de saúde. Na Bélgica, em caso de despedimento coletivo, as empresas
com mais de 20 trabalhadores são obrigadas a aplicar a mesma estrutura etária
que vigora na empresa e devem desenvolver um plano anual para os trabalhadores
com mais de 45 anos. Na República Checa, a idade de reforma aumentará de
2 meses por ano sem limite superior, na sequência da reforma das pensões
aprovada em finais de 2011. Na Estónia, as atenções vão para os trabalhadores
mais velhos, a sua participação na aprendizagem ao longo da vida e a garantia de
boas condições de saúde. Na Finlândia, estão a ser envidados esforços para
melhorar a qualidade de vida e o bem-estar no trabalho como forma de prolongar
a vida ativa. No Luxemburgo, as empresas com mais de 150 trabalhadores são
obrigadas a dar mais apoio aos trabalhadores mais velhos. Na Polónia,
procura-se aumentar as oportunidades de aprendizagem para os trabalhadores mais
velhos e melhorar a qualidade da educação para adultos. O Reino Unido aboliu em
2011 a idade legal de reforma. Alguns
Estados-Membros tomaram medidas que não propiciam um prolongamento da vida
ativa. Na República Checa haverá um aumento da tributação do trabalho
dos pensionistas, o que se repercutirá provavelmente numa redução da sua
participação no mercado de trabalho. Em França, foi reaberta a possibilidade de
reforma aos 60 anos para as pessoas que começaram a trabalhar com 18 anos e que
tenham carreiras contributivas adequadas. Na Hungria, foi instituída a idade de
reforma obrigatória para todos os funcionários públicos, exceto os do setor da
saúde.
3.2.
Apoiar o emprego, em especial dos jovens
Foram tomadas medidas parta
fomentar o emprego dos jovens, em especial dos que não trabalham, não estudam
nem seguem qualquer formação. A Finlândia lançou um sistema intitulado Garantia
Jovem, destinado a dar possibilidades de trabalho, estágio ou estudo, ou
ainda um lugar numa oficina ou centro de reinserção profissional a jovens
desempregados há mais de 3 meses. Um grupo de países (Bélgica,
Bulgária, Espanha, Chipre, Irlanda, Polónia, Portugal, Eslovénia e Suécia) está
a promover iniciativas para melhorar as condições dos contratos de
aprendizagem e formação. Na Bélgica, foi introduzido um amplo sistema de
formação nas empresas destinado aos desempregados com menos de 25 anos que não
encontram emprego após seis meses de integração profissional. Na Bulgária, são
organizados estágios nos serviços centrais e regionais da administração
pública, com prioridade para os jovens com deficiência.
Na Irlanda, assinalam-se iniciativas para promover a atividade e a
melhoria das competências dos jovens, através de 5 000 estágios com duração de
6 a 9 meses. Em Espanha, foram dados passos
para desenvolver um contrato de educação e aprendizagem e estabelecer um
sistema de formação dual. Na Polónia, foi
lançado um projeto piloto destinado aos desempregados com menos de 30 anos, o
qual consiste em tutoria individual, estágios e cheques de formação. Em
Portugal, apoiam-se os estágios profissionais e as colocações. Na Eslovénia, os
desempregados com menos de 30 anos recebem ofertas de emprego por um período de
15 meses e o governo está a promover a aprendizagem voluntária junto da
administração fiscal e das instituições de combate à corrupção. Na Suécia, o
governo subvenciona as empresas com montantes que podem ir até 2 750 euros por
aprendiz e por ano, a fim de estimular a abertura de vagas de aprendizagem nos
locais de trabalho, estando previsto um aumento dos subsídios estatais em 2014-
2016. Outras ações de apoio aos
jovens que estão fora do mercado de trabalho, do ensino ou da formação incluem
programas que incidem na formação profissional (Alemanha, Letónia e
Finlândia), formação em ambiente de trabalho (Letónia) e apoio financeiro
(Hungria). Na Alemanha, os jovens com antecedentes migrantes têm agora melhores
oportunidades de integrar programas de formação profissional. Na Letónia, um
projeto destinado a reforçar o emprego dos jovens visa os que têm menos de 29
anos, prevendo subvenções salariais e organização da aquisição de conhecimentos
no local de trabalho. Na Letónia, aos jovens dos 15 aos 24 anos são dadas
oportunidades de formação profissional durante 9 semanas para que testem as
respetivas vocações numa instituição de formação profissional. Na Hungria, foi
introduzida a primeira «garantia emprego» que proporciona uma vasta gama de
compensações aos empregadores pelos salários brutos e as contribuições para a
segurança social. Em alguns Estados-Membros
foram criadas parcerias com os parceiros sociais para promover a
qualidade dos contratos de aprendizagem ou de estágio (Bulgária, República
Checa, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Roménia e Eslováquia). Na Bulgária,
as medidas tomadas visam apoiar o investimento e financiar os custos da criação
de emprego para os jovens. Na República Checa,
um projeto financiado pelo FSE comparticipa os custos dos estágios em empresas
de jovens licenciados com falta de experiência profissional e que necessitam de
completar os respetivos perfis de competências. Na Irlanda, foram tomadas
medidas para garantir mais lugares de formação para os desempregados, através
de colaboração e empenho entre empregadores, empresas e entidades que dispensam
ensino e formação. Na Roménia, as empresas que contratam trabalhadores com
menos de 25 anos têm direito, por cada trabalhador, a um ano de isenção de
pagamento de contribuições sociais. Na Eslováquia, os empregos no setor privado
serão subsidiados até ao nível do salário mínimo durante um ano, enquanto os
empregadores deverão contribuir durante pelo menos seis meses. Só alguns países (Hungria,
Eslováquia e Itália) tomaram medidas para reformar a legislação de proteção
do emprego. Na Hungria, as mudanças incluem a regulamentação aplicável à
acumulação de empregos, à flexibilização do tempo de trabalho e à simplificação
das regras de despedimento. Portugal reduziu o pagamento das indemnizações a 20
dias por ano de trabalho, tanto para os contratos a prazo como para os de
duração ilimitada e facilitou os despedimentos individuais por razões
económicas. Na Itália, a legislação que rege os despedimentos individuais sem
justa causa nas empresas com mais de 15 trabalhadores foi revista no intuito de
flexibilizar a saída do mercado de trabalho e foram introduzidas medidas para
limitar os abusos nos contratos de trabalho atípicos. Na Eslováquia, foram tomadas
medidas para restringir a duração máxima e o número de contratos a termo
sucessivos e eliminar as exceções para as agências de trabalho temporário. Poucos Estados-Membros dão
conta de progressos na adaptação dos sistemas de ensino e formação às necessidades
do mercado de trabalho (Irlanda, Letónia, Malta e Eslováquia). Na Irlanda,
as medidas tomadas visam ajudar os desempregados e os trabalhadores
independentes sem trabalho a permanecer em contacto com o mercado laboral,
facultando-lhes acesso a cursos superiores e oportunidades de formação a tempo
parcial, para que possam aperfeiçoar as suas competências ou reconverter-se em
setores com mais perspetivas de emprego. Na Letónia, vai proceder-se a um
levantamento das qualificações em várias fases, a fim de se poder informar
melhor as pessoas sobre a estrutura da procura de competências e identificar os
especialistas mais procurados. Em Malta, os estudantes são encorajados a
prosseguir os estudos para adquirirem as competências de que a economia
necessita, através de créditos de imposto que cobrem 80% das propinas. Na
Eslováquia, a lei recentemente aprovada na área do ensino e da formação visa
reforçar os laços entre a educação e a formação profissional e as necessidades
do mercado de trabalho. Também na Bélgica, todas as comunidades tomaram medidas
para reformar a formação profissional, com vista a reforçar a sua qualidade,
flexibilidade e ligação às exigências do mercado de trabalho. Foram tomadas medidas com
incidência na qualidade e no financiamento das universidades (Itália,
Letónia e Malta). A Itália avançou no sentido de tornar menos generosas as
propinas universitárias, as quais deverão aumentar entre 25% e 100%. No que se
refere às bolsas, só Malta anunciou a continuação de dois sistemas de bolsas. A
Letónia iniciou um vasto processo de avaliação de mais de 800 programas de
ensino superior e estão em curso várias reformas, designadamente a que se
refere aos processos de acreditação, ao desenvolvimento de novos modelos de
financiamento das universidades e à reforma da gestão das universidades. Não obstante o apelo do
Semestre Europeu para que fosse dada prioridade a despesas que propiciem o
crescimento, a realidade mostra que há cortes que são feitos em detrimento do investimento
em educação. Um número significativo de Estados-Membros reduziu as
respetivas despesas com educação consecutivamente em 2011 e 2012 (Grécia,
Itália, Letónia, Lituânia e Reino Unido) ou em 2011 ou 2012 (Bélgica, Bulgária,
Irlanda, França, Chipre, Hungria, Polónia, Roménia, Eslováquia e Finlândia). Também em Espanha, os debates incidem na
consolidação orçamental no setor educativo. Em contrapartida, há orçamentos que
permaneceram estáveis ou aumentaram (República Checa, Dinamarca, Luxemburgo,
Malta e Áustria).
3.3.
Proteger os mais vulneráveis
Foram tomadas medidas por
certos Estados-Membros para tornar mais eficazes os sistemas de proteção
social (Grécia, Letónia e Espanha). Na Grécia, a disponibilidade de
prestações de desemprego aumentará significativamente a partir de 2013, acompanhando
e contrabalançando a reforma da legislação laboral de 2009. Na Irlanda, não
obstante os cortes nas prestações sociais, as pessoas mais vulneráveis
continuam a beneficiar de apoio ao rendimento, ainda que em menor escala. Na
Letónia, as prestações de desemprego deixarão de estar condicionadas a um
regime de seguro de reforma e passarão a basear-se numa cobertura decrescente
com duração máxima de 9 meses. Em Espanha, o regime de ativação do rendimento
mínimo passa a estar associado à duração da carreira contributiva do
requerente. Alguns Estados-Membros
fizeram progressos na implementação de estratégias de inclusão ativa com
especial incidência no apoio ao rendimento, em mercados laborais inclusivos e
no acesso a serviços de qualidade (Áustria, Dinamarca, Finlândia, França,
Malta, Polónia e Suécia). Na Áustria, foi aprovado um plano de ação para a
deficiência que comporta medidas de combate à discriminação, acessibilidade,
cuidados, educação, emprego, autonomia, etc. Na Dinamarca, foi aprovada, em
junho de 2012, uma importante reforma dos regimes de pensões por invalidez que
restringe o acesso às pessoas com mais de 40 anos e prevê a criação de equipas
de reabilitação para apoiar a prestação de serviços de saúde, emprego, educação
e ação social. Em Malta, as organizações voluntárias são incentivadas
financeiramente a recorrer à colaboração de pessoas dos grupos vulneráveis. Na
Suécia, o governo prevê melhorar a posição no mercado de trabalho dos grupos
vulneráveis através de medidas ativas do mercado de trabalho para os
desempregados de longa duração e pessoas com fracas ligações ao mercado de
trabalho. Em Portugal, foi criado um mercado social do arrendamento que procura
garantir às pessoas em situação mais vulnerável acesso a habitações de
qualidade e a preços razoáveis. Poucas foram as medidas
tomadas relativamente ao acesso a serviços de apoio à integração no mercado
de trabalho e na sociedade (República Checa, Irlanda e Polónia). Na
República Checa, foi lançado, à escala local, um programa que pretende oferecer
melhores condições de habitação e reconversão profissional às famílias em
situação de exclusão social (em especial os ciganos) e garantir que os seus
filhos frequentam regularmente estabelecimentos de ensino. Na Irlanda, o FSE
apoia programas que visam a autonomia financeira e a inserção social dos
imigrantes, através de emprego, ensino e formação. Na Polónia, foram alargados
os critérios de rendimento para apoiar os trabalhadores pobres e aumentadas as
prestações pecuniárias de assistência social, que passam a incluir os
estrangeiros e os refugiados que frequentam cursos de língua. [1] Decisão 2010/707/UE do Conselho, de 21 de outubro
de 2010, relativa às orientações para as políticas de emprego dos
Estados-Membros, JO L 308 de 24.11.2010, p. 46. [2] Os desempregados de longa duração representam atualmente
mais de 44% da população desempregada. [3] Ver Pacote do Emprego da Comissão Europeia, abril de
2012. [4] Documento de trabalho dos serviços da Comissão, (2012), Exploiting
the Employment Potential of Green Growth, 92final, 18.4.2012 [5] A rede de 31 serviços públicos de emprego, que favorece
a mobilidade de trabalhadores entre Estados-Membros, os países do EEE e a
Suíça. [6] Estimativas da OCDE com base em Labour Market
Programmes e Main Economic Indicators Databases, OCDE Introdução A atual crise económica e
financeira na UE tem sido um catalisador na origem de profundas mudanças. A
grande reestruturação das nossas economias atualmente em curso atesta o seu
impacto. Trata-se de um processo que é fonte de perturbações, de desafios
políticos e de dificuldades sociais, mas que não deixa de ser necessário no
intuito de criar os alicerces para o crescimento e a competitividade no futuro,
devendo tal assumir uma dimensão inteligente, sustentável e inclusiva. A fim de prosseguir as
reformas necessárias, a UE deve estar em condições de demonstrar que as nossas
políticas estão a surtir efeito, que produzirão resultados a prazo e que serão
aplicadas de forma equitativa em termos do seu impacto nas nossas sociedades.
Retificar os problemas anteriores e colocar a UE numa trajetória de
desenvolvimento mais sustentável para o futuro é uma responsabilidade que
incumbe tanto aos Estados-Membros, como às instituições da UE. Reconhecendo a
estreita interdependência das nossas economias, a UE está neste momento a
proceder a uma reformulação da sua governação económica, a fim de garantir que
sejam dadas melhores respostas estratégicas aos desafios atuais e futuros. A presente Análise do
Crescimento lança o Semestre Europeu para 2013 e delineia a forma como esta
responsabilidade partilhada pode servir de força motriz para impulsionar a
mudança em todo o território da UE, criando os alicerces para o relançamento do
crescimento e a criação de emprego. Contexto Em 2012, a conjuntura
económica na UE permaneceu frágil. Em relação ao ano considerado no seu
conjunto, prevê-se atualmente uma contração do PIB de 0,3 % na UE e de 0,4% na
área do euro. Será necessário tempo para que a retoma sustentável seja
realidade[1]. Após vários anos de crescimento moroso, a crise está a desencadear
graves consequências sociais. Os sistemas de segurança social amortizaram
alguns dos seus efeitos numa primeira etapa, mas o seu impacto repercute-se
atualmente de forma generalizada. Registou-se um aumento substancial do desemprego,
bem como das dificuldades económicas e da pobreza. Tais dificuldades são
particularmente manifestas na área do euro, embora não se circunscrevam ao seu
território. A duração da crise não
contribuiu para que os Estados-Membros prosseguissem os esforços desenvolvidos
com vista a alcançar os objetivos da estratégia Europa 2020 em matéria de
emprego, I&D, alterações climáticas/energia, educação e luta contra a
pobreza, pelo que, de modo geral, a Europa ficou aquém dos seus objetivos[2]. Para que um rumo em direção a uma economia europeia inteligente,
sustentável e inclusiva seja realidade, impõem-se, contudo, progressos em todos
estes domínios. Apesar de os desafios
divergirem significativamente entre os países e na própria área do euro, a
perspetiva de uma retoma morosa torna a situação difícil para a UE no seu
conjunto. Os níveis de endividamento acumulados pelos setores público e privado
restringem as possibilidades de novas atividades e investimentos. Os
instrumentos da política orçamental e monetária foram utilizados em grande
escala, sendo o espaço de manobra atualmente limitado. As reformas estruturais
constituem um vetor essencial para restabelecer a competitividade da Europa,
mas a tomada destas decisões é frequentemente fonte de dificuldades. Assegurar
a transparência quanto aos objetivos das políticas atuais e a equidade em
termos do seu impacto na sociedade serão aspetos muito importantes com vista a
manter a dinâmica das reformas. As perspetivas a curto prazo
continuam a ser precárias, apesar de se assistir também a uma evolução mais
positiva. Os desequilíbrios macroeconómicos, que têm vindo a acumular-se há
muito, estão a ser atualmente corrigidos e algumas partes da Europa
restabeleceram a sua competitividade, muito embora exista ainda um longo
caminho a percorrer antes de serem eliminadas as divergências em termos de
desempenho[3]. Estão a ser realizados progressos a nível da consolidação das
finanças públicas e foram tomadas medidas importantes para atenuar as tensões
nos mercados financeiros. Aspeto importante para os países que empreenderam
reformas substanciais, vislumbram-se os primeiros indícios de que estas estão a
surtir efeito, assistindo-se à redução do endividamento dos setores público e
privado numa série de Estados-Membros e a um aumento das exportações em vários
países que apresentavam anteriormente grandes défices comerciais. Em 2012, muito foi feito a
nível da UE para quebrar o círculo vicioso entre as deficiências dos nossos
sistemas financeiros, as tensões no mercado da dívida soberana e o reduzido
crescimento económico, a fim de criar as condições para uma retoma sustentável: § A criação do
Mecanismo Europeu de Estabilidade assegura um mecanismo de proteção credível
para assistir os países da área do euro cujo acesso ao financiamento seja
reduzido. § A adoção de um
Pacto para o Crescimento e o Emprego pelos Chefes de Estado ou de Governo no
Conselho Europeu realizado em junho de 2012 deverá dinamizar os esforços
envidados pelo legislador da UE e pelas administrações a todos os níveis no
sentido de mobilizar os instrumentos de crescimento de que dispõem, desde a
aplicação dos Atos relativos ao Mercado Único até à utilização mais centrada
dos Fundos Estruturais da UE. A Comissão também propôs recentemente uma
estratégia destinada a melhorar o funcionamento dos mercados de energia, bem
como medidas para uma política industrial reforçada. § Novas regras
destinadas a reforçar a governação económica, nomeadamente na área do euro, têm
vindo a ser aplicadas (pacote composto por seis atos legislativos), acordadas
(Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação) ou serão objeto de
acordo num futuro próximo (pacote de dois atos legislativos). § O Banco Central Europeu
tomou medidas importantes para salvaguardar a estabilidade financeira na área
do euro. Estão a ser debatidas outras
decisões fulcrais, que influenciarão o futuro da Europa: § Precisamos ainda
de obter um acordo geral sobre o quadro financeiro plurianual da UE para
2014-2020. Tal será essencial para restabelecer o crescimento e a
competitividade em toda a Europa e para alcançar os objetivos da nossa
estratégia Europa 2020. § Estão a ser ponderadas
medidas importantes para reforçar a União Económica e Monetária (UEM).
Paralelamente à presente Análise, a Comissão apresentará um plano de ação para
uma verdadeira UEM e o Conselho Europeu, a realizar em dezembro de 2012, também
debaterá estas questões. As recomendações específicas
por país anuais, adotadas em julho de 2012[4], devem
constituir o ponto de partida para a intervenção dos Estados-Membros. A sua
aplicação é objeto de um diálogo contínuo entre os Estados-Membros e a Comissão
e os progressos realizados neste contexto serão analisados na próxima
primavera. Como demonstrado pelo relatório do Parlamento Europeu sobre o
Semestre Europeu[5], o acompanhamento a nível da UE desempenha um papel importante com
vista a coordenar e complementar os esforços envidados pelos próprios
Estados-Membros. As prioridades A presente Análise Anual do
Crescimento tem como objetivo definir as prioridades económicas e sociais para
a UE em 2013, fornecendo para o efeito orientações gerais aos Estados-Membros e
à UE sobre a prossecução das suas políticas. Lança o terceiro Semestre Europeu
de coordenação estratégica, no âmbito do qual o desempenho e as prioridades
nacionais são examinados coletivamente a nível da UE nos primeiros seis meses
de cada ano. O Conselho Europeu emitirá orientações em março de 2013, devendo
os Estados-Membros apresentar programas nacionais atualizados até meados de
abril de 2013, na sequência dos quais a Comissão apresentará as suas
recomendações específicas por país. O desafio a curto prazo
consiste em restabelecer a confiança e estabilizar a situação económica e
financeira, empreendendo simultaneamente as reformas estruturais que lançarão
as bases para uma retoma sustentável, geradora de emprego, e destinada a
assegurar a transformação intrínseca da economia a médio prazo. Um ajustamento
deste teor exigirá tempo, pelo que se impõem medidas na etapa atual. Com base nas indicações
favoráveis de que as reformas já desencadeadas estão a surtir efeito, a
Comissão considera que as prioridades identificadas na Análise do ano transato
continuam a ser válidas em termos gerais e que os esforços desenvolvidos a
nível nacional e da UE em 2013 devem continuar a centrar-se nas cinco
prioridades seguintes: § Prosseguir a consolidação orçamental diferenciada e favorável ao
crescimento § Restabelecer as práticas normais de crédito à economia § Promover o crescimento e a competitividade hoje e no futuro § Encontrar uma solução para o desemprego e as consequências sociais da
crise § Modernizar a administração pública 1. Prosseguir
a consolidação orçamental diferenciada e favorável ao crescimento Em resultado da crise, o
rácio da dívida soberana aumentou, tendo passado em apenas alguns anos de 60%
para 90% do PIB na área do euro, em média. É premente uma reestruturação das
finanças públicas para sustentar os sistemas de segurança social e os serviços
públicos, limitar os custos de refinanciamento para o Estado e outras
autoridades públicas, e evitar as repercussões negativas para o resto da
economia, incluindo os eventuais efeitos de contágio a nível de outros países.
A evolução demográfica continuará a ser igualmente fonte de pressões no que
respeita às despesas relacionadas com o envelhecimento da população. Deve ser
atribuída especial atenção à política orçamental na área do euro, em que o
impacto das políticas orçamentais nacionais insustentáveis se repercute com
maior acuidade sobre outros Estados‑Membros. A evolução geral em termos da
consolidação orçamental atualmente em curso aponta para a realização de
progressos: prevê-se uma descida dos défices públicos na área do euro que
atingiram, em média, níveis superiores a 6% do PIB em 2010, para valores
ligeiramente superiores a 3% em 2012. Projeta‑se que a dívida pública
atingirá um pico de cerca de 94,5 % no próximo ano na área do euro e em 2014 em
toda a UE, devendo posteriormente começar a diminuir em termos de percentagem
do PIB. A consolidação orçamental
pode ter um impacto negativo sobre o crescimento a curto prazo. É provável que
este efeito seja mais acentuado durante as crises financeiras, quando se
assiste a uma restrição concomitante das condições de financiamento aplicáveis
a outros operadores económicos. Todavia, não se trata do único fator a ter em
conta para efeitos do crescimento: consoante as escolhas efetuadas em termos da
composição do ajustamento, o «efeito multiplicador» da política orçamental
divergirá. Por exemplo, a experiência demonstrou que, nos países com
percentagens relativamente elevadas de despesas públicas em relação ao PIB e
com taxas de tributação relativamente elevadas, a consolidação orçamental
alcançada através da contenção das despesas em detrimento de um novo aumento
das receitas fiscais é mais favorável ao crescimento a longo prazo. No período
compreendido entre 2009 e 2012, a consolidação orçamental foi assegurada
mediante o recurso a medidas tanto no domínio das despesas como das receitas,
numa escala bastante semelhante: prevê-se que as despesas diminuirão em dois
pontos percentuais do PIB e que as receitas aumentarão 1,3 pontos percentuais. Além disso, o cenário
alternativo de atrasar o ajustamento orçamental acarretaria custos muito mais
elevados. Vários Estados-Membros não se encontram em condições de proceder ao
financiamento das suas necessidades através do mercado ou defrontam-se com
dificuldades para conter o aumento dos diferenciais relativamente às suas
obrigações soberanas devido à falta de confiança quanto à sustentabilidade das
suas finanças públicas. Para restabelecer a confiança dos investidores, reduzir
os custos do reembolso da dívida e criar espaço de manobra em termos
orçamentais, o que se impõe nestes países são esforços firmes, envidados a um
ritmo adequado, no sentido de colocar as finanças públicas numa trajetória
sustentável. O impacto negativo sobre o crescimento pode ser em grande medida
mitigado, na condição de o ajustamento orçamental ser bem concebido.
Restabelecer a sustentabilidade orçamental reverter‑se-á em benefício
tanto dos operadores públicos como privados nestes países e contribuirá para a
estabilidade financeira global da UE. Cada Estado-Membro
encontra-se numa situação orçamental e económica distinta, razão pela qual a
Comissão defende esforços diferenciados de consolidação orçamental, que se
adequem a cada país. Em consonância com o Pacto de Estabilidade e Crescimento,
estas estratégias devem colocar a tónica nos progressos realizados em termos
estruturais, mais do que puramente nominais, e incluir uma composição do
ajustamento que seja favorável tanto ao crescimento como à equidade social. Uma
abordagem diferenciada deste teor contribuirá igualmente para assegurar o
ajustamento dos desequilíbrios da balança de transações correntes. O Pacto de Estabilidade e
Crescimento assegura um quadro eficiente para um ajustamento orçamental flexível
e eficiente. Os objetivos orçamentais são expressos em termos nominais e são
estes que muitas vezes predominam nas primeiras páginas dos jornais. Todavia, o
Pacto coloca a ênfase na situação orçamental subjacente, pelo que os esforços
de consolidação recomendados pelo Conselho são expressos em termos estruturais[6]. Consequentemente, se estas condições forem preenchidas, um
Estado-Membro pode beneficiar de um prazo mais alargado para corrigir o seu
défice excessivo, se uma conjuntura económica menos favorável do que a
projetada não lhe permitir alcançar o objetivo acordado. Por exemplo, em 2012,
os prazos fixados para que Espanha e Portugal reduzissem os seus défices
públicos para níveis inferiores a 3% do PIB foram prorrogados por um ano,
tendo-lhes sido concedido até 2014 para atingir este objetivo. Uma vez
corrigidas as situações de défice excessivo, os Estados‑Membros deverão
alcançar o seu objetivo orçamental de médio prazo, que assegurará a manutenção
das finanças públicas a níveis sustentáveis. No que respeita aos
Estados-Membros que deixaram de dispor de acesso ao mercado para o
refinanciamento da sua dívida, é necessário um rápido ritmo de ajustamento
orçamental a fim de restabelecer de forma urgente a confiança dos investidores.
Esforços concentrados, conforme acordados ao abrigo dos programas de
ajustamento económico, facilitarão igualmente a correção necessária dos
desequilíbrios macroeconómicos. Esta realidade manifesta é comprovada pelo
ajustamento positivo a ter lugar na Irlanda, em Portugal e na Roménia. Na
Grécia, contudo, o processo tem sido mais longo e oneroso devido a uma
conjugação de fatores, incluindo a incerteza que prevalece de forma recorrente
quanto à aplicação do programa. Em relação aos
Estados-Membros que dispõem de maior espaço de manobra em termos orçamentais,
os estabilizadores automáticos podem desempenhar plenamente o seu papel, em
conformidade com o Pacto. O ritmo da consolidação pode apoiar o crescimento,
mas os Estados-Membros devem ter em conta os eventuais riscos orçamentais
resultantes de atrasos na consolidação à luz dos desafios suscitados pelos
elevados níveis de endividamento, pela perspetiva de envelhecimento da
população e pelo potencial de crescimento bastante reduzido nalguns países,
para além da incidência negativa que adviria de qualquer alteração a nível da
perceção do mercado. A Comissão continuará a
acompanhar de perto a evolução da economia real. Em especial, as suas próximas
previsões de inverno, previstas para o início do próximo ano, revelarão se os Estados-Membros
estão a respeitar a trajetória acordada para a redução dos seus défices
estruturais e a necessidade de eventuais ajustamentos no que respeita aos
prazos para a correção dos défices excessivos, no pleno respeito pelo espírito
e pela letra do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Restabelecer finanças
públicas sãs é um processo moroso. A existência de regras de governação sólidas
a nível da UE e de quadros orçamentais nacionais sólidos, conforme previsto na
legislação da UE, contribuirá para alicerçar estes esforços ao longo do tempo.
Tais regras incluem a definição de regras orçamentais numéricas, o recurso a
instituições orçamentais independentes e o planeamento a médio prazo, com a
supervisão multilateral dos progressos realizados. No que se refere ao lado da
despesa dos orçamentos nacionais, é essencial examinar a eficiência e a
eficácia, em termos globais, das despesas. Apesar de a situação divergir
consoante os países, a Comissão tem recomendado que é necessário que os cortes
preconizados assumam uma natureza seletiva, de molde a preservar o potencial de
crescimento no futuro e as redes de segurança social fundamentais. Em especial,
a Comissão considera que: § Os investimentos
na educação, investigação, inovação e energia devem ser considerados
prioritários e reforçados sempre que possível, sendo simultaneamente assegurada
a eficiência dessas despesas. Deve ser igualmente prestada especial atenção à
manutenção ou ao reforço da cobertura e da eficácia dos serviços de emprego e
de políticas ativas a nível do mercado de trabalho, tais como a formação dos
desempregados e os mecanismos de garantia destinados aos jovens. § A modernização dos
sistemas de proteção social deve ser prosseguida, a fim de assegurar a sua
eficácia, adequação e sustentabilidade. Impõe-se redobrar esforços a nível das
reformas dos sistemas de pensões, no intuito de assegurar o alinhamento da
idade de reforma com a esperança de vida, restringir o acesso aos regimes de
reforma antecipada e permitir o prolongamento da vida profissional. Igualmente no
contexto dos desafios demográficos e das pressões a nível das despesas
relacionadas com a idade, as reformas dos sistemas de saúde devem ser empreendidas,
a fim de garantir uma boa relação custo-eficácia e a sua sustentabilidade,
sendo o desempenho destes sistemas aferido à luz do duplo objetivo de assegurar
uma utilização mais eficiente dos recursos públicos e o acesso a sistemas de
saúde de elevada qualidade. Do lado das receitas dos
orçamentos nacionais, a evolução recente demonstra que muitos Estados-Membros
aumentaram os impostos sobre o rendimento e/ou as taxas de IVA[7]. Subsistem ainda, contudo,
possibilidades de transferir a carga fiscal global para matérias coletáveis
menos prejudiciais para o crescimento e a criação de emprego, tornando os
sistemas de tributação mais eficientes, concorrenciais e equitativos. Uma
transição deste tipo exige uma abordagem global que assegure a redistribuição
equitativa e se adapte às circunstâncias dos Estados-Membros individuais. Trata‑se
da razão pela qual a Comissão recomenda o seguinte: § A carga fiscal
sobre o fator trabalho deve ser substancialmente reduzida nos países em que
seja comparativamente elevada e comprometa a criação de emprego. A fim de
assegurar que as reformas sejam neutras em termos de receitas, certos impostos
como os impostos sobre o consumo, os impostos prediais recorrentes e os
impostos ambientais poderiam ser aumentados. § Receitas
adicionais devem advir preferencialmente do alargamento das bases tributáveis,
mais do que do aumento das taxas de imposto ou da criação de impostos novos. As
isenções fiscais, as taxas reduzidas de IVA ou as isenções dos impostos
especiais de consumo devem ser reduzidas ou suprimidas. As subvenções
prejudiciais ao ambiente devem ser progressivamente eliminadas[8]. O cumprimento das obrigações fiscais deve ser melhorado através de
uma ação sistemática destinada a reduzir a economia paralela, a combater a
evasão fiscal[9] e a garantir uma maior eficiência da administração fiscal. § Deve ser atenuada
a distorção a nível da tributação das empresas que faz com que as empresas
privilegiem o financiamento através de empréstimos. § A tributação de imóveis e
do setor da habitação deve ser objeto de reformas, a fim de impedir que voltem
a surgir riscos financeiros neste setor. Em especial, devem ser reexaminados
aspetos dos regimes fiscais que aumentam as distorções a favor do endividamento
das famílias, normalmente através do desagravamento fiscal dos créditos
hipotecários. Em relação à maioria destas
medidas, foram emitidas recomendações específicas por país de teor
pormenorizado, procedendo-se a uma análise inter pares a nível da UE para
examinar os progressos realizados e as melhores práticas. A sua aplicação
representa atualmente o maior desafio neste contexto. 2. Restabelecer
o crédito à economia A crise tem tido um impacto
duradouro sobre a situação financeira de muitos operadores dos setores público
e privado, afetando a confiança dos investidores e dos mutuantes, bem como a
eficácia do setor financeiro. As tensões nos mercados da dívida soberana e no
setor bancário alimentaram-se mutuamente, criando graves problemas de
financiamento para inúmeros mutuários. Esta evolução conduziu à fragmentação do
sistema financeiro de acordo com as fronteiras nacionais, passando as
atividades financeiras a circunscrever-se aos mercados nacionais. Até à data, o
acesso limitado ou oneroso ao financiamento que daí resultou para muitas
empresas e famílias que pretendiam investir tem sido um importante obstáculo à
retoma em toda a Europa. Simultaneamente, os elevados níveis de endividamento
significam que muitos operadores económicos necessitam de minimizar os seus
riscos financeiros ou aumentar os seus aforros. Essa «desalavancagem» pode
igualmente comprometer a retoma a curto prazo. Os problemas são particularmente
acentuados nos Estados-Membros vulneráveis da área do euro. Estão a ser tomadas medidas a
nível da UE para suprir os riscos que pesam no sistema financeiro e retificar
as anteriores deficiências dos nossos sistemas de regulamentação e supervisão,
a saber: § Foram
desenvolvidos esforços coordenados para avaliar os riscos do setor bancário e
recapitalizar os bancos. O reconhecimento das perdas e o saneamento dos
balanços dos bancos são cruciais para melhorar a confiança nos mercados e devem
ser brevemente concluídos. § Foram instituídas
novas autoridades de supervisão da UE em janeiro de 2011, as quais têm
desenvolvido esforços no sentido de elaborar um conjunto único de regras
destinadas a reforçar o quadro jurídico aplicável às instituições financeiras.
É necessário um rápido acordo sobre as propostas da Comissão relativamente aos fundos
próprios e à liquidez dos bancos, aos sistemas de garantia de depósitos e às
modalidades de resolução de crises nos bancos, a fim de assegurar um quadro
mais coerente para a prevenção e a gestão das crises financeiras. § Um controlo mais
aprofundado dos níveis de endividamento privado e dos riscos financeiros
conexos, tais como as bolhas imobiliárias, passou a ser atualmente assegurado
pelo Comité Europeu do Risco Sistémico (CERS) e no âmbito do novo procedimento
da UE para eliminar os desequilíbrios macroeconómicos. § A Comissão propôs,
enquanto pedra angular do reforço da União Económica e Monetária, uma união
bancária, incluindo um mecanismo único de supervisão, sob a égide do Banco
Central Europeu, com vista a assegurar uma maior integração da supervisão
bancária a nível da UE. O estabelecimento deste mecanismo criará igualmente as
condições para que o Mecanismo Europeu de Estabilidade proceda diretamente à
recapitalização dos bancos que se revelam incapazes de mobilizar capitais nos
mercados. A nível nacional, os
Estados-Membros podem envidar esforços complementares para promover fontes
alternativas de financiamento, aumentar a liquidez e reduzir a tradicional
dependência das empresas face ao financiamento bancário, por exemplo: § Promovendo novas fontes de
capital, incluindo a concessão de empréstimos entre empresas, assegurando
maiores possibilidades em termos de emissão de obrigações de empresas e
facilitando o acesso ao capital de risco. § Reduzindo os atrasos no pagamento
por parte das autoridades públicas, uma vez que os prazos médios registaram uma
nova deterioração durante a crise, o que suscita encargos específicos para as
PME numa conjuntura comercial atualmente difícil. A diretiva da UE relativa aos
atrasos de pagamento, a ser objeto de transposição até março de 2013, reduzirá
os atrasos para 30 dias e melhorará a indemnização em caso de atrasos no
pagamento. § Desenvolvendo o papel dos
bancos públicos e das instituições de garantia no financiamento das PME,
nomeadamente, mediante a cobertura de parte dos riscos assumidos pelos
investidores privados e a compensação da falta de capital ou da pequena
dimensão da empresa a financiar, incluindo através de novas formas de
titularização. § Apoiando regimes
inovadores, tais como os regimes públicos que autorizam os bancos a contrair
empréstimos a uma taxa de juro mais baixa se aumentarem os seus empréstimos a
longo prazo às empresas ou concederem empréstimos menos onerosos e mais
acessíveis às PME. § Assegurando uma abordagem
equilibrada no contexto das execuções hipotecárias no âmbito da concessão de
empréstimos hipotecários, protegendo as famílias vulneráveis, evitando
simultaneamente grandes desequilíbrios a nível dos balanços dos bancos. Tal
inclui medidas para introduzir regimes de insolvência pessoal que autorizem
alterações das condições dos créditos hipotecários, a fim de evitar as
execuções hipotecárias. Além disso, é importante
tirar pleno partido dos instrumentos financeiros existentes ou novos a nível da
UE para dinamizar investimentos específicos, nomeadamente em infraestruturas
fundamentais: § A mobilização de
um montante suplementar de 10 mil milhões de EUR a favor do Banco Europeu de
Investimento (BEI) permitir-lhe-á conceder um financiamento adicional no valor
de 60 mil milhões de EUR durante os próximos três a quatro anos, podendo este
montante ser triplicado em termos de empréstimos concedidos por outras fontes
de financiamento. § O recurso a
obrigações destinadas ao financiamento de projetos representa um novo
instrumento importante de partilha de risco que permitirá mobilizar fundos privados,
por exemplo, junto das seguradoras e dos fundos de pensões, complementando
assim a tradicional atividade mutuante dos bancos. Vários projetos encontram-se
atualmente numa fase avançada de elaboração pelo BEI. § No âmbito do Pacto
para o Crescimento e o Emprego, a Comissão continuará a colaborar com os
Estados-Membros para reprogramar e acelerar a utilização dos fundos estruturais
da UE com vista a apoiar o crescimento, nomeadamente das PME. Além disso, os Estados-Membros
são convidados a indicar nos seus programas nacionais de reforma o modo como
tencionam recorrer aos fundos estruturais para promover as prioridades
favoráveis ao crescimento no âmbito da próxima ronda de programas (2014-2020). Deve ser igualmente tirado pleno partido dos mecanismos associados ao
Programa para a Competitividade e a Inovação que já mobilizaram 2,1 mil milhões
de EUR em fundos de capital de risco e permitiram a concessão de empréstimos às
PME no montante de 11,6 mil milhões de EUR. 3. Promover o crescimento e a competitividade hoje e no
futuro A crise tem vindo a acelerar
as transições na economia, tendo alguns setores mais tradicionais sido
particularmente afetados, enquanto outros setores mais novos enfrentam
dificuldades em termos de desenvolvimento. O ritmo acelerado da reestruturação
é fonte de desafios, mas igualmente de oportunidades em termos de exploração do
potencial de novas fontes de crescimento e emprego[10]. Tais
ajustamentos sobrepõem-se e servem muitas vezes para dar resposta aos desafios
da competitividade a mais longo prazo, defrontados por muitas das nossas
economias. O Relatório sobre o Mecanismo de Alerta, adotado paralelamente à
presente Análise, revela que a evolução da competitividade dos preços e não
relacionada com preços tem contribuído de forma positiva para a melhoria dos
desequilíbrios externos, muito embora com um efeito retardador. Os
Estados-Membros sujeitos a grandes pressões do mercado já empreenderam reformas
significativas, mas é patente que é necessário redobrar esforços para melhorar
a competitividade interna e externa num vasto leque de Estados‑Membros. Tal como ilustrado pelas
recomendações específicas por país, não há um programa uniforme de aplicação
única, mas há objetivos comuns, um leque de reformas a ponderar e muitos
exemplos de melhores práticas, incluindo exemplos de práticas europeias que são
seguidas à escala mundial, que podem servir de inspiração. Enquanto algumas
reformas podem exigir tempo para surtir efeito, outras podem apresentar
resultados mais imediatos. É necessário que existam, a
nível nacional, certas condições de enquadramento e as prioridades devem
incluir: § Incentivar a
inovação, novas tecnologias e aumentar os níveis de investimento por parte dos
setores público e privado no I&D. O apoio centrado por parte das
autoridades públicas e uma maior concorrência a nível das subvenções de
investigação desempenharão um papel importante neste contexto. § Melhorar o
desempenho dos sistemas de educação e de formação, bem como os níveis gerais
das competências, associando de forma mais estreita os mundos do trabalho e do
ensino. § Melhorar o quadro
empresarial, reduzindo as formalidades necessárias para o arranque de uma
empresa e simplificando os procedimentos de autorização, concessão de licenças
e respeito das obrigações fiscais, para além de atenuar a carga administrativa
geral que recai sobre as empresas. Devem ser eliminados obstáculos específicos
às atividades em setores que são uma grande fonte geradora de emprego como a
construção civil, os serviços às empresas, a logística, o turismo e o comércio
grossista. § Explorar o potencial da
economia verde, definindo um quadro regulamentar previsível e promovendo a
criação de novos mercados e tecnologias. Em especial, a definição de programas
mais ambiciosos no domínio da renovação de energia ou da eficiência enérgica,
incluindo mas não se restringindo aos requisitos fixados pela diretiva da UE
neste domínio, podem traduzir-se em importantes poupanças de custos e na
criação de emprego, para além de benefícios ambientais. Uma melhor gestão dos
resíduos, dos recursos hídricos e da reciclagem também apresenta grandes
potencialidades em termos de criação de novos postos de trabalho, contribuindo
simultaneamente para assegurar o abastecimento de recursos e materiais
escassos. O mercado único europeu
propicia muitas oportunidades para o desenvolvimento das empresas e para que os
consumidores beneficiem de melhores serviços e produtos. No domínio dos
serviços, podem ser retiradas inúmeras vantagens se os Estados-Membros
melhorarem a aplicação da Diretiva Serviços ao: § Cumprirem as suas
obrigações no sentido de eliminar as restrições com base na nacionalidade ou
residência do prestador de serviços. § Reexaminarem a
necessidade e a proporcionalidade da regulamentação dos serviços profissionais,
nomeadamente no que respeita à fixação de tarifas e limitações quanto à
estrutura das empresas e da participação no capital social. § Reexaminarem a
aplicação da cláusula sobre a liberdade de prestação de serviços, no intuito de
suprimir a dupla regulamentação injustificada em setores como a construção, os
serviços às empresas, o turismo, e assegurar a fixação de preços transparentes
a nível dos serviços de saúde. § Reforçarem a concorrência
no setor retalhista mediante a redução das restrições operacionais,
nomeadamente através da supressão dos exames de necessidade económica. O desempenho das indústrias
de rede em toda a Europa tem igualmente repercussões determinantes sobre o
resto da economia, podendo ser significativamente melhorado: § Desenvolvendo os
incentivos adequados para a rápida implantação a nível nacional da
infraestrutura Internet de débito elevado e o desenvolvimento do tráfego de
dados móveis. Os governos devem libertar frequências para a banda larga sem
fios. § Assegurando a
plena transposição e aplicação do terceiro pacote da energia, nomeadamente a
desagregação das redes, a garantia da independência e das competências
necessárias das entidades reguladoras nacionais e a supressão progressiva dos
preços de energia regulados, protegendo simultaneamente os consumidores vulneráveis. § Acelerando a
implementação do Céu Único Europeu mediante a redução da fragmentação da gestão
do tráfego aéreo e a melhoria da organização do espaço aéreo. § Abrindo os
serviços ferroviários de transporte de passageiros nacionais à concorrência,
nomeadamente através do acesso equitativo à infraestrutura. § Integrando os
portos de melhor forma na cadeia logística, suprimindo as barreiras de acesso
aos serviços portuários. § Suprimindo as
restrições à cabotagem que subsistem, a fim de melhorar a articulação entre a
oferta e a procura de transportes internacionais. § Em conformidade com a
diretiva relativa ao comércio eletrónico, aplicando regras harmonizadas em
matéria de transparência e requisitos de informação às empresas e aos
consumidores. O
desempenho dos mercados do produto seria igualmente melhorado numa medida
significativa se os organismos de normalização nacionais alcançassem os
objetivos fixados a nível da UE, assegurando nomeadamente a transição em termos
de aplicação de normas nacionais para normas a nível da UE. Deve ser tirado
pleno partido da notificação das regras técnicas aplicáveis aos produtos e
serviços TIC para facilitar a sua circulação no mercado único. 4. Encontrar
uma solução para o desemprego e as consequências sociais da crise Ao longo dos últimos 12
meses, registou-se um aumento de 2 milhões no número de desempregados que
atingiu, no total, mais de 25 milhões. A taxa de desemprego aumentou para 10,6%
na UE e para 11,6% na área do euro. O desemprego de longa duração tem vindo a
aumentar e quase um em cada dois desempregados está sem emprego há mais de um
ano. A situação diverge de forma muito significativa em toda a Europa,
oscilando as taxas de desemprego entre níveis inferiores a 5% e superiores a
25%, em média. Os jovens foram particularmente afetados, sendo as taxas de
desemprego dos jovens superiores a 50% nalguns países[11], mas
outras faixas etárias são igualmente afetadas. Dada a duração do período de
desemprego, a rápida reestruturação da economia e as dificuldades de encontrar
um emprego, há o risco de o desemprego vir a assumir cada vez mais uma natureza
de ordem estrutural e de um crescente número de pessoas abandonar o mercado do
trabalho[12]. Há também claros indícios de que os riscos de pobreza e exclusão
social têm vindo a aumentar em muitos Estados-Membros[13]. As
pressões adicionais sobre os sistemas de segurança social afetam igualmente a
sua capacidade de desempenhar as suas funções de proteção social. As fracas perspetivas de
crescimento e o desfasamento temporal entre a retoma económica e a recuperação
do mercado de trabalho pressupõe a ausência de quaisquer perspetivas de
melhoria imediata ou automática da situação de emprego, o que suscita um
importante desafio para a UE no seu conjunto, bem como para os países mais afetados,
e apela para uma ação mais firme por parte das autoridades públicas e dos
parceiros sociais. Para além do impacto da crise
atual, a evolução estrutural no sentido do envelhecimento da população e,
dentro em breve, da redução da população em idade ativa nalgumas partes da
Europa suscita desafios específicos. Incentivar a reforma precoce dos
trabalhadores mais idosos na esperança de que se procederá ao recrutamento de
jovens em sua substituição é uma política que se revelou bastante ineficaz e
muito onerosa no passado, não sendo portanto de repetir. Apesar dos elevados níveis de
desemprego, há também elementos que apontam para a existência de
estrangulamentos ou a falta de correspondência das competências profissionais,
com certas regiões ou setores desprovidos de trabalhadores com competências
adequadas face às respetivas necessidades. Incrementar a participação no
mercado de trabalho, melhorar os níveis das competências e facilitar a
mobilidade continuam a ser prioridades urgentes. Várias reformas ambiciosas
têm vindo a ser realizadas em toda a Europa. Nos países sujeitos a pressões
financeiras, foram tomadas medidas destinadas a facilitar os regimes de
trabalho flexíveis nas empresas, reduzir a indemnização por despedimento
aplicável aos contratos normalizados e simplificar os processos de despedimento
individual ou coletivo. Foram igualmente tomadas medidas para reforçar a
flexibilidade na fixação dos salários como, por exemplo, facilitar as condições
de isenção no que respeita à aplicação pelas empresas de acordos de negociação
coletiva de nível mais elevado e à revisão dos acordos salariais. Preparar uma retoma
geradora de emprego É essencial redobrar esforços
no sentido de melhorar a resistência do mercado do trabalho e investir nos
recurso humanos, a fim de contribuir para o recrutamento pelas empresas e para
a sua adaptação a esta realidade, para além de permitir a um maior número de
pessoas permanecerem ativas e tirarem partido das oportunidades existentes. Os
parceiros sociais têm um papel fulcral a desempenhar neste contexto,
paralelamente às autoridades públicas. É por esta razão que a Comissão
recomenda, nomeadamente: §
Limitar a carga fiscal que recai sobre o fator
trabalho, em especial de baixa remuneração, no quadro dos esforços
desenvolvidos para transferir a carga fiscal para outras matérias coletáveis
que não o trabalho. As reduções temporárias nas contribuições para a segurança
social ou os regimes de subvenção do emprego a favor do recrutamento de novos
trabalhadores, designadamente trabalhadores pouco qualificados e desempregados
de longa duração, podem ser igualmente considerados favoráveis à criação de
emprego, na condição de serem bem orientados. §
Prosseguir a modernização do mercado do trabalho
mediante a simplificação da legislação laboral e o desenvolvimento de regimes
de trabalho flexíveis, incluindo regimes de trabalho de tempo reduzido e
contextos laborais conducentes ao prolongamento da vida ativa. Reduzir os
diferenciais na proteção laboral entre os diferentes tipos de contratos de
trabalho deverá igualmente contribuir para diminuir a segmentação do mercado do
trabalho, bem como o trabalho não declarado, em diversos países. O impacto do
subsídio de desemprego deve ser controlado, a fim de assegurar uma
elegibilidade adequada e requisitos eficazes em termos de procura de emprego. §
Acompanhar os efeitos dos sistemas de fixação de
salários, nomeadamente dos mecanismos de indexação, alterando-os caso
necessário, no respeito das práticas nacionais de consulta, no intuito de
melhor refletir a evolução da produtividade e apoiar a criação de emprego. É
importante que os níveis dos salários mínimos assegurem o equilíbrio adequado
entre a criação de emprego e um rendimento adequado. §
Explorar o potencial de emprego dos setores em
expansão, tal como a economia verde, os cuidados de saúde e as TIC, através de
um quadro jurídico fiável e orientado para o futuro, do desenvolvimento das
competências adequadas e de um apoio público específico[14]. Melhorar os níveis de
empregabilidade, em especial dos jovens Simultaneamente, os
Estados-Membros devem desenvolver mais esforços para combater o desemprego,
melhorar a empregabilidade e apoiar o acesso ao emprego ou o regresso ao mundo
do trabalho, em especial por parte dos desempregados de longa duração e dos
jovens. Tal inclui medidas para: §
Impulsionar os serviços públicos de emprego e
intensificar as medidas ativas a nível do mercado de trabalho, incluindo a
melhoria das competências, a assistência individualizada na procura de emprego,
o apoio ao espírito empresarial e o trabalho por conta própria, bem como
regimes de apoio à mobilidade. Apesar de terem sido consagrados alguns recursos
adicionais a estas atividades ou a estes esforços no intuito de melhorar a sua
eficiência, o apoio prestado não corresponde de modo algum à expansão no número
de candidatos a emprego inscritos que se registou em vários países. §
Reduzir o abandono escolar precoce e facilitar a
transição do meio escolar para o mundo laboral mediante o desenvolvimento de
estágios e contratos de aprendizagem de qualidade, bem como dos modelos de
aprendizagem duais – ensino escolar combinado com a experiência prática no
local de trabalho. Impõem‑se esforços para desenvolver as competência
empresariais, a fim de apoiar a criação de novas empresas e melhorar os níveis
de empregabilidade dos jovens[15]. §
Desenvolver e aplicar mecanismos de garantia
destinados aos jovens, no âmbito dos quais os jovens de idade inferior a 25
anos recebem uma oferta de emprego, prossecução dos estudos, contrato de
aprendizagem ou estágio no prazo de quatro meses a contar da conclusão formal
dos seus estudos ou início do seu desemprego. Tais mecanismos podem ser
cofinanciados pelo Fundo Social Europeu[16]. §
Facilitar a participação no mercado de trabalho e o
acesso ao emprego para as segundas fontes de rendimento, através de incentivos
fiscais adequados e a disponibilização de serviços de qualidade de acolhimento
de crianças. §
Melhorar o acesso aos sistemas de aprendizagem ao
longo da vida durante toda a vida ativa, incluindo para os trabalhadores mais
idosos, mediante o reforço das parcerias entre as instituições públicas e
privadas envolvidas na disponibilização, aplicação e atualização de
competências específicas. §
Melhorar a correspondência entre os sistemas de
educação e de aprendizagem ao longo da vida e as necessidades do mercado de
trabalho. Os ciclos universitários de curta duração (2 anos), centrados em
domínios em que uma falta de competências tenha sido identificada, bem como
regimes específicos de mobilidade, podem revelar-se particularmente eficazes
nas circunstâncias atuais. §
Incentivar a mobilidade transfronteiriça dos
trabalhadores, suprimindo os obstáculos jurídicos e facilitando o
reconhecimento da experiência e das qualificações profissionais. A cooperação
entre os serviços de emprego deve ser reforçada e a rede EURES pode criar as
bases para um mercado do trabalho europeu mais integrado. Promover a inclusão social
e combater a pobreza Para além destas medidas, são
necessários esforços adicionais para assegurar a eficácia dos sistemas de
proteção social com vista a neutralizar os efeitos da crise, promover a
inclusão social e combater a pobreza: §
Devem ser desenvolvidas estratégias ativas de
inclusão, englobando medidas eficientes e adequadas de apoio ao rendimento,
combate à pobreza, incluindo a pobreza infantil, bem como o acesso alargado a
serviços de elevada qualidade a preços razoáveis, tais como os serviços sociais
e de saúde, acolhimento de crianças, habitação e abastecimento de energia. §
A articulação entre a assistência social e as
medidas de ativação deve ser reforçada através de serviços mais
individualizados («balcão único») e de esforços destinados a ajudar os grupos
vulneráveis a tirar melhor partido dessas medidas. Após a retoma do mercado do
trabalho, será importante eliminar progressivamente as medidas relacionadas com
a crise, assegurando simultaneamente a manutenção das redes de segurança
essenciais. 5. Modernizar
a administração pública A pressão sobre as finanças
públicas conferiu um novo impulso à modernização da administração pública. Na
UE, as despesas públicas correspondem a quase 50% do PIB e o setor público
representa cerca de 17% do volume total de emprego. Ao longo dos anos, muitos
Estados-Membros adotaram medidas para aumentar a eficiência dos seus serviços
públicos, bem como a transparência e a qualidade da sua administração pública e
judiciária. Essas reformas foram particularmente abrangentes nos países com
graves dificuldades financeiras. Exemplos ilustrativos incluem a reorganização
da administração local e central, a racionalização do sistema de remuneração do
setor público e da governação das empresas da propriedade do Estado, a reforma
dos procedimentos de adjudicação dos contratos públicos, reexames gerais e
periódicos das despesas e a promoção de medidas de eficiência em todo o setor
público, tais como um maior recurso a soluções e serviços partilhados no
domínio da tecnologia da informação. Em muitos casos, os Estados-Membros e a
Comissão cooperaram entre si através do fornecimento ou do intercâmbio de
assistência técnica. As diversas medidas acima
delineadas, tal como a plena e correta transposição da legislação da UE, a
eficiência dos sistemas de cobrança de impostos e de saúde, a necessidade de
reduzir os atrasos nos pagamentos e o papel dos serviços públicos de emprego,
podem ter um impacto positivo substancial, devendo ser prosseguidas. Além
disso, a Comissão considera os seguintes vetores particularmente favoráveis ao
crescimento: §
Recorrer a uma gestão financeira sólida, tirando
pleno partido das oportunidades em matéria de contratos públicos para apoiar a
concorrência no mercado e desenvolver as capacidades para a adjudicação
eletrónica dos contratos públicos em todo o mercado único. Estas medidas não só
contribuem para uma maior eficiência e equidade, como ajudam igualmente a
combater a corrupção. §
Simplificar o quadro regulamentar aplicável às
empresas e reduzir os encargos administrativos e burocráticos, nomeadamente a
nível nacional. §
Assegurar a conexão em linha da administração
pública de forma generalizada e ineterperável, com o objetivo de promover
procedimentos conviviais para os prestadores de serviços e respetivos
beneficiários, bem como a simplificação administrativa e a transparência. A
interoperabilidade transfronteiriça dos serviços em linha e dos centros de
investigação em toda a UE assume particular importância neste contexto. §
Melhorar a qualidade, a independência e a
eficiência dos sistemas judiciais, bem como garantir que as ações intentadas
possam ser tramitadas num prazo razoável e promover o recurso a sistemas
alternativos de resolução de litígios. Isto deverá reduzir os custos para as
empresas e aumentar a atratividade do país para os investidores estrangeiros. §
Explorar melhor os fundos estruturais da UE,
redobrando os esforços desenvolvidos este ano em termos de capacidade
administrativa com vista a assegurar a distribuição mais célere dos fundos não
utilizados. Conclusão A
economia da UE está a emergir lentamente da sua maior crise financeira e
económica nas últimas décadas. Os Estados-Membros não se encontram em situações
idênticas, a natureza e a dimensão dos desafios por eles enfrentados diferem e
o ritmo das reformas diverge. A situação mantém-se frágil. Estão a ser atualmente
empreendidas reformas e continuam em curso ajustamentos importantes, mas há
indícios de que, no início do próximo ano, se assistirá ao início do processo
de retoma. Nos Estados-Membros que realizaram reformas de vasto alcance, os
esforços têm começado a surtir efeito: assiste-se à redução dos desequilíbrios
e à melhoria da competitividade. Este
processo prende-se não só com o restabelecimento do crescimento, como visa
igualmente lançar os alicerces para uma qualidade diferente do mesmo na sequência
da crise. As reformas estruturais a nível nacional e da UE devem reforçar a
capacidade de a UE concorrer à escala mundial, gerando crescimento no
território europeu através de atividades que sejam sustentáveis e que dotem a
UE das políticas e dos instrumentos necessários para garantir um futuro
próspero, inclusivo e eficiente em termos de recursos. A solidariedade e a
equidade, no âmbito dos próprios países mas igualmente em toda a Europa, serão
elementos essenciais para garantir que os esforços desenvolvidos sejam politica
e socialmente aceitáveis e revertam em benefício de todos. Muitas
decisões importantes foram já tomadas a nível dos Estados-Membros e da UE.
Agora chegou o momento de manter o rumo estabelecido e aplicar as medidas
acordadas. Para restabelecer a confiança e o crescimento, revela-se igualmente
crucial manter o ritmo das reformas, nomeadamente nos seguintes domínios: ·
As finanças públicas devem voltar a uma trajetória
viável, a fim de restabelecer a sua sustentabilidade. Trata-se de um aspeto
importante não só para a confiança dos investidores a curto prazo, mas também
para dar resposta às necessidades de uma sociedade com uma população em
envelhecimento e para preservar as perspetivas das gerações futuras. O ritmo e
a natureza da consolidação orçamental podem divergir: enquanto alguns
Estados-Membros devem reduzir os seus défices rapidamente, outros dispõem de um
maior espaço de manobra. Qualquer impacto negativo sobre o crescimento a curto
prazo pode ser mitigado por medidas adequadas do lado das despesas e das
receitas dos orçamentos nacionais. ·
Devem prosseguir os esforços destinados a sanear o
setor financeiro para restabelecer a estabilidade financeira e assegurar
melhores condições de financiamento para a economia, incluindo através de
fontes alternativas de financiamento. Impõem-se maiores progressos a nível da
UE para criar um quadro de supervisão integrado e reforçar o quadro jurídico
aplicável às instituições financeiras. ·
As reformas estruturais devem ser reforçadas para
promover o crescimento e encorajar a competitividade. Há ainda um vasto leque
de medidas a ponderar a nível nacional, devendo a legislação da UE em vigor
servir de catalisador em termos de mudança. Muitos ensinamentos podem ser
retirados das melhores práticas nos Estados-Membros e em países terceiros. ·
A situação do mercado de trabalho e a situação
social apelam para uma resposta urgente. Intensificar as políticas ativas a
nível do mercado de trabalho, reforçar e melhorar os serviços públicos de
emprego, simplificar a legislação laboral e garantir que a evolução salarial
apoie a criação de emprego constituem componentes essenciais desta estratégia.
A situação dos jovens exige particular atenção. Além disso, impõe-se redobrar
esforços para promover a inclusão social e combater a pobreza através do
reforço das redes de segurança essenciais. ·
As estratégias de crescimento a nível nacional e da
UE só podem ser aplicadas com a assistência de administrações públicas
eficazes. Impõem-se maiores esforços de modernização, por exemplo, no domínio
dos contratos públicos, conexão em linha da administração pública, da melhoria
da qualidade e da independência dos sistemas judiciais e da afetação eficaz e
eficiente dos fundos estruturais da UE. As
orientações apresentadas na presente Análise Anual do Crescimento serão
debatidas a nível da UE, tendo em vista a preparação do Conselho Europeu da
primavera em março próximo e contribuirão para a elaboração dos conjuntos
atualizados dos programas nacionais e das recomendações específicas por país. A
Comissão colaborará estreitamente com as autoridades nacionais, incluindo os
parlamentos nacionais, as instituições da UE e outras partes interessadas no
sentido de criar um sentimento de empenhamento partilhado e orientará os
progressos no quadro dos esforços mais latos envidados pela UE no sentido de
sair da crise e lançar os alicerces para o crescimento inteligente, sustentável
e inclusivo em toda a UE. [1] Para informações mais
pormenorizadas sobre a situação em termos económicos e em matéria de emprego,
consultar as previsões económicas de outono da Comissão, publicadas em 7 de
novembro de 2012, e os documentos que acompanham a presente Análise. [2] Para uma panorâmica geral dos progressos em direção à
consecução dos objetivos da estratégia Europa 2020, consultar: «Europe 2020
Strategy – towards a smarter, greener and more inclusive EU economy?"
(Estratégia Europa 2020 – em direção a uma economia mais inteligente, mais
ecológica e mais inclusiva?), Eurostat, Statistics in focus, 39/2012. [3] O segundo Relatório Anual sobre o Mecanismo de Alerta
(COM/2012/751), que visa identificar os desequilíbrios macroeconómicos, é
adotado pela Comissão paralelamente à presente Análise. [4] As recomendações específicas por país podem ser
consultadas em: http://ec.europa.eu/europe2020/making-it-happen/country-specific-recommendations/index_pt.htm
[5] Parlamento Europeu, «Relatório sobre o Semestre Europeu
para a coordenação das políticas económicas: aplicação das prioridades para
2012», [2012/2150(INI)],
outubro de 2012. [6] O equilíbrio orçamental é expresso em termos estruturais
quando é corrigido da incidência do ciclo económico e das medidas extraordinárias
e temporárias. [7] Comissão Europeia, Tax reforms in EU Member States
2012 («Reformas Fiscais nos Estados-Membros da UE em 2012»), European
Economy, 6/2012. [8] Em 2013, os Estados-Membros começarão a receber novas
receitas provenientes dos leilões de licenças de emissão no âmbito da terceira
fase do regime de comércio de licenças de emissão da UE. [9] A Comissão apresentará brevemente um plano de ação para
reforçar o combate à fraude e à evasão fiscais, juntamente com orientações
destinadas a assegurar a boa governação no domínio fiscal. [10] A primeira edição do Relatório sobre o Mercado Único (COM(2012)
752) que acompanha a presente Análise apresenta vários casos de fontes de
crescimento cujo potencial continua por explorar. Para informações
complementares, consultar igualmente o próximo estudo da Comissão intitulado The
cost of non‑Europe: the untapped potential of the Single Market («O
custo da não Europa: o potencial inexplorado do mercado único»). [11] Ao longo do último ano, a Comissão criou equipas de
intervenção para ajudar os países que apresentam as mais elevadas taxas de
desemprego dos jovens no âmbito da reprogramação dos fundos da UE, com vista a
apoiar as oportunidades em matéria de formação e emprego para os jovens. Ver os
primeiros resultados no seguinte endereço: http://ec.europa.eu/commission_2010-2014/president/pdf/council_dinner/youth_action_team_en.pdf
[12] O projeto de Relatório Conjunto sobre o Emprego em anexo à
presente Análise apresenta informações mais pormenorizadas. [13] Desde 2008, o número de pessoas sujeito ao risco de
pobreza e exclusão social aumentou em 13 dos 23 Estados-Membros em relação aos
quais se encontram disponíveis dados relativos a 2011. [14] A Comissão apresentou formas de explorar este potencial na
sua Comunicação intitulada «Uma recuperação geradora de emprego» (COM(2012)173)
de 18 de abril de 2012. [15] A Comissão adotou, em 20 de
novembro de 2012, uma Comunicação intitulada «Repensar a educação – investir
nas competências para melhores resultados socioeconómicos» (COM(2012) 669). [16] A Comissão apresentará brevemente um «Pacote para o
Emprego dos Jovens».