RELATÓRIO DA COMISSÃO AO CONSELHO Oitavo relatório sobre a aplicação do Regulamento (CE) n.º 866/2004 do Conselho, de 29 de abril de 2004, e a situação resultante dessa aplicação abrangendo o período entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2011 /* COM/2012/0251 final */
RELATÓRIO
DA COMISSÃO AO CONSELHO Oitavo
relatório sobre a aplicação do Regulamento (CE) n.º 866/2004 do Conselho, de 29
de abril de 2004, e a situação resultante dessa aplicação abrangendo o período
entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2011 INTRODUÇÃO O Regulamento (CE) n.º 866/2004 do Conselho,
relativo a um regime de acordo com o artigo 2.º do Protocolo n.º 10
ao Ato de Adesão[1]
(a seguir denominado «Regulamento da Linha Verde», RLV), entrou em vigor em 1
de maio de 2004. Define as modalidades de aplicação das disposições
legislativas da UE em matéria de circulação das pessoas, das mercadorias e dos
serviços através da linha de demarcação que separa as zonas da República de
Chipre em que o Governo não exerce um controlo efetivo e as zonas em que exerce
tal controlo. A fim de garantir a eficácia destas normas, a sua aplicação foi
alargada à fronteira entre as zonas referidas e a Zona de Soberania Oriental do
Reino Unido (ZSO)[2]. O presente relatório abrange o período
compreendido entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2011. Durante o período abrangido pelo relatório, a
Comissão não propôs quaisquer alterações ao RLV, tendo, no entanto, alterado as
suas regras de execução. A Comissão tem mantido um diálogo construtivo
com as autoridades competentes da República de Chipre e a administração da Zona
de Soberania Oriental (ZSO), a nível operacional, sobre a aplicação do
regulamento. 1. MEDIDAS DE EXECUÇÃO Em 31 de maio de 2011, a Comissão adotou o
Regulamento n.º 531/2011 que altera as regras de execução do RLV[3]. A decisão da Comissão suprimiu a obrigação de
as batatas comercializadas através da Linha Verde (a seguir denominada «a
Linha») serem produzidas diretamente a partir de sementes de batata
certificadas. Tal permite que o comércio de batatas produzidas a partir de
sementes conservadas nas explorações agrícolas diretamente a partir de batatas
de semente certificadas sob o controlo de peritos fitossanitários independentes
nomeados pela Comissão forneça as garantias necessárias no que diz respeito à
identidade e às características sanitárias. 2. PASSAGEM DE PESSOAS PELA
LINHA 2.1. Transposição da Linha nos
pontos de passagem autorizados O regulamento proporciona um quadro jurídico
estável para a livre circulação dos cipriotas, dos outros cidadãos da UE e dos nacionais
de países terceiros que atravessam a Linha Verde em pontos de passagem
autorizados. Verificou‑se um ligeiro aumento do número de cipriotas
gregos e uma redução do número de cipriotas turcos que atravessaram a Linha. Segundo dados fornecidos pela República de
Chipre, 621 406 (no ano anterior: 596 578) cipriotas gregos atravessaram em 210
877 veículos (no ano anterior: 170 315) a partir das zonas controladas pelo
Governo para se dirigirem à parte norte de Chipre e 937 789 (no ano anterior: 1
097 676) de cipriotas turcos atravessaram em 348 225 veículos (no ano anterior:
378 475) da parte norte de Chipre para as zonas controladas pelo Governo
durante o período abrangido pelo relatório[4]. O número de cidadãos da UE, que não cipriotas
e nacionais de países terceiros, que atravessou a Linha diminuiu ligeiramente.
Segundo dados fornecidos pela polícia da República de Chipre (a seguir
denominada: CYPOL), durante o período abrangido pelo relatório, 634 218
cidadãos da UE não cipriotas ou nacionais de países terceiros atravessaram a
Linha (no ano anterior: 664 566). Destas passagens, 67 % (424 992) ocorreram no
ponto de passagem pedestre da Rua Ledra, que abriu em abril de 2008. Foi
igualmente neste ponto de passagem que continuou a realizar‑se a grande
maioria das passagens de não cipriotas (essencialmente turistas). Estes dados estão amplamente em conformidade
com os dados recolhidos junto da comunidade cipriota turca, que indicam que 694
633 cipriotas gregos atravessaram a Linha em 248 962 veículos a partir das
zonas controladas pelo Governo para se dirigirem à parte norte de Chipre e 1
450 566 cipriotas turcos atravessaram em 553 913 veículos no outro sentido.
Além disso, 1 101 942 nacionais estrangeiros atravessaram das zonas controladas
pelo Governo para se dirigirem à parte norte de Chipre. Os dados da CYPOL acima indicados não incluem,
no entanto, os dados relativos às pessoas e aos veículos que atravessam nos
pontos de passagem de Pergamos e Strovilia, a partir da parte
norte de Chipre para a ZSO[5].
A administração da ZSO não mantém estatísticas pormenorizadas em relação a
estes dois pontos de passagem. No entanto, as estimativas da ZSO, com base nas
informações obtidas junto da comunidade cipriota turca, indicam que 84 407
cipriotas gregos atravessaram para a parte norte de Chipre e 450 408 cipriotas
turcos atravessaram para as zonas controladas pelo Governo através dos pontos
de passagem situados na ZSO. Em 2011, o número de agentes da CYPOL que
trabalha diretamente nos pontos de passagem aumentou, tendo passado de 73 em
2010 para 77. A avaliação global das passagens das pessoas é
positiva. Todavia, foram assinalados alguns incidentes durante o período em
análise. Em 9 de outubro de 2011, um autocarro cipriota turco que transportava
turistas letões não foi autorizado a atravessar a Linha no ponto de passagem de
Agios Dometios, onde tinha anteriormente atravessado várias vezes. Segundo o
motorista, tê-lo-ão informado no ponto de passagem de que só cipriotas turcos
poderiam atravessar num autocarro registado na parte norte de Chipre. Os
turistas foram levados para o ponto de passagem de Ledra Palace, onde
atravessaram a pé e onde foi alugado um autocarro das zonas controladas pelo
Governo para que estes pudessem concluir a sua viagem. Embora as autoridades da
República de Chipre tenham informado a Comissão de que os documentos
necessários não estavam em ordem, o motorista da camioneta indicou que tinha
sido autorizado inúmeras vezes a atravessar a Linha, enquanto transportava
cipriotas turcos, tendo apresentado uma queixa oficial junto da Comissão. A informação incorreta, segundo a qual os
cipriotas turcos não poderiam atravessar a Linha se não possuíssem um bilhete
de identidade da República de Chipre, que apenas afetava alguns cipriotas
turcos em determinados dias, foi rapidamente desmentida. Os incidentes referidos constituíram uma fonte
de preocupações para a comunidade cipriota turca, tendo sido evocados entre a
Comissão e as autoridades da República de Chipre, para examinar se se tinha
verificado uma alteração na política seguida, o que exigia uma notificação à
Comissão em conformidade com o RLV[6].
As autoridades da República de Chipre informaram a Comissão de que não existia
qualquer alteração na política seguida em matéria de passagem da Linha por
pessoas, tendo sublinhado que o número de incidentes é insignificante em
relação ao número total de passagens. 2.2. Imigração irregular através
da Linha Verde e asilo Os dados da CYPOL relativos a 2011 indicam uma
nova diminuição da imigração irregular através da Linha Verde da parte norte de
Chipre para as zonas controladas pelo Governo. Em 2011, 1 311 migrantes
irregulares (no ano anterior: 1 855) foram detidos nas zonas controladas pelo
Governo (excluindo aqueles que não foram autorizados a atravessar nos pontos de
passagem da Linha Verde[7]).
Um migrante irregular entrou diretamente nas zonas controladas pelo Governo e
18 pessoas entraram através da Zona de Soberania Oriental, elevando-se o número
total de imigrantes irregulares detidos a 1 330. A CYPOL indicou como
razão provável a redução das perspetivas de emprego devido à crise económica em
Chipre, bem como os esforços desenvolvidos pelas autoridades da República de
Chipre para lutar contra a imigração irregular. A maior parte dos imigrantes
irregulares detidos eram nacionais da Síria, do Irão e da Geórgia (Anexo VIII).
Os imigrantes irregulares são normalmente detidos durante os controlos
realizados ao longo da Linha Verde e em aeroportos, quando tentam sair de
Chipre. Os nacionais de países terceiros que procuram proteção internacional
são normalmente identificados em esquadras de polícia no momento em que
solicitam asilo. Para estabelecer a via de acesso desses
imigrantes irregulares às zonas controladas pelo Governo, a CYPOL baseia-se nos
critérios utilizados nos anos anteriores, ou seja, essencialmente documentos
(vistos e carimbos de entrada/saída da Turquia que figuram nos passaportes ou
um «visto» ou uma «autorização de residência» da RTNC - República Turca do
Norte de Chipre) e declarações dos imigrantes, mas também outras provas como a
ausência de documentos de identidade, jornais cipriotas turcos e notas de banco
turcas. Dos 1 311 migrantes irregulares, 417 (31,8 %)
apresentaram um pedido de asilo na República de Chipre. A maior parte dos migrantes irregulares
penetram nas zonas controladas pelo Governo pela Turquia e pela parte norte de
Chipre. Segundo as informações transmitidas pela
comunidade cipriota turca, 16 migrantes irregulares (todos sírios) foram
detidos na parte norte de Chipre. Foi interdita a passagem da Linha a 2 267
cidadãos sírios nos pontos de passagem oficiais para entrarem na parte norte de
Chipre[8].
Durante o período abrangido pelo relatório, 860 pessoas foram «deportadas» da
parte norte de Chipre[9]. A ligação por ferry entre Latakia (Síria) e
Famagusta foi suprimida em setembro de 2010. Até agora, a crise síria não
afetou Chipre, tendo o número de migrantes irregulares provenientes da Síria
diminuído. Não existem dados exatos disponíveis
relativamente ao número de pessoas que não foram autorizadas a atravessar a
Linha nos pontos de passagem. Não existe uma cooperação direta em matéria de
polícia e de imigração entre a República de Chipre e a comunidade cipriota
turca. No entanto, representantes das duas comunidades reúnem-se no quadro da
comissão técnica bicomunitária sobre o crime e as questões penais, que funciona
sob a égide das Nações Unidas. A comissão técnica bicomunitária sobre o crime e
as questões penais é uma das sete comissões especializadas criadas no quadro
das medidas destinadas a fomentar a confiança entre as duas comunidades com o
apoio das Nações Unidas e é resultado direto de um acordo concluído entre os
dois líderes cipriotas em 21 de maio de 2008. Enquanto extensão deste comité,
as duas comunidades criaram igualmente um mecanismo de partilha de informações
e iniciativas conjuntas, o «Joint Communications Room», no âmbito do qual estão
presentes em permanência funcionários policiais da UNFICYP e que funciona seis
dias por semana. Através destes mecanismos, as duas partes manifestam a sua
vontade de melhorar a comunicação entre as suas forças policiais respetivas e
de cooperar e se entreajudar através do intercâmbio de informações nos casos de
raptos, detenções, tráfico de estupefacientes e roubo de bens[10]. A CYPOL considera muito boa a cooperação com
os outros serviços governamentais competentes e a administração da ZSO. Zona da Base Soberana Oriental (ZSO) Em geral, a imigração irregular através da ZSO
diminuiu durante o período abrangido pelo relatório. Os agentes da ZSO
continuam a referir que a cooperação nesta zona entre os serviços aduaneiros e
de imigração da República de Chipre e da ZSO é excelente. Durante o período de
referência, não foram autorizadas a atravessar 1 163 pessoas, na sua maioria
nacionais turcos que vivem na parte norte de Chipre. Outros estrangeiros eram
turistas originários da Austrália, dos EUA, do Brasil, do Irão e da Rússia que
entraram passando pela parte norte de Chipre. Estas pessoas foram encaminhadas
para «Agios Dometios», o ponto de passagem de Nicósia, a fim de cumprirem as
exigências impostas à entrada na República de Chipre[11]. Foram detidos na ZSO[12] no total 18 migrantes
irregulares, 9 dos quais tinham entrado legalmente nas zonas controladas pelo
Governo, mas permaneceram após os seus vistos terem caducado. Foram igualmente
detidos pela ZSO três passadores. Os restantes 6 entraram na ilha através da
parte norte de Chipre e atravessaram a Linha irregularmente. Para além dos pontos de passagem, a polícia da
ZSO efetua patrulhas inopinadas, baseadas no risco e nas informações obtidas
junto dos serviços de informação para lutar contra a imigração irregular. Estas
patrulhas foram completadas por patrulhas dos serviços aduaneiros e do exército
da ZSO. Vários «pontos de passagem não autorizados»
situados na aldeia de Pergamos (localizada parcialmente na ZSO e
parcialmente na parte norte de Chipre) ou nas suas imediações, que continuam a
ser utilizados pelos habitantes e agricultores locais, são especialmente
difíceis de controlar. A ZSO organiza nessas zonas patrulhas reforçadas,
dotadas de uma dupla missão: controlar a caça ilegal de aves e impedir a
passagem ilegal da Linha. Tal como referido nos relatórios anteriores sobre a
Linha Verde, estes «pontos de passagem não autorizados» continuam a colocar
problemas. Tal como em anos anteriores, a Comissão evocou a questão dos «pontos
de passagem não autorizados» com a ZSO, solicitando aos funcionários desta que
encontrassem uma solução adequada em conformidade com as exigências previstas
no artigo 5.º, n.º 2, do Protocolo n.º 3 do Ato de Adesão de 2003[13]. 3. PASSAGEM DE MERCADORIAS PELA
LINHA 3.1. Valor das trocas comerciais Nos termos do artigo 8.º do Regulamento (CE)
n.º 1480/2004 da Comissão[14],
a Câmara de Comércio cipriota turca (a seguir denominada «CCCT», bem como as
autoridades da República de Chipre apresentaram um relatório mensal sobre o
tipo, o volume e o valor das mercadorias relativamente às quais foram emitidos
documentos de acompanhamento. Ambos os relatórios se referiam a mercadorias que
passaram pelas zonas controladas pelo Governo através dos pontos de passagem de
Pergamos e Strovilia, colocados sob a autoridade da administração
da ZSO. Segundo a CCCT, o valor total das mercadorias
para as quais foram emitidos documentos de acompanhamento em 2011 elevou‑se
a 29 954 867 EUR, ao passo que o valor das mercadorias efetivamente
transacionadas ascendeu a 29 402 577 EUR[15].
Em 2011, as trocas comerciais de ambos os lados da Linha Verde foram cinco
vezes superiores a 2010. Este aumento substancial explica‑se pela venda
de eletricidade da parte norte de Chipre às zonas controladas pelo Governo, que
resulta de circunstâncias excecionais. Os presidentes da Câmara do comércio e
indústria de Chipre (a seguir denominada: «CCCI») e da CCCT acordaram a venda
de eletricidade, que se elevou a 24 085 775 (82 % das trocas
comerciais), na sequência da explosão que ocorreu na base naval de Mari em
julho de 2011 e que danificou uma grande parte da central elétrica vizinha de
Vasiliko. A venda de eletricidade teve um impacto importante nas trocas
comerciais dos dois lados da Linha Verde em 2011. A fim de refletir de forma
adequada as trocas comerciais regulares nos dois lados da Linha Verde, o
presente relatório apresentará as trocas comerciais com e sem a venda de eletricidade.
Sem tomar em consideração as vendas de
eletricidade, segundo a CCCT, o valor total das mercadorias para as quais foram
emitidos documentos de acompanhamento elevou‑se a 5 869 092
EUR, ao passo que o valor das mercadorias efetivamente transacionadas ascendeu
a 5 316 803 EUR. Segundo os relatórios fornecidos pelas
autoridades da República de Chipre, o valor total das mercadorias que
atravessaram a Linha Verde aumentou 560 %, tendo passado para 28 923 500 EUR.
Sem ter em conta as vendas de eletricidade, o valor total das mercadorias que
atravessaram a Linha diminuiu 6,5 %, tendo passado de 5 173 233 EUR em 2010
para 4 827 454 EUR em 2011, essencialmente devido a uma contração das
vendas de artigos de pedra, tais como os mármores, os tijolos e os materiais de
construção, o que pode explicar-se pela crise económica e pelo abrandamento da
atividade de construção. O comércio de legumes também diminuiu, tendo o
comércio de batatas continuado a baixar. Até 2010, as batatas constituíam a
maior componente individual das trocas comerciais entre as zonas dos dois lados
da Linha Verde (até 30 % do total das trocas comerciais). Em 2011, o comércio
de batatas representou menos de 1 % da totalidade do comércio dos dois
lados da Linha, essencialmente devido a um excesso de produção nas zonas
controladas pelo Governo, o que tornou supérflua a aquisição de batatas
provenientes da parte norte de Chipre. Ainda que não abrangido pelo âmbito do RLV, as
trocas comerciais provenientes das zonas controladas pelo Governo e destinadas
à parte norte de Chipre mais do que duplicaram, tendo atingido 2 272 493 EUR em
2011 (no ano anterior: 1 090 086 EUR) segundo dados da CCCI. Este aumento
significativo explica-se essencialmente pelo fornecimento de produtos
fabricados nas zonas controladas pelo Governo e destinados a um projeto
financiado pela UE na parte norte de Chipre. O comércio a partir das zonas
controladas pelo Governo para a parte norte de Chipre representa, por
conseguinte, 7,85 % do comércio na direção oposta (21 % em 2010). Contudo,
se excluirmos a venda de eletricidade, o comércio das zonas controladas pelo
Governo para a parte norte de Chipre representa 46 % do comércio na direção
oposta. A comunidade cipriota turca continua a aplicar
um sistema comercial que, em princípio, «reflete» as restrições do Regulamento
da Linha Verde. Todavia, este regime nem sempre é aplicado à letra, o que
dificulta o estabelecimento de relações comerciais duradouras. A comunidade
cipriota turca refere abertamente que a principal razão para este comportamento
é a proteção das empresas locais. 3.2. Tipo de mercadorias Em 2011, após a eletricidade, os resíduos
metálicos constituíram as principais mercadorias transacionadas, seguidas do
peixe fresco e dos plásticos[16]. Foram introduzidos durante o período em apreço
novos produtos (para além da eletricidade), tais como as romãs e os calhaus
rolados decorativos, mas tiveram apenas uma influência limitada nas trocas
comerciais[17]. 99,66 % do volume do comércio através da Linha
apresentava um caráter puramente insular. Os restantes 0,34 % foram vendidos à
Índia sob a forma de resíduos de ferro e de aço no valor de 93 850 EUR (123 788
EUR em 2010). Estas transações necessitaram da intervenção de uma empresa
registada nas zonas controladas pelo Governo para as operações intra-UE e das
formalidades de exportação para países terceiros. Durante o período abrangido
pelo relatório, não foi exportada qualquer mercadoria para outros
Estados-Membros da UE (em 2010, estas trocas comerciais tinham-se elevado a 17
693 EUR). 3.3. Irregularidades Durante o período de referência foram
assinalados pelas autoridades da República de Chipre quatro casos de
irregularidades, cujo valor comercial total se elevou a 2 590 EUR (0,008 % da
totalidade do comércio dos dois lados da Linha). As mercadorias em causa não
foram autorizadas a atravessar a Linha por razões administrativas diversas
(falta de documentos, materiais que não cumpriam a regulamentação relativa à
marcação «CE»). 3.4 Obstáculos e dificuldades ainda
existentes em matéria de circulação de mercadorias Subsistem obstáculos às trocas comerciais
através da Linha. Tal como assinalado em relatórios anteriores, o problema do
acesso dos camiões cipriotas turcos às zonas controladas pelo Governo não foi
ainda resolvido de forma satisfatória. Todavia, os serviços da Comissão efetuam
atualmente discussões técnicas com as autoridades competentes da República de
Chipre, com vista a resolver o problema e a estudar o meio de chegar a um
acordo viável que irá colmatar, nomeadamente, as preocupações suscitadas em
matéria de segurança rodoviária. Colocaram‑se certos problemas com os
produtos alimentares. As autoridades da República de Chipre não autorizaram
determinados produtos (pão, por exemplo) a atravessar a Linha devido a
preocupações suscitadas pelos serviços sanitários em relação ao processo de
fabrico na parte norte Chipre. Na sequência de esclarecimentos fornecidos pela
Comissão, as mercadorias em questão podem a partir de agora passar a Linha sem
problemas. Tal como em anos anteriores, os operadores
cipriotas turcos continuam a assinalar que enfrentam dificuldades no que se
refere ao armazenamento dos seus produtos nas lojas e à realização de
publicidade aos seus produtos e serviços nas zonas controladas pelo Governo, o
que entrava o comércio. Estas dificuldades traduzem possivelmente a relutância
generalizada a nível dos cipriotas gregos em adquirirem produtos com uma marca
cipriota turca, constituindo tal atitude, por conseguinte, um obstáculo ao
comércio. Contudo, o comércio entre as duas comunidades, que não o comércio
através da Linha Verde, é várias vezes superior. Segundo estimativas fornecidas
pela CCCT, os cipriotas turcos adquiriram, nas zonas controladas pelo Governo,
mercadorias no valor de 120 milhões de euros, que transportaram nas suas
bagagens pessoais. O contrabando de mercadorias através da Linha
Verde diminuiu em 2011 e as autoridades da República de Chipre procederam a 1
538 apreensões (545 no ano anterior). A ZSO realizou 281 apreensões nos pontos
de passagem oficiais de Pergamos e de Strovilia. No entanto, o
contrabando de mercadorias permaneceu generalizado, o que corresponde às
características geográficas da Linha, que se presta a atividades ilegais ao
longo de todo o seu traçado. Realizam-se operações de controlo nas zonas
próximas da Linha, a fim de lutar especialmente contra as atividades sazonais,
como o transporte de caça/aves selvagens ou foguetes (igualmente através da
ZSO) para as zonas controladas pelo Governo. Entre os outros produtos
apreendidos contam-se os cigarros e o tabaco, os produtos animais, bem como
sacos e têxteis de contrafação. Contudo, segundo as autoridades da República de
Chipre, o volume do contrabando tem diminuído, uma vez que as diferenças de
preços se atenuaram. As patrulhas da CYPOL e da ZSO que se deslocam ao longo da
Linha têm duas funções: a luta contra o contrabando e a imigração irregular. O
número de processos penais de contrabando apresentados aos tribunais de
distrito elevou-se a 11 em 2009, a 9 em 2010, não se tendo registado qualquer
caso em 2011. A maior parte das mercadorias foi detetada nos
seguintes pontos de passagem autorizados: Pyla, ZSO, zona tampão perto de Zodia
e Potamia. No que diz respeito ao abastecimento
tradicional da população cipriota turca da aldeia de Pyla, situada na zona
tampão (artigo 4.º, n.º 10, do Regulamento da Linha Verde), as quantidades de
materiais de construção, de peixe, de cigarros, etc. são controladas e
registadas pela administração da ZSO. 3.4. Facilitação das trocas
comerciais A Comissão continua a tentar melhorar o
comércio entre as zonas situadas nos dois lados da Linha. Poderia considerar-se
a possibilidade de adoção de uma decisão da Comissão que suprimisse a proibição
imposta pelo RLV, a fim de permitir o comércio de produtos agrícolas
suplementares, principalmente produtos lácteos (leite e queijo, iogurte, soro),
uma vez satisfeitas as condições necessárias estabelecidas nas recomendações
das missões de avaliação realizadas por peritos independentes. Durante o
período de referência, a Comissão suprimiu a obrigação de as batatas
comercializadas nos dois lados da Linha Verde terem de ser cultivadas
diretamente a partir de batatas de semente certificadas. Contudo, é ainda muito
cedo para avaliar se esta decisão teve um impacto positivo nas trocas
comerciais nos dois lados da Linha. Outros produtos em relação aos quais a CCCT
manifestou interesse são o peixe de viveiro e os caracóis. Além disso, existe
um interesse geral a favor da supressão da proibição das trocas comerciais
relativas a todos os animais vivos e produtos animais, desde que respeitem as
normas e a regulamentação da UE. A República de Chipre exprimiu em várias
ocasiões a sua vontade de analisar a possibilidade de alargar a lista das
mercadorias autorizadas a entrar nas zonas controladas pelo Governo. A Comissão foi informada pelas autoridades da
República Chipre de acordos concluídos para a circulação sui generis de
mercadorias entre as zonas controladas pelo Governo, através das zonas não
controladas, pelo ponto de passagem de Limnitis (aberto em outubro de 2010). A
Comissão informou a República de Chipre que esta prática devia ser adaptada ao
direito da UE através de uma alteração do Regulamento «Linha Verde», que
constitui o instrumento jurídico exclusivo que rege os movimentos de
mercadorias e de pessoas dos dois lados da Linha. 4. CONCLUSÕES Tal como referido
em relatórios anteriores, o controlo da Linha Verde nos pontos de passagem
autorizados é satisfatório. Durante o período de referência, o número de
migrantes irregulares detidos parece confirmar uma tendência no sentido
descendente, embora a passagem irregular de nacionais de países terceiros
continue a constituir uma questão preocupante. A Comissão considera que seria
importante reforçar a vigilância da Linha Verde efetuada pela República de
Chipre e pela administração da ZSO entre os pontos de passagem, para ajudar a
resolver a migração irregular. A Comissão está preocupada com os incidentes
ocorridos nos pontos de passagem em outubro e dezembro de 2011 e continuará a
assegurar a ligação com as autoridades da República de Chipre relativamente a
qualquer evolução que possa dizer respeito a uma alteração da política seguida.
Em 2011, o valor
das trocas comerciais de ambos os lados da Linha foram cinco vezes superiores a
2010. Este aumento substancial explica-se pela venda de eletricidade
proveniente da parte norte de Chipre para as zonas controladas pelo Governo,
num montante de 24 085 775 EUR. Excluindo estas vendas de eletricidade, o
comércio regular de um lado e outro da Linha diminuiu pela terceira vez
seguida, desde a entrada em vigor do RLV em 2004 (diminuição de 6,5 %, tendo
passado de 5 173 233 EUR em 2010 para 4 827 454 EUR). Depois da eletricidade,
os principais produtos comercializados foram os resíduos metálicos, o peixe
fresco, os plásticos e os artigos de pedra. O nível global das trocas
comerciais permanece, no entanto, modesto, em parte devido ao facto de o
próprio âmbito de aplicação do Regulamento ser limitado. Entre as evoluções
positivas, há que assinalar o acordo concluído entre os presidentes da CCIC e
da CCCT sobre o fornecimento de eletricidade pela parte norte de Chipre com
destino às zonas controladas pelo Governo na sequência da lamentável explosão
ocorrida na base naval em julho de 2011. Este acordo deu um impulso ao comércio
através da Linha Verde, tendo constituído em si uma medida de reforço da
confiança. Durante o período de referência, subsistiram
determinados obstáculos ao comércio. Os veículos comerciais cipriotas turcos,
em especial os camiões com mais de 7,5 toneladas e os autocarros, só podem
circular livremente por toda a ilha se as cartas de condução e os certificados
de controlo técnico tiverem sido obtidos nas zonas controladas pelo Governo.
Efetuaram‑se discussões técnicas entre os serviços da Comissão e os
serviços competentes da República de Chipre a fim de encontrar uma solução
viável para este problema. Não se registaram ainda quaisquer progressos no que
diz respeito aos outros obstáculos não pautais. Apesar de se
afigurar que o fenómeno do contrabando de mercadorias entre os dois lados da
Linha diminuiu, continua a ser, aparentemente, generalizado. A circulação de
mercadorias entre as zonas controladas pelo Governo, através das zonas não
controladas, pelo ponto de passagem de Limnitis exige uma regularização
mediante uma alteração do Regulamento «Linha Verde». Pode concluir-se,
em linhas gerais, que o Regulamento da Linha Verde continua a ser um
instrumento útil para permitir a passagem de pessoas e de mercadorias com
destino e proveniente das zonas controladas pelo Governo da República de
Chipre. A Comissão continuará a acompanhar a aplicação do Regulamento. [1] JO L 161 de 30.4.2004, p. 128. Regulamento com a última
redação que lhe foi dada pelo Regulamento (CE) n.º 587/2008 do Conselho (JO L
163 de 24.6.2008, p. 1 – denominado Regulamento da «Linha Verde»). [2] Ver o terceiro considerando do Regulamento da Linha
Verde. [3] Regulamento (CE) n.° 1480/2004, que estabelece regras
específicas relativamente às mercadorias que chegam de zonas onde o Governo de
Chipre não exerce controlo efetivo e a zonas onde o Governo exerce um controlo
efetivo [4] As autoridades da República de Chipre não mantêm dados
relativos ao regresso de cipriotas gregos às zonas controladas pelo Governo e
ao regresso de cipriotas turcos à parte norte de Chipre (ver Anexo VII). [5] O RLV não obriga a elaborar relatórios sobre este tipo
de tráfego. [6] RLV, artigo 10.º. [7] A República de Chipre não conserva estatísticas oficiais
sobre o número de pessoas que não foram autorizadas a atravessar a linha.
Contudo, segundo as estimativas da CYPOL, em 2011 cerca de 2 220 pessoas não
foram autorizadas a entrar nas zonas controladas pelo Governo. [8] Turquia: 979, Síria: 204, Turquemenistão: 167, Geórgia:
88, Iraque: 74 [9] Turquia: 543, Síria: 44, Moldávia: 64, Irão: 53,
Nigéria: 10 [10] Informações fornecidas pela UNFICYP. [11] Ou seja: Turquia: 900, Irão: 39, Austrália: 33, EUA: 30,
Brasil: 19, Rússia: 19. [12] Egito: 6, Nigéria: 2, Síria: 2, Geórgia: 2. Sri Lanca: 3,
Índia: 1, Bangladeche: 1, Nepal: 1. [13] JO L 236 de 23.9.2003, p. 940. [14] Regulamento (CE) n.º 1480/2004 da Comissão, de 10 de
agosto de 2004, JO L 272 de 20.8.2004, p. 3. [15] Ver Anexos I, II e III do presente relatório. [16] Ver o Anexo IV ao presente relatório. [17] O comércio de calhaus rolados decorativos e das romãs
representou apenas 0,4 % da totalidade das trocas comerciais dos dois lados da
Linha.