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Document 52010IP0238

    Situação na Bósnia-Herzegovina Resolução do Parlamento Europeu, de 17 de Junho de 2010 , sobre a situação na Bósnia-Herzegovina

    JO C 236E de 12.8.2011, p. 113–121 (BG, ES, CS, DA, DE, ET, EL, EN, FR, IT, LV, LT, HU, MT, NL, PL, PT, RO, SK, SL, FI, SV)

    12.8.2011   

    PT

    Jornal Oficial da União Europeia

    CE 236/113


    Quinta-feira, 17 de Junho de 2010
    Situação na Bósnia-Herzegovina

    P7_TA(2010)0238

    Resolução do Parlamento Europeu, de 17 de Junho de 2010, sobre a situação na Bósnia-Herzegovina

    2011/C 236 E/19

    O Parlamento Europeu,

    Tendo em conta o Acordo de Estabilização e de Associação (AEA) entre as Comunidades Europeias e os seus Estados-Membros, por um lado, e a Bósnia e Herzegovina, por outro, assinado em 16 de Junho de 2008,

    Tendo em conta o Regulamento (CE) n.o 1244/2009 do Conselho, de 30 de Novembro de 2009, sobre a liberalização do regime de vistos (1),

    Tendo em conta as conclusões do Conselho de 16 de Junho de 2003 sobre os Balcãs Ocidentais e de 30 de Novembro de 2009 sobre a Bósnia e Herzegovina,

    Tendo em conta as conclusões do Conselho dos Assuntos Gerais e Relações Externas de 16 de Junho de 2003 sobre os Balcãs Ocidentais e o seu anexo intitulado «A Agenda de Salónica para os Balcãs Ocidentais: em direcção a uma integração europeia», apoiado pelo Conselho Europeu de Salónica de 19 e 20 de Junho de 2003,

    Tendo em conta o acórdão da Grande Câmara do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem no processo Sejdic e Finci contra a Bósnia e Herzegovina (queixas n.os 27996/06 e 34836/06), de 22 de Dezembro de 2009,

    Tendo em conta a sua Resolução de 24 de Abril de 2009 sobre a situação na Bósnia e Herzegovina (2),

    Tendo em conta a sua Resolução de 15 de Janeiro de 2009, sobre Srebrenica (3),

    Tendo em conta o n.o 2 do artigo 110.o do seu Regimento,

    A.

    Considerando que a UE tem reiterado a sua promessa de adesão à UE dos países dos Balcãs Ocidentais, incluindo a Bósnia e Herzegovina; que, no entanto, a responsabilidade primeira relativamente à adesão incumbe a esses países e depende da sua capacidade e determinação para cumprir os critérios de Copenhaga,

    B.

    Considerando que a Bósnia e Herzegovina está a atravessar um longo período de estagnação política, económica e social, registando uma paralisia política generalizada e persistente, uma deterioração nas relações inter-étnicas causada pela retórica política, bem como falta de vontade e incapacidade da sua elite política para alcançar compromissos e uma visão comum partilhada dos ingentes problemas políticos, económicos e sociais do país,

    C.

    Considerando que a retórica nacionalista e secessionista cada vez mais estrídula está em flagrante contraste com os valores fundamentais europeus, o desenvolvimento socioeconómico e a estabilidade política, é prejudicial ao interesse geral do país, impede a reconciliação inter-étnica, bem como as ambições de adesão do país à UE; que a Bósnia e Herzegovina se arrisca a ficar atrás dos demais países dos Balcãs Ocidentais e a perder as oportunidades de integração europeia,

    D.

    Considerando que os Acordos de Dayton foram necessários para pôr cobro ao derramamento de sangue, embora não tenham conseguido criar um Estado autónomo e funcional na Bósnia e Herzegovina; que a fragmentação do processo decisório político entre o Estado e as entidades políticas por aqueles criadas, bem como a sobreposição de competências e a ausência de harmonização da legislação entre os diferentes estratos da governação permanecem o obstáculo fundamental a um trabalho eficiente do governo e entravam a capacidade do país de fazer progressos rápidos nas reformas para a adesão à UE,

    E.

    Considerando que a reforma constitucional continua a ser determinante para transformar a Bósnia e Herzegovina num Estado eficaz e totalmente funcional; que a estrutura complexa do sistema judicial, a inexistência de um orçamento único, a ausência de um Supremo Tribunal da Bósnia e Herzegovina, que poderiam promover a harmonização entre as quatro jurisdições internas, a interferência política no sistema judicial e os constantes desafios à jurisdição e às competências das agências judiciais a nível do Estado por parte do governo da Republika Srpska (RS) prejudicam o funcionamento do sistema judicial e dificultam os esforços de reforma; considerando que as estruturas das entidades políticas – legado de decisões internacionais – devem ser alteradas, para se tornarem mais eficientes e coerentes com o quadro institucional do Estado,

    F.

    Considerando que o futuro europeu de todos os cidadãos do país reside na União Europeia; considerando que a perspectiva de adesão à UE constitui um dos elementos mais unificadores para os cidadãos da Bósnia e Herzegovina; que a Bósnia e Herzegovina só pode aderir à UE enquanto país unificado e que todas as tentativas de minar e enfraquecer as instituições do Estado, assim como de tornar a sociedade refém da irresponsabilidade política nacionalista e secessionista, irão privar todos os cidadãos de beneficiar com a integração europeia; considerando os progressos limitados realizados pela Bósnia e Herzegovina em matéria de reformas relacionadas com o processo de integração na UE; considerando que as actuais agendas étnicas e das entidades políticas podem dificultar o cumprimento dos requisitos para a adesão à UE e à NATO,

    G.

    Considerando que o Conselho e a Comissão têm de demonstrar uma maior capacidade de liderança e de serem o motor do lançamento e da execução de reformas adicionais,

    H.

    Considerando que o encerramento prematuro do Gabinete do Alto Representante (GAR), fundado no desejo legítimo de aumentar o sentimento de apropriação do processo político, poderia ter repercussões na estabilidade do país e no ritmo das imprescindíveis reformas administrativas e constitucionais; considerando que a transição do Gabinete do Alto Representante para um Representante Especial da UE reforçado continua a ser um passo indispensável, que abre caminho ao estatuto de candidato,

    I.

    Considerando que há que felicitar a Bósnia e Herzegovina por se ter tornado membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU para o período 2010-2011, o que demonstra que o país é capaz de assumir um lugar de pleno direito e de responsabilidade na cena internacional,

    J.

    Considerando que os detentores de posições de responsabilidade política no país não asseguraram de forma adequada a justiça e a reparação devida a milhares de mulheres e raparigas violadas durante a guerra de 1992-95, dado que o número de casos de crimes de guerra de natureza sexual objecto de acção judicial continua a ser extremamente baixo, e que, muitas vezes, as vítimas não foram tratados com dignidade e respeito, nem lhes foi concedida a protecção nem o apoio psicológico e material necessários à reconstrução das suas vidas,

    K.

    Considerando que em 11 de Julho de 2010 se comemora o 15.o aniversário do genocídio de Srebrenica-Potočari,

    L.

    Considerando que o Anexo VII do Acordo de Paz de Dayton ainda não foi aplicado na íntegra; que continuam a ser necessárias soluções justas, abrangentes e duradouras para os cerca de 115 000 deslocados internos, refugiados e outras pessoas afectadas pelo conflito, bem como progressos no que se refere à melhoria da integração socioeconómica das pessoas que regressaram ao país; que, segundo o Comité Internacional da Cruz Vermelha, após o fim da guerra ainda há 10 000 pessoas desaparecidas, cujo paradeiro é desconhecido,

    M.

    Considerando que a Comissão apresentou uma proposta legislativa sobre a liberalização de visto para a Bósnia e Herzegovina em 27 de Maio de 2010 (COM(2010)0256), que abre formalmente a via a uma eventual liberalização em 2010,

    N.

    Considerando que a França, a Itália e o Luxemburgo ainda não ratificaram o Acordo de Estabilização e de Associação (AEA) atrasando, assim, o processo de integração europeia do país,

    O.

    Considerando que a persistência de importantes divisões étnicas na Bósnia e Herzegovina deve ser superada por um sistema nacional de ensino mais integrado, não segregacionista e moderno,

    P.

    Considerando que a ausência de esforços genuínos das autoridades da Bósnia e Herzegovina para combater de forma eficaz a corrupção no país está a prejudicar gravemente o desenvolvimento económico, social e político do país,

    Q.

    Considerando que o tráfico de seres humanos constitui um crime grave e uma violação grosseira dos Direitos do Homem; que a Bósnia e Herzegovina é um país de origem e, em menor medida, de trânsito e de destino do tráfico de seres humanos, em particular de mulheres e raparigas,

    R.

    Considerando que as Constituições do Estado e das Entidades garantem a igualdade de tratamento para todos; que os ciganos continuam a viver em condições muito difíceis e a ser vítimas de discriminações e que a discriminação e a exclusão social fundadas na identidade de género e na orientação sexual são generalizadas; considerando que persistem as agressões, os maus-tratos e os actos de intimidação contra estes grupos,

    S.

    Considerando que a taxa de desemprego permanece muito elevada, tendo inclusivamente aumentado devido à crise económica; que a falta de perspectivas de emprego, especialmente entre os jovens, está a impedir o progresso do país, contribuindo para as tensões políticas; considerando que a prosperidade económica é crucial para o desenvolvimento do país e a reconciliação na Bósnia e Herzegovina,

    Perspectiva europeia

    1.

    Expressa a sua insatisfação ante os limitados progressos alcançados pela Bósnia e Herzegovina na via da estabilização e do desenvolvimento e enquanto potencial país candidato à adesão à União Europeia; regista com crescente preocupação o clima político instável e a falta de uma visão comum partilhada por todas as forças políticas e condena veementemente a utilização de uma linguagem incendiária, o que prejudica o processo de reconciliação inter-étnica e o funcionamento das estruturas do Estado; considera a declaração dos dirigentes da Republika Srpska relativa a um referendo sobre «uma separação pacífica» uma provocação e uma ameaça para a estabilidade, a soberania e a integridade territorial da Bósnia e Herzegovina;

    2.

    Apela ao abandono da retórica nacionalista divisionista que polariza a sociedade e põe em causa os fundamentos do Acordo de Dayton e exorta a que sejam assumidos compromissos sérios e a que sejam alcançados acordos duradouros que criem um Estado devidamente operacional, preparem as instituições para a integração europeia da Bósnia e Herzegovina e melhorem a situação geral do país;

    3.

    Recorda que aderir à UE significa aceitar os valores e as regras em que assenta a UE, designadamente o respeito dos Direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias nacionais, a solidariedade, a tolerância, a Democracia, o Estado de Direito, e, nomeadamente, o respeito da independência do poder judicial;

    4.

    Convida a Vice-Presidente/Alta Representante e o Comissário responsável pelo Alargamento e a Política Europeia de Vizinhança a usarem de toda a influência da UE sobre os políticos da Bósnia e Herzegovina para que estes envidem esforços mais concertados para acatarem os requisitos da Parceria Europeia e todas as obrigações decorrentes do Acordo de Estabilização e Associação; recorda a todos os actores políticos que estes dois documentos constituem o roteiro para a integração na UE e que é sua responsabilidade perante os cidadãos alcançarem compromissos e chegarem a acordo sobre reformas; encoraja a Vice-Presidente/Alta Representante e a Comissão a recorrerem à condicionalidade da UE de forma mais coerente e orientada para os resultados, de modo a responder às verdadeiras necessidades dos povos da Bósnia e Herzegovina;

    5.

    Manifesta um forte apoio ao Gabinete do Alto Representante e sublinha que a transição só pode ser realizada quando os cinco objectivos e as duas condições forem cumpridos na íntegra pelas autoridades da Bósnia e Herzegovina; insta as autoridades da RS a cumprir a obrigação ainda pendente (lei da RS sobre a energia eléctrica) que permite que o supervisor de Brcko recomende o termo do regime de fiscalização no distrito de Brcko;

    6.

    Insta o governo da RS a prosseguir a sua participação activa nas negociações sobre a partilha dos bens do Estado elencados pelo GAR e exorta-o a não adoptar legislação sobre a propriedade pública na RS, uma vez que tal representaria uma grave violação da decisão do Alto Representante de proibir a venda de propriedade pública, atrasando, assim, o encerramento do GAR;

    7.

    Congratula-se com a aprovação da alteração constitucional que concede ao distrito de Brčko o estatuto de unidade de governo local autónoma, cumprindo, assim, outro objectivo fixado pelo Conselho de Implementação da Paz (CIP) para o futuro encerramento do Gabinete do Alto Representante;

    8.

    Exorta as duas Entidades e todas as forças políticas, em especial o Governo da RS, a respeitar o Acordo de Dayton na sua totalidade e a não desafiar as acções empreendidas no âmbito deste acordo, nem as resoluções do Conselho de Segurança da ONU; considera que o Alto Representante é a autoridade final responsável pela interpretação da aplicação civil do acordo de paz; solicita a todos os agentes políticos que tratem com o devido respeito o Alto Representante e todo o pessoal internacional no país e que se abstenham de quaisquer ataques pessoais;

    9.

    Regista com satisfação o contributo significativo da Missão de Polícia da União Europeia (MPUE) e da EUFOR Althea para a estabilidade e a segurança da Bósnia e Herzegovina; saúda a decisão do Conselho de facultar um apoio não executivo, orientado para o reforço das capacidades e para a formação; congratula-se com a prorrogação do mandato da EUFOR, de acordo com a Resolução 1895 do Conselho de Segurança das Nações Unidas; congratula-se pelo facto de a Bósnia e Herzegovina ter sido convidada pela NATO a participar no Plano de Acção para a Integração;

    10.

    Destaca o trabalho desenvolvido pela MPUE, que contribuiu para a luta contra o crime organizado e a corrupção por parte das forças policiais e do sistema judicial da Bósnia e Herzegovina; congratula-se com a prorrogação da missão por mais dois anos, com um mandato recentrado, e com o trabalho da Comissão visando preparar um projecto de acompanhamento da MPUE ao abrigo do Instrumento de Assistência de Pré-Adesão (IAP) 2010;

    11.

    Convida a UE e os seus Estados-Membros a combaterem a indiferença de grande parte do poder político instituído através do estabelecimento de uma parceria privilegiada e da prestação de apoio à sociedade civil, à comunicação social independente e à comunidade empresarial e a criarem projectos para estimular a participação política activa, especialmente dos jovens bósnios;

    12.

    Salienta que a liberdade e a independência dos meios de comunicação, tanto públicos como privados, são requisitos democráticos fundamentais; exorta as autoridades da Bósnia e Herzegovina a promoverem o desenvolvimento de meios de comunicação social independentes, caracterizados pela diversidade e livres de ingerência política e a permitirem que os meios de comunicação social informem livremente de todas as partes do país, garantindo o acesso à informação; condena veementemente os ataques a jornalistas e exorta as autoridades competentes a tomarem as medidas adequadas para evitar situações análogas no futuro; insta os meios de comunicação social, e nomeadamente as estações de rádio públicas, a adoptarem uma abordagem de tolerância zero relativamente ao discurso do ódio; sublinha a necessidade de independência política das entidades reguladoras no sector da comunicação; exorta o Conselho de Ministros a nomear um director permanente da autoridade responsável pela comunicação;

    Reforma constitucional e do sistema judicial

    13.

    Reitera a sua posição quanto aos requisitos a alcançar através da reforma constitucional:

    a)

    O Estado deve ter poderes legislativos, orçamentais, executivos e judiciais suficientes para poder respeitar os critérios de pré-adesão à UE, estabelecer e manter em funcionamento um espaço económico único, promover a coesão económica, ambiental e social, representar e defender os interesses gerais do país no estrangeiro; a defesa dos interesses nacionais vitais para a Bósnia e Herzegovina deve ser compatível com a capacidade de acção do país;

    b)

    O número de níveis administrativos necessários à governação do país deve ser proporcional aos recursos financeiros da Bósnia e Herzegovina e assentar numa distribuição eficiente, coerente e eficaz das responsabilidades;

    c)

    Todos os cidadãos devem gozar dos mesmos direitos, sem qualquer discriminação, em conformidade com as disposições da Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH) e com o artigo 2.o do AEA, que exige o respeito pelos princípios democráticos e pelos direitos do Homem;

    d)

    Considera que deve ser dada especial atenção aos direitos das minorias e dos grupos vulneráveis, que devem ser protegidos contra a discriminação directa ou indirecta e a violência; encoraja a Bósnia e Herzegovina a implementar programas de educação pública no domínio dos direitos humanos que promovam os valores da tolerância, do pluralismo e da diversidade;

    14.

    Relembra que o reforço do Estado central não significa o enfraquecimento das Entidades, mas antes a criação de condições assentes no princípio da subsidiariedade para uma administração eficiente capaz de implementar os esforços nacionais de reforma, desenvolver relações internacionais eficientes e, ao fazê-lo, preparar o país para a adesão à UE;

    15.

    Solicita às autoridades da Bósnia e Herzegovina que, no quadro da ampla reforma constitucional, alterem as disposições constitucionais pertinentes e as disposições correspondentes da Lei Eleitoral com a maior brevidade, no sentido de possibilitar a aplicação do acórdão do TEDH no processo Sejdić-FinciCEDH, que indica claramente que a Constituição da Bósnia e Herzegovina discrimina as pessoas referidas como os «outros»; observa que a adopção destas reformas é um passo essencial para uma sociedade multiétnica operacional;

    16.

    Incentiva os cidadãos da Bósnia e Herzegovina a votarem nas próximas eleições gerais de Outubro de 2010; considera que esta eleição se prende também com o ritmo a que a Bósnia e Herzegovina avança para a União Europeia e que aqueles que optarem por não participar no escrutínio permitem, na verdade, que outros decidam sobre seu futuro; salienta que devem ser envidados todos os esforços tendo em vista criar condições para que as próximas eleições se realizem no pleno respeito das normas europeias e no contexto de uma campanha pacífica e democrática;

    17.

    Recorda a necessidade da instauração de um Supremo Tribunal a nível do Estado e da sua inclusão no quadro constitucional, de modo a que constitua um factor de integração para a jurisprudência no país e preveja a harmonização progressiva dos quatro diferentes sistemas jurídicos da Bósnia e Herzegovina;

    18.

    Insta todos os actores políticos a aprovarem as 69 actividades previstas no plano de acção de apoio à Estratégia de Reforma do Sector da Justiça;

    Combate aos crimes de guerra, ao crime organizado e à corrupção

    19.

    Congratula-se com o facto de a colaboração com o Tribunal Penal Internacional para a Antiga Jugoslávia (TPIJ) continuar a ser satisfatória e de a cooperação entre o Tribunal e as autoridades das Entidades se ter revelado adequada; salienta a necessidade de continuar a cumprir as obrigações e de facilitar a prisão de todos os acusados pelo TPIJ, bem como de desmantelar as suas redes de apoio; apela a uma cooperação mais eficaz entre as autoridades policiais da Sérvia e da Bósnia e Herzegovina com vista a encontrar e prender Ratko Mladić e Goran Hadžić; insta, porém, as autoridades do país a acelerarem a implementação da estratégia nacional de perseguição dos crimes de guerra e a resolverem os cerca de dez mil casos acumulados de crimes de guerra em todo o país, bem como a especificarem os recursos materiais e técnicos necessários para julgar todos os autores, incluindo os responsáveis de estupro e de violência sexual;

    20.

    Recorda que o dia 11 de Julho é reconhecido como o dia da comemoração do genocídio de Srebrenica na UE e exorta todos os países da região a fazerem o mesmo; regozija-se com a adopção de diversas resoluções sobre Srebrenica pelos parlamentos de quatro países dos Balcãs Ocidentais, em particular pela Assembleia Nacional da República da Sérvia, e insta o Estado da Bósnia e os parlamentos das Entidades a adoptarem resoluções análogas no futuro próximo; considera que estas declarações constituem passos importantes no sentido da superação do trágico passado da região e espera que as mesmas abram caminho a um entendimento da História comum, com vista a promover uma verdadeira reconciliação em toda a região; sublinha que a comparência perante a justiça dos responsáveis pelo genocídio ocorrido em Srebrenica e nos seus arredores é uma medida importante para se alcançar a paz e a estabilidade na região;

    21.

    Insta as autoridades do país a incluírem uma definição de violência sexual no Código Penal, em consonância com as normas internacionais, a disponibilizarem, de imediato, às vítimas a reparação adequada, assim como apoio económico, social e psicológico, incluindo os melhores serviços de apoio à saúde mental e física, a desenvolverem programas e a atribuírem recursos adequados à protecção a longo prazo das testemunhas; sublinha, neste contexto, a necessidade de melhorar a coordenação entre os vários órgãos judiciais e de acelerar o julgamento dos casos de crimes de guerra de natureza sexual; exorta a Comissão e outros doadores internacionais a apoiarem as autoridades do país neste esforço, quer mediante recursos financeiros, quer mediante competências especializadas destinadas às vítimas de crimes de guerra e de violência sexual; insta as autoridades da Bósnia e Herzegovina a adoptarem e a aplicarem com a máxima urgência uma estratégia destinada às vítimas de crimes de guerra envolvendo violência sexual;

    22.

    Exorta a UE e os seus Estados-Membros a processarem penalmente os autores de crimes sexuais em tempo de guerra que emigraram e conseguiram obter autorização de residência permanente, e até a cidadania dos Estados-Membros, e a reconhecerem que esses crimes são, na verdade, crimes de guerra, não devendo ser tratados como meros crimes sexuais, nem objecto de prescrição;

    23.

    Apela às autoridades da Bósnia e Herzegovina para que promovam e completem o regresso sustentável de refugiados e deslocados internos e para que adoptem uma estratégia na matéria, tal como previsto no Anexo VII do Acordo de paz de Dayton; insta a que, por um lado, sejam atendidas as carências daqueles que ainda vivem em centros colectivos e sejam implementadas medidas para a sua integração social e, por outro, seja fomentado o regresso daqueles que ainda estão impedidos de regressar à sua pátria por exemplo à região devastada de Posavina; exorta a Comissão e outros doadores internacionais a apoiarem as autoridades do país neste esforço, quer mediante recursos financeiros, quer mediante competências especializadas;

    24.

    Recorda a necessidade urgente de construir prisões de alta segurança e de reconstruir as instalações existentes, para possibilitar a detenção segura de todos os criminosos indiciados e condenados;

    25.

    Lamenta os progressos limitados no combate à corrupção devido à fraca coordenação dos esforços anti-corrupção a nível do Estado e à ausência de investigação e de repressão eficazes dos suspeitos dos casos de corrupção de alto nível presentes nas estruturas governamentais, do Estado e das Entidades, nos concursos públicos, na concessão de licenças comerciais e nos sectores da saúde, da energia, do transporte e da construção; solicita, neste contexto, o estabelecimento imediato de um corpo anti-corrupção imparcial e responsável que restaure a confiança dos cidadãos da Bósnia e Herzegovina nas suas instituições, bem como a aplicação concertada da nova estratégia de luta contra a corrupção (2009-2014) e do respectivo plano de acção;

    26.

    Solicita às autoridades da Bósnia e Herzegovina que combatam de forma eficaz o tráfico de seres humanos e que persigam os criminosos em cooperação com a comunidade internacional, proporcionem protecção e compensação às vítimas e realizem campanhas de sensibilização, para evitar que as vítimas sejam novamente penalizadas pelas autoridades e a sociedade;

    Liberalização do regime de vistos

    27.

    Regista com satisfação que as autoridades da Bósnia e Herzegovina aceleraram as suas reformas e realizaram progressos significativos no cumprimento dos critérios pendentes contidos no roteiro para um regime de isenção de vistos, o que prova que, com a vontade necessária, as reformas podem registar progressos consideráveis; incentiva vivamente as autoridades da Bósnia e Herzegovina a adoptarem os restantes actos legislativos pertinentes;

    28.

    Congratula-se com a adopção, em 27 de Maio de 2010, da citada proposta legislativa da Comissão sobre a liberalização dos vistos e solicita à Comissão que verifique se os critérios restantes são preenchidos nos próximos meses, com vista a abrir caminho à aprovação pelo Conselho e pelo Parlamento da introdução da isenção de visto para os cidadãos da Bósnia até ao final de 2010;

    29.

    Reconhece a importância da liberalização dos vistos para que todos os cidadãos da Bósnia-Herzegovina possam viajar dentro da UE, encarando-a como um factor importante para uma maior integração na UE e para a reconciliação inter-étnica, impedindo o isolamento e oferecendo uma oportunidade para que os cidadãos possam alargar os seus horizontes, prever a sua futura adesão à UE e manifestar a sua vontade aos dirigentes políticos, a fim de promover a integração na UE;

    Situação do sistema de ensino

    30.

    Embora reconheça o progresso feito a nível institucional, insta as autoridades da Bósnia e Herzegovina a adoptarem, ao nível do Estado, a lei sobre o ensino superior e a concentrarem-se na plena aplicação das leis-quadro no domínio da educação, reduzindo, assim, a fragmentação do sistema educativo, e, de acordo com as prioridades da Parceria Europeia, a tomarem medidas para melhorar a qualidade global da educação, respondendo às necessidades do mercado de trabalho e às normas do processo de Bolonha, bem como a instituírem, com a ajuda da UE, programas de formação e reciclagem das pessoas confrontadas com o desemprego de longa duração; incentiva a implementação de programas de intercâmbio internacional entre todas as universidades da Bósnia e Herzegovina e dos Estados-Membros da UE, recorrendo aos programas e redes existentes na UE; salienta a necessidade de aumentar significativamente o número de estudantes, docentes e investigadores que participam em programas de mobilidade da UE;

    31.

    Salienta que a educação é o principal veículo de uma genuína reconciliação inter-étnica; considera, pois, necessário, no contexto do auxílio da União Europeia, dedicar um maior interesse à promoção de um sistema educativo abrangente, não discriminatório, assente na tolerância e no respeito da diversidade, nos esforços visando uma compreensão da História comum, bem como eliminar a segregação dos diferentes grupos étnicos («duas escolas debaixo do mesmo tecto»), através do desenvolvimento de programas de educação comuns e de turmas integradas em ambas as Entidades; congratula-se, neste contexto, com a criação de um conselho nacional de estudantes da Bósnia e Herzegovina;

    32.

    Solicita às autoridades da Bósnia e Herzegovina que revejam os actuais métodos rígidos e onerosos de reconhecimento de diplomas e criem uma agência para o reconhecimento de diplomas ao nível nacional; recorda às autoridades da Bósnia e Herzegovina que a mão-de-obra qualificada deve ser estimulada, e não desencorajada, a procurar emprego no país;

    Situação económica, política social

    33.

    Congratula-se com a última ronda de avaliação do Moneyval (4); Convida todos os intervenientes a perseverar nos esforços de reforma económica, a adoptar acções concertadas das jurisdições e a facilitar as actividades económicas, nomeadamente através da remoção de obstáculos burocráticos, criar uma estratégia de longo prazo para o desenvolvimento sustentável ocupando-se, entre outros aspectos, da educação, da investigação e desenvolvimento (I&D), das infra-estruturas, da agricultura, do ambiente, e da energia; com vista a atrair os investimentos estrangeiros, incentiva os dirigentes do Estado e das empresas a envidarem todos os esforços para restaurar a confiança dos investidores e criar um ambiente favorável às empresas para que a Bósnia e Herzegovina não fique atrás dos países da região;

    34.

    Lembra que o AEA exige o reforço da coordenação da política económica entre os governos das Entidades e a criação, enquanto elemento essencial da reforma económica, de um espaço económico único que vise uma maior integração interna, bem como melhores mercados imobiliário e de trabalho; lamenta, neste contexto, que a fragmentação da legislação laboral interna e dos sistemas de segurança social continue a ser o principal obstáculo à livre circulação de pessoas dentro do país; afirma que a prosperidade económica, a perspectiva de emprego, sobretudo para os jovens da Bósnia e Herzegovina, é crucial para o desenvolvimento do país e pode promover a reconciliação inter-étnica;

    35.

    Incentiva o reforço da coordenação fiscal, garantindo o bom funcionamento da autoridade competente em matéria de fiscalidade indirecta e do Conselho Orçamental Nacional; exorta o Conselho de Ministros a nomear o há muito esperado director permanente da autoridade competente em matéria de fiscalidade indirecta;

    36.

    Urge o Parlamento da Bósnia e Herzegovina, na perspectiva da realização de um censo nacional em 2011, a adoptar a Lei do Recenseamento, que é uma condição clara para a adesão à UE e é indispensável para o desenvolvimento económico e social do país, bem como para o auxílio permanente da UE; salienta que, devido à sensibilidade da questão, a resposta a perguntas sobre a origem étnica não deve ser obrigatória;

    37.

    Convida as autoridades do país a porem em prática medidas destinadas a atenuar a pobreza e a desenvolver uma rede de segurança social direccionada para os pobres, as vítimas da exclusão social e os grupos vulneráveis, em especial os ciganos, bem como um sistema de protecção e integração social eficaz e sustentável; insta as autoridades bósnias a darem provas de uma maior determinação em matéria de política de emprego, de coesão social e de igualdade entre os sexos;

    38.

    Congratula-se com as iniciativas das autoridades da Bósnia e Herzegovina para melhorar a situação dos ciganos e reafirma a importância da adopção de uma estratégia centrada na habitação, na saúde, no emprego e na educação dos Roma; insta as autoridades a disponibilizar os meios necessários para implementar esta estratégia em colaboração com a sociedade civil, incluindo a comunidade cigana, a combater a discriminação e a promover a representação dos ciganos nos cargos públicos;

    39.

    Congratula-se com as mais recentes alterações legislativas introduzidas pelo Parlamento da Federação, que prevêem o princípio das prestações sociais pecuniárias baseadas nas necessidades e as restrições orçamentais aplicados a todos os beneficiários, incluindo os veteranos; saúda o facto de já terem sido pagos o empréstimo do Banco Mundial destinado à política de desenvolvimento e a segunda e terceira parcelas do Acordo Stand by do FMI; encoraja o Parlamento da Federação a adoptar novas medidas destinadas a uma maior disciplina fiscal;

    40.

    Exorta as autoridades da Bósnia e Herzegovina a desenvolver uma estratégia nacional de energia que assente em fontes de energia renováveis, na conservação da energia e na eficiência energética, bem como na modernização da rede eléctrica; recorda às autoridades da Bósnia e Herzegovina e à Comissão que cumpre garantir que estes projectos de energia hidroeléctrica sejam planeados e implementados em consonância com os critérios da UE em matéria de avaliação de impacto ambiental e das normas gerais de sustentabilidade;

    41.

    Lamenta que a capacidade administrativa no domínio do ambiente permaneça fraca e limitada; solicita, neste contexto, a adopção de uma lei ambiental geral a nível nacional que garanta uma protecção ambiental harmonizada, bem como a criação de uma agência nacional do ambiente;

    42.

    Solicita às autoridades da Bósnia e Herzegovina que adoptem a lei nacional sobre o seguro de saúde, a fim de harmonizar e melhorar a qualidade dos serviços de saúde pública e permitir que as pessoas possam procurar tratamento médico adequado em todo o território da Bósnia e Herzegovina, independentemente da sua residência e local de trabalho;

    Cooperação regional

    43.

    Destaca a importância da cooperação regional e das relações de boa vizinhança, considerando-as um elemento vital do processo de reconciliação, mediante o reforço dos contactos entre os povos; sublinha o papel crucial dos actores da sociedade civil ao contribuírem para o reforço da cooperação regional no que diz respeito aos aspectos sociais e políticos; insta as autoridades da Bósnia a encontrarem uma solução que garanta a mobilidade regional dos cidadãos do Kosovo e a possibilidade de estes se deslocarem à Bósnia e Herzegovina;

    44.

    Aplaude as recentes declarações do Presidente croata, que pediu desculpa pelas políticas croatas na Bósnia e Herzegovina nos anos 90 e prestou homenagem às vítimas de cada comunidade; considera este gesto um importante passo na promoção da reconciliação étnica entre as nações dos Balcãs; convida os outros países vizinhos da Bósnia e Herzegovina a seguirem este exemplo;

    45.

    Exorta a Croácia e a Bósnia e Herzegovina a encontrarem uma solução negociada no tocante aos planos de construção croatas para a ponte de Pelješac, aos quais a Bósnia e Herzegovina se opõe; está preocupado com o recente anúncio do Primeiro-Ministro croata sobre a eventual candidatura da Croácia aos fundos europeus para acelerar as controversas obras de construção desta ponte; assinala que o projecto pode prejudicar o futuro desenvolvimento do porto bósnio de Neum e suscita preocupações ecológicas em ambos os países;

    46.

    Observa que a estabilidade duradoura e a cooperação regional nos Balcãs Ocidentais e em toda a UE não podem ser encaradas enquanto persistir o impasse político na Bósnia e Herzegovina;

    47.

    Elogia a participação activa da Bósnia e Herzegovina na cooperação regional, em particular, no que toca à assinatura com a Croácia e a Sérvia de acordos de assistência judiciária internacional em matéria penal e civil, visando a aplicação de sanções penais a pessoas que, tendo sido condenadas num dos países signatários, fugiram, de seguida, para outro;

    *

    * *

    48.

    Encarrega o seu Presidente de transmitir a presente resolução à Vice-Presidente/Alta Representante, ao Conselho, à Comissão e aos Governos e Parlamentos da Bósnia e Herzegovina e respectivas Entidades.


    (1)  JO L 336 de 18.12.2009, p. 1.

    (2)  Textos Aprovados, P6_TA(2009)0332.

    (3)  JO C 46 E de 24.2.2010, p. 111.

    (4)  Comité Restrito de Peritos para a Avaliação das Medidas contra o Branqueamento de Capitais (Conselho da Europa).


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