RELATÓRIO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU E AO CONSELHO sobre os progressos realizados pela Roménia no âmbito do mecanismo de cooperação e de verificação /* COM/2012/0410 final */
RELATÓRIO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO
EUROPEU E AO CONSELHO
sobre os progressos realizados pela Roménia no âmbito do mecanismo de
cooperação e de verificação
I. Mecanismo de cooperação e de
verificação: apoiar a Roménia a nível da reforma judiciária e da luta contra a
corrupção No quadro dos preparativos para a adesão da
Roménia à UE em 2007, foi acordado que era necessário prosseguir os trabalhos
em áreas fundamentais a fim de resolver deficiências nos domínios da reforma
judiciária e da luta contra a corrupção, o que conduziu à criação de um quadro
de apoio à Roménia e de acompanhamento dos progressos realizados nestas áreas,
isto é, o mecanismo de cooperação e de verificação (MCV)[1]. Foram
estabelecidos objetivos de referência em quatro áreas: reforma judiciária,
integridade, luta contra a corrupção de alto nível e prevenção e luta contra a
corrupção no setor público. A decisão previu a apresentação periódica de
relatórios por parte da Comissão e a continuação da aplicação do mecanismo até
os objetivos do MCV e todos os seis objetivos de referência serem realizados de
forma satisfatória[2].
Decorridos cinco anos desde a adesão, é agora
a altura adequada para avaliar se os objetivos do MCV foram cumpridos. O
relatório técnico que acompanha esta avaliação resume as principais evoluções
verificadas nos últimos cinco anos. O presente relatório faz um balanço do que
foi conseguido até à data e do que falta ainda realizar. Abrange a legislação e
os instrumentos criados, os elementos do quadro jurídico que devem ainda ser
completados, a aplicação e, igualmente, se a apropriação está suficientemente
integrada para que se mantenha a orientação geral do processo de reformas. Ao
fazê-lo, a Comissão tem em conta a sustentabilidade e a irreversibilidade do
processo de reformas como elementos determinantes da sua avaliação. Durante estes cinco anos, houve períodos com
progressos e recuos, períodos em que a cooperação funcionou bem e períodos em
que o mecanismo foi objeto de ressentimento e de resistência. Assim, o presente
relatório analisa os progressos globais realizados desde a adesão. No entanto, o presente relatório é adotado num
momento em que são levantadas sérias questões no que diz respeito ao Estado de
Direito e à independência do sistema judiciário na Roménia. Em termos gerais,
os progressos devem ser avaliados no contexto de um reconhecimento social mais
amplo de princípios fundamentais como o Estado de Direito e a independência do
processo judicial, no âmbito dos controlos e equilíbrios de uma democracia que
funciona bem. Um sistema judiciário independente e eficiente e o respeito das
instituições democráticas são condições indispensáveis para a confiança mútua
na União Europeia e para ganhar a confiança dos cidadãos e dos investidores. A Comissão considera que as recentes medidas
do Governo romeno suscitam sérias preocupações sobre o respeito destes
princípios fundamentais. Estas medidas foram tomadas no quadro de um sistema
político excessivamente polarizado em que a desconfiança entre as entidades
políticas e as acusações são uma realidade constante; no entanto, o contexto
político não pode explicar a natureza sistemática de várias medidas. Embora
certas medidas possam, em parte, ser explicadas por esta polarização política,
aquelas suscitaram sérias dúvidas quanto ao compromisso de respeito pelo Estado
de Direito e à compreensão do significado do Estado de Direito num sistema
democrático pluralista. As contestações políticas das decisões judiciais, a
neutralização do Tribunal Constitucional, a alteração dos procedimentos
estabelecidos e a eliminação de controlos e equilíbrios fundamentais puseram em
causa o compromisso do Governo de respeitar o Estado de Direito e de realizar
uma análise judicial independente. A Comissão está, em especial, extremamente
preocupada com as indicações de manipulações e pressões que afetam as
instituições e os membros do sistema judiciário, indo assim ter um sério
impacto no conjunto da sociedade. Apesar de o presente relatório analisar os
últimos cinco anos no seu conjunto, as atuais controvérsias constituem uma
séria ameaça para os progressos alcançados até ao presente e suscitam
interrogações sérias quanto ao futuro das reformas já iniciadas. O presente
relatório inclui, por conseguinte, recomendações específicas para a abordagem da
atual situação e para o restabelecimento do respeito de princípios que são as
pedras angulares da democracia europeia. A União Europeia é atualmente muito
interdependente. O Estado de Direito é um dos valores fundamentais da UE e há
nele um forte interesse comum, refletindo o interesse da opinião pública romena
nestas questões[3].
As sondagens do Eurobarómetro revelam que 93 % dos romenos consideram a
corrupção uma questão importante para o país e 91 % têm a mesma resposta em
relação às deficiências do sistema judiciário. A mesma sondagem concluiu
igualmente que 76 % dos romenos pretende que a UE ajude a resolver estas
questões[4]. O MCV não requer que a Roménia tenha padrões
mais elevados do que os existentes em outros Estados-Membros. O seu objetivo é
ajudar a Roménia a alcançar padrões comparáveis com outros Estados-Membros, um
objetivo apoiado por 72 % dos romenos[5].
Para efeitos de avaliação do que foi alcançado pela Roménia desde a adesão, a
situação verificada nos outros Estados-Membros constitui um fator importante. A
Comissão utiliza no presente relatório parâmetros de referência e indicadores
comparativos, sempre que estiverem disponíveis[6]. A fim de comparar os progressos realizados
pela Roménia com a situação noutros Estados-Membros, a Comissão baseou-se
igualmente num painel de peritos experientes de domínios profissionais
relevantes para estas questões[7]. O orçamento da UE tem apoiado, desde 2007, a
luta contra a corrupção e a reforma judiciária na Roménia através dos fundos
estruturais, num montante superior a 12 milhões de EUR. Este apoio incluiu
projetos nos domínios da educação, saúde, assuntos regionais e setor judiciário
e juntamente com a Agência Nacional para a Integridade. Foi prestado apoio
adicional com base nos fundos de pré-adesão. Ao mesmo tempo, vários
Estados-Membros apoiaram a Roménia com projetos bilaterais em todos os domínios
da reforma judiciária e da luta contra a corrupção[8]. II. Análise dos progressos realizados no âmbito
do MCV no período 2007-2012 A avaliação global da Comissão quanto aos
progressos realizados desde a adesão da Roménia demonstra que estão reunidos
muitos dos elementos de base necessários, embora os acontecimentos recentes
tenham postos em causa o caráter irreversível do processo de reformas. O MCV
efetuou um contributo de vulto para o processo reformador da Roménia. A tónica
tem, por conseguinte, passado para a garantia de que a sua aplicação se traduza
nos resultados necessários e que o sentido de apropriação seja uma realidade a
fim de manter a dinâmica do processo de reformas, inclusive em circunstâncias
políticas díficeis. Desde 2007, a Roménia criou ou tem em
elaboração o quadro jurídico de base em todos os domínios abrangidos pelo MCV.
Quando concluída, a introdução dos novos códigos deve permitir uma modernização
substancial do sistema jurídico. Outras decisões políticas permitiram também a
criação de um quadro sólido, como a estratégia nacional de luta contra a
corrupção. Muitas instituições importantes contribuíram também para a criação
desta base sólida, incluindo a Direção Nacional de Combate à Corrupção (DNA) e
a Agência Nacional para a Integridade (ANI). Este quadro tem vindo a ser desenvolvido de
muitos modos. Por exemplo, o historial da DNA e da ANI, as medidas tomadas pelo
Supremo Tribunal para tratar os principais processos de corrupção de alto nível
e alguns exemplos de organismos públicos que combatem a corrupção no seu seio
constituem passos dados no rumo certo. É com regozijo que a liderança judicial
demonstrou o seu compromisso de independência face aos recentes acontecimentos.
No entanto, a aplicação deste quadro de regras por parte do sistema judiciário
e pela administração em geral ainda não atingiu os objetivos do MCV. Em alguns
casos, a aplicação acaba de começar, dado as reformas terem sido adotadas
recentemente. Noutros casos, a aplicação deparou-se com dificuldades, muitas
vezes relacionadas com a apropriação das reformas por parte das autoridades.
Não se pode considerar que todas as agências públicas trabalham atualmente para
os mesmos objetivos[9].
Verificam-se ainda obstáculos à realização de progressos em matéria de luta
contra a corrupção, conflitos de interesses e contratos públicos. A liderança
demonstrada pelo Supremo Tribunal em matéria de julgamentos de processos por
corrupção de alto nível tem ainda de ser refletida nos tribunais de outros
níveis. Em alguns domínios importantes, as alterações
foram efetuadas principalmente como resultado de pressões externas. O MCV foi
essencial para este processo, sendo reconhecido tal papel pela opinião pública
romena[10].
Tem contribuído para manter a orientação geral do processo de reformas nos
momentos de pressão e para incentivar mudanças que requerem a coragem de
desafiar interesses instalados. A necessidade de ser exercida pressão externa
levanta questões acerca da sustentabilidade e irreversibilidade do processo de
reformas, questões estas acentuadas pelos atuais acontecimentos. O processo de mudança traçado nos relatórios
do MCV não tem seguido uma tendência constante. Diferentes governos e parlamentos
têm dado uma ênfase diferente a estas questões, que são questões políticas
importantes, e a existência de um grau de debate e de diferença constitui uma
realidade normal da vida política. Algumas instituições tornaram-se rapidamente
operacionais; outras têm demorado a criar uma dinâmica. A evolução das atitudes
da administração e do sistema judiciário é irregular e gradual. A apropriação e a execução são, por
conseguinte, os elementos essenciais para o cumprimento dos objetivos de
referência do MCV, determinando a sustentabilidade e a irreversibilidade do
processo de reformas. São demonstrados através de ações, resultados e decisões
tomadas pelas partes com a autoridade de influenciar o rumo e o ritmo das
mudanças. As futuras nomeações de um novo procurador-geral e de um procurador
da DNA serão, assim, os principais indicadores da sustentabilidade do processo
de reformas. A Comissão insta igualmente o Governo a tomar as medidas
necessárias para remediar os danos causados ao processo de reformas nas últimas
semanas. II.1 Reforma judiciária no
período 2007-2012 Objetivo de
referência 1: garantir um processo judicial simultaneamente mais transparente e
mais eficaz, reforçando nomeadamente as capacidades e a responsabilização do
Conselho Superior da Magistratura. Apresentar relatórios e acompanhar o impacto
dos novos Códigos de Processo Civil e Penal Acontecimentos recentes relativos à
independência do sistema judiciário e ao Estado de Direito A independência do sistema judiciário continua
a ser uma questão importante para a Roménia. Desde a adesão, o sistema
judiciário tem conseguido afirmar gradualmente a sua independência, em especial
através da investigação, da ação penal e do julgamento com êxito de um número
crescente de processos de corrupção de alto nível, o que tem permitido obter
resultados significativos a nível da ação penal e, desde 2010, também a nível
dos tribunais, conforme descrito no capítulo II.2 do presente relatório.
Marcaram uma mudança radical uma condenação definitiva proferida em junho num
processo de corrupção de alto nível emblemático e as ações do Tribunal Superior
de Justiça, do Conselho Superior da Magistratura[11] e do
Tribunal Constitucional no sentido de resistirem a contestações políticas à
independência judicial e de assegurarem a integridade profissional na sequência
desta sentença. No
entanto, a Comissão está preocupada com a recente pressão exercida por membros
do Governo romeno e figuras políticas importantes sobre o Tribunal
Constitucional: trata-se de intervenções inaceitáveis em relação a uma
instituição judicial independente. O Governo e todos os níveis políticos devem
respeitar a separação de poderes. Devem igualmente respeitar estritamente a
independência do sistema judiciário. Em especial, a Comissão está preocupada com a
recente limitação de competências do Tribunal Constitucional, tendo em conta as
decisões parlamentares. As autoridades romenas devem urgentemente restabelecer
essas competências, em conformidade com a Constituição romena. A Comissão foi
informada por carta de 16 de julho do Primeiro-Ministro da Roménia que este
requisito será respeitado. A independência judicial e a separação de
poderes são as pedras angulares fundamentais de uma sociedade democrática. Nos
próximos meses, todos os níveis políticos da Roménia devem demonstrar, através
das suas ações, o seu compromisso para com estes princípios, a fim de restaurar
a confiança. A Comissão acompanhará de perto a evolução neste domínio. Principais desenvolvimentos no período
2007-2012 O quadro legislativo do sistema judiciário foi
reformado com vista a atualizar este sistema e a orientá-lo para as prioridades
da atualidade. Quando todos os novos códigos entrarem em vigor, a Roménia terá
reformulado a sua legislação penal e civil. Entretanto, a Lei das pequenas
reformas constituiu um exemplo de legislação prática e pragmática que visa
resolver deficiências concretas. Outras leis permitiram aplicar medidas
importantes para garantir uma maior responsabilização e integridade do sistema
judiciário. O sistema judiciário evoluiu desde 2007. Há
muitos sinais de que os juízes e os magistrados do Ministério Público
adquiriram uma maior confiança profissional. Os profissionais do direito
subscrevem maioritariamente o conceito de reforma judiciária e reconhecem os
seus benefícios. O empenhamento na reforma de determinados magistrados, de
associações profissionais e da sociedade civil aumentou consideravelmente nos
últimos anos. Há muitos exemplos concretos de boas práticas profissionais que
merecem ser aplicadas noutros âmbitos a título de melhores práticas. A tomada de todas estas medidas com o objetivo
de beneficiar delas plenamente irá exigir esforços mais intensos por parte do
sistema judiciário, do poder executivo e da classe política. Os principais
progressos até ao presente têm sido de ordem legislativa, com atos legislativos
importantes adotados recentemente ou ainda não em vigor e outros atos ainda
pendentes a nível do Parlamento, sendo necessária uma estratégia determinada
para que as reformas realizem todo o seu potencial de indução de mudanças no
terreno. A incoerência da jurisprudência, as dificuldades a nível da aplicação
e a ineficiência dos processos judiciais continuam a ser problemas
generalizados[12].
A resposta do sistema judiciário aos desafios que se colocam à integridade e
responsabilização não tem sido suficiente para restabelecer a confiança do
público. Atualmente, já existem instrumentos para a
liderança judiciária e o poder executivo poderem consolidar as reformas. Para
tal, serão necessários um esforço mais coerente e uma maior atenção dada à
gestão no âmbito do CSM, bem como um novo nível de cooperação entre o poder
executivo e o sistema judiciário, com o apoio do Parlamento e da sociedade
civil. O Governo e os políticos devem dar um exemplo inequívoco: qualquer
pressão exercida sobre os tribunais cria desconfiança entre os diferentes ramos
do poder. Se o CSM puder assegurar a liderança necessária a nível das reformas
e receber o apoio do poder executivo para a sua execução, poderão ser visíveis
com relativa rapidez os benefícios diretos em domínios como a organização dos
tribunais e a distribuição do volume de trabalho. Os resultados de dois
projetos em curso do Banco Mundial irão proporcionar instrumentos e
recomendações políticas importantes para as próximas ações[13]. Quadro legislativo Desde a adesão, a Roménia tem executado um
ambicioso programa legislativo, que incluiu os novos Códigos Civil e Penal e os
códigos processuais conexos, com o objetivo explícito de modernizar o processo
judicial, tendo-se recorrido à experiência internacional em apoio desses
esforços. A adoção dos códigos em 2009 e 2010 representou uma conquista
importante da parte do Governo, do Parlamento e do sistema judiciário, apesar
de o processo de aplicação ter sido moroso. Até ao momento, apenas o novo
Código Civil entrou em vigor. O novo Código do Processo Civil entrará em vigor
no próximo outono e prevê-se atualmente que os novos Códigos Penal e do
Processo Penal entrem em vigor no próximo ano. Embora tenham sido expressas preocupações
sobre se os sistemas estão criados para aplicar efetivamente as alterações e se
as medidas de preparação da aplicação terão de ser intensificadas, estes
códigos constituem uma tentativa importante de modernização e, se forem
corretamente aplicados, poderão trazer benefícios consideráveis em termos de
eficiência, transparência e coerência do processo judicial. Paralelamente, o Parlamento adotou também um
certo número de outras medidas legislativas importantes. A «Lei das pequenas
reformas», que entrou em vigor em 2010, introduziu melhorias concretas a nível
da coerência e da eficiência do processo judicial. A legislação foi também
alterada de modo a reforçar a responsabilização do sistema judiciário e a
proceder à reforma do método de nomeações para o Supremo Tribunal de Justiça.
Tais medidas permitem ter em conta as preocupações do público acerca da
objetividade das nomeações judiciais e do processo disciplinar a nível do
sistema judiciário: será necessária uma sequência de bons exemplos para se conseguir
inverter a herança negativa do passado. Coerência do processo judicial O Supremo Tribunal de Justiça é o principal
responsável pela unificação da jurisprudência. Foram tomadas desde 2007 algumas
medidas importantes. A Lei das pequenas reformas alterou o âmbito do recurso
para fixação de jurisprudência processual, com vista a reforçar a sua
eficiência. Os novos códigos processuais introduzem um mecanismo de decisão
prejudicial a título de novo instrumento para efeitos de unificação jurídica,
bem como reformulam as disposições jurisdicionais a fim de contribuir para a
unificação[14].
O Supremo Tribunal tomou também a iniciativa de organizar um debate estruturado
sobre as questões da jurisprudência com os tribunais de recurso e desenvolveu
orientações sobre decisões a aplicar a determinados delitos de corrupção. O
incumprimento dos acórdãos do Supremo Tribunal no âmbito dos recursos para
fixação de jurisprudência, bem como as decisões do Tribunal Constitucional,
tornou-se atualmente num motivo potencial de medidas disciplinares[15]. Contudo, estes mecanismos ainda não
conseguiram superar a questão da incoerência, que constitui uma debilidade
importante do sistema judiciário romeno[16]. Uma parte do problema parece residir numa
insuficiente sensibilização para a importância da unificação jurídica a nível
da magistratura, talvez ligada à interpretação extrema da independência. O
princípio da «mesma sanção pelo mesmo delito» e o seu papel dissuasor de
infrações não parecem ser valorizados plenamente, nem a sua pertinência para a
responsabilização e integridade dos magistrados, o que pode ajudar a explicar
por que razão a análise mostra que as medidas de unificação jurídica não são
utilizadas adequadamente pelos juízes[17].
Ao mesmo tempo, a coerência da jurisprudência ainda não se tornou uma
prioridade para o CSM e os presidentes dos tribunais. Mesmo no caso de juízes
que pretendem melhorar a coerência, estes não dispõem dos instrumentos
necessários para aceder à jurisprudência dos outros tribunais. Ainda não é uma
realidade a publicação eletrónica completa das decisões judiciais, inclusive
das decisões do Tribunal Superior de Justiça. Os tribunais de recurso publicam
algumas decisões, mas não aplicam critérios uniformes na matéria. A principal
base de dados judiciais (ECRIS) tem o acesso limitado aos acórdãos judiciais da
mesma circunscrição do tribunal de recurso; os juízes não podem comparar os
acórdãos judiciais a nível nacional[18].
Um sistema alternativo, Jurindex, não está a ser atualizado. Os peritos recomendam uma ênfase mais forte na
interposição de recursos para fixação de jurisprudência e incentivam uma
prática coerente por parte dos juízes através da publicação integral das
decisões judiciais fundamentadas, a realização periódica de debates sobre
processos em todos os tribunais e a promoção ativa da coerência jurídica por
parte dos presidentes dos tribunais e do CSM. A liderança judicial poderá
igualmente atribuir um valor mais elevado à coerência jurídica a nível das
promoções e nomeações judiciais, atribuir ao serviço de inspeção judicial um
papel na análise da jurisprudência incoerente, desenvolver as orientações sobre
decisões e utilizar o Instituto Nacional da Magistratura para tornar a
coerência um tema importante da formação inicial e contínua. A prossecução da reforma do Supremo Tribunal
de Justiça pode também contribuir para a coerência. Foram realizados progressos
importantes a este respeito através da Lei das pequenas reformas e mediante os
novos códigos processuais. As reformas introduzidas pelos novos códigos
processuais devem ser introduzidas de forma a garantir que o Supremo Tribunal
não seja inundado de pedidos abusivos e que só sejam admitidos os processos que
suscitem questões jurídicas importantes. Tal exige um filtro adequado para os
recursos em segunda instância e os pedidos de decisões prejudiciais. Podem
igualmente existir outras tarefas suscetíveis de transferência do Supremo
Tribunal para outros tribunais, como, por exemplo, as competências para julgar
em processos em primeira instância e para tomar decisões sobre algumas questões
judiciais internas[19],
o que permitiria que o Supremo Tribunal se concentre na sua função principal de
unificação jurídica, tal como é o caso na maioria dos Estados-Membros da UE. O
Supremo Tribunal necessita também de dispor das instalações e do pessoal
necessários para as suas funções[20].
Organização e eficiência do sistema
judiciário A administração pública da Roménia foi
avaliada pelo Banco Mundial, tendo sido determinado que era a menos eficaz da
UE[21]. O
sistema judiciário sofre de alguns dos mesmos pontos fracos. Apesar de algumas
melhorias, a situação caracteriza-se em termos globais pela falta de dinamismo
na resolução de problemas com um impacto efetivo na capacidade de o sistema
judiciário aplicar a justiça de modo rápido e coerente. Estes problemas incluem
limitações de capacidade e a pressão a nível da carga de trabalho dos juízes e
delegados do Ministério Público, o que resulta, em grande medida, de
desequilíbrios na afetação de recursos e de variações acentuadas da carga de
trabalho entre as localizações geográficas e os níveis de competência. Outros
problemas incluem um elevado número de vagas, a prestação de formação à entrada
na profissão, bem como lacunas na estrutura e na organização interna dos
tribunais e dos gabinetes do Ministério Público. Foram envidados esforços para resolver estas
questões. Estas incluíam concursos periódicos para recrutamento, a
simplificação de certos procedimentos[22]
e decisões no sentido de reforçar a capacidade de formação inicial do Instituto
Nacional de Magistratura. Em 2011, foi dado um pequeno passo no sentido da
racionalização, encerrando nove tribunais redundantes e três tribunais com uma
atividade mínima, bem como os gabinetes do Ministério Público associados. Contudo, o impacto destas medidas continua a
ser limitado. Indicadores de eficiência importantes, tais como a disparidade de
carga de trabalho e as taxas de lugares vagos, não têm melhorado desde 2007[23]. As
pressões a nível de recursos e um conflito entre o poder executivo e o sistema
judiciário em 2009 desaceleraram as reformas e deram origem a um elevado número
de reformas numa altura em que número de processos subiu constantemente. O sistema judiciário não possui e não
desenvolveu indicadores de desempenho eficazes para informar das necessidades
totais de recursos e para efeitos de afetação de recursos no âmbito desse
sistema. A Roménia reconheceu recentemente estas debilidades e irá resolvê-las
no início de 2013 através de um projeto financiado pelo Banco Mundial, que irá
elaborar indicadores de volume de trabalho e de número de processos. A cooperação em matéria de política de
recursos humanos do sistema judiciário, entre o CSM, o poder executivo e o
Procurador-Geral, tem-se debatido com dificuldades constantes[24]. Está ainda
pendente a legislação destinada a introduzir a função de gestor do tribunal e
redefinir o papel dos funcionários dos tribunais, uma medida com um potencial
considerável para reduzir a carga de trabalho dos magistrados. As melhorias da
capacidade do Instituto Nacional da Magistratura e a introdução de padrões
iguais de recrutamento para diferentes categorias de candidatos só recentemente
foram asseguradas, o que é demasiado tarde para preparar corretamente a
aplicação dos novos códigos. Até à data, um plano de aplicação conjunta dos
novos códigos não foi ainda acordado[25]. As pressões sobre as finanças públicas poderão
ter conduzido a ganhos de eficiência. No entanto, este efeito deve ainda ser
confirmado. As razões para tal incluem uma falta de orientação em matéria de
gestão do sistema judiciário por parte do CSM e o desacordo entre o sistema
judiciário e o Governo. O CSM não foi capaz de elaborar uma estratégia de
recursos humanos para alterar as estruturas e os sistemas, tendo, em vez disso,
solicitado mais pessoal e recursos. O Parlamento contribuiu igualmente para
esta inércia, enfraquecendo as propostas de reestruturação do sistema judicial[26]. A nova
legislação tem sido criticada pelo facto de não tomar em consideração o risco
de provocar uma vaga de novos processos apresentados aos tribunais. Práticas judiciais As práticas judiciais apresentam ainda
deficiências significativas, ilustradas na avaliação das práticas judiciais dos
tribunais no âmbito de processos de corrupção de alto nível. Algumas destas
debilidades são estruturais: o sistema jurídico da Roménia tem características
que o tornam vulnerável a abuso, como o facto de os prazos de prescrição não
terminarem ou não serem suspensos no momento de uma acusação, o que é, por
vezes, exacerbado por um laxismo a nível do tratamento de processos judiciais
que parece favorecer indevidamente os arguidos[27]. Os peritos identificaram estas
deficiências no tratamento dos processos como sendo particularmente
significativas em comparação com as práticas de outros Estados-Membros. O
sistema judiciário constatou igualmente a dificuldade de os processos
financeiros complexos chegarem a uma conclusão bem sucedida em tribunal, o que
se refere, em especial, aos processos que envolvem contratos públicos – os
processos relativos a contratos públicos são uma exceção à tendência geral
positiva no que diz respeito aos processos de corrupção de alto nível em
tribunal (ver infra). Esses processos exigem competências específicas por parte
dos delegados do Ministério Público e dos juízes, obtidas através da formação,
especialização e competências especializadas externas. Além disso, apesar de
previsto na lei, o orçamento para os peritos dos tribunais está, na prática,
raramente disponível, de modo que os arguidos pagam muitas vezes os
conhecimentos especializados solicitados em tribunal, para além do pagamento
das suas competências[28],
o que levanta questões acerca da independência e imparcialidade dos peritos
independentes nomeados pelos tribunais supostamente independentes. Um exemplo de como a liderança pró-ativa pode
fazer a diferença foi observado na mudança de abordagem do Supremo Tribunal de
Justiça desde a nomeação da nova gestão em 2010[29]. Pode
proporcionar aos outros tribunais as melhores práticas em áreas como a gestão
de processos, tendo em conta o risco de se atingir os prazos de prescrição e
enviando a mensagem de que o tribunal irá resistir a tentativas espúrias de
atraso dos processos. A manutenção e o alargamento destas realizações serão
importantes para a realização de progressos a nível da reforma judiciária em
geral. Responsabilização No final de 2011, a Roménia reforçou a base
jurídica para a responsabilização judicial. O Parlamento votou alterações que
introduzem novas infrações disciplinares e que reforçam as sanções atuais;
alargaram o papel do Ministro da Justiça e do procurador-geral no decurso do
processo disciplinar e reforçaram a independência da inspeção judicial[30]. O
serviço de inspeção judicial tem agora a oportunidade de se recentrar em
investigações disciplinares mais rápidas, específicas e pró-ativas e de
desenvolver uma maior capacidade de aconselhamento no seio do serviço de
inspeção em relação a deficiências de organização, procedimentos e práticas
judiciais. O CSM deve continuar a aproveitar este potencial, solicitando ao
serviço de inspeção a realização de um acompanhamento sistemático dos
principais aspetos da prática judicial, da unificação jurídica e da adoção
pelos presidentes dos tribunais das melhores práticas de gestão[31]. Será
também importante recorrer aos novos direitos, no pleno respeito da
independência dos magistrados, a fim de dissipar as preocupações do sistema
judiciário de que a nova lei possa ser objeto de abusos. O impacto mais importante da lei far-se-á
sentir se for considerada como um instrumento para a aplicação de sanções
claras, coerentes e dissuasivas. A reputação do sistema judiciário e a
capacidade do CSM de o supervisionar foram gravemente afetadas por uma série de
casos de infrações, em que a resposta da liderança judicial foi deficiente e
tímida[32].
Em muitos Estados-Membros, haveria a expectativa de que as pessoas em posições
de autoridade pública aceitassem que se deveriam retirar das suas funções, se
tal fosse necessário, para proteger a reputação do organismo público em causa.
O facto de os juízes objeto de severas críticas públicas terem continuado a
participar nos tribunais enquanto as investigações prosseguiam tem prejudicado
a reputação dos tribunais. Devem ser estabelecidas regras claras, tais como a
suspensão imediata dos magistrados em investigação por crimes graves, como a
corrupção de alto nível, a fim de proteger os magistrados em causa e o sistema
judiciário no seu todo[33],
podendo tal ser incluído na estratégia de integridade do CSM. A Roménia melhorou também os procedimentos de
nomeação para o Supremo Tribunal de Justiça no final de 2011, através da adoção
de procedimentos mais transparentes e objetivos que permitem uma avaliação
independente mais exaustiva e objetiva do mérito dos candidatos, representando
tal um passo importante para melhorar a responsabilização do Supremo Tribunal
de Justiça. II.2 Luta contra a
corrupção no período 2007-2012 Objetivo de
referência 2: estabelecer, tal como previsto, uma Agência para a Integridade
com responsabilidades de verificação dos ativos, incompatibilidades e
potenciais conflitos de interesses, e com poderes para emitir decisões
vinculativas, com base nas quais podem ser aplicadas sanções dissuasivas Objetivo de
referência 3: continuar, com base nos progressos já efetuados, a realizar
investigações profissionais e imparciais sobre as alegações de corrupção de
alto nível Objetivo de
referência 4: tomar medidas suplementares para prevenir e combater a corrupção,
nomeadamente no âmbito da administração local A luta contra a corrupção e a promoção da
integridade constituem desafios que requerem a participação de todos os poderes
do Estado com uma ação que parta da cúpula e que desça até aos níveis
inferiores, de modo a penetrar na totalidade do tecido social. Um ponto de
partida essencial é a capacidade do sistema judiciário e da administração da
Roménia para aplicarem o princípio do Estado de Direito. Desde a adesão, a
Roménia realizou progressos importantes a nível da ação penal e do julgamento
no quadro de processos de corrupção de alto nível. A Direção Nacional de
Combate à Corrupção (DNA) tem demonstrado ter um papel de procurador enérgico e
imparcial destes processos. A Roménia foi também capaz de criar um sistema para
detetar e reprimir os conflitos de interesses, as incompatibilidades e os
ativos injustificados. A Agência Nacional para a Integridade (ANI) é uma
instituição disposta a prosseguir o seu mandato com convicção. As recentes
medidas para acelerar os julgamentos de processos de corrupção de alto nível no
Supremo Tribunal começaram a corrigir um dos principais problemas que limita a
ação dissuasiva contra a corrupção. Foi adotada uma legislação mais forte para
promover a integridade no âmbito do sistema judiciário e uma lei que introduz o
confisco alargado de ativos resultantes de práticas criminais. A nova
estratégia nacional de luta contra a corrupção constitui uma prioridade
importante para a condução do trabalho de luta contra a corrupção segundo as
melhores práticas: necessita agora de ser executada como previsto e dispor de
tempo suficiente para provar a sua eficácia. Estas são medidas significativas
no sentido do cumprimento dos objetivos do CSM. Contudo, à luz dos
acontecimentos atuais, preservar os progressos já realizados, manter o seu
ritmo e assegurar a estabilidade institucional constituem as primeiras bases
para demonstrar a sustentabilidade. Estas medidas chegaram num contexto em que a
grande maioria dos romenos considera a corrupção um problema importante[34].
Todavia, não convenceram ainda os romenos de que a situação está a melhorar,
considerando a maioria que a situação se deteriorou[35]. As
preocupações do público só serão dissipadas quando forem proferidas penas
objetivas e definitivas no quadro dos julgamentos de processos mais importantes
de corrupção de alto nível e quando as melhores práticas para a condução dos
julgamentos forem consideradas prática normal. Demasiado poucos casos de
conflitos de interesses são objeto de ação judicial, em especial em matéria de
contratos públicos, e mesmo quando essa ação é uma realidade, as sanções neste
domínio previstas na lei não são dissuasivas. Ainda não foram obtidos
resultados convincentes em matéria de confisco de ativos injustificados.
Constituirá um teste importante da execução a transformação da nova estratégia
nacional de luta contra a corrupção num instrumento de integração dessa luta em
todas as instituições. Além disso, apesar dos seus resultados
significativos, a autoridade destas instituições de luta contra a corrupção foi
posta em questão. A base jurídica para o trabalho da Direção Nacional de
Combate à Corrupção (DNA), do Ministério Público e da Agência Nacional para a
Integridade (ANI) foi contestada repetidamente desde 2007; algumas destas ações
estão ainda pendentes. As futuras nomeações para os lugares de
procurador-geral, procurador principal da DNA e para outros altos cargos no
seio do Ministério Público são uma oportunidade para demonstrar que a liderança
política e judicial apoia plenamente uma ação forte e independente contra a
corrupção. Tal exige um processo de nomeação transparente e objetivo no âmbito
do quadro jurídico em vigor, através de concursos abertos com critérios claros,
visando assegurar a liderança mais forte possível e com o objetivo de garantir
a continuidade do funcionamento destas instituições. A condução eficiente de
uma série de processos de corrupção de alto nível que alcançaram a fase final
em tribunal será um teste para verificar se a capacidade do sistema judiciário
romeno pode continuar a afirmar a sua independência e garantir o Estado de
Direito. Corrupção de alto nível O desempenho da Direção Nacional de Combate à
Corrupção (DNA) em matéria de investigação e ação penal no âmbito de processos
de corrupção de alto nível pode ser considerado um dos mais importantes
progressos alcançados pela Roménia desde a adesão. A DNA conseguiu emitir um
número de acusações em aumento constante de ano para ano, com investigações
efetuadas rapidamente e de forma pró-ativa. Desde 2007, foram iniciados pela
DNA processos envolvendo os níveis mais elevados da vida política e no quadro
do sistema judiciário contra pessoas de todos os principais partidos políticos[36]. O desempenho da DNA conduziu a um aumento
consequente das decisões e condenações judiciais em processos de corrupção de
alto nível, em especial a partir de 2010[37]. No entanto, a eficiência dos processos
judiciais e a coerência e o efeito dissuasor dos acórdãos judiciais proferidos
em processos de corrupção de alto nível ficaram aquém dos progressos
verificados a nível da instauração de processos. Desde 2007, os processos de
corrupção de alto nível registaram atrasos significativos nos tribunais. As
causas para tal prenderam-se com deficiências na legislação e na capacidade. As
deficiências em matéria de prática judicial pormenorizadas na anterior secção
do presente relatório tornaram-se particularmente evidentes em casos de
corrupção de alto nível, com uma margem de manobra excessiva dada pelos juízes
às tentativas dos arguidos de atrasar e obstruir os processos judiciais –
inclusive quando os processos se aproximaram dos prazos de prescrição[38]. Algumas causas dos atrasos foram eliminadas: a
Lei das pequenas reformas e as alterações à Lei sobre o Tribunal Constitucional
introduziram alterações importantes com vista a acelerar os julgamentos,
eliminando os efeitos suspensivos das exceções de inconstitucionalidade e de
ilegalidade invocados pelos arguidos. Uma decisão interpretativa do Supremo
Tribunal teve igualmente efeitos suspensivos em relação a prazos durante os
quais um julgamento foi anteriormente suspenso até um acórdão ser proferido
sobre uma exceção de inconstitucionalidade[39]. Contudo, vários processos de corrupção de alto
nível foram perdidos ou parcialmente perdidos no início de 2011 por terem
prescrito[40].
Em meados de 2011, tornou-se claro que um conjunto de processos importantes de
corrupção de alto nível – processos que foram adiados durante anos por várias
razões – poderia prescrever. Em conformidade com as recomendações da Comissão[41], a nova
liderança do Supremo Tribunal de Justiça promoveu as melhores práticas através
de uma gestão mais eficiente e rigorosa dos julgamentos. Estas medidas levaram
a partir do final de 2011 a uma série de decisões em primeira instância em
processos importantes, bem como às primeiras condenações definitivas por
corrupção com penas de prisão pronunciadas contra um antigo primeiro-ministro,
um antigo ministro e um deputado atual[42]. Uma outra preocupação expressa em relatórios
da Comissão tem sido a coerência e o caráter dissuasivo das sentenças proferidas
em processos de corrupção de alto nível[43]. Um estudo conjunto do sistema judiciário e
do Ministério da Justiça reconheceu esta questão em 2009 e desenvolveu medidas
corretivas, que conduziram a certas melhorias. Na ausência de ação por parte da
liderança judiciária, um grupo de juízes do Tribunal de Recurso de Bucareste
elaborou em 2010 orientações em matéria de ação penal a fim de melhorar a
coerência em matéria de delitos por corrupção. Estas orientações inspiraram
posteriormente a nova gestão do Supremo Tribunal de Justiça para redigir e
adotar em 2011 as suas próprias orientações em matéria de ação penal em relação
a certos delitos por corrupção. Estes exemplos demonstram que o sistema
judiciário romeno reage a deficiências objetivas de forma pragmática. As
orientações em matéria de ação penal criaram uma base, devendo ser aplicadas e
alargadas de forma a abranger outros delitos, a fim de assegurar uma maior
coerência e previsibilidade em matéria de ação penal em relação a processos de
corrupção de alto nível. As medidas tomadas pelo Supremo Tribunal no que diz
respeito à gestão de processos e às práticas judiciais representam um
reconhecimento importante de que os tribunais têm a responsabilidade de
assegurar a aplicação da justiça, podendo conduzir, se prosseguirem, a uma
série de decisões definitivas em processos que envolvem altos responsáveis
políticos no decurso do presente ano. A primeira destas decisões foi tomada no
mês passado, com a decisão definitiva tomada no quadro de um julgamento que envolveu
um antigo primeiro-ministro, o que demonstrou que o Supremo Tribunal começa a
tomar decisões mesmo contra os arguidos de mais alta posição e politicamente
influentes. No entanto, estes casos de boas práticas não
foram integrados ativamente e existem poucas provas de que estão a ser adotadas
noutros tribunais. Apesar das melhorias visíveis no Supremo Tribunal, nos
outros tribunais muitos outros processos de corrupção de alto nível, que
envolvem personalidades locais, tais como autarcas, presidentes de conselhos
regionais ou presidentes de câmara, continuam a registar atrasos e interrupções
questionáveis. É importante notar que os processos que envolvem corrupção e
fraude no domínio dos contratos públicos registam um trâmite especialmente
lento em tribunal. Será necessário um esforço para avaliar as razões
subjacentes a estes atrasos significativos e para melhorar as competências e
conhecimentos específicos à disposição dos juízes[44]. A maior
parte das penas pronunciadas em processos de corrupção de alto nível continua a
estar suspensa. Muito poucas penas de prisão definitivas foram pronunciadas até
à data em processos importantes envolvendo políticos de carreira[45]. Esta
situação tem consequências negativas para o caráter dissuasivo do sistema
judiciário. A luta eficaz contra a corrupção de alto nível
exige o respeito pela ação judicial e o apoio total por parte da classe
política em relação às investigações realizadas pelo sistema judiciário. A
adoção de um código de ética em 2011 pelo partido do Governo de então pode ser
considerado um passo importante. Como resultado deste código, o mesmo partido
excluiu um presidente de câmara influente quando foi acusado de corrupção de
alto nível[46].
Por força da Constituição da Roménia, tal como
interpretada com base na jurisprudência do Tribunal Constitucional, é
necessária a aprovação do Parlamento para autorizar a detenção ou a
investigação de deputados, sendo igualmente necessária para aprovar o início de
investigações penais contra deputados, que são ou foram ministros. A recusa do
Parlamento em permitir o início de investigações penais em tais processos
implica de facto a imunidade em matéria de investigação penal e, por sua vez,
bloqueia o exercício da justiça. Desde 2007, alguns deputados, incluindo um
antigo primeiro-ministro, foram elididos da investigação penal pelas recusas do
Parlamento em permitir o início de investigações penais[47]. O facto
de o Parlamento não apresentar os motivos das recusas de início de
investigações penais dificulta a determinação da fundamentação objetiva das
decisões[48].
Além disso, o facto de os deputados poderem ainda manter-se no Parlamento,
tendo sido condenados por delitos graves como a corrupção, prejudica a
reputação do Parlamento – muitos sistemas parlamentares têm a prática de suspender
os deputados quando é proferida uma acusação em tais processos, sendo excluídos
se condenados[49].
Na recente constituição do novo Governo,
verificaram-se sinais contraditórios. O convite e, na verdade, a nomeação de
ministros objeto de decisões judiciais definitivas ou pendentes provocou uma
controvérsia compreensível e revelou a incapacidade de aceitar e compreender
que o Estado de Direito é um princípio fundamental[50], o que
mostra que há ainda algum caminho a percorrer em termos de aplicação de padrões
elevados de serviço público. Integridade Aquando da adesão, a Roménia acordou em criar
um enquadramento jurídico e institucional destinado a prevenir e reprimir a
corrupção através da eliminação de incompatibilidades, conflitos de interesses
e de situações de património injustificado. A Agência Nacional para a
Integridade (ANI) verifica situações de conflitos de interesses e de
incompatibilidade e identifica situações potenciais de património injustificado
de funcionários públicos e políticos eleitos. As suas conclusões ou remissões
podem ser objeto de recurso ou confirmação pelos tribunais ou ser seguidas por
outros organismos judiciais ou administrativos. Tendo sido criada em 2007, a ANI tornou-se
rapidamente operacional e aplicou uma metodologia eficiente em matéria de
administração e investigação. Estabeleceu um acesso público centralizado e por
via eletrónica a todas as declarações patrimoniais e de interesses, um
contributo importante para a transparência. Com o apoio do orçamento nacional e
dos fundos da UE, criou um sistema de gestão informatizada de processos e
celebrou acordos de cooperação com algumas autoridades administrativas e
judiciárias. Atualmente, a ANI evoluiu para uma componente essencial do quadro
institucional de luta contra a corrupção, tendo obtido resultados
significativos[51].
No entanto, os progressos da ANI foram
entravados por uma série de recursos. A base jurídica da ANI foi declarada
inconstitucional em 2010, pondo em dúvida os poderes da ANI para ordenar o
confisco de ativos injustificados[52].
O debate sobre a forma como alterar a base jurídica da ANI revelou que a
vontade política para ter eficazmente em conta a questão da integridade e para
respeitar os compromissos assumidos aquando da adesão era superficial. Os
representantes de todos os principais partidos políticos com assento no
Parlamento reabriram a questão da existência da ANI. O Parlamento não aplicou
também as decisões em matéria de incompatibilidade e conflitos de interesses[53]. A base jurídica enfraquecida da ANI impede a
obtenção de resultados, sendo ainda objeto de recursos constitucionais, apesar
de duas denúncias terem sido rejeitadas pelo Tribunal Constitucional em junho[54]. As
novas comissões de investigação do património, criadas como uma fase
suplementar entre os tribunais e a ANI para processos em que a ANI propõe o
confisco de ativos injustificados, parecem ter dificultado a tarefa de ação
penal em matéria de investigação de património injustificado. As comissões
acrescentaram um nível de competência adicional, mas proporcionam menos
transparência e menos direitos para as partes. Não obstante os esforços para
reunir os principais intervenientes em seminários, os seus procedimentos não
foram totalmente unificados e surgiram debilidades relativamente ao tratamento dos
elementos de prova. Até agora, nem um só processo tratado pelas comissões de
investigação de património, desde o seu restabelecimento em 2010, foi
definitivamente decidido em tribunal. O quadro jurídico dificulta também o
trabalho de investigação de conflitos de interesses administrativos. São
necessários processos jurídicos distintos, em primeiro lugar, para investigar
os recursos apresentados em relação com as conclusões da ANI em matéria de
conflitos de interesses e, posteriormente, para anular atos jurídicos em
matéria, por exemplo, de contratos públicos celebrados numa situação de
conflito de interesses[55]. A eficácia do sistema de integridade romeno
sofre também da lentidão dos processos judiciais, da incoerência da
jurisprudência e de uma cooperação insuficiente entre outras autoridades
administrativas, o sistema judiciário e a ANI. Os processos judiciais objeto
das três competências da ANI revelaram-se especialmente lentos. No total, os
tribunais confirmaram definitivamente até ao presente apenas quatro processos
de património injustificado e todos estes processos antecedem a nova lei (um
data de 2005). Há processos simples de incompatibilidade que podem levar vários
anos até serem decididos definitivamente pelos tribunais, ocorrendo assim
processos em que a aplicação de sanções não foi possível, uma vez que já tinham
prescrito. A incompatibilidade da jurisprudência foi também um problema nos
processos apresentados pela ANI, não tendo sido tomadas medidas corretivas
rápidas pelo sistema judiciário[56].
Embora a ANI tenha celebrado acordos de cooperação com outras instituições
administrativas e com o Ministério Público, esta cooperação não conduziu a
resultados significativos até agora, com a exceção de uma cooperação produtiva
com a DNA. Chegaram muito poucos sinais à ANI de outras instituições e não foi
dado seguimento às remissões para a ANI de outras instituições, conduzindo a
uma só acusação e a um pedido de pagamento adicional de imposto[57]. No entanto, a ANI tem sido cada vez mais capaz
de se centrar em processos importantes e complexos desde 2010. Um exercício de
avaliação minuciosa destinado a identificar conflitos de interesses entre
autarcas implicou a apresentação de um número significativo de processos
potenciais – irá constituir um importante teste a medida em que estes processos
serão objeto de seguimento pelo Ministério Público e tribunais[58]. Foi
lançado um exercício semelhante junto das autoridades responsáveis pela gestão
dos fundos da UE. Estes desenvolvimentos são encorajadores. As investigações da
ANI devem, no futuro, ser ainda mais orientadas por avaliações de risco e
centrar-se em domínios vulneráveis, o que pode ter implicações em termos de
reforço de recursos de pessoal da ANI[59]. Apesar das insuficiências do seguimento
judiciário, um número significativo de conclusões em matéria de
incompatibilidade tornou-se definitivo e conduziu a demissões e sanções
disciplinares[60].
Os resultados são mais dececionantes no que diz respeito ao seguimento dos
processos da ANI relativos ao confisco de património injustificado e a
conflitos de interesses. A melhoria da base jurídica da ANI pode ajudar a
resolver este problema[61],
mas o sistema político, judicial e administrativo no seu conjunto deve
considerar a ANI como um ativo a ser estimulado. O tratamento dos processos da
ANI pelos tribunais e a cooperação entre as instituições devem melhorar para
que a agência possa assegurar o seu objetivo, a título de importante agente de
mudança de atitude no sentido da integridade na Roménia. Prevenção e sanções aplicadas à corrupção
geral no setor público Para além de garantir que a corrupção seja
objeto de sanções quando identificada, uma descida sustentável dos níveis de
corrupção exige, em primeiro lugar, a tomada de medidas que a torne de
ocorrência menos provável. Constitui um passo essencial a tomada de medidas
preventivas destinadas a reduzir as possibilidades e os riscos de corrupção,
tais como procedimentos transparentes e uma tomada de decisões previsível por
parte das instituições públicas. O rumo geral das medidas é enquadrado por uma
estratégia nacional de luta contra a corrupção. Os últimos cinco anos
apresentam um panorama variável a este respeito. A estratégia para o período
2008-2010 não conseguiu assegurar o impacto pretendido. No entanto, foi adotada
uma nova estratégia abrangente em março deste ano e a decisão do novo Governo
de voltar a adotar a estratégia inalterada, acompanhada da adoção pelo
Parlamento, indicia um apoio político geral. A nova estratégia integrou muitas
das recomendações provenientes da análise de impacto das anteriores duas
estratégias e proporciona uma boa base para coordenar e centrar as atividades
de diferentes instituições públicas. Permite igualmente um acompanhamento dos
progressos realizados de acordo com uma série de indicadores. A adoção pelo
Parlamento é uma forma útil de sublinhar que todas as partes influentes da
sociedade têm um papel a desempenhar para tornar a estratégia um êxito. O seguimento é fortemente dependente das ações
de cada componente do Governo. Como organismo específico de luta contra a
corrupção e dotado do pessoal suficiente com uma vertente de prevenção e outra
de investigação, a Direção-Geral de Combate à Corrupção do Ministério da
Administração Interna (GAD) realizou progressos importantes na luta contra a
corrupção no âmbito das forças policiais romenas e de outras estruturas do
Ministério. A GAD é até à data o único serviço com uma avaliação pormenorizada
do risco de corrupção e tem igualmente transmitido um número significativo de
indícios de corrupção para o Ministério Público[62]. A fim
de consolidar estas conquistas e realizar o seu potencial, a GAD deve alargar o
seu âmbito de processos a novos domínios de corrupção grave e complexa,
incluindo os contratos públicos e as investigações em matéria de ligações
corruptas entre as forças policiais e a criminalidade organizada. Não foram alcançados resultados comparáveis
noutros setores de atividade das administrações públicas. Os processos por
corrupção são numerosos em domínios como a administração fiscal, educação,
saúde e investimentos em infraestruturas. Contudo, a análise de risco nestes
setores só recentemente começou e apenas algumas medidas foram adotadas em
domínios que são os mais suscetíveis de corrupção e sensíveis orçamentalmente[63]. O setor
educativo promoveu algumas medidas de prevenção úteis, incluindo propostas do
centro nacional para a integridade, como a videovigilância nos exames
universitários, e está a elaborar uma estratégia setorial, no contexto de um
projeto de luta contra a corrupção financiado pela UE. Outras zonas de risco
importantes que devem ser visadas são os investimentos em infraestruturas
escolares e a corrupção no sistema de exames escolares e na outorga de diplomas
nas universidades. As atividades no setor da saúde só agora começam, com o
lançamento de um outro importante projeto financiado pela UE[64].
Naquelas contam-se algumas atividades-piloto úteis em domínios sensíveis em
termos de corrupção com um impacto importante no orçamento de Estado, tendo
ainda de ser executadas de modo sistemático. Poucas atividades foram realizadas
em áreas como a fiscalidade e as alfândegas, embora a existência de riscos
específicos nestes domínios justifique a criação de fortes unidades de
prevenção com um mandato pró-ativo[65].
As autoridades de controlo administrativo têm um papel importante a
desempenhar, mas ainda não efetuam, em geral, avaliações de risco de corrupção
para analisar domínios vulneráveis e, de um modo geral, não cooperam com as
autoridades judiciais ou com a ANI. Os peritos indicam que a independência
insuficiente e a influência política constituem fatores importantes para a
inação[66].
O número reduzido de comunicações de corrupção
das autoridades administrativas teve também impacto sobre o número de processos
perante o Ministério Público e os tribunais. Uma exceção é a área das forças
policiais, em que a GAD referiu um número considerável de processos. O
procurador-geral solicitou aos serviços locais do Ministério Público para
desenvolverem estratégias de luta contra a corrupção a nível local, publicou
orientações para a investigação de processos por corrupção e criou uma rede de
magistrados do Ministério Público especializados. Estas medidas melhoraram o
número de processos por corrupção visados pela ação penal normal[67]. A nova estratégia nacional de luta contra a
corrupção constitui uma oportunidade para conseguir uma mudança radical
relativamente ao empenhamento de todas as agências públicas em aplicar
políticas pró-ativas que tornem a corrupção mais difícil e que identifiquem os problemas
logo que surgem. As melhores práticas disponíveis no âmbito do tratamento de
processos como as do Ministério da Administração Interna poderão ser alargadas
a todos os setores com risco elevado e impacto orçamental importante. A criação
de uma linha telefónica independente de emergência para assinalar delitos de
corrupção nas administrações públicas deve igualmente contribuir para a
comunicação de casos. Todavia, as ações de luta contra a corrupção devem
sobretudo ganhar a confiança do público e, para tal, será necessário gerar um
círculo virtuoso em que o público possa verificar as consequências quando são
iniciados processos justificados. Provedor de Justiça O Provedor de Justiça desempenha um papel
importante na luta contra a corrupção na Roménia. O Provedor de Justiça tem
poderes para conduzir investigações sobre alegados atos ilícitos da
administração. Trata-se de um organismo independente, que pode agir com base
num recurso de qualquer pessoa ou por sua própria iniciativa. O Provedor de
Justiça tem igualmente o direito, nos termos do artigo 26.º, n.º 2, da Lei
35/1997, de apresentar relatórios ao Parlamento ou ao Primeiro-Ministro em
«casos graves de corrupção» que identifique no decurso das suas investigações.
O papel do Provedor de Justiça é relevante para o MCV, em especial para o
quarto objetivo de referência em matéria de prevenção e luta contra a
corrupção. O Provedor de Justiça é igualmente a única instituição que pode
recorrer diretamente face aos atos do Governo perante o Tribunal Constitucional. A Comissão salienta que, em 3 de julho de
2012, o Parlamento pôs fim prematuramente ao mandato do Provedor de Justiça. As
autoridades romenas devem garantir a independência do Provedor de Justiça e
nomear um Provedor de Justiça que beneficie do apoio dos partidos e que seja
capaz de exercer eficazmente as suas funções legais com total independência. Recuperação do produto dos delitos penais A experiência mostra que a ação penal contra a
corrupção se traduz muitas vezes na recuperação do produto da corrupção. Deste
modo, a recuperação do produto dos delitos penais e a luta contra o
branqueamento de capitais são componentes essenciais de qualquer estratégia de
luta contra a corrupção. Em 2011, a Roménia criou um gabinete de recuperação de
bens[68]
e, em 2012, foi adotada uma nova Lei sobre o confisco alargado. Desde 2010, o
Ministério Público e as forças policiais aplicam um procedimento normalizado
para recuperar o produto dos delitos penais, agindo ao abrigo de um ato comum
do procurador-geral e do Ministro do Interior. A formação neste domínio foi
tornada obrigatória e foi criada uma rede de procuradores especializados. Contudo, esta ação tem ainda de dar os seus frutos. O confisco alargado
continua a ser um novo conceito para as forças policiais, os procuradores e os
juízes. Conceitos como o confisco a terceiros parecem ser facilmente objeto de
recurso em tribunal[69].
Apesar da jurisprudência positiva, o branqueamento de capitais não é ainda
condenado a título de delito autónomo[70].
A avaliação dos peritos indica que o nível de confiscos é inesperadamente baixo[71]. Além
disso, a ausência de dados estatísticos abrangentes neste domínio torna difícil
para as autoridades acompanhar os progressos realizados. Contratos públicos As deficiências a nível da aplicação da legislação em matéria de
contratos públicos são uma fonte importante de corrupção e de má utilização dos
fundos públicos. Afetam também a utilização eficaz dos fundos da UE e reduzem a
qualidade do fornecimento de bens públicos. As auditorias e avaliações de
vários serviços da Comissão têm repetidamente identificado riscos sistémicos e
lacunas existentes neste domínio, dando por vezes origem a períodos de
interrupção dos pagamentos dos fundos da UE, o que é consubstanciado por
queixas recebidas diretamente pela Comissão. Desde a adesão, a Roménia criou um extenso quadro institucional e
jurídico para a aplicação da legislação da UE neste domínio. No entanto, um
certo número de deficiências sistemáticas não foram objeto de suficiente
atenção. As incoerências são causadas por fatores que incluem alterações
frequentes do enquadramento jurídico[72]
e uma configuração institucional que não dispõe de capacidade suficiente, bem
como a ausência de instrumentos fundamentais para a realização de controlos
eficazes, tais como uma lista completa de concursos públicos. A proteção dos
contratos públicos face a conflitos de interesses foi identificada como uma
debilidade especial, de acordo com as auditorias da Comissão e a Agência
Nacional para a Integridade romena[73].
A Roménia comprometeu-se a executar um plano de ação global com base nos
resultados de uma avaliação global dos contratos públicos realizada pela
Comissão em 2011. Será necessária uma ação decisiva para corrigir as
deficiências detetadas. III. Próximas etapas A avaliação da Comissão revela que a Roménia
realizou progressos nos cinco anos decorridos desde a sua adesão à UE. Este
facto ilustra o papel positivo desempenhado pelo MCV. A Comissão considera que,
no futuro, a Roménia poderá atingir os objetivos do MCV, desde que tome medidas
rápidas para garantir o Estado de Direito, mantenha o rumo traçado e acelere a
execução das reformas. Todavia, tal como referido na introdução, os acontecimentos recentes
sublinham as preocupações acerca da irreversibilidade e sustentabilidade do
processo de reformas. A Roménia deve garantir o respeito pelo Estado de
Direito, incluindo um controlo judicial independente. A confiança dos parceiros
da Roménia na UE só poderá ser ganha se existirem provas de que o Estado de
Direito se encontra acima de interesses partidários, que todas as partes têm
pleno respeito pelo controlo judicial, nomeadamente a nível constitucional, e
que as reformas são irreversíveis. Para tal, são necessárias medidas jurídicas
- exige também um compromisso político em relação ao Estado de Direito, que tem
estado ausente das decisões recentes. O Governo comprometeu-se a agir com
celeridade, a fim de assegurar o respeito pelo Estado de Direito em
conformidade com as recomendações a seguir apresentadas (ver IV 1). Tal reforça a conclusão de que ainda não foram realizados os progressos
necessários a nível da aplicação dos objetivos de referência exigidos pela
Comissão para que possa decidir a cessação da vigência do MCV. São necessários,
para satisfazer adequadamente os requisitos da Comissão, a existência de um
sentido de apropriação mais generalizado do processo de reformas no quadro de
todos os ramos do poder e do sistema judiciário e um empenhamento mais forte em
relação à integridade e à luta contra a corrupção. Em especial, as autoridades
romenas devem poder demonstrar que está enraizado na Roménia um processo de
reformas sustentável e irreversível e que a intervenção externa do MCV já não é
necessária; é por esta razão que as recentes medidas do Governo e do Parlamento
suscitam preocupações especiais. A experiência dos últimos cinco anos indica que, quando são tomadas
medidas convincentes, podem ser obtidos bons resultados. A Roménia tem já a seu
favor um rumo positivo seguido pelo processo de reformas, comprovado em
instituições como a DNA e a ANI e em ações específicas como a aceleração dos
processos no Supremo Tribunal. Recentemente, o sistema judiciário adotou uma
posição mais pró-ativa na defesa da independência judicial. Claramente, a
manutenção desses progressos, da dinâmica e da estabilidade institucional no
quadro de tais processos é o principal elemento de base para a demonstração da
sustentabilidade. A passagem rápida da fase bem sucedida da adoção da
legislação para a fase determinante da aplicação irá aproximar o momento em que
a Roménia cumpre as exigências do MCV. Todos os Estados-Membros têm obrigações
e oportunidades no espaço de liberdade, de segurança e de justiça e a Comissão
aguarda com expectativa que a Roménia conclua o processo de reformas específico
no âmbito do MCV e que aborde estas questões na mesma base que os outros
Estados-Membros. Tendo em conta as atuais incertezas, a
Comissão adotará um novo relatório no âmbito do MCV para a Roménia, antes do
final de 2012. Nesse relatório, a Comissão examinará se as preocupações
expressas sobre o Estado de Direito e a independência do sistema judiciário
foram tidas em conta e se os controlos e equilíbrios democráticos foram
restabelecidos. A Comissão acompanhará de perto os progressos realizados, com
deslocações periódicas, bem como com um diálogo frequente com as autoridades
romenas e com os outros Estados‑Membros. IV. Recomendações A mais importante etapa seguinte será a
demonstração pelo Governo e pelas instituições principais da Roménia do seu compromisso
para com as bases indispensáveis do Estado de Direito e da independência
judicial. Tal implica uma série de medidas urgentes a tomar pelo Governo e
Parlamento. Embora as recomendações a seguir apresentadas incluam uma série de
reformas específicas necessárias para manter os progressos no âmbito do MCV, as
atuais controvérsias descritas na parte inicial do relatório suscitam graves
preocupações quanto aos progressos realizados até à data e levantam questões
importantes para a sustentabilidade e a irreversibilidade das reformas já
iniciadas. Tendo em conta a natureza excecional destes acontecimentos recentes,
o presente relatório inclui recomendações urgentes específicas para fazer face
à atual situação, nomeadamente no âmbito da secção 1: o respeito pelo Estado de
Direito e pela independência do sistema judiciário. A Comissão convida a Roménia a tomar medidas imediatas, nos seguintes
domínios, a fim de resolver as atuais controvérsias: 1. Respeito pelo Estado de Direito e
pela independência do sistema judiciário ·
Revogação do Decreto de Urgência n.º 38/2012 e do
Decreto de Urgência n.º 41/2012 e garantia de que os acórdãos do Tribunal
Constitucional sobre o quórum necessário para a realização de referendos e o
âmbito das responsabilidades do Tribunal sejam respeitados; ·
Respeito dos requisitos constitucionais aquando da
emissão de decretos de urgência no futuro; ·
Aplicação de todas as decisões do Tribunal
Constitucional; ·
Garantia da publicação imediata de todos os atos no
Jornal Oficial, incluindo as decisões do Tribunal Constitucional; ·
Exigência de que todos os partidos políticos e
autoridades públicas respeitem a independência do sistema judiciário, incluindo
um compromisso de aplicar sanções disciplinares a qualquer membro do Governo ou
de um partido que comprometa a credibilidade dos juízes ou coloque pressão
sobre as instituições judiciárias; ·
Nomeação de um Provedor de Justiça que beneficie do
apoio dos partidos, através de um processo transparente e objetivo, que conduza
à seleção de uma personalidade com autoridade incontestada, integridade e
independência; ·
Introdução de um processo transparente para a
nomeação do procurador-geral e do procurador principal da Direção Nacional de
Combate à Corrupção, que deve incluir candidaturas abertas, com base em critérios
de competência profissional, integridade e uma carreira de luta contra a
corrupção. Não deve ser efetuada qualquer nomeação ao abrigo da presidência em
funções; ·
Não devem ser concedidas amnistias presidenciais,
durante a presidência em funções; ·
Não nomear ministros objeto de decisões em matéria
de integridade; os ministros nessa situação devem demitir-se; ·
Adoção de procedimentos claros que requeiram a
demissão de deputados com base em decisões definitivas em matéria de
incompatibilidade e de conflito de interesses ou condenações definitivas por
corrupção de alto nível. Por cartas de 16 e 17 de julho e do anexo
atualizado de 17 de julho, o Primeiro-Ministro da Roménia confirmou ao
Presidente da Comissão que todos estes requisitos foram ou serão cumpridos. A Roménia deve igualmente tomar medidas nos
seguintes domínios: 2. Reforma do sistema judiciário ·
Adotar e aplicar um plano abrangente comum a fim de
assegurar a aplicação de todos os quatro códigos, incluindo todos os aspetos
relevantes das reformas estruturais e processuais, o ajustamento dos recursos
humanos e o investimento em infraestruturas judiciárias. ·
Reestruturar o sistema judicial e os serviços do
Ministério Público, através de uma reafetação do pessoal e de um reequilíbrio
da carga de trabalho, com base nomeadamente no estudo do funcionamento do
sistema judiciário romeno e no projeto sobre a carga de trabalho ótima nos
tribunais, financiado atualmente pelo Banco Mundial. ·
Criar um grupo de acompanhamento da reforma
judiciária que envolve todos os poderes públicos, associações profissionais e
sociedade civil. 3. Responsabilização do sistema judiciário: ·
Acordar uma política comum entre o CSM e o Governo
para promover a responsabilização e a integridade no sistema judiciário,
através de uma prática e jurisprudência disciplinares convincentes, com etapas
claras para a sua execução. Aproveitar a aplicação das novas leis sobre a
responsabilidade disciplinar e as promoções para o Supremo Tribunal para dar um
exemplo para o conjunto do sistema judiciário. ·
Assegurar uma melhor coordenação dos instrumentos
jurídicos, disciplinares e de gestão a fim de proteger a reputação do sistema
judiciário em casos graves de violação da ética profissional, incluindo
decisões sobre direitos individuais, como as pensões. ·
Reforçar a capacidade e o desempenho do serviço de
inspeção judicial a fim de garantir a responsabilização judicial através do
seguimento de processos específicos, assim como de promover a eficiência,
coerência e boas práticas judiciais mediante exames periódicos das práticas a
todos os níveis do sistema judiciário. 4. Coerência e transparência do processo
judicial ·
Desenvolver uma abordagem global para criar as
estruturas, procedimentos e práticas necessários para acelerar a unificação
jurídica. Tornar a unificação jurídica uma prioridade em termos de gestão para
os presidentes dos tribunais e a coerência um elemento importante no âmbito do
sistema de avaliação e promoção dos magistrados. Assegurar a total publicação
em linha e a atualização permanente das decisões judiciais fundamentadas. ·
Prosseguir a reforma do Supremo Tribunal para
permitir centrar mais os esforços na unificação jurídica. 5. Eficácia da ação judiciária ·
Estabelecer e aplicar em todo o sistema judicial
orientações claras sobre as melhores práticas em matéria de decisões, gestão de
processos e análise dos elementos de prova no quadro dos julgamentos penais,
com uma ênfase especial nos domínios em que já tenham sido identificadas
deficiências, como no caso dos julgamentos complexos que envolvem delitos
económicos e contratos públicos. ·
Introduzir reformas a fim de publicar rapidamente
as fundamentações das decisões após estas terem sido pronunciadas, de suspender
os prazos de prescrição após o início de uma investigação judicial e de
melhorar a qualidade e disponibilidade de conhecimentos especializados nos
tribunais. ·
Prosseguir as medidas tomadas pelo Supremo Tribunal
para acelerar os julgamentos em processos de corrupção de alto nível, assegurar
que os prazos de prescrição sejam evitados e introduzir medidas semelhantes
noutros tribunais. ·
Continuar a melhorar a coerência e o caráter
dissuasivo das sanções aplicadas no quadro de processos por corrupção de alto
nível nos tribunais da Roménia. ·
Garantir que os resultados alcançados pelo Ministério
Público sejam mantidos sob a nova liderança. 6. Integridade ·
Assegurar um registo convincente de sanções rápidas
e dissuasivas. Simplificar o controlo judicial das decisões da Agência Nacional
para a Integridade (ANI), através do aperfeiçoamento dos procedimentos e
práticas judiciais e de uma análise do quadro jurídico da ANI, a fim de
acelerar as decisões definitivas e melhorar a sua coerência e efeito dissuasor.
·
Melhorar a cooperação entre as autoridades
judiciais e outras autoridades administrativas e a ANI, com vista a assegurar
um intercâmbio eficaz de comunicações e de informações operacionais em todos os
três domínios das atividades da ANI. A cooperação com a ANI deve ser uma medida
de desempenho clara para a liderança de outras autoridades administrativas. 7. Luta contra a corrupção ·
Garantir que os resultados alcançados pela DNA
sejam mantidos sob a nova liderança. ·
Executar a nova estratégia nacional de luta contra
a corrupção, tal como concebida, e criar um sistema de seguimento exaustivo, de
modo que todos os organismos públicos fixem objetivos e apresentem relatórios
anuais, num formato comum e comparável, sobre a prevenção e repressão da
corrupção, da fraude e dos conflitos de interesses. Em conformidade com a
estratégia, estabelecer regras processuais claras e as melhores práticas para
as decisões do Parlamento, a fim de permitir a investigação, detenção e busca
de deputados. ·
Demonstrar a obtenção de resultados no domínio da
repressão do branqueamento de capitais, a título de delito autónomo, e
apresentar resultados convincentes a nível da recuperação do produto de delitos
penais, através do reforço das práticas judiciais e da aplicação da nova Lei
sobre o confisco alargado. ·
Estabelecer um mecanismo claro de coordenação e de
seguimento entre as forças policiais, o Ministério Público e as autoridades de
controlo administrativo com responsabilidade específica de garantir uma
cooperação e comunicação eficazes no domínio da corrupção. ·
Melhorar os resultados a nível da prevenção e
repressão da corrupção, da fraude e dos conflitos de interesses no domínio dos
contratos públicos em todos os setores de atividade das administrações
públicas. Neste contexto, a Roménia deve assegurar um seguimento adequado dado
às recomendações decorrentes da avaliação externa do sistema de contratos
públicos, efetuada por iniciativa da Comissão. [1] Conclusões
do Conselho de Ministros de 17 de outubro de 2006 (13339/06); Decisão da
Comissão de 13.12.2006 que estabelece um mecanismo de cooperação e de
verificação dos progressos realizados na Roménia relativamente a objetivos de
referência específicos nos domínios da reforma judiciária e da luta contra a
corrupção e a criminalidade organizada (C (2006) 6569 final). [2] Previa
também a possibilidade de um mecanismo de medidas de salvaguarda, que não teve
de ser invocado. [3] As
conclusões do Conselho Europeu de 28 e 29 de junho incluem um compromisso por
parte da UE no âmbito do Pacto para o Crescimento e o Emprego no sentido da
resolução dos atrasos verificados no sistema judiciário, como parte integrante
do processo de modernização da administração pública (conclusões do Conselho
Europeu de 29 de junho de 2012, p. 8). [4] Sondagem
Flash Eurobarómetro realizada pela Comissão na Roménia em maio de 2012
(Flash Eurobarómetro n.º 351 «Mecanismo de cooperação e de verificação para a
Bulgária e a Roménia» em: http://ec.europa.eu/public_opinion/index_en.htm
). [5] Flash
Eurobarómetro n.º 351. [6] Os
parâmetros de referência incluem os trabalhos do Conselho da Europa, da OCDE e
das agências das Nações Unidas. [7] Este
painel incluiu em 2012 peritos experientes de França, Alemanha, Reino Unido,
Irlanda, Espanha, Polónia e Eslovénia. [8] Relatório
técnico, p. 48. [9] Por
exemplo, o trabalho da ANI seria muito mais eficaz se tivesse a plena
cooperação de outras agências públicas e o acompanhamento determinado do
sistema judiciário. [10] Estas
conclusões são confirmadas pela perceção do público. 65 % dos inquiridos de uma
sondagem Flash Eurobarómetro realizada na Roménia consideram que a ação da UE
através do MCV tem tido um impacto positivo na correção de deficiências do
sistema judicial (59 % partilham deste ponto de vista sobre a corrupção). Ao
mesmo tempo, uma grande maioria considera que a situação nestes dois domínios
se manteve na mesma ou se deteriorou nos últimos cinco anos. (Flash
Eurobarómetro n.º 351). [11] Em junho,
a orientação pública do CSM no sentido da defesa da independência do sistema
judiciário, à luz das intervenções públicas relativas a um processo importante
de corrupção de alto nível, permitiu enviar uma mensagem de peso. [12] As
estatísticas do TEDH mostram que a Roménia regista o segundo número mais
elevado de acórdãos do TEDH de todos os Estados-Membros da UE, cuja execução está
pendente. Um grande número destes acórdãos diz respeito a dificuldades de
aplicação civil, à duração excessiva dos processos civis, à falta de soluções
eficazes e a investigações penais ineficazes. (Conselho da Europa:
Acompanhamento da execução das decisões do TEDH, relatório anual de 2011: http://www.coe.int/t/dghl/monitoring/execution/Source/Publications/CM_annreport2011_en.pdf [13] O Banco
Mundial está atualmente a realizar um estudo do funcionamento do sistema
judiciário romeno, financiado com fundos da UE. Um segundo projeto destinado a
melhorar a capacidade de recolha e processamento de dados judiciais e a
estabelecer indicadores da carga de trabalho ótima em todo o sistema judiciário
está atualmente a ser realizado por consultores financiados com base num
empréstimo do Banco Mundial. [14] O objetivo
do novo procedimento em matéria de decisão prejudicial consistiu na introdução
de um procedimento mais pró-ativo do que o atual recurso para fixação de
jurisprudência (ver relatório técnico, pp. 6 – 7). [15] A não
conformidade com os acórdãos do Tribunal Constitucional e os recursos para
fixação de jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça pode ser objeto de
investigação e sanção disciplinares, na sequência de alterações de disposições
legislativas sobre a responsabilidade disciplinar dos magistrados, adotadas no
final de 2011 e promulgadas no início de 2012. [16] A
incompatibilidade da jurisprudência é muitas vezes mencionada na Roménia e
confirmada pelas partes interessadas, como os investidores estrangeiros, os
gabinetes de advogados e as associações profissionais de magistrados. Foram
identificadas decisões incoerentes por peritos, em especial no âmbito de
processos sensíveis que envolvem arguidos de alto nível em processos relativos
a concursos públicos. [17] Tal inclui
o desrespeito pela jurisprudência dos tribunais superiores e a utilização
limitada do recurso para fixação de jurisprudência. O número de recursos para
fixação de jurisprudência diminuiu em 2011 comparativamente ao período
2007-2009. [18] Com
exceção dos juízes do Supremo Tribunal de Justiça, que podem ter acesso a todos
os acórdãos incluídos na base de dados. [19] O Supremo
Tribunal julga uma variedade de delitos em primeira instância, sempre que o
delito seja cometido por determinados tipos de arguidos. Julga também em
matéria de questões judiciais internas, tais como os pedidos das partes de
transferência para outros tribunais ou os casos de conflitos de jurisprudência
entre os tribunais. [20] Foram
apresentadas razões de ordem logística para explicar o facto de as disposições
em matéria de decisões prejudiciais do direito civil, no âmbito do Código de
Processo Civil, entrarem em vigor quatro meses após o resto do Código. [21] Indicadores
de governação do Banco Mundial de 2011. [22] A Lei das
pequenas reformas permitiu nomeadamente que o Ministério Público aceitasse as
fundamentações das forças policiais para decidir não iniciar uma investigação
no quadro de certos processos simples, concedeu ao Ministério Público uma maior
margem de manobra para não instaurar ações, se as provas existentes não
justificarem uma investigação mais aprofundada, e reduziu os meios legais de
defesa para processos de menor importância. [23] A Roménia
é regularmente condenada pelo TEDH por infrações dos direitos processuais,
devido a atrasos judiciais excessivos. São frequentes os atrasos na publicação
das fundamentações judiciais superiores ao limite legal de 30 dias. Não estão
ainda disponíveis dados fiáveis sobre a retenção de processos e devem ser
fornecidos por um estudo do Banco Mundial no início de 2013. [24] As
responsabilidades a nível da gestão dos recursos humanos do sistema judiciário
são partilhadas: o Conselho Superior da Magistratura tem a responsabilidade
pela gestão do recrutamento, progressão na carreira, formação e sanções
disciplinares. O Ministério da Justiça possui a responsabilidade orçamental e
de iniciativa legal. O procurador-geral é responsável pelos resultados do
processo penal, mas todas as questões com impacto na carreira de um procurador
são decididas pelo CSM. [25] As atuais
capacidades de recrutamento não podem asegurar atempadamente o número de novos
recrutamentos com uma qualidade e preparação adequadas, como determinado por um
estudo de impacto realizado para os novos códigos. [26] Trata-se,
nomeadamente, das propostas do Ministro da Justiça e do procurador-geral de
encerramento de tribunais e de gabinetes do Ministério Público de menor
dimensão e de redistribuição dos lugares para domínios com maior necessidade. [27] A
avaliação da Comissão destes pontos pode ser consultada nas pp. 13-14 da
atualização técnica SEC(2011)968 publicada em 20 de julho de 2011. Inclui
referências à clemência ao tratar os pedidos de adiamento dos arguidos, as
deficiências a nível da gestão de elementos de prova e do tratamento de
irregularidades processuais, bem como questões organizacionais. [28] Atualização
técnica SEC(2011)968 de 20 de julho de 2011, p. 14. Desde o último relatório
anual da Comissão, o Supremo Tribunal de Justiça recebeu um orçamento especial
para os peritos em tribunal. [29] Exemplos
de importantes inovações incluem a introdução de orientações em matéria de
decisões para os delitos de corrupção e as medidas destinadas a melhorar a
celeridade dos julgamentos em processos de corrupção de alto nível. No entanto,
as melhores práticas aplicadas nestas áreas discretas ainda não foram
integradas. [30] Estas
alterações jurídicas irão permitir que o Ministro da Justiça e o procurador-geral
deem início a medidas disciplinares, através do serviço de inspeção judicial. O
serviço de inspeção judicial dispõe agora de um mandato mais sólido para
estudar as práticas judiciais e pode igualmente introduzir um recurso
relativamente a sanções disciplinares impostas pelo Conselho Superior da
Magistratura. [31] O serviço
de inspeção judicial emitiu três primeiros relatórios neste âmbito no final de
2011 e no início de 2012: dois relatórios temáticos sobre importantes atrasos a
nível dos processos e a celeridade de processos de corrupção de alto nível e um
relatório sobre as práticas de gestão do Supremo Tribunal de Justiça. [32] Sobre tais
casos, a Comissão apresentou um relatório em fevereiro de 2012 (COM(2012)56
final, p. 3). [33] A Comissão
apresentou um relatório em fevereiro de 2012 sobre processos que envolvem
juízes do Supremo Tribunal de Justiça que continuaram a participar nos
tribunais, embora fossem objeto de investigação por corrupção de alto nível.
Outros juízes iludiram a responsabilidade disciplinar através da reforma
(COM(2012)56 final, p. 3). No entanto, a recente resposta do CSM sobre o
lançamento de uma investigação sobre um dos seus próprios membros revelou uma
abordagem mais pró-ativa para fazer face a ameaças à reputação do sistema judiciário. [34] De acordo com uma sondagem especial do Eurobarómetro de
fevereiro de 2012, 96 % dos romenos, uma percentagem ligeiramente mais elevada
do que em 2007, consideraram a corrupção um grave problema (Eurobarómetro
especial n.º 374: http://ec.europa.eu/public_opinion/index_en.htm) Desde 2007, a Roménia perdeu 6 lugares no índice de perceção da
corrupção devido à descida do seu nível de perceção. A Freedom House manteve
inalterada a sua percentagem. [35] De acordo
com uma sondagem do Eurobarómetro de fevereiro de 2012, 67 % dos romenos
consideram que a corrupção aumentou nos últimos três anos. [36] A DNA
proferiu acusações em 167 processos contra 415 arguidos em 2007 e em 233
processos contra 1 091 arguidos em 2011. Cerca de 60 % de todas as
investigações demoram menos de 6 meses. Desde 2007, a DNA proferiu acusações em
relação a um antigo Primeiro-Ministro, um antigo Vice Primeiro-Ministro, alguns
antigos ministros e deputados, muitos autarcas, presidentes de câmara,
conselheiros municipais e gestores de empresas públicas. Em 2011, a DNA
proferiu acusações em relação a dois deputados, um presidente de câmara
influente da coligação governamental de então e um deputado da oposição da
altura. [37] Foram tomadas
decisões não definitivas contra 199 arguidos em 2007 e contra 879 arguidos em
2011; foram tomadas decisões definitivas contra 109 arguidos em 2007 e contra
158 arguidos em 2011. [38] A
possibilidade de prescrição na Roménia não termina no momento de início de
investigações ou de processos judiciais, como em muitas outras jurisdições. [39] Este
objetivo foi alcançado mediante a exclusão do cálculo do prazo de prescrição
dos períodos durante os quais um julgamento ficou suspenso na pendência do
acórdão do Tribunal Constitucional sobre uma exceção de inconstitucionalidade. [40] Ver o
relatório técnico, p. 29. [41] O
relatório da Comissão de 20 de julho de 2011, COM(2011) 460 final, recomendava
para a Roménia: «tomar medidas urgentes para melhorar a prática judiciária e a
gestão dos processos, bem como para acelerar processos importantes de corrupção
de alto nível, a fim de evitar que os prazos de prescrição sejam ultrapassados
em qualquer dos processos em apreço». O mesmo relatório recomendava ainda para
a Roménia: «prosseguir a reforma do Supremo Tribunal de Justiça, a fim de
reforçar a sua função em matéria de cassação e aumentar as suas capacidades
para tratar os processos de corrupção de alto nível». [42] Ver o
relatório técnico, p. 25. [43] Ver, por
exemplo, a apreciação da Comissão na página 15 da atualização técnica SEC
(2011) 968, publicada em 20 de julho de 2011. [44] Das 43
acusações registadas pela DNA em tribunais desde 2006, apenas foram tomadas
duas decisões definitivas. [45] Os dados
registados desde 2007 mostram que cerca de 60 % das penas foram pronunciadas
pelos tribunais ao nível mínimo legal ou inferior. Embora a parte das penas de
prisão suspensas tenha diminuído de 75 % (2007-2009) para 60 % em 2011, as
penas suspensas predominam ainda, em especial em processos importantes. Dos
três deputados atuais ou antigos que receberam penas definitivas em 2011, três
receberam penas suspensas. [46] Tal ainda
não é prática normal: as eleições locais em junho incluíram vários candidatos a
presidente de câmara e de conselho regional com mandato de detenção e sob
investigação ou julgamento penal por corrupção; alguns dos quais foram eleitos.
[47] Ver o
relatório técnico, pp. 26-27. [48] Ver o
relatório técnico, p. 27. [49] Três
deputados que foram condenados por corrupção de alto nível com base numa
decisão definitiva mantêm-se ainda no Parlamento. [50] Estas
decisões vieram na sequência de recursos judiciais relativamente às conclusões
da ANI sobre a incompatibilidade. [51] Ver o
relatório técnico, pp. 18-19. [52] O poder da
ANI para propor aos tribunais o confisco de ativos injustificados foi
considerado uma infração aos princípios constitucionais da separação de poderes
e à presunção de património adquirido legalmente e respetiva proibição de
confisco. [53] A comissão
jurídica da Câmara dos Deputados propôs que não deveriam ser tomadas quaisquer
medidas contra dois deputados objeto de conclusões definitivas em matéria de
incompatibilidade ou de conflitos de interesses. As decisões definitivas do
Parlamento em relação com os dois processos encontram-se ainda pendentes. [54] A lei
alterada forçou também a ANI a abandonar um número significativo de processos
investigados nessa altura, devido à introdução de prazos de prescrição. Na
grande maioria destes processos, estavam envolvidos políticos eleitos. [55] Até agora,
um conflito de interesses administrativos foi confirmado em apenas dois
processos; em nenhum foram cancelados os contratos subjacentes. [56] Os últimos
processos em debate público incluem dois deputados, que são também reitores de
universidades. Num processo, foi identificada uma incompatibilidade, no outro
caso, o mesmo tribunal recusou proferir uma situação de incompatibilidade. Um
episódio semelhante repetiu-se noutro tribunal de recurso. Estes processos
encontram-se atualmente pendentes de recurso no Supremo Tribunal de Justiça. [57] Globalmente,
em março de 2012, a ANI realizou quase 4 000 verificações e emitiu conclusões
ou efetuou remissões em mais de 500 processos: incluindo 250 conclusões de
incompatibilidade, 37 processos de conflito de interesses (administrativo), 24
processos de suspeita de património injustificado e 239 remissões de possíveis
delitos penais para o Ministério Público. [58] O
exercício de avaliação resultou até agora em 75 conclusões de
incompatibilidade, 9 conclusões de conflitos de interesses administrativos e em
remissões para os magistrados do Ministério Público que investigam 50 suspeitas
de delitos penais. [59] É útil o
apoio do Ministério da Justiça para melhorar os vencimentos do pessoal da ANI. [60] Até ao
presente, as conclusões da ANI em matéria de incompatibilidade foram
confirmadas pelos tribunais ou tornaram-se definitivas por não terem sido
objeto de recurso dentro dos prazos fixados por lei em 118 processos. Em 53
destes processos, o resultado foi a demissão de funcionários, em 8 processos,
os comités de disciplina ordenaram a expulsão e, noutros 16 processos, foram
aplicadas outras sanções. [61] Um grupo
de trabalho conjunto do Ministério da Justiça e da ANI já apresentou propostas
que ainda não foram aplicadas. [62] Nomeadamente,
colaboraram com a DNA em muitas investigações importantes e complexas, em
matéria de corrupção aquando da emissão de cartas
de condução (2008) e no âmbito da polícia das fronteiras (2010-2011).
Globalmente, desde 2007, a GAD apresentou mais de 1 000 processos ao DNA, o que
já levou a 222 acusações por corrupção de alto nível. Durante o mesmo período,
a GAD apresentou mais de 6 300 outros processos por corrupção para efeitos de
ação judicial, o que conduziu a 836 acusações até à data. [63] As
atividades globais de luta contra a corrupção ainda não abrangeram áreas como a
fiscalidade e as alfândegas, assim como no que diz respeito às autorizações de
construção a nível da administração local. [64] Tal
reforçará a deteção de irregularidades em matéria de contratos públicos no
setor da saúde, enquanto se propõe um outro projeto importante que irá reforçar
a sensibilização para os direitos dos doentes e que irá visar o lado da oferta
da corrupção no sistema de saúde. Um projeto de luta contra a corrupção foi igualmente
lançado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional e do Turismo, a fim de
desenvolver e analisar as vulnerabilidades em termos de corrupção no âmbito do
Ministério e das suas estruturas subordinadas e de desenvolver uma estratégia
pormenorizada. [65] Neste mês,
o Governo aprovou a criação de uma unidade responsável pela integridade no
âmbito da Agência Nacional para a Administração Fiscal. A sua estrutura,
competências e recursos têm ainda de ser determinados. [66] No domínio
dos contratos públicos, a autoridade de controlo competente (ANRMAP) assinalou
apenas cinco casos à DNA desde 2007. Em 2011, ANRMAP comunicou apenas três
casos de conflitos de interesses. [67] Ver o
relatório técnico, pp. 34-35. [68] A criação
de um gabinete de recuperação de bens responde às exigências da Decisão
2007/845/JAI do Conselho. [69] Ainda não
existe uma visão comum no âmbito do direito em matéria de confisco a terceiros
e verifica-se uma falta de jurisprudência. A disposição constitucional segundo
a qual se pode presumir a origem lícita do património contribui para uma
abordagem prudente e uma prática não unificada neste domínio. [70] A
jurisprudência foi estabelecida no quadro de um processo e um parecer jurídico
foi emitido pelo procurador-geral. [71] Entre 2007
e 2011, foram pronunciadas 42 condenações penais por delitos de branqueamento
de capitais. [72] Relatório
técnico, p. 40. [73] Ver nota
56.