COMISSÃO EUROPEIA
Bruxelas, 19.4.2016
COM(2016) 178 final
COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU, AO CONSELHO, AO COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU E AO COMITÉ DAS REGIÕES
Iniciativa Europeia para a Nuvem – Construir uma economia de dados e conhecimento competitiva na Europa
{SWD(2016) 106 final}
{SWD(2016) 107 final}
Introdução
O mundo está a assistir a uma explosão da quantidade e variedade de dados produzidos. A par dos dados criados pelos milhares de milhões de pessoas que utilizam dispositivos e serviços digitais para uso pessoal e profissional, e dos dados produzidos pelo número crescente de objetos conectados, há dados provenientes da investigação, da literatura e dos arquivos digitalizados, e de serviços públicos como os hospitais e os registos prediais. O fenómeno dos «megadados» ou «grandes volumes de dados» (big data) cria novas possibilidades de partilha de conhecimentos, de condução da investigação e de desenvolvimento e execução de políticas públicas.
A exploração desses dados também está a tornar-se cada vez mais fácil graças à computação em nuvem, que pode ser entendida como a combinação de três elementos interdependentes: a infraestruturas de dados que armazenam e gerem os dados; as redes de banda larga que os transportam; e os computadores cada vez mais potentes que podem ser utilizados no seu tratamento. A capacidade de analisar e explorar estes megadados está a ter impacto na economia e na sociedade a nível mundial, possibilitando o aparecimento de importantes inovações industriais e sociais. Grande parte deste impacto reside na mudança do modo como a investigação científica é realizada, à medida que avançamos rapidamente para uma
Ciência Aberta
.
A computação em nuvem permite transferir, partilhar e reutilizar os dados sem descontinuidades nos mercados globais e transfronteiras, bem como entre as instituições e as disciplinas de investigação. Com a capacidade atualmente disponível na Europa, os dados produzidos pela investigação e a indústria da UE são muitas vezes tratados noutros locais e incentiva os investigadores e inovadores a deslocar-se para as zonas onde a capacidade de tratamento de grandes volumes de dados está disponível de forma mais imediata. Simultaneamente, dado que a Europa é o maior produtor de conhecimento científico do mundo, encontra-se bem posicionada para assumir a liderança mundial no desenvolvimento de uma nuvem para a ciência.
Para tirar pleno partido das potencialidades dos dados como motor fundamental da Ciência Aberta e da
4.ª revolução industrial
, a Europa necessita de responder a várias questões específicas:
Como maximizar os incentivos à partilha de dados e ao aumento da capacidade de exploração dos mesmos?
Como garantir que os dados podem ser utilizados da forma mais ampla possível, em todas as disciplinas científicas e entre o setor público e o setor privado?
Como interligar melhor as infraestruturas de dados, novas ou já existentes, em toda a Europa?
Qual é a melhor forma de coordenar o apoio ao dispor das infraestruturas de dados, à medida que estas evoluem para a computação à escala «exa»?
Os potenciais benefícios para a ciência, a tecnologia e a inovação decorrentes da resposta a estes desafios foram destacados não só pela
própria comunidade científica
, mas também pelos
governos da OCDE
. A sua importância para a economia e a sociedade no seu conjunto foi confirmada pelos EstadosMembros da UE em 2015. A presente comunicação propõe, como resposta imediata, uma Iniciativa Europeia para a Nuvem que possa garantir o lugar da Europa na economia mundial assente nos dados.
A Iniciativa Europeia para a Nuvem tem por base a Estratégia para o Mercado Único Digital, que, entre outros objetivos, pretende otimizar o potencial de crescimento da economia digital europeia. Ela visa desenvolver um ambiente de confiança, aberto, para a comunidade científica armazenar, partilhar e reutilizar os dados e resultados científicos: a Nuvem Europeia para a Ciência Aberta. Visa implantar igualmente a capacidade de supercomputação, a conectividade rápida e as soluções de computação em nuvem de elevada capacidade que são necessárias através de uma Infraestrutura de Dados Europeia. Inicialmente direcionada para a comunidade científica, a base de utilizadores será alargada ao setor público e à indústria, criando soluções e tecnologias que beneficiarão todos os setores da economia e da sociedade. Isto exigirá um esforço de colaboração aberto a todos os interessados em explorar a revolução dos dados na Europa enquanto componente essencial do crescimento global.
A Iniciativa Europeia para a Nuvem desenvolverá os resultados obtidos pela estratégia europeia para a computação em nuvem e pela estratégia para a computação de alto desempenho (HPC). Assentará em iniciativas como o projeto importante de interesse europeu comum (IPCEI) em matéria de HPC, recentemente anunciado, e nas aplicações baseadas em tecnologias de megadados. Dará continuidade à política desenvolvida na Comunicação relativa aos Grandes Volumes de Dados e apoiará a agenda política europeia para a ciência aberta, que visa aumentar a qualidade e o impacto da ciência, a partir dos progressos resultantes do acesso aberto. A presente comunicação dá início a um processo em que a Comissão irá colaborar com os Estados-Membros e todas as partes interessadas de modo a assegurar que a Iniciativa Europeia para a Nuvem conseguirá atingir os seus objetivos.
A Iniciativa Europeia para a Nuvem será complementada por outras medidas no âmbito da estratégia para o mercado único digital, as quais deverão abranger os contratos de computação em nuvem para utilizadores empresariais e a mudança de fornecedores de serviços de computação em nuvem, bem como a Iniciativa «Livre Circulação de Dados».
Cinco razões pelas quais a Europa ainda não está a explorar todo o potencial dos dados
Em primeiro lugar, há muitas empresas europeias, comunidades de investigadores e organismos públicos que ainda não tiram o máximo partido dos dados e do seu potencial efeito transformador sobre os setores tradicionais e a forma como a investigação é realizada. O acesso aos dados provenientes da investigação financiada por fundos públicos nem sempre é aberto; do mesmo modo, os dados produzidos ou recolhidos pelas empresas não são, muitas vezes, partilhados, e nem sempre por motivos comerciais. Embora algumas empresas ainda considerem que os dados são um ativo a proteger, muitas outras (sobretudo PME), bem como as universidades e os organismos do setor público, não se apercebem pura e simplesmente da utilidade da partilha de dados. Isto deve-se, entre outra razões, à falta de uma estrutura clara de incentivos e recompensas para a partilha de dados (principalmente nas universidades), bem como de uma base jurídica clara (sobretudo no setor público), e também à escassez de competências relacionadas com os dados e ao não reconhecimento do seu valor (em todos os setores). O quadro de proteção de dados da UE impede as restrições à livre circulação de dados pessoais por razões de proteção da privacidade e dos dados pessoais. Outros obstáculos legais e técnicos à livre circulação de dados ainda vão ser abordados pela próxima iniciativa sobre a livre circulação de dados no âmbito do mercado único digital.
Em segundo lugar, a falta de interoperabilidade impede que se dê resposta a grandes desafios sociais que exigem uma partilha de dados eficaz e uma abordagem multidisciplinar, com diversos intervenientes, como é o caso das alterações climáticas, que não podem ficar exclusivamente a cargo dos climatologistas. Embora a interoperabilidade e a partilha de dados tenham sido abordadas em alguns setores (por exemplo, a localização de dados pela Diretiva INSPIRE e os dados de saúde pela Diretiva relativa aos direitos dos doentes), muitos conjuntos de dados continuam a não estar disponíveis para os cientistas, a indústria, as administrações públicas e os decisores políticos. Enquanto a interoperabilidade dos dados administrativos exige, sobretudo, normas mínimas, segurança jurídica no que respeita às condições de acesso e utilização, e apoio prático, a partilha de dados de investigação também é dificultada pela dimensão dos conjuntos de dados, os seus múltiplos formatos, a complexidade do software necessário para proceder à sua análise e as divisões profundamente enraizadas entre disciplinas. São necessários «metadados» simples para identificar os dados e especificações para a sua partilha, de modo a que estes fiquem amplamente acessíveis e disponíveis, a fim de serem tratados por meio de ferramentas de análise de dados comuns, de fonte aberta. Importa resolver igualmente algumas questões de preservação e conservação de dados a longo prazo. Já existem iniciativas locais em todo o mundo e alguns EstadosMembros estão a avançar neste domínio, mas a participação europeia nestas iniciativas é limitada e esses esforços são, em grande medida, fragmentados.
Em terceiro lugar, a fragmentação é um obstáculo à ciência baseada em dados. As infraestruturas de dados estão divididas por domínios científicos e económicos, países e modelos de governação. As políticas de acesso à ligação em rede, ao armazenamento e à computação de dados divergem. As infraestruturas informáticas e de dados desconectadas e lentas entravam o processo de descoberta científica, compartimentam e retardam a circulação do conhecimento. É necessário que existam dados de investigação compartilháveis, ferramentas de análise de dados de fonte aberta e meios de computação interligados à disposição da grande maioria dos investigadores da Europa, e não apenas dos cientistas mais eminentes das principais disciplinas das instituições de investigação mais importantes. Além disso, as universidades e os centros de investigação da Europa funcionam, de um modo geral, no âmbito de estruturas nacionais, carecendo de um ambiente à escala europeia para a computação, o armazenamento e a análise de dados. Este facto dificulta a cooperação científica na UE, em especial uma cooperação multidisciplinar baseada em dados. Numa consulta pública recente, a grande maioria dos inquiridos responderam que a Nuvem Europeia para a Ciência Aberta tornaria a ciência mais eficiente, graças à melhor partilha dos recursos a nível nacional e internacional.
Em quarto lugar, existe na Europa uma procura crescente de infraestruturas de computação de alto desempenho (HPC) para o tratamento de dados, de craveira mundial, nos domínios da ciência e da engenharia. A simulação de um avião completo da próxima geração; a modelização climática; a ligação do genoma à saúde; a compreensão do cérebro humano; o ensaio in silico de cosméticos para reduzir os ensaios em animais – necessitam, todos eles, de capacidades de computação à escala «exa». Embora, a longo prazo, a computação quântica prometa resolver os problemas de cálculo que ultrapassam os supercomputadores atuais, a competitividade da UE também depende do apoio da HPC à criação de infraestruturas de dados pan-europeias.
A nível mundial, os EUA, a China, o Japão, a Rússia e a Índia estão a avançar rapidamente. Tendo declarado a HPC como prioridade estratégica, estão a financiar programas para desenvolver ecossistemas HPC nacionais (hardware, software, aplicações, competências, serviços e interligações) e a trabalhar na instalação de supercomputadores à escala «exa». A Europa não está a participar na corrida à HPC em conformidade com o seu potencial económico e de conhecimento; deixando-se ficar para trás em relação a outras regiões por não investir no seu ecossistema HPC, nem tirar partido dos benefícios da propriedade intelectual neste domínio. Do lado da oferta, a indústria da UE fornece cerca de 5 % dos recursos de HPC a nível mundial, enquanto consome um terço dos mesmos. Dado que a Europa depende cada vez mais de outras regiões para obter tecnologias críticas, corre o risco de ficar tecnologicamente bloqueada, atrasada ou privada de know-how estratégico. Além disso, está atrasada no que diz respeito à própria potência de computação total: só uma das dez grandes infraestruturas HPC a nível mundial está situada na UE: o Höchstleistungsrechenzentrum de Estugarda, Alemanha, classificado na oitava posição. Cinco destas infraestruturas pertencem aos EUA e a China possui o supercomputador mais rápido do mundo.
Nenhum EstadoMembro dispõe, isoladamente, de recursos financeiros suficientes para desenvolver o ecossistema HPC necessário, num prazo competitivo em relação aos EUA, ao Japão ou à China. Contudo, até à data, não foram tomadas quaisquer medidas comuns para eliminar a disparidade entre a procura interna e a oferta disponível na UE. A União criou uma parceria público-privada contratual em matéria de HPC para desenvolver tecnologias à escala «exa», mas não existe um quadro europeu que as integre em sistemas de computação em grande escala.
Por último, os produtores e utilizadores de dados científicos devem ter a possibilidade de reutilizar dados e de usar técnicas de análise avançadas, como a pesquisa de textos e de dados, num ambiente que seja, pelo menos, tão fiável como as suas próprias instalações. Os EstadosMembros têm referido insistentemente a importância dos dados de investigação da UE e de assegurar que a ciência baseada em dados beneficia a sociedade europeia. Qualquer utilização e reutilização de dados científicos tem de garantir que os dados pessoais são adequadamente protegidos de acordo com as regras de proteção de dados da União Europeia. Estas regras e a próxima revisão da legislação da UE sobre direitos de autor constituem quadros gerais relevantes neste contexto.
Quais são as soluções?
1.Nuvem Europeia para a Ciência Aberta
A Nuvem Europeia para a Ciência Aberta pretende conferir à Europa uma liderança mundial nas infraestruturas de dados científicos, a fim de garantir que os cientistas europeus tiram todo o partido dos benefícios da ciência baseada em dados. Na prática, proporcionará a 1,7 milhões de investigadores europeus e a 70 milhões de profissionais do setor da ciência e tecnologia um ambiente virtual com serviços gratuitos para o utilizador, abertos e sem descontinuidades, para o armazenamento, a gestão, a análise e a reutilização de dados de investigação, sem limites de fronteiras ou de disciplinas científicas. O seu desenvolvimento será impulsionado pela comunidade científica, a que pertencem os utilizadores mais avançados e os maiores produtores de ciência do mundo. Estará igualmente disponível para fins de educação e formação, a nível do ensino superior, e, a prazo, para os utilizadores da administração pública e das empresas, uma vez que as tecnologias desenvolvidas serão promovidas para uma aplicação mais generalizada.
A Nuvem Europeia para a Ciência Aberta começará por congregar as infraestruturas de dados científicos atualmente existentes e dispersas por diversas disciplinas e Estados-Membros, tornando o acesso aos dados científicos mais fácil, mais barato e mais eficaz. Permitirá criar novas oportunidades de mercado e novas soluções em setores fundamentais, como os da saúde, do ambiente ou dos transportes. Proporcionará ainda um ambiente seguro, em que a privacidade e a proteção dos dados devem ser garantidas desde a conceção, com base em normas reconhecidas, e onde os utilizadores se possam sentir confiantes quanto à segurança dos dados e aos riscos de responsabilidade. Terá também um efeito de alavanca sobre outras medidas tomadas pela Comissão para promover a Ciência Aberta na Europa, tais como o acesso aberto às publicações e aos dados científicos previsto no Programa-Quadro Horizonte 2020, e congregará as principais partes interessadas na definição das medidas seguintes. A governação da Nuvem Europeia para a Ciência Aberta será definida após a conclusão de um processo de preparação exaustivo que já está em curso.
Especificamente, para desenvolver a Nuvem Europeia para a Ciência Aberta, será necessário:
Tornar o acesso a todos os dados científicos produzidos pelo Programa Horizonte 2020 aberto por princípio. Esta medida alargará a atual ação-piloto, em cujo âmbito os projetos aplicam planos de gestão de dados que tornam os dados de investigação fáceis de encontrar, acessíveis, interoperáveis e reutilizáveis (os princípios FAIR).
Sensibilizar e alterar as estruturas de incentivos para que os membros do mundo académico, da indústria e dos serviços públicos partilhem os seus dados, e para melhorar a formação, a literacia e as competências em matéria de gestão de dados. Paralelamente, os princípios e orientações relativos ao acesso aos dados de investigação na Europa serão revistos, com o intuito de reforçar e coordenar a sua aplicação.
Desenvolver especificações de interoperabilidade e partilha de dados entre disciplinas e infraestruturas, com base em iniciativas já existentes, como a Aliança de Dados de Investigação e o Fórum Belmont, e em disposições jurídicas como a Diretiva INSPIRE. A prazo, as novas necessidades de normalização serão resolvidas através das prioridades do mercado único digital em matéria de normalização das TIC.
Criar uma estrutura de governação pan-europeia adequada para congregar as infraestruturas de dados científicos e ultrapassar a fragmentação. Essa estrutura institucional supervisionará o financiamento a longo prazo, a sustentabilidade, a preservação e a gestão de dados, baseando-se nas estruturas existentes para envolver os utilizadores científicos, as entidades financiadoras da investigação e as instituições responsáveis pela sua execução.
Desenvolver serviços baseados na computação em nuvem para a Ciência Aberta. Sustentados pela Infraestrutura de Dados Europeia, eles permitirão que os investigadores encontrem e acedam a dados de investigação partilhados, empreguem software analítico avançado, utilizem recursos informáticos de alto desempenho e aprendam as melhores práticas científicas baseadas em dados com as principais disciplinas científicas.
Alargar a base de utilizadores científicos da Nuvem Europeia para a Ciência Aberta a investigadores e inovadores de todas as disciplinas e de todos os EstadosMembros, bem como de países parceiros e de iniciativas globais, de modo a contribuírem para a excelência e participarem nos benefícios da iniciativa.
A iniciativa irá reforçar outras ações no domínio da Ciência Aberta solicitadas pelo Conselho e o Parlamento Europeu, bem como as ações no contexto da próxima agenda política para a Ciência Aberta da Comissão. Promoverá as melhores práticas de facilidade de localização e acessibilidade dos dados e ajudará os investigadores a obterem o reconhecimento e a recompensa das suas competências em matéria de dados; facilitará a replicação de resultados e limitará o desperdício de dados, por exemplo dos dados de ensaios clínicos (integridade na investigação); contribuirá para clarificar o modelo de financiamento da produção e preservação de dados, reduzindo a mera busca da maximização do lucro e preparando o mercado para serviços de investigação inovadores (por exemplo, pesquisa avançada de textos e dados). A iniciativa também pode ajudar a resolver problemas relativos à divulgação de dados e à proteção dos dados pessoais. A Comissão consultará as partes interessadas e colaborará com os prestadores de I&D na resposta à necessidade de aplicar ao domínio científico as orientações relativas à política e legislação de proteção de dados da União, e de garantir que a iniciativa aplica os princípios jurídicos «desde a conceção» o mais precocemente possível.
Ações
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Calendário
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A Comissão colaborará com os seus parceiros mundiais no domínio da definição de políticas e da investigação com vista a promover a cooperação e a criar condições equitativas em matéria de partilha de dados e de ciência baseada em dados.
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A partir de 2016
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A Comissão utilizará os programas de trabalho Horizonte 2020 para financiar a integração e a consolidação das plataformas de infraestruturas eletrónicas, a congregação das infraestruturas de investigação e nuvens científicas existentes e o apoio ao desenvolvimento de serviços baseados na computação em nuvem para a Ciência Aberta.
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A partir de 2016
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A Comissão fará com que o acesso aos dados de investigação seja, por princípio, aberto, assegurando, simultaneamente algumas possibilidades de autoexclusão, em relação a todos os projetos do programa Horizonte 2020.
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A partir de 2017
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A Comissão irá rever a sua recomendação de 2012 sobre o acesso à informação científica e a sua preservação para estimular a partilha de dados científicos e a criação de regimes de incentivo, sistemas de recompensa e programas de educação e formação para que os investigadores e empresas partilhem dados, em estreita ligação com a iniciativa «Livre Circulação de Dados» no âmbito do mercado único digital.
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A partir de 2017
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A Comissão irá colaborar com os Estados-Membros no sentido de ligar as infraestruturas de investigação europeias prioritárias à Nuvem Europeia para a Ciência Aberta.
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A partir de 2017
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Em conjunto com as partes interessadas e as iniciativas mundiais pertinentes, a Comissão procurará definir um plano de ação para a interoperabilidade dos dados científicos, incluindo especificações e certificação dos «metadados».
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Até ao final de 2017
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2.Infraestrutura de Dados Europeia
Quando estiver totalmente implantada, a Infraestrutura de Dados Europeia servirá de base à Nuvem Europeia para a Ciência Aberta. A Europa necessita de capacidades de HPC integradas e de craveira mundial, conectividade de elevado débito e serviços avançados de dados e software, para os seus cientistas e outros utilizadores pioneiros da indústria (incluindo PME) e do setor público. Esta infraestrutura permitirá materializar plenamente o valor dos megadados e do «digital por definição». A Infraestrutura de Dados Europeia também contribuirá para que a União Europeia se posicione entre as maiores potências de supercomputação do mundo, através da realização de supercomputadores à escala «exa» por volta de 2022, com base na tecnologia da UE, que ficaria entre os primeiros três lugares a nível mundial. A Europa deverá procurar dispor, no mínimo, de duas fontes desta tecnologia.
Embora a atual estratégia para a HPC apoie a investigação e o desenvolvimento de tecnologias HPC comercializáveis, não prevê a realização de um supercomputador à escala «exa». A Infraestrutura de Dados Europeia irá reunir os recursos e capacidades necessários para fechar a cadeia desde a investigação e desenvolvimento até ao fornecimento e exploração de sistemas HPC à escala «exa», co-criados entre utilizadores e fornecedores. Isto incluirá a conectividade dos dados e o armazenamento de grandes volumes de dados para assegurar a disponibilidade de serviços de supercomputação em toda a UE, independentemente da localização dos supercomputadores. Um primeiro passo foi recentemente dado pelo Luxemburgo, a França, a Itália e a Espanha, com um projeto importante de interesse europeu comum (
IPCEI
) em matéria de HPC e aplicações baseadas em tecnologias de megadados.
Com base em infraestruturas e serviços de computação de alto desempenho a nível pan-europeu (PRACE), na rede transeuropeia de elevado débito (GÉANT), na parceria público-privada contratual em matéria de HPC, na empresa comum ECSEL e no IPCEI em matéria de HPC e grandes volumes de dados, a Comissão e os Estados-Membros participantes deverão:
promover um ecossistema HPC capaz de desenvolver novas tecnologias europeias como os chips de computação HPC de baixo consumo energético;
integrar as tecnologias em protótipos de sistemas, em soluções de co-criação e na aquisição de sistemas HPC; a infraestrutura HPC resultante centrar-se-á nos supercomputadores de capacidades topo de gama ligados a centros de computação nacionais de gama média da UE e a infraestruturas de dados e software pan-europeias, a fim de oferecer a supercomputação como serviço;
proporcionar uma conectividade sem descontinuidades, de alto débito, fiável e segura, para tornar a HPC acessível em toda a UE; a rede transeuropeia de elevado débito (GÉANT) e as Redes Nacionais de Investigação e Ensino (NREN) já interligam 50 milhões de investigadores e estudantes; estas infraestruturas serão melhoradas de modo a corresponder ao aumento do volume de dados a transferir e ao alargamento da base de utilizadores.
A Infraestrutura de Dados Europeia contribuirá para a digitalização da indústria, a fim de desenvolver plataformas europeias para novas aplicações estratégicas (por exemplo, investigação médica, indústria aeroespacial e energia) e promover a inovação industrial. Ela irá alargar a base de utilizadores da HPC, facilitando o acesso através da computação em nuvem tanto aos investigadores das principais disciplinas científicas como ao longo séquito de profissionais do domínio científico. A indústria, sobretudo as PME sem capacidades a nível interno, e as autoridades públicas (por exemplo, as cidades inteligentes e os transportes) beneficiarão da existência de recursos, aplicações e instrumentos analíticos de HPC baseados na computação em nuvem e fáceis de utilizar. Neste contexto, a Comissão irá promover a instalação de capacidades de tratamento e exploração de dados dos satélites Sentinel, das informações dos serviços do programa Copernicus e de outros dados de observação da Terra, de modo a permitir o enriquecimento mútuo de diferentes conjuntos de dados, incentivar o desenvolvimento de produtos e serviços inovadores e maximizar os benefícios socioeconómicos dos dados de observação da Terra na Europa.
A Infraestrutura de Dados Europeia irá trabalhar em concertação com os centros nacionais e regionais de dados científicos e públicos. Desenvolverá e aplicará as melhores práticas com base em sistemas de certificação, bem como em normas e especificações europeias e mundiais comuns, para fazer face à atual falta de interoperabilidade entre os centros de dados a nível nacional e disciplinar.
A Infraestrutura de Dados Europeia incluirá uma estrutura de governação para a gestão e o desenvolvimento das infraestruturas e dos serviços de dados, a tomada de decisões em matéria de financiamento, a sustentabilidade a longo prazo e a segurança. A governação deve envolver os utilizadores (da Nuvem Europeia para a Ciência Aberta e outros utilizadores a longo prazo, como o setor público), os responsáveis pela sua implantação (PRACE, GEANT) e os financiadores, e basear-se nas estruturas de governação existentes.
Ações
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Calendário
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A Comissão e os Estados-Membros participantes deverão desenvolver e implantar uma infraestrutura europeia de HPC, dados e redes em larga escala, incluindo:
a aquisição de dois protótipos co-criados de supercomputadores em escala «exa» e de dois sistemas operacionais que irão figurar entre os três melhores do mundo;
o estabelecimento de um centro europeu de megadados
,
a modernização da rede de base de investigação e inovação (GEANT) e a integração das redes de serviços públicos europeias.
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2016-2020
A partir de 2018
A partir de 2016
A partir de 2016
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Explorar o potencial das tecnologias quânticas
O próximo avanço no domínio da supercomputação e da segurança da ligação em rede poderá ser baseado em tecnologias quânticas. As principais empresas da Europa, da Ásia-Pacífico e da América do Norte estão a começar a investir em tecnologias quânticas, mas é necessário um nível de investimento mais elevado para se chegar a produtos comercializáveis. A Europa deve estar na vanguarda desses progressos futuros. A Infraestrutura de Dados Europeia deve ser complementada por uma iniciativa emblemática ambiciosa, a longo prazo e em larga escala, para libertar todo o potencial das tecnologias quânticas, acelerar o seu desenvolvimento e disponibilizar produtos comerciais a utilizadores públicos e privados. A Comissão Europeia irá iniciar as etapas preparatórias dessa iniciativa, incluindo a consulta das partes interessadas e a avaliação de impacto, tendo em conta os resultados da avaliação intercalar do Programa Horizonte 2020, até ao final de 2017.
Ação
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Calendário
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A Comissão Europeia iniciará as etapas preparatórias da iniciativa emblemática, incluindo a consulta das partes interessadas e a avaliação de impacto, tendo em conta os resultados da avaliação intercalar do Programa Horizonte 2020, até ao final de 2017, com o objetivo de lançar a fase de arranque em 2018.
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2016-2019
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3.Alargar o acesso e reforçar a confiança
A implantação dos serviços de computação em nuvem no setor público é desigual e lenta, devido à falta de confiança e às limitadas sinergias entre o setor público e o mundo académico. A fragmentação das infraestruturas de dados constitui um obstáculo à criação de massa crítica e de soluções comuns para os diferentes grupos de utilizadores. A base de utilizadores da Nuvem Europeia para a Ciência Aberta e da Infraestrutura de Dados Europeia será alargada ao setor público, por exemplo através de projetos-piloto em grande escala, que envolvam a administração pública em linha e as partes interessadas do setor público, e da progressiva abertura dessa infraestrutura a utilizadores da indústria e do setor público, de modo a atingir uma dimensão europeia. A prazo, a Nuvem Europeia para a Ciência Aberta garantirá que os dados públicos serão totalmente detetáveis, acessíveis e exploráveis por cientistas, decisores políticos e empresas. Os ensinamentos extraídos darão orientações concretas para a adoção de serviços de computação em nuvem pelas administrações públicas de toda a Europa.
Dado que o setor público gera enormes quantidades de dados (por exemplo, dados de observação da Terra no âmbito do programa Copernicus e dados de localização INSPIRE) e necessita de uma maior capacidade de computação (por exemplo, para sistemas de informação sobre trânsito e viagens em tempo real, aplicações de cidades ou de transportes inteligentes e para modelização de políticas), será beneficiado pelas economias de escala, a flexibilidade e a continuidade. O público beneficiará, assim, de serviços públicos mais baratos, mais rápidos, melhores e interligados e de uma melhor formulação das políticas com base em serviços seguros e a preços acessíveis, que utilizem a informática e os dados de forma intensiva.
Do mesmo modo, a Nuvem Europeia para a Ciência Aberta e a Infraestrutura de Dados Europeia irão beneficiar as empresas, nomeadamente as PME, que não têm um acesso fácil e económico a serviços de armazenamento de dados e computação avançada. Serão tomadas medidas para alargar progressivamente a base de utilizadores a PME inovadoras e à indústria, através de centros de excelência em matéria de dados e software e de polos de inovação dos serviços de dados para as PME. Estas medidas exigem uma estreita cooperação com o setor privado: PME, grandes utilizadores científicos e industriais de HPC, e setor dos serviços de computação em nuvem, que é necessário envolver desde o início.
Além disso, a Iniciativa Europeia para a Nuvem terá de respeitar normas elevadas de qualidade, fiabilidade e confidencialidade, a fim de assegurar a proteção dos dados pessoais e da propriedade intelectual, e de segurança – em termos de resiliência e proteção contra a intrusão. As infraestruturas existentes no setor público - nomeadamente os módulos relativos à confiança e à segurança da infraestrutura de serviços digitais do Mecanismo Interligar a Europa (MIE) - podem ser reutilizadas e implantadas pela comunidade científica, a fim de reduzir custos, facilitar o acesso e aumentar a coerência global. O quadro normativo geral será constituído pelas regras gerais de proteção dos dados, pela Diretiva SRI e pela revisão da legislação da UE em matéria de direitos de autor. Dada a natureza mundial da computação em nuvem, é essencial que a economia europeia dos dados continue ligada ao resto do mundo e que as normas globais de proteção de dados aumentem para um nível elevado, no essencial, equivalentes às da Europa.
O trabalho sobre as normas faz parte das prioridades do mercado único digital para o plano de normalização das TIC; será concebido um sistema de certificação adequado a nível da UE para garantir a segurança, a portabilidade dos dados e a interoperabilidade, em conformidade com os requisitos legais, incluindo o regime de certificação aplicável no âmbito do regulamento geral sobre a proteção de dados (RGPD). Embora existam vários regimes de certificação, o seu âmbito e a sua aplicação variam consideravelmente, não havendo uma abordagem comum relativa aos requisitos mínimos aplicáveis à aquisição ou à gestão dos recursos de computação em nuvem do setor público. Neste aspeto, a colaboração com a indústria e as autoridades públicas permitirá fazer com que a capacidade da indústria corresponda às exigências da ciência e do setor público.
O alargamento do acesso à Nuvem Europeia para a Ciência Aberta e à Infraestrutura de Dados Europeia será efetuado em conformidade com a legislação aplicável, em especial no que diz respeito à reutilização dos dados para outros fins.
Ações
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Calendário
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Em parceria com a indústria e com o setor público, a Comissão compromete-se a:
-adaptar as soluções de HPC e megadados a um ambiente de computação em nuvem, a fim de permitir um amplo acesso, nomeadamente para as PME;
-desenvolver um ecossistema para reforçar a indústria de computação em nuvem na Europa, utilizando a Nuvem Europeia para a Ciência Aberta como um banco de ensaio para soluções inovadoras no domínio da tecnologia de computação em nuvem;
-criar uma plataforma para as autoridades públicas abrirem os seus dados e serviços, criando uma base de «governo como serviço» para a União Europeia.
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2016-2020
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A fim de facilitar a aceitação das tecnologias de megadados, a Comissão proporcionará às administrações públicas um ambiente de ensaio para grandes volumes de dados (projetos-piloto em larga escala), nomeadamente no âmbito do IPCEI proposto.
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A partir de 2016
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A Comissão, em colaboração com a indústria e com os Estados-Membros, irá promover a utilização das certificações e normas aplicáveis, e – se for caso disso – a criação de certificação e rotulagem a nível europeu, nomeadamente para apoiar a aquisição pública de serviços de computação em nuvem.
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A partir de 2016
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Implicações financeiras
A transformação digital da Europa exige escala, sendo possível identificar várias fontes de financiamento da UE para a Iniciativa Europeia para a Nuvem:
Horizonte 2020 – Programa-Quadro de Investigação e Inovação (Horizonte 2020);
Mecanismo Interligar a Europa (MIE);
Fundos Europeus Estruturais e de Investimento (FEEI);
Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (FEIE).
São necessárias diversas fontes de financiamento para apoiar o ciclo de investimento na sua totalidade. Os grandes projetos de infraestruturas são inicialmente apoiados por subvenções públicas e, à medida que ganham maturidade, através da partilha de riscos e de instrumentos de mercado. No entanto, uma vez que tais iniciativas exigem esforços coerentes e coordenados, a fragmentação das fontes orçamentais disponíveis constitui uma clara desvantagem.
O financiamento existente ao abrigo do programa Horizonte 2020 permitirá apoiar a Nuvem Europeia para a Ciência Aberta e lançar a Infraestrutura de Dados Europeia. O investimento adicional necessário foi inicialmente estimado em 4,7 mil milhões de euros para o período de cinco anos. Este montante inclui 3,5 mil milhões de euros para a infraestrutura de dados, mil milhões de euros para uma iniciativa emblemática da UE, em larga escala, no domínio das tecnologias quânticas e 0,2 mil milhões de euros para as ações de alargamento do acesso e reforço da confiança. Serão debatidas disposições adicionais com os Estados-Membros no sentido de alargar o apoio à Nuvem Europeia para a Ciência Aberta para além do Horizonte 2020. A prazo, a iniciativa irá gerar receitas próprias, à medida que a sua utilização pela comunidade científica, pelas empresas novas e inovadoras e pelo setor público for arrancando.
A Comissão tenciona propor formas de combinar as diversas fontes de financiamento a nível nacional e da UE, a fim de realizar plenamente os objetivos da presente comunicação; irá debatê-las com os Estados-Membros, depois de uma análise adequada e da realização de avaliações de impacto e de consultas. Infraestruturas com este nível de ambição exigirão não só uma forte participação dos Estados-Membros, em especial através da mobilização de fundos estruturais e de garantias do FEIE, mas também investimentos significativos do setor privado e mecanismos de coordenação adequados. Neste aspeto, a proposta de projeto importante de interesse europeu comum (IPCEI) em matéria de HPC e megadados mostra as possibilidades e os efeitos positivos da participação dos EstadosMembros.
Ações
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Calendário
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Em cooperação com os Estados-Membros e as partes interessadas, a Comissão irá explorar mecanismos adequados de governação e financiamento da Nuvem Europeia para a Ciência Aberta e da Infraestrutura de Dados Europeia e definir um roteiro de execução.
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A partir de 2016
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A Comissão irá propor formas de combinação de diversas fontes de financiamento, a debater com os Estados-Membros e as partes interessadas, tendo em vista a realização dos objetivos da presente comunicação.
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2016
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CONCLUSÕES
A Iniciativa Europeia para a Nuvem destina-se a ajudar a ciência, a indústria e as autoridades públicas da Europa a aceder a infraestruturas de dados e serviços baseados na computação em nuvem de craveira mundial, à medida que estes se tornam os fatores decisivos para o sucesso na economia digital.
A Iniciativa Europeia para a Nuvem deverá colocar ao dispor de todos os centros de investigação, todos os projetos de investigação e todos os investigadores da Europa, as capacidades de supercomputação, armazenamento de dados e análise de craveira mundial de que eles necessitam para ter êxito no sistema global de inovação baseado em dados.
A Iniciativa permitirá alargar a base de utilizadores das infraestruturas e dos serviços ao setor público e à indústria, incluindo PME, garantindo um nível adequado de segurança, portabilidade dos dados e interoperabilidade, bem como o cumprimento dos requisitos legais da UE.
A medida em que os Estados-Membros e o setor privado abraçam os benefícios que podem obter da resposta a este desafio e se comprometem a unir esforços nesse sentido será determinante para o êxito da iniciativa.